terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A CIDADANIA, UMA REVOLUCIONÁRIA DA EDUCAÇÃO E UM ANO FELIZ

“Helena Antipoff
        
         
         Em um primeiro momento, podemos afirmar que um legado à história da psicologia , focada em ações humanas apoiadas em sérios estudos dirigidos a ideais de harmonia, de ajuda e respeito mútuos entre os indivíduos, desde os mais debilitados até os mais talentosos, constitui o contexto substancial que sempre se manteve na vida e obra de Helena Antipoff.
         Em 1929, dona Helena aceitou o convite do secretário de Educação do Estado de Minas Gerais, Francisco Campos, no governo de Antônio Carlos de Andrada, para organizar o Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento de Minas Gerais. Fundou, então, em Belo Horizonte, o primeiro laboratório de psicologia aplicada da América do Sul.
         Esse laboratório, sob sua direção, promoveu em 1931 e 1932 a homogeneização das classes nos grupos escolares da capital e em diversas outras escolas do interior do Estado, de acordo com os critérios de desenvolvimento mental, idade cronológica e escolaridade. A existência de um grande número de alunos especiais tornou-se patente e daí surgiram as classes especiais e a criação da Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais.
         Já na década de 1930, Helena Antipoff fazer ver a necessidade de criar jardins de infância, chegando a fundar alguns em Minas, formando professores especializados, reconhecendo a importância do atendimento pré-escolar, dentro do conceito, hoje cientificamente comprovado, da formação intelectual e emocional da criança realizar-se em seus primeiros anos de vida. Mas sofreu, naquela época, campanha dos que achavam que a criança pequena devia permanecer somente junto aos pais.
         Só mais tarde, em 1954, surgiu a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), hoje presente em todo o Brasil.
         Seu legado evidencia a cientista por excelência que era, contribuindo decisivamente para o progresso da psicologia e da educação no país, não só em aspectos teóricos, mas também práticos. Ela possibilitou uma visão mais realista e científica do desenvolvimento de nossas crianças, tanto aquelas consideradas normais como as com necessidades especiais, portadoras de deficiências ou de altas habilidades, mesmo que carentes ou abandonadas. Fomentou e acompanhou o desenvolvimento de nossas institucionais educacionais regulares e especiais, e participou da renovação do ensino e da atualização dos professores, além de fundar diversas associações em prol dos “excepcionais”.
         Nascida em 25 de março de 1892, em Grodno, na Rússia, Helena Antipoff viveu por mais de 40 anos no Brasil, onde faleceu a 9 de agosto de 1974, na Fazendo do Rosário, no município de Ibirité (MG), deixando um grande legado para a educação brasileira.
         Helena Antipoff demonstrou seriedade, poder de reflexão e confiança na ciência como força para alcançar o progresso e resolver os bloqueios que interceptam o desenvolvimento humano.”

(Wellington Silveira. Vice-Presidente da Fundação Helena Antipoff, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 22 de dezembro de 2013, caderno O.PINIÃO, página 19).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 27 de dezembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Ano novo feliz?
        
         Nos votos tradicionalmente feitos, no desejo de cada coração e, particularmente, nas urgências e demandas que os variados cenários da sociedade estão gritando em alta foz, “feliz ano novo” é o augúrio contido; ano novo pela contagem de um dia após o outro não é novidade. O tempo passa inexoravelmente. Ninguém o detém e ele corre talvez ainda mais veloz na atualidade. São avalanches criadas, mas pouca interioridade.
         Os grandes mestres ensinam que o tempo é, sobretudo, uma questão de interioridade. Se tudo é centrado na exterioridade e nas aparências, o tempo não só passa muito rápido como também de maneira pouco aproveitável. Desse modo, a cidadania fica comprometida, habitua-se a superficialidades e, lamentavelmente, o tempo da vida é compreendido como momento para buscar o atendimento de interesses mesquinhos. Sem interioridade, adota-se um modo egoísta de viver, sem comprometimentos com a ordem social e com a lúcida exigência paras as dinâmicas políticas.
         O desejo de “Feliz ano novo”, para além da formalidade, uma expressão automática, até maquinal, para ser realidade, precisa algo mais. É urgente cultivar uma nova sensibilidade social e política, formatando de maneira nova a cidadania. A “novidade” do “ano novo” depende do sentido social que alavanca e impulsiona a condição cidadã de cada indivíduo. Esse sentido social inclui desde a educação de não jogar um papel de bala fora do cesto de lixo até a esperada competência e velocidade indispensáveis nas ações dos que governam, dos que têm maiores responsabilidades como construtores de uma sociedade  pluralista.
         O profeta Isaías, para despertar a consciência do povo, ação insubstituível para a novidade no tempo, fala do sentimento e do propósito de Deus a ser também assumido por todos os cidadãos de boa vontade. Ele compartilha que Deus, por amor, não descansa enquanto não surgir na sociedade, como luzeiro, a justiça, e não se acender nela, como uma tocha, a salvação. Desse modo se desenha o caminho para desdobramentos que possam trazer o novo, na contramão de interesses meramente grupais, partidários e religiosos, algumas vezes mesquinhos e alienantes.
         O ano que vem chegando não pode se resumir ao período eleitoral, considerada a sua importância decisiva, nem simplesmente à festa da Copa do Mundo. Deve se constituir nesse tempo que se inicia uma chance para que os políticos não esgotem suas ações em meandros partidários, visando a interesses próprios e de apoiadores. O sinal estará dado na qualidade do discurso, que deve ultrapassar o conservadorismo de ataques mútuos ou de armação de ciladas. A hora é de propor ações e programas com comprovada autoridade política, a partir do entendimento de que o povo é o verdadeiro detentor da soberania.
         Essa compreensão inclui, pois, a competência e a sensibilidade requeridas para priorizar as necessidades do povo. Nesse sentido, ainda longo é o caminho e necessários são ajustamentos nas práticas executivas governamentais. Nota-se uma falta de sensibilidade social e embasamento humanístico nos mais diversificados setores, inviabilizando atendimentos básicos, como transporte, moradia, saúde, educação, lazer. A burocratização e a redução de tudo a números, analisados e tratados nos escritórios, comprovam essa falta de sensibilidade. Revelam ausência de formação humanística que estreita a própria cidadania, permitindo uma satisfação a partir de indicadores que, mesmo volumosos, não podem camuflar a aflição dos outros, particularmente dos mais pobres e sofredores.
         As estratégias e metas são importantes nas definições e nas escolhas. Imprescindível é o cultivo da sensibilidade social, à luz da fé e inspirada por um alto sentido de cidadania. Caso contrário, chove-se no molhado e não se verificam avanços globais, com o necessário envolvimento de todos. Em busca do novo para o ano novo, vale ter em conta a indicação do papa Franscisco, para quem crê e para quem quer honrar sua cidadania. Ele sublinha que cada cristão, cidadão e comunidade tem o dever, de quiser gerar o novo, de ser instrumento de Deus e da cidadania, a serviço da libertação e da promoção dos pobres. Essa é a única via de capacitação para contribuições relevantes no diálogo em vista da paz social. Se todos seguirem essa indicação, 2014 poderá ser, efetivamente, um “ano novo”.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
   
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
   
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...  

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

A CIDADANIA, OS PRIMEIROS MIL DIAS DE VIDA E O MENINO JESUS

“Os mil dias de vida
        
         Os mil primeiros dias de vida, que compreendem o período entre a gravidez e o segundo aniversário da criança, oferecem uma janela única de oportunidade para a construção de um futuro mais saudável e próspero. Vão se refletir na qualidade de saúde do pequeno ser a curto, médio e longo prazo. Durante a gravidez, a desnutrição pode ter um impacto devastador sobre o crescimento e desenvolvimento saudável de uma criança. Os bebês que estão desnutridos intraútero têm um risco maior de morrer na infância e são mais propensos a enfrentar déficits cognitivos e físico ao longo da vida e problemas crônicos de saúde. A desnutrição continua sendo uma das principais causas de morte de crianças em todo o mundo e suas consequências são particularmente graves e muitas vezes irreversíveis em crianças menores de dois anos de idade. Em muitos casos resultará em depressão do sistema imunológico, tornando-as mais suscetíveis a morrer devido a doenças comuns, como pneumonia, diarreia e malária.
         Ao se concentrar em melhorar a nutrição de mães e crianças nos seus primeiros mil dias de vida, as autoridades governamentais podem ajudar a garantir que uma criança tenha uma vida mais saudável e produtiva. Dessa forma as famílias, comunidades e países terão mais chances de quebrar o ciclo de pobreza. O desempenho escolar de um indivíduo aumenta e com isso seu potencial de ganhos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esses fatores poderiam, por si só, garantir um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de um país em pelo menos 2% a 3% ao ano.
         As estimativas mais recentes do Ministério da Saúde revelam que a mortalidade infantil (crianças até um ano de idade) na faixa de 14,6 para cada 1 mil nascidos vivos; a mortalidade neonatal (bebês do nascimento até um mês de vida) representa 70% desse total (aproximadamente 10 por mil nascidos vivos). Estudos realizados pela Sociedade Brasileira de Pediatria demonstram que 10% dos recém-nascidos de mães sem nenhuma história ou suspeita de complicação durante a gestação vão necessitar de cuidados especiais e reanimação neonatal. Esse quadro é muito mais grave quando a criança é prematura, aumentando esse risco para até 60%. A melhora da atenção perinatal é fundamental para a mudança dessa triste realidade, que nos deixa  distantes dos países desenvolvidos.
         A priorização de ações desde a gestação inclui atenção prioritária na sala de parto e a promoção de uma política para tratamento de crianças desnutridas com alimentos especiais e terapêuticos. Na prevenção da obesidade, o estímulo à atividade física, com controle do tempo de uso de videogames, TV, computadores e outras mídias, além da prevenção do uso de tabaco, álcool e outras drogas, são soluções que farão a diferença. Os principais cientistas, economistas e especialistas no setor concordam que a melhoria das condições de saúde na janela crítica dos primeiros mil dias de vida é um dos melhores investimentos que se podem fazer para alcançar o progresso duradouro na saúde e no desenvolvimento global.”

(RAQUEL PITCHON. Presidente da Sociedade Mineira de Pediatria, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 25 de dezembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor de Um homem chamado Jesus (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Com Jesus, faça-se hoje menino
        
          Natal é festa de infância, ainda que tenhamos 90 ou 100 anos. A criança que fomos jamais morre em nós. Ao longo do tempo, ela inclusive nos salva da aridez da vida quando, na memória, a evocamos. São inesquecíveis as pessoas que cobriram nossa infância de carinho e cuidados. Falo por mim em meados do século 20, criança na Belo Horizonte com menos de 1 milhão de habitantes, toda arborizada e adornada de pulseiras de prata: os trilhos dos bondes. O tempo espreguiçava, e com tantas ladeiras e sem tantos prédios os olhos podiam admirar a policromia do crepúsculo que faz jus ao nome da cidade.
         Na Serra do Curral, escalávamos o pico, ponteado pela cruz que a mineração predatória decepou. No Parque Municipal, alugávamos canoas e aprendíamos a remar. No quintal dos Dolabella, nos fartávamos de mangas. No canteiro gramado que dividia as pistas da Avenida do Contorno, jogávamos peladas. No Minas Tênis Clube, seu Macedo nos ensinava a nadar e a dominar cavaletes, barras e argolas de exercícios físicos. No Cine Pathé, as matinês de domingo protegiam no escurinho os primeiros namoricos. Ao fim da tarde, o incomparável sorvete de seu Domingos (que perdura e deveria ser tombado pelo patrimônio gastronômico mineiro).
         O Natal se revestia de caráter religioso. Eram audíveis os sinos das igrejas, destacando-se o carrilhão da Igreja do Carmo. Escrevíamos cartas a Papai Noel, para garantir os presentes, mas tínhamos pleno convicção de que se tratava da festa do nascimento de Jesus. Na sala de casa, o presépio à luz da árvore toda enfeitada. No Centro da cidade, a exposição do magnífico Presépio do Pipiripau (hoje no Museu de História Natural da UFMG), que encanta crianças e adultos. À noite, Missa do Galo, seguida da ceia em família, na qual jamais faltava rabanada.
         Viramos adultos, e muitos de nós ficaram indiferentes à religião e insensíveis à liturgia. Deixamos que a “papainoelização” da data obscurecesse sua origem cristã. Filhos e netos já nem sabem recitar de cor uma oração. O que era alegria de uma festa virou ânsia consumista para, inclusive, tentar encobrir nosso débito com outrem: já que não me faço presente, dou-lhe presente. O que era expectativa, advento, agora é preocupação de não esquecer ninguém a quem nos sentimos na obrigação de presentear. O que deveria ser gratuidade torna-se compulsório. E somos tomados pela fissura de, seis dias depois, celebrar o réveillon, empanturrando-nos de comidas, bebidas e novos propósitos. Há que aproveitar o verão e as férias das crianças para sair de casa, viajar, descansar do trabalho, em busca de lazer na praia, no campo ou em algum recanto turístico, enfrentando estradas perigosas e preços abusivos.
         Que tal uma viagem à criança que fomos? Se ousássemos, tudo ficaria mais simples. Livres de preconceitos, seríamos e faríamos os outros mais felizes. Talvez aquele amigo prefira uma boa conversa ao presente embalado com selo de grife. Despojados de agressividade, ciúme e inveja, não haveríamos de discriminar ninguém. Prestaríamos inclusive atenção naqueles que se privam das boas festas para garantir as nossas: garçons, cozinheiras, camareiras, faxineiras, guardas rodoviários, porteiros e seguranças. Então, sim, nossos corações, quais presépios, estariam abertos e prontos a acolher Deus que se fez um de nós no Menino de Belém.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais –, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idades, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
  
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...


terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A CIDADANIA, A SUBSTÂNCIA DA VIDA E A EDUCAÇÃO NO NATAL

“Um concílio de toda a cristandade é a única possibilidade de salvação
        
         Celebramos 50 anos da morte do papa João XXIII (1881-1963), seguramente o papa mais importante do século XX. A ele se deve a renovação da Igreja Católica, que tentou definir o seu lugar dentro do mundo moderno. No dia 25 de janeiro de 1959, sem avisar ninguém, declarou diante dos cardeais estupefatos, reunidos na Abadia Beneditina de São Paulo Fora dos Muros, que iria convocar um concílio ecumênico.
         Por sua própria conta, havia feito um juízo crítico sobre a situação do mundo e da Igreja. Percebera que estávamos diante de uma nova fase histórica: a fase do mundo moderno com sua ciência. A Igreja precisava situar-se positivamente dentro desse fato emergente. Até então, a atitude era de desconfiança e de condenação. O papa entendeu que esse comportamento levava a Igreja ao isolamento e à estagnação para seu próprio dano.
         Ele repetiu o velho dito: “Vox temporis vox Dei (“a voz do tempo é a voz de Deus”); “isso não significa”, disse ele, “que tudo no mundo, assim como se encontra, representa a voz de Deus; significa que tudo carrega uma mensagem de Deus; se boa, para ser seguida, se ruim, para ser mudada”.
         Efetivamente, o Concílio Vaticano II se realizou em Roma (1962-1965); o papa o abriu, mas morreu antes de sua conclusão. Seu espírito, entretanto, marcou todo o evento.
         Dois eram seus motes principais: “aggiornamento” e concílio pastoral. “Aggiornamento” é dizer: sim para o novo, sim para a atualização da Igreja em sua linguagem. Concílio pastoral queria exprimir uma relação de abertura e diálogo para com as pessoas e o mundo. Portanto, nada de condenações do modernismo como se fizera furiosamente antes. Em vez de doutrinas, diálogo, mútuo aprendizado.
         Talvez esta afirmação de João XXIII resuma seu espírito: “A vida do cristão não é uma coleção de antiguidades. Não se trata de visitar um museu ou uma academia. Isso, sem dúvida, pode ser útil – como o é a visita aos monumentos –, mas não é suficiente. Vive-se para progredir, embora tirando seu proveito das práticas, e mesmo das experiências do passado para ir mais longe na trilha que Nosso Senhor nos mostra”.
         De fato, o concílio colocou a Igreja dentro do mundo moderno, participando de suas conquistas. A Igreja da América Latina logo percebeu que não havia apenas o mundo moderno, mas o submundo sobre o qual pouco se disse. Em Medellín (1969) e Puebla (1979), viu-se que a missão da Igreja no submundo, feito de pobreza e de opressão, deve ser de promoção da justiça social e de libertação.
         Passaram-se 50 anos. O mundo e o submundo mudaram muito. Surgiram novos desafios: da globalização econômica e consequente consciência planetária, a dissolução do império soviético, as novas formas de comunicação social que unificaram o mundo, a erosão da biodiversidade, a percepção dos limites da Terra e da possibilidade de extermínio da espécie humana.
         Tudo aponta para a necessidade de um novo concílio ecumênico. Agora não se trata apenas de convocar só os bispos da Igreja Católica. Face aos perigos que nos ameaçam, todo o cristianismo, com suas igrejas, está sendo desafiado. Precisamos tomar a sério a aliança que o grande biólogo E. Wilson propôs entre as igrejas e as religiões e a tecnociência, caso queiramos salvar a vida no planeta. Como essas forças religiosas podem contribuir para que tenhamos ainda futuro? A subsistência da vida é o pressuposto de tudo. Os cristãos deverão esquecer suas diferenças e se unir para essa missão salvadora.”
(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 16 de agosto de 2013, caderno O.PINIÃO, página 22).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 18 de dezembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor de Alfabetto – autobiografia escolar (Ática), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Peça educação no Natal
        
         Minha amiga Gilda Portugal Gouvêa diz que seu partido se chama educação. Quem dera  os partidos no poder não tratassem a educação com tanto descaso. Basta dizer que o Plano Nacional de Educação (PNE), encaminhado ao Congresso em 2010, dormita desde então nas gavetas do Legislativo.
         Talvez convenha aos “300 picaretas” do Congresso que a nossa gente prossiga inculta. Caso contrário, eles não seriam eleitos, reeleitos, imortalizados na política brasileira, tratando-a como seu feudo.
         O Pisa, que mede a qualidade da educação de alunos de 6 a 15 anos no mundo, acaba de divulgar seu relatório 2003-2012. Entre 65 nações, o Brasil ocupa o vergonhoso 58º lugar, embora tenha tido o maior avanço em matemática entre alunos de 15 anos. Porém, pioramos dois pontos em matéria de leitura (haja TV e internet) e não avançamos nem um ponto em ciências.
         Nosso governo investe pouco em educação. Pouco mais de 5% do PIB. O PNE propõe subir para 7%. O ideal seriam 10%, como fizeram os países da Ásia, que, hoje, ocupam os primeiros lugares em educação de qualidade. Não há árvore sólida sem raízes profundas. O Brasil jamais investiu e incentivou a educação infantil, de até 6 anos. Ela é a base para que as pessoas venham a ter melhor desempenho na escola e na atividade profissional.
         Nosso país gasta o equivalente a US$ 26.765 (cerca de R$ 63 mil) por aluno entre 6 e 15 anos. Menos de 1/3 do que é mundialmente recomendado: US$ 83.382 (cerca de R$ 196 mil) por estudante ao longo de nove anos. Entre 49 países, ocupamos a 38ª posição em gastos com a educação. Nos países melhor avaliados, os recursos destinados à educação são mais equitativamente distribuídos entre escolas que atendem pobres e ricos.
         Aqui não. O ensino público está sucateado, os professores ganham mal e não dispõem de tempo de pesquisas e aprimoramento, as instalações são pecarias, e a falta de tempo integral dos alunos na escola nos impede de vir a ser uma nação culta, com profissionais altamente qualificados. Nem sequer dispomos de um plano de valorização do professor.
         O Vietnã, por exemplo, gasta apenas US$ 6.969 (cerca de R$ 16,4 mil) por aluno entre 6 e 15 anos, mas o faz tão bem que ocupa o 15º lugar na avaliação do Pisa, 41 postos acima do Brasil. Aliás, o Vietnã venceu os EUA pela segunda vez: a primeira, ao derrotá-los na guerra (1965-1975) e, agora, superou-os nas avaliações de matemática e ciências.
         Entre os estados do Brasil, o que recebeu melhor nota no Pisa em 2012 foi o Espírito Santo. O Distrito Federal ficou em 2º lugar. Minas, em 6º, São Paulo em 7º. E Rio em 10º. Na rabeira figuram Maranhão e Alagoas, governados até hoje por oligarquias políticas. Entre 2003 e 2012, foram incluídos nas escolas 420 mil crianças e jovens. O governo federal se gaba disso. Mas, e a qualidade do ensino? Por que o Brasil se sai tão mal nas avaliações do item educação?
         Pesquisa recente em 100 universidades dos países emergentes (Brasil, China, Rússia, Índia, África do Sul, Turquia, Polônia, Taiwan e Tailândia) apontou apenas quatro de nossas universidades no ranking: USP (11ª), Unicamp (24ª), UFRJ (60ª) e Unesp (87ª). A China aparece no topo, com 23 universidades entre as 100.
         Dados do IBGE (Pnad 2012) divulgados na última semana de novembro revelam algo estarrecedor: 9,6 milhões de jovens brasileiros, entre 15 e 29 anos, não estudam e nem trabalham. É a turma do “nem nem”. Isso equivale a uma em cada cinco pessoas da respectiva faixa etária. Mais do que a população de Pernambuco, que no censo de 2010 soma 8,7 milhões de pessoas. Diante desse dado, não surpreende a força do narcotráfico e o alto número de jovens daquela faixa de idade que são assassinos ou assassinados. Como viver ou se ocupar sem estudar e/ou trabalhar?
         Neste Natal, se ainda acreditasse em Papai Noel, eu pediria a ele o único presente capaz de salvar a nação brasileira: educação. Como a ilusão acabou, resta a mim e a todos a ação cidadã, para que a educação seja considerada prioridade nacional. A começar pela aprovação do projeto do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que obriga todo político a matricular seus filhos em escolas públicas.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematizaçao de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idades, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional,  gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos,  diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A CIDADANIA, O SERVIÇO À HUMANIDADE E AS ESTAÇÕES DA VIDA

“Um chamado à prática mais universal do serviço e da ação abnegada
        
         Se quisermos avançar no caminho evolutivo, espiritual, precisamos encontrar dentro de nós esse núcleo profundo que é a alma. É o contato com ela e a inspiração dos níveis espirituais que nos permitem servir livremente, doar-nos à vida universal.
         A prática de ações abnegadas e o serviço compreendido como doação de si à meta que a alma conhece trazem o fluir de energias sublimes para a Terra. Fortalecem os ideais elevados e o altruísmo.
         Se buscamos ou escolhemos o tipo de serviço a prestar, impedimos o fluxo da energia da alma sobre os nossos corpos e, portanto, sobre a nossa ação. Quando temos uma ideia preconcebida de como servir, a alma não pode agir com liberdade; e só ela conhece o tipo de energia espiritual que pode canalizar em dado momento, e a quem dirigir essa energia.
         Lembremo-nos que, ao assumirmos uma tarefa movidos pelo impulso da alma, temos ajudas especiais. A energia espiritual começa a fluir quando entramos em quietude e em sintonia com a alma.
         Com harmonia e tranquilidade, percebemos claramente que somos meros veículos para o trabalho da alma sobre a Terra. A ação que nos cabe é permanecer em sintonia com ela e retirar da mente qualquer conceito sobre o que seria uma ação útil. Devemos abandonar toda preocupação por resultados, pois estes são sempre imprevisíveis.
         A preparação para o serviço pode ser contínua, pois sempre há o que aprender e purificar em nós mesmos. Nunca ficaremos estagnados se nos mantivermos abertos para o que há de mais elevado em nós, e se cultivarmos o desapego.
         O desapego é essencial na preparação para o serviço: desapego pelo tipo de serviço a ser prestado, desapego pelo que sucede enquanto servimos, desapegos pelos resultados – quanto mais desapegados nos mantivermos, mais clareza teremos e mais abrangente será a obra realizada por nosso intermédio. O desapego abre canais, e assim o que vem do Alto pode fluir livremente na consciência e nos corpos.
         O serviço requer outros ajustes na personalidade: no corpo físico, no emocional e no mental. Para estar bem, o corpo físico precisa de vida ritmada e de organização no tempo e no espaço. Disciplina e horários a cumprir no dia a dia ajudam a harmonizá-lo e a torná-lo receptivo à energia da alma. Além de ampliar sua capacidade, essa energia é equilibradora. O corpo emocional é trabalhado pelo cultivo sadio da devoção e da fé. Sentimentos que nos predispõem a uma vida espiritualizada, qualitativa. Nossas reações emocionais não devem prejudicar os outros, por isso precisamos invocar as energias do amor e da sabedoria, que vêm da alma, para permeá-las. As energias do amor e da sabedoria são curadoras, e o nosso nível emocional foi criado para ser veículo delas, em benefício das pessoas e do mundo.
         Quanto à mente, é ajustada quando se ocupa com ideias superiores e segue impulsos vindos da alma. A obediência a esses impulsos traz ideias claras e pensamento reunido.
         Se formos devotos das nossas melhores qualidades e obedientes aos sinais que a vida nos apresenta, e se estivermos prontos para seguir os imprevisíveis ditames da alma, seremos um bom veículo para as energias espirituais permearem a vida material. Estaremos então de fato servindo à humanidade e colaborando para que se liberte dos seus atuais condicionamentos.”

(TRIGUEIRINHO, que é escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 23 de junho de 2013, caderno O.PINIÃO, página 26).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 15 de dezembro de 2013, caderno MEGACLASSIFICADOSADMITE-SE, coluna MERCADO DE TRABALHO, página 2, de autoria de HOMERO REIS, que é coach, e que merece igualmente integral transcrição:

“As estações da vida
        
         Quando eu e minha esposa chegamos em North Vancouver, Canadá, em 31 de dezembro de 2009,  demos de cara com uma cidade submersa na neve. O motorista de táxi que nos levava do aeroporto para casa comentava que o inverno seria rigoroso. “Rigoroso” me chamou a atenção considerando que, poucas horas antes, embarcara no Galeão, Rio de Janeiro, com destino ao Canadá, a uma temperatura de quase quarenta graus, no típico verão carioca. O que poderia ser rigoroso?
         Chegamos. A rua ladeada por “muralhas” de neve escondia as casas, quando o taxista parou o carro e me informou que havíamos chegado. Não consegui ver nada além de neve. O que a fé não faz!? Resoluto e determinado, enfrentei a  montanha branca e achei a porta da casa. Esta foi minha primeira experiência canadense.
         Durante as primeiras semanas, tudo aquilo foi bem emocionante. Era muito bonito ver neve em abundância, perceber a natureza em variações de cinza e ter um bom sistema de calefação. Com o passar do tempo, comecei a pensar quando é que “aquilo” iria terminar. Com mais algum tempo comecei a ter certeza de que “aquilo” não terminaria jamais. Os dias e as noites haviam se tornado num branco-sobre-branco, envolto em frio-mais-frio.
         Até que um dia a temperatura começou a subir; vagarosamente, é claro. Aos poucos os verdes começaram a aparecer, os pássaros voltaram a cantar e, como um milagre, todo o branco começou a pigmentar-se de cores sem fim, revelando uma infinidade de nuances jamais imaginada. Chegara a primavera.
         Os jardins reflorescidos tornaram-se espaços para brincadeiras, passeios, namoros ou simplesmente contemplação. Pessoas saíram de casa, apareceram nos espaços abertos e aquela cidade “fantasma” ressurge linda e colorida. Mas, assim como a neve deu lugar à primavera, o verão apareceu trazendo consigo um calor inicialmente aceitável, mas que, em breve, se tornou insuportável. Os jardins sedentos e as pessoas abafadas foram regados como se o universo se liquefizessem e as chuvas torrenciais encharcavam tudo, o tempo todo. Quando tudo isso parecia novamente insuportável, eis que surge novamente um inverno que “iria ser rigoroso”. Esse é o ciclo.
         De repente, percebi, por trás de tudo isso, uma lição de vida que precisamos aprender para atuar na perspectiva da inteligência relacional. A vida tem suas estações. Às vezes, vivemos momentos que nos parecem um eterno inverno, frio, monocromático. As noites longas e os dias curtos trazem a sensação de que nada pode ser feito. Em outros momentos a vida torna-se colorida e julgamos que tudo será sempre assim; mas, logo chegam aqueles momentos da agitação desenfreada e do calor intenso, que acabam por se liquefazer, permitindo que, novamente, o frio se instale.
         De tudo isso fica a certeza de que tudo passa e esse momento também vai passar. Aquilo que hoje nos parece enfadonho, certamente será algo de que nos lembraremos no futuro com muita saudade. Aquela incerteza do futuro, de repente se desvanecerá e a vida estará realizada. Teremos passado por ela, deixado o nosso legado, construído possibilidades para outras gerações que também viverão suas próprias estações.
         Como coach, atendo pessoas de todas as idades e fases da vida. É interessante vê-las transitar por situações tidas como insolúveis, para soluções satisfatórias. É comum ver a desesperança sucumbir diante das possibilidades; mas, é alentador acolher agora algo que no passado parecia insuportável. Com isso, brinco com meus alunos dizendo-lhes que quando não suportarem mais a universidade, estará na época de se formarem. Depois de algum tempo, os escuto dizer que “aqueles tempos acadêmicos” foram muito divertidos. Quando me casei e minha esposa engravidou, julgava que não iria dar conta daquela tarefa. Hoje, quando vejo meus netos enchendo a casa de alegria, percebo que a tarefa não foi fácil, mas foi prazerosa.
         Quando comecei minha vida profissional como auxiliar administrativo e tinha pela frente chefes e situações difíceis, às vezes parecia que jamais haveria para mim “um lugar ao sol”. Hoje, olhando para a caminhada, vejo que as diversas estações da vida foram se sucedendo numa espiral ascendente. Certamente, não foi fácil como gostaria que fosse, mas não foi impossível como julgava que seria.
         A vida nos proporciona o que somos capazes de suportar, com o desafio de exigir de nós um pouco mais de foco, persistência e esforço para nos capacitarmos a voos mais altos. Perder de vista as estações da vida é perder a beleza da vida. Julgar que a dificuldade presente será sempre presente é desfalecer prematuramente; crer que nada mudará “os tempos paradisíacos” é uma infantilidade. O ciclo da vida requer viver suas estações. Fique firme em seus propósitos, esse inverno vai passar. Contemple sua primavera e desfrute dela, porque ela também vai passar. Viva intensamente o verão, mas saiba que o outono chegará, preparando tudo e todos para um novo ciclo.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, política, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa; meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade;  minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...   

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A CIDADANIA, OS NÍVEIS SUPERIORES DE CONSCIÊNCIA E OS MECÂNICOS QUE SABIAM LER

“Nos níveis superiores de consciência, encontramos a   cura
        
         Para termos condições de ajudar aos que se encontram em dificuldade, precisamos aprender a focalizar nossa consciência em níveis elevados, isentos de desarmonia. Se ficarmos excessivamente centrados em questões físicas ou em algum problema emocional ou pensamento negativo, não conseguiremos transcender a situação que necessita ajuda.
         Os estados físicos, emocionais e mentais equilibram-se quanto a atenção que damos ao nosso aspecto externo é apenas a necessária para  organizar a vida material e para usar de maneira evolutiva a energia dos sentimentos e a dos pensamentos. Quanto mais estáveis em níveis elevados, mais damos oportunidade para fatos inusitados e evolutivos sucederem nos níveis concretos. Assim, polarizados nas esferas harmoniosas do nosso ser, tornamo-nos aptos a efetivamente ajudar ao próximo e a nós mesmos.
         Portanto, se uma pessoa nos procura para tratar de seus problemas, só a ajudamos verdadeiramente quando nos conectamos internamente com níveis acima daqueles em que os ditos problemas se localizam. Mas, se ficarmos no mesmo plano dos problemas, nenhuma ajuda real poderemos prestar.
         Sem dúvida, um encontro focalizado em situações humanas pode aliviar alguma pressão interior, mas não ajudará de fato a resolver o cerne da situação da pessoa, que precisa mudar o foco de sua consciência. Sem essa reorientação e, portanto, abertura para a cura, a pessoa pode tornar-se momentaneamente mais tranquila, mas não estará realmente curada daquela situação.
         Se ouvimos outra pessoa com atenção e simultaneamente concentramo-nos num nível acima do mental pensante, - nível conhecido como supramental; - pode acontecer um trabalho profundo e oculto: as energias positivas do inconsciente são mobilizadas e começam a atuar. Durante o encontro, nada parece estar acontecendo, mas depois ela se dá conta de uma mudança em seu interior mesmo sem saber a que atribuí-la.
         Tenhamos presente que não seria bom querer conduzir o que acontece no interior de quem nos pede ajuda. Não precisaríamos pensar sobre o que fazer, e tampouco alimentar a ideia de auxiliá-la a todo custo. A ajuda real e durável torna-se possível quando dedicamos inteira atenção ao ser, porém sempre nos mantendo focalizados em um nível interior. Importante saber que não se trata de correspondermos ao que ela espera, ou de buscarmos contentá-la emocionalmente, mas de mantermos a consciência em um nível elevado durante o contato externo com ela.
         Se cultivamos essa atitude, inexplicavelmente a pessoa vai-se liberando do que a faz sofrer. É que seu apelo chega até nós, mas não é retido por nosso zelo, atenção excessiva, julgamento ou crítica; não nos envolvemos com o que está sendo dito e não reagimos. Assim, não criamos novos conflitos e a energia positiva que recebemos do Alto chega àquela alma.
         A cura vem de níveis de consciência que estão além da vida humana, em outros planos de realidade. Nada do plano físico, do plano emocional ou do mental tem verdadeiro poder de cura.
         A energia de cura não é remédio e tampouco magia. Mas, quando desce das esferas superiores ao mundo material, harmoniza tudo o que encontra.
         A cura nasce do silêncio naquele que, tendo-se esvaziado de si mesmo, se volta para o Alto e se deixa preencher pelo que lá encontra.”

(TRIGUEIRINHO, que é escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 15 de dezembro de 2013, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2351 – ano 46 – nº 50, de 11 de dezembro de 2013, página 30, de autoria de Cláudio de Moura Castro, que é economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“O caso dos mecânicos que sabiam ler
        
         Segundo alguns historiadores, houve dois sacolejões maiores na história da humanidade. O resto foi tremelique. O primeiro foi a domesticação de cereais – começando com o trigo selvagem. Com isso, gerou-se uma relativa abundância de alimentos, o que permitiu às tribos, até então nômades, sedentarizar-se. As cidades trouxeram a densidade humana requerida para o fermento da criatividade e para inúmeras atividades produtivas e artísticas. Afirma-se que elas foram a grande motivação de todos os tempos. Mas a agricultura induziu o seu desenvolvimento.
         A segunda transformação drástica foi a Revolução Industrial. Um tecelão, em Constantinopla, trabalhava três horas para comprar um pão de meio quilo – o mesmo que na Roma de César. A partir de 1600, o tempo baixou para duas horas. Hoje são necessários cinco minutos. Esse espantoso salto de produtividade tornou possível oferecer a todos um padrão digno de vida.
         Mas por que a Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra, no século XVIII? Jazidas de minério de ferro e carvão mineral? Império da lei e estabilidade política? Lei de Patentes? Avanços na ciência? Ética protestante?
         Tudo isso teve peso, mas há uma nova explicação, curiosa e persuasiva (William Rosen, The Most Powerful Idea in the World). Como resultado do desenvolvimento das escolas inglesas, pela primeira vez na história apareceram mecânicos capazes de ler artigos científicos. E também de se corresponder com colegas e pesquisadores.
         Os bons mecânicos sabiam lidar com máquinas e construir toda espécie de engenhoca. Mas aos que tinham novas ideias faltavam o horizonte intelectual e a motivação para implementá-las.
         No mundo das sociedades cientificas de então, os pesquisadores elucubravam, até experimentavam, seguindo o método teórico-empírico, proposto por Bacon. Mas não sabiam fazer coisas, não conheciam a manufatura. Portanto, não puderam ir muito longe na utilização prática dos seus inventos. Os avanços do pensamento não tinham pontes para o mundo da indústria.
         Fora do Olimpo científico, na sociedade hierarquizada e rígida da época, alguns mecânicos perceberam que a Lei de Patentes era a porta que se abria para um operário mudar de vida. E, como bons protestantes, acreditavam que Deus gostava de quem ficava rico.
         É então que entram em cena os mecânicos-leitores. Na ânsia de ficarem ricos, começaram a escarafunchar o que escreviam os cientistas – como Boyle, que formulava os princípios conectando pressão, temperatura e volume. Como tinham amigos com interesses similares, trocavam cartas, discutindo seus projetos.
         Perceberam que, se inventassem, se inovassem, poderiam abrir empresas e que patentes poderiam proteger suas novidades. Um exemplo clássico foi um novo perfil no filete da rosca de um reles parafuso. O invento do senhor Joseph Whitworth é usado até hoje e foi um dos primeiros de uma série de muitos que o tornaram milionário. A sua magnífica casa virou um museu de tecnologia.
         Uma alternativa era associar-se a banqueiros. Quem passar na porta de um certo restaurante, no centro de Manchester, verá um cartaz dizendo que ali, na virada do século XX, se encontraram um mecânico e um banqueiro, com a finalidade de forjar uma sociedade. Um se chamava Rolls e o outro, Royce.
         Os tais mecânicos-leitores começam a inovar, criando bombas a vapor, teares e uma infinidade de pequenas invenções que permitem os grandes saltos subsequentes.
         O inventor do motor a vapor, James Watt, por haver feito um aprendizado em construção de instrumentos científicos, trabalhava como vidreiro da Universidade de Glasgow. Convivia, portanto, com Adam Smith e David Hume. São tais pontes com o mundo das ideias que fertilizam as inovações.
         A primeira locomotiva de sucesso (1829), chamada Rocket, embarcava mais de 1 000 patentes, registradas por mecânicos que, como Whitworth, viravam milionários.
         Portanto, mecânicos-leitores foram diretamente responsáveis por uma das mais importantes transformações da humanidade. Sugestivo, pois não?”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos (a propósito, as habituais marchas de fim de ano a Brasília... “por mais recursos...”), diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a  justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional) –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...