quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, A BOA ESCOLA E A NOVA GESTÃO DAS CIDADES


“A boa escola
        
         Meu brilhante colega Gustavo Ioschpe, uma das mais lúcidas vozes no que diz respeito à educação, escreveu o que e um bom professor. Eu já começava este artigo sobre o que acho que deva ser uma boa escola, então aqui vai.
         Primeiro, a escola tem de existir. No Brasil há incrivelmente poucas escolas em relação à necessidade real. Têm de existir escolas para todas as crianças, em todas as comunidades, as mais remotas, com qualidades básicas: não ultrapassar o número de alunos bem acomodados, e que eles não tenham de se locomover para muito longe; instalações dignas, que vão das mesas às paredes, telhado, pátio para diversão e recreio, lugar para exercício físico e esportes; instalações sanitárias decentes, cozinha para alimentar os que não comem suficientemente em casa; alguém com experiência médica ou de enfermagem para atender os que precisarem. Em cada sala de aula, naturalmente, uma boa prateleira com livros sem dúvida doados pelos governos federal, estadual, municipal. E que ali se ensine bem o essencial: aritmética, bom uso da linguagem, noções de história e geografia para que saibam quem são e onde no mundo se situam. Falei até aqui apenas de ensino elementar em escolas menos privilegiadas economicamente. Em comunidades mais resolvidas nesse sentido, tudo isso não será apenas bom, mas excelente, desde a parte material até professores muito bem preparados que sejam bem exigidos e bem pagos.
         No chamado 2º grau, além de livros, quem sabe computadores, mas – ainda que escandalizando alguns – creio que esses objetos maravilhosos, que eu mesma uso constantemente, não substituem um bom professor. E que, nesse degrau da vida, todos sejam preparados para a universidade, desde que queiram e possam. Pois nem todos querem uma carreira universitária, nem todos têm capacidade para isso: para eles, excelentes escolas técnicas, depois das quais podem ter mais ganho do que a maioria dos profissionais liberais. Professores com mestrado e se possível doutorado, diretores que conheçam administração, psicólogos que conheçam  psicologia, todos com saber e postura que os alunos respeitem a fim de que possam aprender.
         Finalmente a universidade, que enganosamente se julga ser o único destino digno de todo mundo (já mencionei acima os cursos técnicos cada dia melhores e mais especializados). Universidade precisa existir, mas não na abundância das escolas elementares. É incompreensível e desastrosa a multiplicação de faculdades de medicina, por exemplo, cujas falhas terão efeitos dramáticos sobre vidas humanas. Tempos pelo país muitas onde alunos não estudam anatomia, pois não há biotério, não têm aulas práticas, pois não há hospital-escola. Essa é uma realidade assustadora, mas bastante comum, que, parece, se tenta corrigir. Dessas pseudofaculdades sairão alunos reprovados nas essenciais provas do CRM, mas que eventualmente vão trabalhar sem condição de atender pacientes. Faculdades de direito pululam pelo país, sem professores habilitados, sem boas bibliotecas, formando advogados que nem escrever razoavelmente conseguem, além de desconhecer as leis – e reprovados aos magotes nas importantíssimas provas da OAB. Coisa semelhante aconteceria com faculdades de engenharia mal preparadas, se existirem, de onde precisam sair profissionais que garantam segurança em obras diversas, de edifícios, casas, estradas, pontes. Vejam que aqui comentei apenas alguns dos inúmeros cursos existentes, muitos com excelente nível, mas não se ignorem os que não têm condições de funcionar, e mesmo assim... existem. Em todas essas fases, segundo cada nível, incluam-se professores bem preparados, muito dedicados, e decentemente pagos – professor não e sacerdote nem faquir.
         O que escrevo aqui é mero, simples, bom-senso. Todos têm direito de receber a educação que os coloque no mundo sabendo ler, escrever, pensar, calcular, tendo ideia do que são e onde se encontram, e podendo aspirar a crescer mais. Isso é dever de todos os governos. E é nosso dever esperar isso deles.”
(LYA LUFT, que é escritora, em artigo publicado na revista VEJA, edição 2310 – ano 46 – nº 9, de 27 de fevereiro de 2013, página 22).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 21 de fevereiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de EDUARDO ATHAYDE, que é diretor do Worldwatch Institute no Brasil (WWI), e que merece igualmente integral transcrição:

“Nova gestão das cidades
        
         O Fórum Econômico Mundial realizado em Davos, na Suíça, de 23 a 27 de janeiro deste ano, mostrou que o conceito de gestão verde está deixando de ser símbolo do ambientalismo e passando a significar eficiência na gestão pública e privada. Reunindo mais de 50 chefes de Estado, 1,5 mil líderes empresariais, além de políticos e acadêmicos para discutir agendas locais, regionais e globais, mais de 2,5 mil participantes de diversos países formavam uma espécie de aldeia tecnológica global, usando tablets e celulares (tecnologias de informação e comunicação – TICs) para ajudar nos agendamentos e deslocamentos internos, no acesso virtual a palestras e, ao mesmo tempo, para gestão remota dos seus países, estados, cidades e empresas.
         Confundir sustentabilidade apenas com preservação ambiental é o mais comum entre os mitos que precisa ser desfeito – sustentabilidade é sinônimo de equilíbrio. Globalmente, as oportunidades de mercado para as “Cidades verdes e inteligentes”, que investem na melhoria da qualidade dos serviços para a população, estão estimadas em US$ 34 bilhões/ano. Com o aumento da renda e da qualidade de vida, a classe média mundial, que hoje é de 2,5 bilhões de pessoas, será de 5 bilhões de habitantes/consumidores em 2030.
         A internet expandiu de 0,1% da população global em 2002, para 33% em 2012 (é estimada para 55% da população em 2020. Nas últimas décadas, cidades no mundo foram conectadas por uma poderosa rede invisível de TICs, mudando a dinâmica do poder urbano, ajudando cidadãos a exercer legitimamente a sua parcela do poder. Como todos usam celulares, as operadoras têm condições de identificar, em tempo real, os fluxos das pessoas nas cidades, as tendências de estrangulamentos no tráfego, a concentração em eventos, os deslocamentos de massas e ajudar no planejamento e nas intervenções pontuais.
         O Brasil, com 194 milhões de habitantes, 84% urbanos, já tem mais de 260 milhões de celulares, dos quais 60 milhões são terminais com acesso à internet via banda larga. A tecnologia que salva vidas e emociona pessoas encurta distâncias e abranda saudades, também ajuda a sociedade a ser cada vez mais sustentável.
         Enquanto nos EUA os engarrafamentos de trânsito geram – por ano – um desperdício de 10,6 bilhões de litros de combustíveis, prejuízo de 4,2 bilhões de horas de trabalho e uma perda econômica de US$ 87,2 bilhões, o sistema de bicicletas comunitárias de Paris tornou-se possível por meio de uma parceria público-privada (PPP) com a gigante da publicidade JCDecaux, que, via TICs, fornece e mantém o sistema em troca de uma parcela do espaço publicitário da cidade.
         Usando TICs, várias cidades do Canadá não fazem mais coleta do lixo. Uma máquina separa automaticamente os recicláveis colocando em sacolas biodegradáveis para virar adubo vendido pelo preço de mercado. Os caminhões de lixo são movidos a gás produzido pelo próprio lixo que retiram das ruas. Empresas como a Smart + Connected Communities, da Cisco, Cities, da GE, e Sustainable Cities, da Siemens, por exemplo, têm usado suas avançadas tecnologias para ajudar cidades ao redor do mundo.
         As TICs ajudam a inovar na gestão e dão suporte aos princípios estabelecidos pela Política Nacional de Mobilidade Urbana – Lei 12.587/12. Diante da falência dos modelos de gestão pública e a elevada burocracia, as TICs facilitam a gestão, o acompanhamento das parcerias público-privadas, a auditoria e o controle social, impondo transparência nas ações de infraestrutura, transporte, educação, saúde, entretenimento, áreas públicas de lazer, ajudando a promover sustentabilidade na vida urbana.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de  valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:    
a   
           a) a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (por exemplo, o contundente caso dos engarrafamentos de trânsito nos EUA, que geram, por ano, prejuízos e perdas econômicas da ordem de US$ 87,2 bilhões);
     c)      a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); educação;saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados; macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); habitação; emprego, trabalho e renda; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; agregação de valor às commodities; minas e energia; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; turismo; esporte, cultura e lazer; comunicações; qualidade (planejamento, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte  de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...     

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, AS URGÊNCIAS EDUCATIVAS E O PAPA CONTRA A CULTURA DA MORTE


“Urgências educativas
         
          
         Os cenários socioculturais, religiosos e políticos indicam permanentemente que é preciso reconhecer as urgências educativas como prioridades, para fazer diferença nas dinâmicas, funcionamento e nas respostas de demandas inadiáveis. Essas respostas estratégicas e urgentes para o alcance de um novo cenário na infraestrutura e, particularmente, nas relações sociais e políticas dependem de uma cultura com força de inspiração.
         Princípios estratégicos e a inteligência da gestão não são suficientes para configurar o quadro novo que a sociedade brasileira, em se considerando o contexto socioeconômico propício, precisa – e sem mais adiamentos. Quando se analisa, por exemplo, a falta de mão de obra qualificada, torna-se mais visível o grande desafio que exige investimentos, formação técnica e articulações para inserir a população no contexto das dinâmicas e oportunidades de trabalho qualificado.
         Mas também não bastam os investimentos na formação técnica de profissionais. Ao se pensar num horizonte de intocável respeito à cidadania de todos, é preciso avançar na infraestrutura global, que abrange moradia, transporte, saúde, entre outros setores. A sociedade não vai avançar, na velocidade esperada e exigida, no ritmo das mudanças e das demandas que surgem neste terceiro milênio, se não for reconhecido o permanente desafio de empreender uma grande obra educativa e cultural.
         Nesse caminho, é preciso ir além das dinâmicas político-partidárias, que, sozinhas, não garantem o avanço da sociedade, sobretudo no que se refere ao exercício da cidadania e necessidades da população. Com  muita frequência, a exaltação partidária é uma atividade improdutiva e ultrapassada, particularmente quando se restringe a uma “ladainha”, com exaltação de feitos e de figuras. No mundo contemporâneo não cabe mais esse tipo de prática. Basta pensar, por exemplo, o nível de socialização, participação e abordagem que o mundo digital proporciona, gerando um cultura diferente, que dilui concepções piramidais de funcionamento nas relações políticas e sociais. E quando há um coro dos que insistem em permanecer nos velhos funcionamentos, as entidades e instâncias que abrigam esses atores caem no descrédito.
         É importante consultar os índices de credibilidade de instituições, pois são indicadores para a reflexão sobre o conjunto de procedimentos que incluem a consideração da fidelidade aos princípios éticos, dinâmicas de funcionamento, atendimento com serviço qualificado e proximidade com o povo a partir de um diálogo corajoso. Discursos em eventos e efeitos produzidos apenas pela força da mídia não são suficientes para se colaborar na construção de um processo educativo e cultural necessário. Se o teor dessa análise parece complexo, a referência é diretamente vinculada aos funcionamentos de uma sociedade que está exigindo da classe política maior coerência e competência, para ações mais rápidas e qualificadas.
         Exigência que expõe, particularmente, o desafio de se alcançarem mecanismos inteligentes de burocracias governamentais, também responsáveis pelos atrasos no desenvolvimento da sociedade. Um aspecto a se analisar, por exemplo, é o absurdo da demora nos investimentos nas estradas. A morosidade alimenta o processo vergonhoso que produz um número de mortes equivalente ao das guerras.
         A grande obra educativa e cultural, indispensável para avançarmos, supõe a participação de todos, investimentos acertados, empenho responsável de cada um. Sua influência determinante a faz ser, sempre, o ponto de partida, em tudo e para tudo, na compreensão de que é necessário deixar-nos guiar por uma imagem integral da pessoa, respeitando todas as dimensões do seu ser e subordinando as necessidades materiais àquelas espirituais e interiores. Uma obra educativa e cultural só é inesgotável quando assentada sobre valores morais e espirituais.”
(DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO. Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 22 de fevereiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2309 – ano 46 – nº 8, de 20 de fevereiro de 2013, páginas 90 e 91, de autoria de REINALDO AZEVEDO, e que merece igualmente integral transcrição:

“Bento XVI contra a cultura da morte
         
           Ao anunciar que deixará o pontificado no próximo dia 28, o papa Bento XVI  tomou a mais ousada decisão na sua luta contra a cultura da morte e contra o relativismo, que hoje reivindicam o estatuto de um humanismo superior e que se infiltraram no seio da Igreja Católica. Em muitos aspectos, são os inimigos mais poderosos e articulados que ela jamais enfrentou. O sumo pontífice empenhado na preservação da “Cidade de Deus”, para lembrar Santo Agostinho (354-430), de quem é admirador confesso, apelou à experiência do cardeal Joseph Ratzinger, um profundo conhecedor da “cidade dos homens”, e agiu. O teólogo mais influente da Igreja nos últimos 35 anos pode, assim, articular a própria sucessão. Nos dias que se seguiram ao anúncio da decisão, o papa não disse boa parte do que lhe atribuíram e falou bem mais do que muitos perceberam. Ao renunciar, definiu um caminho. Você pode não acreditar em Deus, leitor. Mas evite o ridículo em que vejo cair muitos colegas, daqui e de fora, de não acreditar na clareza da Igreja.
         Na Quarta-Feira de Cinzas, diante dos cardeais, Bento XVI censurou “os golpes dados contra a unidade da Igreja” e “as divisões no corpo eclesial”. No trecho mais significativo de sua homilia, a que se deu pouco destaque, citou o apóstolo Paulo: “Ele denuncia a hipocrisia religiosa, o comportamento que deseja aparecer, os hábitos que procuram o aplauso e a aprovação. O verdadeiro discípulo não serve a si mesmo nem ao público, mas a seu Senhor, na simplicidade e na generosidade”. No dia seguinte, num encontro com sacerdotes da Diocese de Roma, conclamou: “Temos de trabalhar para a realização verdadeira do Concílio (Vaticano II) e para a verdadeira renovação da Igreja”.
         Os “golpes contra a unidade da Igreja” e as “divisões no corpo eclesial” não remetem às picuinhas de bastidores do Vaticano. É um erro ler a vida intelectual da Igreja como quem analisava as divisões internas do Kremlim, e analisa agora as do Palácio do Planalto ou da CBF. Não se está discutindo se, depois da disciplina bronca de Dunga, é chegada a hora da bonomia molenga de Mano Menezes... O catolicismo é um pouco mais complexo. Ao citar São Paulo e lembrar “o verdadeiro discípulo não serve a si mesmo nem ao público, mas a seu Senhor”, Bento XVI está afirmando o óbvio,  frequentemente esquecido até pela hierarquia religiosa, especialmente pelos partidários de certa “Escatologia da Libertação”: para os católicos, a Igreja não é autora de uma verdade humana, submetida a uma permanente revisão, mas a depositária de uma verdade revelada por Deus, que é eterna.
         A confusão só fez aumentar quando o papa afirmou ser preciso trabalhar para “a realização verdadeira do Concílio Vaticano II” e para “a verdadeira renovação da Igreja”. Ignorou-se o adjetivo “verdadeiro”, dito e reiterado, e se deu destaque à “renovação”. Bento XVI estaria, assim, admitindo a própria obsolescência e a da instituição que dirige. O Concílio teve duas faces, a boa e a má. Com ele, o catolicismo buscou se abrir mais à experiência comunitária, um retorno às origens. Fez bem. É preciso radicalizar essa experiência. Mas se deixou infiltrar pelo proselitismo ideológico de esquerda, substituindo, especialmente nos anos 60 e 70, os Evangelhos por uma versão da luta de classes ainda mais primitiva do que a dos comunistas. Nos dias correntes, essa expressão particular do laicismo degenerou no que aqui se chama “cultura da morte”, manifesta especialmente na defesa da legalização do aborto e da eutanásia e no relativismo, segundo o qual a verdade revelada por Cristo e iguala a outras tantas. Não para a Igreja. Não para os católicos. A “verdadeira renovação” de Bento XVI significa a reiteração de fundamentos que não são nem velhos nem reacionários, mas apenas eternos. Para quem crê, é evidente.
         Decisão como essa não de toma de inopino, muito menos em solidão. Quando tornou pública a sua mensagem em homenagem ao Dia Mundial da Paz, em 1º de janeiro, Bento XVI já tinha traçado o caminho da Igreja. E lá se lê com todas as letras e sem nenhuma ambiguidade: “Condição preliminar para a paz é o desmantelamento da ditadura do relativismo e da apologia duma moral totalmente autônoma, que impede o reconhecimento de quão imprescindível seja a lei moral natural inscrita por Deus na consciência de cada homem. A paz é construção em termos racionais e morais da convivência, fundando-a sobre um alicerce cuja medida não é criada pelo homem, mas por Deus”.
         Bento XVI é aquele que veio restaurar na cristandade contemporânea a convicção de que fé e razão podem conviver e se iluminar mutuamente, como já queria Santo Agostinho no século V, de quem o papa, na verdade, fez uma glosa. O chefe da Igreja reafirma a herança do Agostinho da maturidade, segundo quem a Divina Providência dotou o homem do livre-arbítrio – a “lei moral natural inscrita por Deus em nossa consciência”. Ocorre que esse exercício da vontade, como queria o santo, “só é meritoriamente livre quando liberado pela graça de Deus”. Nesse mesmo texto, Bento XVI atacou a cultura da morte: “O caminho para a consecução do bem comum e da paz e, antes de mais nada, o respeito pela vida humana. (...) Quem deseja a paz não pode tolerar atentados e crimes contra a vida. Aqueles que não apreciam suficientemente o valor da vida humana, chegando a defender, por exemplo, a liberalização do aborto, talvez não se deem conta de que, assim, estão a propor a consecução duma paz ilusória. (...) Tampouco é justo codificar  ardilosamente falsos direitos ou opções que, (...) com o hábil recurso a expressões ambíguas tendentes a favorecer um suposto direito ao aborto e à eutanásia, ameaçam o direito fundamental à vida”.
         A “verdadeira renovação”, e não a falsa, da instituição de 2000 está na conservação dos seus valores. Não será desta vez – e, por óbvio, nunca será – que a Igreja vai aderir a uma pauta que a destruiria em busca, como advertiu o apóstolo Paulo, “do aplauso e da aprovação”. Ao contrário! É preciso combater com vontade e energia “o desregramento  perverso dos pecadores”. A Igreja, é verdade, perde fiéis e tem dificuldade de formar sacerdotes na Europa, mas se expande na África e na Ásia, onde a defesa incondicional da vida e da família dita “tradicional” tem potencial subversivo, a exemplo do que acontecia no mundo helênico, nos primeiros tempos do cristianismo. Não por acaso, o cristianismo, em especial o catolicismo, é a religião mais perseguida no mundo.
         Em pleno século XXI, milhares de pessoas são mortas porque ousam proclamar a mensagem de Cristo. Em Darfur, no Sudão, 500 000 foram assassinadas no que a imprensa ocidental chamou candidamente de “conflitos sectários”. Eram cristãos sendo massacrados por milícias islâmicas. No dia 11 de abril, a encíclica Pacem in Terris, do celebrado João XXIII, completa cinquenta anos. Lá está: “Em uma convivência humana bem constituída e eficiente, é fundamental o princípio de que cada ser humano é pessoa; isto é, natureza dotada de inteligência e vontade livre. Por essa razão, possui em si mesmo direitos e deveres, que emanam direta e simultaneamente de sua própria natureza. Trata-se, por conseguinte, de direitos e deveres universais, invioláveis e inalienáveis. E, se contemplarmos a dignidade da pessoa humana à luz das verdades reveladas, não poderemos deixar de tê-la em estima incomparavelmente maior. Trata-se, com efeito, de pessoas remidas pelo Sangue de Cristo, as quais com a graça se tornaram filhas e amigas de Deus, herdeiras da glória eterna”. Bento XVI renunciou ao comando dessa Igreja para que a Igreja não corra o risco de renunciar a si mesma e à herança que nos torna filhos de Deus porque filhos do homem.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas.

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, qualificada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, OS DESAFIOS DA LOGÍSTICA E A EDUCAÇÃO PARA TODOS


“Desafios da logística
        
            Nos últimos anos, o mundo globalizado e competitivo da economia tem exigido que as empresas revisem seus planejamentos estratégicos. Entre as principais ferramentas para esse processo está a logística, segmento que é um potencial gerador de emprego e de competitividade. Ele é um ramo da administração cujas atividades estão voltadas para o planejamento da armazenagem, circulação (terra, ar e mar) e distribuição de produtos. Se quisermos que uma empresa tenha vantagem competitiva, no cenário atual, é extremamente importante investimentos em profissionais do ramo da logística. Mas como o Brasil tem se situado nesse contexto? Quais são os reais investimentos nesse segmento? O Brasil está preparado para esses novos tempos? Temos profissionais suficientes para atuar nesse setor? Esses são questionamentos válidos quando analisamos os projetos que estão a caminho. O Brasil é a bola da vez no mercado mundial. Irá sediar nos próximos anos os maiores eventos do planeta, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Esses não são os únicos nem os maiores motivos, mas são considerados importantes para que até lá estejamos estruturados para que tudo funcione com eficiência e qualidade. Precisamos melhorar muito.
         A necessidade da logística data de séculos atrás, quando o segmento estava associado apenas à atividade militar. Na preparação de uma guerra, ela já era imprescindível. Ou seja, era necessária uma organização extraordinária para que equipamentos de guerra, grandes quantidades de soldados e armamentos fossem deslocados com eficiência aos campos de combate. Mais ainda, envolvia armazenagem e distribuição de alimentos, munição e armas. O tempo passou e, nos últimos 20 anos, a logística evoluiu e chegou a empresas de todos os tamanhos. Ela é bastante ampla e inclui muito mais do que armazenagem e distribuição de produtos no mercado interno e externo. O cenário brasileiro é bom, temos um mercado aberto, uma moeda estável, superávit externo e grande aceitabilidade de investimentos externos. No ano passado, a presidente Dilma Rousseff lançou o Programa de Investimentos em Logística com objetivo de melhorar a competitividade de logística do país e beneficiar micro e pequenas empresas. Ela anunciou investimentos de R$ 133 bilhões em nove trechos de rodovias e em 12 de ferrovias. Apesar dos esforços, de acordo com especialistas, o déficit de investimentos em infraestrutura no país chega a R$ 500 bilhões.
         Esses são valores alarmantes. Ainda temos muitos desafios a enfrentar em logística. Segundo levantamentos recentes, temos mais de 150 mil pessoas trabalhando diretamente com o setor e será necessário um número 25% maior até 2014. O que preocupa os empresários é a falta de profissionais especializados disponíveis neste mercado de trabalho. Para preparar esse profissional que visa conhecer o setor e ingressar nele, já é oferecido o curso de graduação tecnológica em logística, em apenas dois anos. O curso prepara profissionais para atuar nas diversas etapas da logística, nos processos de aquisição de materiais, gestão de estoques, embalagem, armazenamento e processos de distribuição. Estamos diante de grandes desafios. Investimentos em infraestrutura, processos logísticos e capacitação de pessoas em logística são palavras de ordem para o Brasil.”
(ARIMAR COLEN GONTIJO. Professor, coordenador do curso de graduação tecnológica em logística da Faculdade Novos Horizontes, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 19 de fevereiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 28 de janeiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de MARCO SILVA, que é professor, autor e doutorando em educação, e que merece igualmente integral transcrição:

“Educação para todos
        
          Nas duas últimas décadas, houve uma grande ampliação da oferta de educação para os brasileiros de até 14 anos. Dados do censo 2010 apontam que o ensino fundamental para essa parcela da população está praticamente universalizada. Entretanto, o acesso ao ensino básico não foi universalizado no Brasil. Ainda convivemos com 14 milhões de jovens e adultos analfabetos e 33 milhões que não chegaram ao quinto ano do ensino fundamental. Entre os maiores de 25 anos metade não possui o ensino fundamental completo e 65% de todos que já completaram a maioridade não têm o diploma de ensino médio.
         Em Minas, 920.134 moradores com mais de 14 anos nunca freqüentaram uma escola. Só na capital são 52.899. Dos mineiros que têm idade superior a 24 anos, 3.298.861 não completaram o ensino fundamental no estado. Em Belo Horizonte são 257.973. Apesar disso, muitas turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) nas escolas públicas e particulares, que oferecem um serviço gratuito, são fechadas anualmente por falta de alunos.
         Isso não é sem razão. A divulgação desse serviço nos meios de comunicação é praticamente inexistente. Para atingir esses brasileiros, que não leem jornais, as campanhas em rádio e televisão não podem ser dispensadas. Essa é uma tarefa da qual os governos municipais, estaduais e federal não podem se eximir. Além disso, as próprias empresas de comunicação podem dar a sua contribuição nesse campo.
         Por outro lado, a informação apenas é insuficiente. Para voltar a estudar, é necessário que o cidadão vença o constrangimento frente às manifestações sociais, explícitas ou veladas, de reprovação. A máxima de que estudar é algo reservado exclusivamente aos mais jovens está impregnada no senso comum. Por isso, muitos adultos relatam que são desencorajados e, até, ridicularizados pelo grupo de amigos quando dizem que voltaram para a escola.
         Para superar esse tipo de preconceito a atuação de líderes sindicais, comunitários e religiosos das mais diferentes denominações vem se mostrando muito eficaz. Muitos adultos que passaram a frequentar o ensino fundamental quebrando paradigmas e superando constrangimentos, relatam que foram encorajados nas igrejas, entidades sindicais e comunitárias. É preciso que mais líderes compreendam a importância de atuar nessa perspectiva.
         Convivemos com muitos e bons exemplos de empresas que estimulam, facilitam e até investem nos trabalhadores que decidiram voltar aos bancos escolares. Entretanto, ainda existem empresários que trabalham numa direção oposta. É muito comum encontrarmos, por exemplo, relatos de funcionários que não conseguem pequenas mudanças no seu horário de trabalho para compatibilizar escola e emprego. Nem mesmo quando não há redução da carga horária ou prejuízos à funcionalidade e lucratividade da empresa. Nesse sentido, é muito importante que as federações e sindicatos empresariais demonstrem aos seus filiados mais resistentes a importância de adotar políticas de maior incentivo, viabilização da educação entre jovens e adultos.
         Com a universalização do ensino médio até 2016 para aqueles que estão na chamada faixa apropriada, como quer o Ministério da Educação, todos os brasileiros que nascem atualmente certamente terão o ensino básico. Entretanto, não se pode deixar de pensar nos milhões de filhos desta pátria que nem sequer sabem ler, escrever ou completaram as etapas básicas da escolarização.
         O artigo 208 da Constituição brasileira determina que o ensino básico deve ser ofertado inclusive aos que não tiveram acesso a ele na idade própria. Entretanto, o Estado brasileiro já demonstrou ser ineficiente para efetivar esse preceito constitucional sozinho. A saída parece estar na participação da sociedade civil organizada e de cada cidadão para garantir o direito à educação a todos os brasileiros.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso da ordem de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade  de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; saúde; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados; macrodrenagem urbana; logística reversa); meio ambiente; habitação; emprego, trabalho e renda; segurança alimentar e nutricional; assistência social; previdência social; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; agregação de valor às commodities; minas e energia; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer; sistema financeiro nacional; turismo; comunicações; qualidade (planejamento, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...  

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, O PRÉ-SAL, A EDUCAÇÃO E O BOM PROFESSOR


“A educação e o pré-sal

O estudo Indicadores de desenvolvimento sustentável-2012 e a Pesquisa por Amostragem de Domicílios (Pnad 2011), realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos oferecem preciosas informações para consulta e tomada de decisões. Tais publicações nos permitem cruzar inúmeros indicadores das dimensões social, econômica, ambiental e institucional. Vamos fazer aqui uma análise de um indicador da dimensão social: a taxa de escolaridade. No perfil ideal de escolaridade para um país como o Brasil, o recomendável seria que a população dedicasse de 11 a 13 anos de sua vida aos estudos, mas somente 24,5% da população brasileira com mais de 25 anos tem 11 anos ou mais de estudo. Nos Estados Unidos, para efeito comparativo, 85,3% da população tem o equivalente ao nosso ensino médio e 27,9% tem curso superior.
         Mas a realidade aqui é outra. O que faremos para reverter essa situação? Ao relacionar a taxa de escolaridade nos últimos 16 anos com outros indicadores, podemos chegar a algumas conclusões. O índice Gini, que expressa o grau de concentração de renda da distribuição do rendimento da população (quanto mais próximo de zero maior a igualdade), passou, no Brasil, de 0,592 para 0,501, um decréscimo de 15,32%; a taxa de fecundidade, de 2,5 filhos para 1,9 filhos por família, um decréscimo de 24%. Todos esses índices têm relação entre si e mostram a importância da taxa de escolaridade para a geração de riquezas e consequente bem-estar para uma nação. Outro indicador relacionado à educação é a taxa de escolarização (percentual da população que frequenta a escola na sua faixa etária). Com idade entre 15 e 17 anos, a taxa de escolarização é de 83,7%, e entre 18 e 24 anos, é de 28,9%. Isso significa que temos hoje, no Brasil – pasmem – mais de 17 milhões de jovens fora da escola. Trata-se de um desafio gigantesco que temos pela frente: colocar nossos jovens na sala de aula.
Mas o que tem a ver a escolaridade do brasileiro com royalties do petróleo do pré-sal? Vejamos. Em 2011, havia no Brasil 53,8 milhões de estudantes, sendo que a rede pública era responsável por 78% desse total. Isso nos mostra que para melhorar a educação significativamente no país é preciso mais recursos financeiros e melhor gestão sobre esse montante e sobre o sistema educacional com um todo.
O Congresso Nacional, que vem discutindo esse assunto há anos, apresentou recentemente uma proposta de distribuição dos royalties entre os governos federal, estaduais e municipais, além da destinação desses para investimentos na educação. Houve um debate nacional entre os congressistas, mas não vimos nenhuma manifestação dos professores nem de seus representantes e muito menos dos estudantes.
Se os recursos financeiros dos royalties fossem destinados à educação, tomando como base a produção anual de petróleo brasileiro, somente isso corresponderia a um acréscimo de pelo menos o equivalente a 10% do investimento brasileiro atual em educação. Sabemos que isso não é o suficiente para mudar radicalmente a educação, mas também não é pouca coisa. Sem educação não haverá desenvolvimento sustentável, nem crescimento econômico que se sustente porque não haverá sociedade justa sem oportunidades para todos. A educação é a base.”
(RONALDO GUSMÃO. Presidente do Instituto de Educação Tecnológica (Ietec), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 17 de fevereiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2308 – ano 46 – nº 7, de 13 de fevereiro de 2013, páginas 80 e 81, de autoria de GUSTAVO IOSCHPE, que é economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Como identificar um bom professor
         
          Vou fazer uma pergunta fácil: você teve algum professor especial, que fez diferença na sua vida? Se você passou mais de dez anos estudando, aposto que não apenas a resposta foi positiva, como imediatamente lhe veio à mente aquele (a) professor (a). Agora, uma pergunta mais difícil: você poderia descrever as qualidades desse professor especial, de forma que seus atributos pudessem ser copiados por todos os outros professores em atividade?
         Uma série de estudos demonstra que um bom professor exerce influência substancial sobre seus alunos, não apenas durante o período escolar mas por toda a vida. Boa educação melhora a saúde, diminui a criminalidade e aumenta o salário. Eric Hamushec, pesquisador de Stanford, calcula que um professor esteja entre os 25% do topo da categoria e que tenha uma turma de trinta alunos gera, a cada ano, um aumento na massa salarial desses alunos de quase 500 000 dólares ao longo da vida deles. O problema é que, mesmo que todos saibam intuitivamente quem é um bom professor, ainda não conseguimos explicar e decompor o seu comportamento de forma que seja possível identificar os bons profissionais, promovê-los e reproduzir a sua atuação. Os estudos estatísticos, que se valem de dados facilmente quantificáveis, nos trazem alguns bons indícios – por exemplo, a experiência do professor só importa nos dois a cinco primeiros anos de carreira; professores que faltam às aulas têm alunos que aprendem menos; professores que obtiveram notas melhores em testes padronizados, estudaram em universidades mais competitivas e têm mais habilidade verbal exercem impacto positivo sobre o aprendizado dos alunos; quanto mais sindicalizados os professores, mais elas faltam e mais insatisfeitos estão com a carreira; e professores com expectativas mais altas para seus alunos também obtêm resultados superiores. Essas são todas variáveis “de fora”; estudos mais recentes começam a entrar na escola e na sala de aula e tentam explicar os componentes de um bom professor.
         Um estudo lançado em janeiro representa um grande passo à frente (esse e todos os outros estudos citados aqui estão em www.twitter.com/gioschpe). Patrocinado pela fundação Bill & Melinda Gates, ele conseguiu criar um “mapa da mina” para a identificação de bons professores, depois de acompanhar milhares de professores e alunos em sete distritos escolares americanos (incluindo Nova York, Dallas e Denver) ao longo de três anos. Normalmente, só cito neste espaço estudos publicados em revistas acadêmicas ou simpósios, que são revisados e criticados por outros acadêmicos, porque é pequena a probabilidade de uma fundação privada reconhecer em um relatório que, “depois de três anos de esforços e milhões de dólares gastos, não encontramos nada de relevante”.  Nesse caso, porém, creio que a exceção é justificada, não apenas por se tratar de uma fundação séria, que chamou pesquisadores renomados para o trabalho, mas também por seu design inovador.
         Em 2009-2010, o estudo tentou criar instrumentos que identificassem professores competentes. Chegou a um menu de três itens: observação de professores em sala de aula, questionários preenchidos pelos alunos e ganhos dos alunos em testes padronizados, ou seja, quanto os alunos daquele determinado professor ganhavam em aprendizado de um ano a outro nesses testes (equivalente ao nosso Enem ou Prova Brasil). Fez-se um trabalho cuidadoso para estabelecer quem deveria observar os professores, quantas vezes e olhando para quais dimensões; como inquirir alunos; e, no quesito valor agregado, teve-se a precaução de controlar  uma série de variáveis dos alunos (status social, situação familiar etc.) para que se pudesse isolar a qualidade do professor, não do aluno.
         Mesmo com todos esses cuidados, ainda há muito que não sabemos nem controlamos que pode interferir nos resultados. Pode ser que os melhores alunos procurem os melhores professores, os que os melhores professores escolham dar aulas para turmas ou séries melhores, e aí o que pareceria o impacto do professor seria uma complexa interação entre professores e alunos que inviabilizaria qualquer análise. (Seria como examinar a eficácia de um médico julgando apenas a taxa de cura de seus pacientes. Se os casos mais complicados procuram os melhores médicos, ou se os melhores médicos procuram os pacientes mais intratáveis, é provável que os melhores médios e os piores tenham pacientes com expectativa de vida similar, apesar e de terem competências radicalmente distintas.) A fundação então conseguiu fazer o que se faz nas ciências exatas para isolar o efeito de uma variável: no ano seguinte, distribuiu os professores aleatoriamente. A turma a que cada um ensinaria foi totalmente determinada por sorteio. Mais de 1 000 professores, atendendo mais de    60 000 alunos, participaram. E os resultados são fascinantes.
         Em primeiro lugar, a performance esperada dos professores ficou muito próxima da performance real (ambas medidas pelo aprendizado de seus alunos). Ou seja, os professores identificados como bons através das observações de seus pares, questionários de alunos e valor agregado em anos anteriores continuaram, grosso modo, sendo bons professores ensinando a turmas aleatoriamente escolhidas.
         Em segundo lugar, foi possível sofisticar o modelo. Testaram-se quatro variações das ferramentas de avaliação dos professores, e notou-se que uma das melhores combinações era aquela que dava peso igual (33% a cada um) aos três componentes (performance em teste, observação e questionário de alunos). Quando alguns professores reclamam que é reducionismo avaliá-los somente pela performance de seus alunos em testes, aparentemente têm razão: é melhor adicionar essas duas outras variáveis. Também se testaram vários modelos diferentes de observação docente, desde aquele em que o professor é avaliado por seu diretor até versões mais complexas. Os modelos mais confiáveis se mostraram aqueles em que o professor foi avaliado por pelo menos quatro observadores, em aulas diferentes, sendo dois deles pessoas da administração da escola (é importante que seja mais de uma para evitar a influência de conflitos/preferências pessoais) e dois, outros professores, treinados para a tarefa.
         Nenhum estudo é definitivo, muito menos um feito por uma fundação, e nada garante que os mesmos achados serão encontrados no Brasil, ainda que  normalmente o que apareça nos Estados Unidos também se verifique aqui. Mas, ante o modelo atual, obviamente fracassado, em que o professor é contratado por concurso no início da carreira e depois fica esquecido em sua sala de aula, fazendo o que bem entender e sendo promovido por nível de estudo e experiência, o horizonte descortinado por essa pesquisa é bem mais promissor. Precisamos encontrar e premiar os bons professores. E ter ferramentas objetivas e mensuráveis para tirar os maus profissionais da sala de aula. Sem isso, dificilmente sairemos dessa pasmaceira.”

Eis, portanto, mais importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, soberanas, civilizadas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
      
     a) a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até à pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; emprego, trabalho e renda; moradia; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; agregação de valor às commodities; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações; sistema financeiro nacional; minas e energia; qualidade (planejamento, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, qualificada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!... 





  
        







segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, A HORA DA BARBÁRIE E A FÉ NA JUVENTUDE


“A barbárie que nos cerca
         
        Basta olhar em volta para perceber que estamos perdendo o senso de humanidade. A cobrança, cada vez mais reiterada, de atenção aos direitos humanos parece ter se tornado um brado obsessivo, uma espécie de neurose que habita a alma das pessoas inconformadas. Defender os valores universais de dignidade tem se tornado quase uma forma de assumir certa “ingenuidade” frente à complexidade do mundo. Só os puros, tolos e alienados perdem tempo com “direitos humanos”.
         Essa situação tem criado um território propício para o cinismo. Em nome de um pretenso realismo, passamos a assistir a lutas violentas como se fossem esporte sadio; a acompanhar a privação da liberdade de usuários de drogas, como se fizesse parte de uma ação protetora; assistir a filmes  verdade histórica em nome de uma ética das conveniências ideológicas, como Argo, que transforma a ação política nacionalista iraniana em puro exercício de terrorismo.
         Em cada um desses eventos a ideia de homem é jogada para fora da luz da razão em nome de uma valor exterior ao homem, quase sempre de natureza econômica. A própria economia, que já foi um refúgio da racionalidade, se perde hoje na inversão absoluta de prioridades: volatiza os empregos (e com isso as oportunidades humanas reais de uma vida digna) enquanto materializa as estratégias de rendimento em torno do mundo especulativo e rentista.
         O que mais espanta nesse cenário é a sensação de concerto, de ordenamento, de um certo cumprimento de expectativas. As pessoas, por um mecanismo decorrente do esvaziamento da política, parecem ter mergulhado numa crise de segurança que vem se firmando nos frágeis esteios que ainda restam. Assim, como a derrocada parece próxima (seu filho pode ser o próximo desempregado ou, pior ainda, o drogado da esquina), o melhor é se aferrar em certezas que partem da autoridade.
         Há uma passagem no clássico Alice no país das maravilhas, de Lewis Carrol, que parece ter sido pensado para nosso. Alice é convidada a participar do julgamento e ouve, aos brados, a rainha mandar cortar a cabeça do acusado. Ao cobrar o julgamento, recebe como resposta: “Primeiro a sentença, depois o julgamento”. Esta é a justiça que nos acompanha hoje em dia: primeiro sentenciamos de morte, depois derramamos nossa piedade na forma de um julgamento vicário. Para o bem e para o mal. Há sentenças que condenam e que libertam.
         É assim que chamamos os usuários de drogas de bandidos ou vagabundos; tachamos os iranianos de Argo de terroristas; consideramos, na via inversa, os torturadores americanos como soldados; nomeamos os caçadores de lucro a qualquer custo (sobretudo do emprego e do pagamento de impostos) de empresários; damos aos latifundiários que envenenam a terra e a economia o título nobre de agroempresários; entronizamos os especuladores urbanos que empalidecem o horizonte como empreiteiros; elogiamos os jornalistas que mentem promovendo-os a formadores de opinião. Primeiro cortamos a cabeça, depois explicamos: é tudo para o bem da sociedade.
         O princípio de Alice é operacional em várias áreas. Ele reforça o julgamento social ao mesmo tempo que ameniza a consciência individual. No caso de usuários de crack, em vez de combater uma economia que gera excedentes descartáveis, acusamos o indivíduo de desvios morais e psicológicos. Para acolhê-los, oferecemos a internação compulsória, que nada mais é que prisão ilegal (primeiro a sentença, depois o julgamento) e que tem se mostrado ineficiente ao longos dos anos.

BELO E JUSTO A mesma lógica está presente na forma como as artes e entretenimento vêm se firmando como terreno de sedimentação da ideologia. Em Argo e A hora mais escura não é preciso muita atenção para ver como a humanidade é dividida em dois times, com nítida primazia moral de um dos lados. Tudo que é construção histórica, como mostrou Edward Said em Orientalismo,  ganha foros de naturalização no cinema americano. Os árabes são potencialmente perigosos, o islamismo é terrorista, os fins (a defesa dos interesses econômicos na região) justificam os meios (entre eles a tortura).
         Que essa lógica sirva aos interesses políticos e militares se entende, tem sido assim durante os séculos. O que chama a atenção é o fato de setores que sempre estiveram na ponta da defesa do humanismo, como a arte e o conhecimento, se tornarem hoje meros apêndices daqueles interesses. Quem imaginaria que, em 2013, fosse necessário gritar contra a tortura? Denunciar a naturalização de seu uso? Assistir impassivelmente ao seu exercício como se fosse apenas mais um dos instrumentos aptos para situações de risco?
         O que mais impressiona é o fato de ambos os filmes, Argo e A hora mais escura, se prestarem a esse papel, mesmo se tratando de produções extremamente benfeitas do ponto de vista artístico e técnico, o que explica os prêmios que vêm ganhando mundo afora. O divórcio entre ética e estética está se tornando uma clivagem. Um mundo, como queria Platão, habitado pela beleza, justiça e bondade está cada vez mais distante.”
(JOÃO PAULO. Editor de Cultura, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de fevereiro de 2013, caderno PENSAR, página 2).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 15 de fevereiro de 2013, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Fé na juventude

A Igreja Católica, rumo à Jornada Mundial da Juventude, que será realizada no Rio de Janeiro em julho de 2013, promove a 50ª edição da Campanha da Fraternidade, com o tema “Fraternidade e Juventude”. Nesse caminho, a Igreja consolida sua opção preferencial também pelos jovens, consciente dos desafios que tem de enfrentar para renovar sua linguagem, articular seu diálogo, inserir-se nas redes sociais e garantir espaço privilegiado aos jovens na experiência do seguimento de Jesus Cristo, sua mais importante tarefa evangelizadora.
Para a Igreja Católica, particularmente no Brasil, este é um ano da juventude. As grandes metas incluem a oferta de caminhos para que os jovens experimentem o encontro pessoal com Jesus Cristo, na condição de discípulos missionários, com uma presença mais ativa nas comunidades de fé. Assim, é possível fazer crescer os dons e talentos da juventude, ampliando sua participação na busca de uma sociedade mais solidária, lugar de convivência respeitosa e comprometida com o bem comum.
Essa aposta tão importante no caminho deste tempo de quaresma está iluminada pelo horizonte comovedor e evangelicamente rico anúncio feito pelo papa Bento XVI, de que deixará o ministério petrino dia 28. Um acontecimento que remete a Igreja, de modo muito forte, pela envergadura espiritual e moral do papa, ao mais genuíno da simplicidade evangélica. As inteligências são desafiadas na busca de razões que, elaboradas, ancoram a decisão de tal porte e tão impactante. As mentes também ganham uma luminosidade incomum que exige assentamento na mais qualificada significação da condição de simples “servos da vinha do Senhor”, como o papa Bento XVI dizia no dia de sua eleição como sucessor de Pedro, em 2005.
Ainda muito importante é considerar o desafio posto a todos os que servem na Igreja, impulsionados a uma corajosa revisão na ocupação de cargos e lugares, no desempenho de responsabilidades e na coragem saudável de não gabar-se de nada e nem se considerar, absolutamente, mais importante ou privilegiado. Na apresentação de sua renúncia, o papa Bento XVI diz que, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância na vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o evangelho é necessário vigor, do corpo e do espírito.
Não há inteligência que substitua, estratégias que se equiparem ou ações políticas e diplomáticas que alcancem a estatura e força transformadora que virá sempre de que cultiva esse acenado vigor espiritual. Neste momento oportuno, a Igreja percorre o caminho rico e interpelador do tempo da quaresma, iluminada pelo brilhante testemunho de fé e de profunda intimidade com Deus, na vida e ministério do papa Bento XVI. É chamada a avaliar, compreender e dar uma resposta adequada ao tesouro inesgotável de sua fé. Entre muitos capítulos que estão sendo repassados, em busca de posturas e respostas novas, está o compromisso emanado da opção preferencial pelos jovens. A efetivação dessa aposta, indispensável, inadiável e sempre atual no caminho evangelizador da Igreja, é um enorme desafio. Supõe muitas e profundas mudanças.
O intocável tesouro da fé, buscado cada vez mais na sua riqueza inesgotável, para ser aprendido e vivido, desafia o caminho pedagógico e formativo da Igreja, exigindo mudanças iluminadas por uma compreensão capaz de produzir nova lucidez e intuir novas respostas. Não se trata apenas de multiplicar alguns eventos, retomar práticas ou simplesmente dar algumas indicações. Os desafios são amplos. A cultura midiática, por exemplo, requer um conhecimento mais apurado, com resultados na abordagem das muitas e novas linguagens, para garantir aos jovens a vivência de experiências interativas, diálogos e, particularmente, testemunhos.
Importante, sobretudo neste tempo de quaresma e na vivência da Campanha da Fraternidade, é cultivar, pela simplicidade evangélica, uma espiritualidade capaz de fortalecer sempre a opção preferencial pelos jovens.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas  e oportunas  abordagens e reflexões que acenam, em meio a maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, soberanas, civilizadas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente no mês de seus nascimento –, ate a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, qualificada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...