sexta-feira, 30 de outubro de 2015

A CIDADANIA, A LUZ DA CONSCIÊNCIA E OS DESAFIOS DAS PAUTAS SOBRE A FAMÍLIA

“A consciência, una, faz despertar 
a luz que há dentro de tudo
        No caminho espiritual, vamos, aos poucos, ampliando o conceito que temos da consciência. Para o senso comum, em geral, a consciência é a mente ou, quando muito, o que vem do plano intuitivo. Se nos mantemos polarizados no plano mental e no intuitivo, planos de onde provêm ideias, pensamentos e impulsos, tendemos a crer que nossa percepção é a consciência propriamente dita. Mas nesses planos há só uma parcela da consciência, aquela que ali se expressa. O que existe na mente e no plano intuitivo não é a consciência pura.
         Para transcendermos nosso conceito atual de consciência, precisaríamos parar um pouco e observar de fora nossos pensamentos. Ao fazermos isso, não deveríamos confundi-los com a consciência. Da mesma maneira, também deveríamos observar as ideias que nos surgem sem confundi-las com a consciência. A partir daí, poderemos, com mais facilidade, encontrar o que está além.
         Há em nós algo maior, superior ao nível dos pensamentos e das intuições, algo em que a mente normal não penetra. Se ficarmos assistindo o que se passa na mente, cientes de que tudo aquilo é apenas uma parte da consciência, poderemos ter maior clareza. Passaremos a perceber realidades mais profundas sem planejar, e começaremos a nos identificar com esse nível superior que nos toca. Então, na presença de alguma pessoa, situação ou objeto, em vez de automaticamente nos envolvermos com nossas ideias e nossos preconceitos a seu respeito, veremos essas realidades mais internas, subjetivas.
         Podemos, por exemplo, estar diante de um acontecimento e saber para o que ele vai servir, sem havermos pensado algo; ou podemos estar diante de uma pessoa e perceber a realidade interna do seu ser, simplesmente. Quando isso começa a suceder, nossa vida muda por completo. Passamos a compreender melhor os fatos, a conhecer os outros mais verdadeiramente, sem mesmo chegarmos a pensar sobre isso, sem nos basear no que a pessoa diz, ou no que externamente vemos nela, no que achamos dela.
         Assim, reconhecemos que a consciência existe também nas coisas materiais, nos ambientes e na Natureza. Vemos que tudo é consciência – e que a consciência é una. Então, quando atingimos esse ponto passamos a entrar nos lugares com outra atitude, porque distinguimos o que se poderia chamar de “consciência ambiental”.
         Tamanha ampliação traz significativo aprofundamento à nossa vida. Nossos sonhos mudam de qualidade e, aos despertar, notamos que algo se transformou em nós. A consciência vai trabalhando o nosso ser por dentro. E em dado momento ela emerge, seja qual for o estado do nosso ser exterior – queira ele ou não, possa ou não segui-la. Ela romperá qualquer obstáculo e a veremos agir, veremos que basta darmos a permissão para estarmos completamente imbuídos dela. É uma energia maior, e mais cedo ou mais tarde nosso ser inteiro a seguirá.
         A consciência começa a trabalhar nosso ser pelas suas partes menos resistentes. Pouco a pouco, contudo, outras partes vão integrando-se nesse processo, que a tudo englobará: a matéria do corpo físico, do corpo emocional e do corpo mental, o ambiente, o mundo. A consciência, que é una, faz isso para penetrar em tudo e despertar a luz que há dentro de tudo, faz isso para sutilizar, elevar, expandir. Ela tudo transforma. É viva. Sua expansão diviniza a vida.
         E a vida, ao ser divinizada, transforma-se ainda mais e se torna, então, consciência pura.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 13 de setembro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 16).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de outubro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Pautas sobre a família
        Centenas de participantes estão reunidos com o papa Francisco no Sínodo dos Bispos, em Roma, para refletir sobre uma realidade que diz respeito a todos: a família. A instituição familiar exige das organizações governamentais e não governamentais, segmentos todos da sociedade, especial atenção. A família – alicerce da vida pessoal, comunitária e social – não deve ser tratada de qualquer maneira. Por isso, a Igreja, de modo comprometido e sério, debruça-se sobre a família, em uma escuta ampla, sensível a diferentes culturas. Considera os muitos desafios e problemas, iluminando-os com sua sólida e inegociável doutrina.
         A retomada indispensável de referências doutrinais não deve ser entendida como um enrijecimento diante das mudanças que marcam a cultura contemporânea. A doutrina cristã católica sobre a família não é uma “camisa de força”. É um horizonte norteador que qualifica a Igreja no exercício de sua missão. Desse patamar seguro, pés firmados na verdade e no amor, podem ser enfrentados os enormes desafios que estão afetando a vida familiar na atualidade, a realidade na casa de cada um de nós.
         Ilusório, obviamente, seria pensar em mudança doutrinal diante de valores inegociáveis que alicerçam a família. Essa base é referência imprescindível para encontrar as respostas novas, que permitam a qualificação indispensável de homens e mulheres para cumprirem sua tarefa e missão como integrantes de grupos familiares. Iluminadas por esses valores, as famílias tornam-se caminhos novos que levam a sociedade a afastar-se de suas muitas decadências.
         Por ser tão determinante, uma realidade complexa, a família reúne também um conjunto complexo de pautas a serem profundamente analisadas. É importante pensá-la a partir das diferentes perspectivas científicas, considerar as muitas culturas, necessidades e as profundas mudanças na contemporaneidade. A Igreja sabe do enorme desafio que é buscar caminhos para que essa instituição continue a ser lugar de processos educativos determinantes na formação de cidadãos. Muito importante é a compreensão e indispensável é o respeito à natureza cristã da família, quanto à sua formação e ao seu funcionamento. Trata-se de clarividência e fidelidade que contribuem para fazer dessa realidade relacional um ambiente melhor e que ajude as pessoas no exercício de tarefas cidadãs, com respeito a princípios éticos e morais. Uma escola que também forma líderes capazes de impulsionar a sociedade na direção do bem, da justiça e da paz.
         É preciso compreender a família na sua configuração antropológica, iluminada pela claridade de valores inegociáveis que definem os seus rumos como lugar de determinantes processos educativos. Ora, a experiência familiar pode fazer avançar a humanidade ou comprometê-la, pois formata a assimilação de modelos que orientam dinâmicas do cotidiano, as condições de inserção em processos sociais e políticos. As instituições e instâncias todas da sociedade têm grande responsabilidade quanto ao tratamento dado à família e ao que define a sua essencialidade. O Sínodo dos Bispos é a Igreja Católica iluminando-se em inesgotável fonte de tradição e valores para encontrar caminhos no enfrentamento de intrincados desafios morais e existenciais, a partir da sua tarefa missionária, espiritual e humanitária.
         Nessa missão, a Igreja, conforma afirma o papa Francisco, se insere como um “hospital de campanha” em plena guerra de ideologias e de perigosas relativizações. Acolhe os feridos para qualificar homens e mulheres no desempenho de tarefas educativas vivendo o amor e por amor, à luz da fé. Busca, assim, fazer com que cada casa, lugar sagrado, seja antídoto para a deterioração da sociedade contemporânea. Modelos rígidos, pouco humanistas, laxistas ou moralistas, incapazes de considerar cada pessoa como única, sem abertura à solidariedade, e com o cultivo suicida do fechamento à espiritualidade, manterão vidas em prisões a céu aberto.
         Orientada por sua sólida doutrina, a Igreja Católica se desafia para encontrar modos e dinâmicas que façam da vida familiar um lugar capaz de formar homens e mulheres marcados pelo humanismo. Não se trata absolutamente de mudanças de práticas burocráticas ou de relativizações pelas fragilidades da cultura contemporânea. Com iluminação teológica e da fé em estreita fidelidade a princípios e valores, a Igreja Católica busca, assim, contribuir para que a sociedade não se acomode nos parâmetros da mediocridade. Todos devemos investir para que a família, cada vez mais, seja grande escola da educação, da santidade e da vida. De pequenas a significativas intervenções, dinâmicas precisam ser intuídas a partir da cooperação e empenho de cada pessoa. Eis o desafio: são muitas as pautas sobre a família.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)      a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da liberdade, da participação, da sustentabilidade...);

     b)      o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a estratosférica marca de 361,40% ao ano; e mais, também em setembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,49%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)       a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  

          

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A CIDADANIA, A PLATAFORMA DA ALMA, OS SUSERANOS, OS SERVOS E A AGUDA CRISE

“A vida vista pela alma é 
mais abrangente e universal
        Quatro indivíduos queriam ver uma árvore simbólica, muito famosa. Alguém, que a conhecia bem, se ofereceu para conduzi-los até ela, um de cada vez. Levou o primeiro durante o inverno, quando a árvore só tinha tronco e galhos, já que as folhas haviam todas caído. Passado algum tempo, levou o segundo e, como era primavera, as folhas estavam começando a despontar. Depois, no período do verão, levou o terceiro, e esse viu a árvore florida. Finalmente, no outono, levou o quarto, que a viu carregada de frutos.
         Após essas visitas, o guia reuniu os quatro e pediu-lhes que descrevessem a árvore. O primeiro disse ter-se admirado de que fosse tão famosa, pois não vira nada, a não ser galhos nus. O segundo disse que aquela era uma árvore normal, com algumas folhas, mas sem qualidades notáveis. O terceiro disse ser ela uma belíssima planta, com flores cheias de vida, e o quarto disse que a árvore merecia realmente a fama que tinha: seus frutos eram copiosos e de grande valor.
         Há quem se refira a essa história para ilustrar como a mente humana comum vê de forma parcial. A cada momento as coisas mudam e, ainda assim, a mente continua definindo-as segundo o que é capaz de apreender com seus parcos recursos. A alma, por sua vez, sabe que nada é fixo e, quando fala conosco, demonstra a universalidade de suas perspectivas. Quando nos dá sinal sobre algo, o faz como um síntese. No caso da árvore, a alma veria de um só lance os diversos estados da planta completos e depurados do supérfluo.
         Quando estamos livres do controle do cérebro físico e, portanto, em condições de penetrar realidades mais amplas, desaparece a atitude corriqueira com a qual encaramos as situações. Por meio dos sonhos, conhecemos um mundo a que os sentidos comuns não têm acesso.
         Para comunicar-se conosco, a alma utiliza-se de elementos de nossa própria memória. Por isso, um símbolo percebido por um indivíduo em geral é adequado apenas para ele. Se ao ver um símbolo peço a um analista comum que o interprete, posso chegar às mais diversas e interessantes leituras desse símbolo. Todavia, o caminho mais curto e mais certo, sem dúvida, é silenciar-me diante do que vi, voltar-me para o centro do meu ser e aguardar o significado vir de lá. Isso porque, em algumas ocasiões, a alma usa símbolos que dizem respeito à nossa experiência interior, espiritual. Nesse caso, apenas nós mesmos temos acesso ao verdadeiro sentido deles.
         A forma de agir da alma difere da forma de agir da personalidade. A personalidade aquilata com base em sua própria experiência. A alma, por trazer consigo a experiência de um nível elevado, sutil, e a sabedoria do nível em que vive, mostra um quadro, levando em conta uma parte muito mais ampla e abrangente da criação e dos mundos do que a mente pode conceber. Ao mostrar, por exemplo, por meio de um sonho, que uma personalidade está às escuras, a alma o faz sem excluí-la da totalidade da vida e sem nos eximir da responsabilidade pelo que possa estar acontecendo com ela. Sendo a vida uma totalidade, não há situação alheia que não nos diga respeito, e tampouco há ato nosso, físico, emocional ou mental, que não se reflita positiva ou negativamente sobre os demais.
         Esse é o ponto de vista da alma, universal. Se estivermos receptivos a ele, aprenderemos a ser mais abrangentes e compassivos.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 18 de outubro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 24 de outubro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de WILSON CAMPOS, advogado, presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG, e que merece igualmente integral transcrição:

“Suseranos e servos
        Sócrates, o filósofo grego, precursor da ética e do diálogo, já afirmava às portas da democracia ateniense que o homem devia servir à pátria com suas atitudes e agir no interesse coletivo. Além disso, salientava que é dever do Estado formar cidadãos sábios e honestos.
         Na esteira da sabedoria reconhecida por seus contemporâneos, transmitia ao povo o melhor dos conhecimentos, das ideias e da críticas, posto que na imensidão do mundo as fraquezas e qualidade do ser humano se conflitam. E seu aprendiz, Platão, assinalava a necessidade da atuação individual na busca do bem comum, indicando que nenhum governante deve procurar vantagens para si, mas para os governados.
         Muitos não aprenderam a lição. Tantos outros sequer leram ou escutaram de alguém as sábias palavras proferidas por tão ilustres mestres, defensores incansáveis da perfeição moral do homem.
         Ao horror das hostes insolentes e teimosas na malversação da coisa pública, se opõe o enfrentamento cívico de grande maioria da população, que desanima no combate dos apegados ao poder, mas que reanima num rasgo de esperança, quando ressurge na sua independência o impávido Poder Judiciário trazendo para si a responsabilidade de julgar e condenar, proporcionando ao povo o direito a uma biografia limpa e carreando aos poderosos as penas e multas pelos crimes cometidos.
         Os vassalos do mal, aproveitadores contumazes, assistem de cátedra ao desmoronamento dos seus ídolos de barro e ainda gritam pelos cantos a sorte dos destronados. Pobres indivíduos desamparados, agora pranteando incrédulos os seus protetores jogados na lama que eles mesmos chiqueiraram. No entanto, os vassalos do bem, homens e mulheres honrados, persistentes trabalhadores curtidos no sol do batente diário, respiram mais aliviados, na crença do resgate moral dessa fase delinquente.
         Os suseranos, senhores da maioria dos cargos e do dinheiro público por apropriação indébita, acometidos de grandeza intocável e paciência limitada, algozes do contribuinte indefeso e se achando donos do erário, disparam palavrórios impublicáveis quando lhes tocam a túnica empedernida de autoridade que nunca tiveram.
         E a julgar pelo andar da carruagem, agora desgovernada, morro abaixo na avaliação do ético, resta por fim que ela devolva à lama os que dali nunca deveriam ter saído. Irresignados, no repetido diapasão dos companheiros e apadrinhados deserdados, agora atacam a sociedade, os moralistas, os transparentes, a imprensa, o Judiciário e blefam na espera de um perdão do povo. Ora, data vênia, só faltava essa, pedir perdão ao povo que sempre foi alijado nos seus direitos constitucionais.
         A alegada “consciência dos inocentes” rima com o desrespeitoso impropério de chamar de hipocrisia o julgamento dos culpados, o que configura uma afronta à Justiça e, em especial, aos ínclitos ministros que, corajosamente, impõem severas penas aos implicados nos processos. Das hostes e dos suseranos condenados, se espera, além do cumprimento de sentença, o pagamento de multas, a devolução do dinheiro e o banimento da vida pública.
         A Idade Média se foi há séculos, mas os suseranos ainda insistem nos servos aos seus pés, de joelhos, submissos e prontos à entrega da continuidade feudal. Enquanto os estados e municípios passam o pires, fincados na máxima de um pacto federativo desigual, os privilegiados da cúpula amiga do poder se refestelam nos gastos corporativos intermináveis.
         O julgamento dos culpados não é o bastante para saciar a sede de liberdade, igualdade e ética dos brasileiros, nem para satisfazer a sociedade em sua luta contra a impunidade. A missão de moralização precisa continuar, todos os dias, e o povo tem de estar atento às suas prerrogativas garantidas na Constituição da República. Porém, não se iludam. As hostes, os vassalos e os suseranos relutam em abandonar a majestade, restando aos servos o trabalho duro de quitar a fatura. Mas, até quando?”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

      a)      a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)      o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a estratosférica marca de 361,40% ao ano; e mais, também em setembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,49%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)       a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  
     


  

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

A CIDADANIA, A HORA DO FUTURO E A MISSÃO À ESQUERDA E À DIREITA

“O futuro, agora
        Eu vou lhes falar do tempo. E já não é sem tempo. Mas observem o que se passa hoje no Brasil e vão concordar comigo que o que mais parece é que aqui está sobrando tempo. Observem que, enquanto o “mundo gira e a lusitana roda”, no Brasil todo mundo espera: a gente espera que a Dilma saia, a presidente espera que o Eduardo Cunha segure a sua barra, mas ele espera que primeiro o Planalto o livre da Operação Lava-Jato, enquanto a oposição espera que Eduardo Cunha acione a guilhotina que vai liquidar Dilma, que espera que o PT que a elegeu a apoie, mas o PT espera que o Levy saia para tudo voltar a ser o que era. Enquanto isso, o barco segue em rumo. E nós? Perdemos tempo.
         Na verdade, nós perdemos a noção do tempo. Tudo o que nos cercam do Orçamento da União ao assistencialismo eleitoreiro, da gestão governamental ao espetáculo circense de seus gestores, tudo nos prende ao momento. Enquanto nossa atenção está concentrada no presente, tendemos a não ter consciência do tempo. No entanto, é sério: não temos noção de que o distinguiu o homem da sociedade contemporânea de seus antepassados é que ele adquiriu a consciência do tempo. Deixou de se orientar por uma ordem de coisas imutável, eternamente válida, para o conceito de que a realidade última não era “ser”, mas “tornar-se”. Convém estarmos atentos ao alerta de Bachelard, de que “o instante já é o espaço entre dois nadas”. Outra advertência é feita por Gerald James Whitrow, professor emérito da Universidade de Londres: “Sempre que tentamos prever o futuro, somos compelidos a tomar por base o que acreditamos serem os aspectos relevantes do conhecimento atual, embora isso signifique que somos guiados em grande parte pelo já aconteceu. Em consequência, ao planejarmos para o mundo de amanhã, temos extrema dificuldade em nos libertar de um passado morto”.
         Publiquei recentemente no Estado de Minas um artigo que intitulei “Nada será como antes, amanhã”. Eu o busquei em uma canção de Milton Nascimento. Escrevi que no Brasil, onde tudo conduz à fixação no momento, à tensão com o agora, ao espanto, à perplexidade, à desorientação, justamente agora o brasileiro é tomado por aquele estado de espírito que lhe é mais próprio quando desconfia: o brasileira passa a cismar. Vai deixando em segundo plano a perda do grau de investimento, a dívida pública irresponsável; já deixa de importar a apresentação do Orçamento da União com um rombo vergonhoso, um escândalo a mais, pontos a menos no PIB – tudo notícias velhas, do jornal de ontem. Já sabemos bem onde estamos, resta saber para onde vamos. Interessa saber para onde queremos conduzir o país que é nosso e pelo qual somos todos responsáveis. E, no cumprimento dessa tarefa, precisamos ter pressa.
         Como agir? É sempre sábio e relevante o exemplo da ciência. O movimento e a transformação contínua do universo que a física explica e de que os filósofos se valem para explicar o sentido da vida, esse estado de permanente mudança que cria a vida pode acabar com a vida. Atentem para o aquecimento solar, conscientizem-se de que ele ameaça a espécie humana e entendam que a contenção de gases pode sanar essa ameaça. Um fato, a consequência e a solução. Concordem que só nós, os habitantes desse deserto que nos ameaça, podemos vencê-lo. Os cientistas planejam e monitoram essa solução com uma agenda, metas e prazos. Simples assim. Os homens de ciência apontaram-nos os caminhos para evitarmos um cataclismo que ameaça a própria espécie humana. Os empresários que manuseiam tão bem em suas organizações agendas, metas e prazos, que caminhos podem oferecer para que o Brasil assuma um processo de desenvolvimento sustentável?
         Estamos fartos de diagnósticos e de respostas que se prendem a um mesmo modelo, aos mesmos métodos, aos mesmos personagens. Essa miopia tem naturalmente conduzido às mesmas respostas. A inovação é a força que conduz às conquistas da sociedade pós-industrial e esta nossa iniciativa tem a intenção de inovar. Convido o leitor a esquecer a direção mais conhecida e não esperar deste autor respostas às suas dúvidas que certamente são também as minhas. Eu o convido a partir do ponto de vista de que aquilo que obtém a resposta crucial é a pergunta crucial. Vamos nos perguntar, não importa quantas vezes, quais são nossas angústias quanto ao Brasil. E, desta forma, fazer eclodir as perguntas que podem vir a representar as tarefas fundamentais para a construção do Brasil que nós entendemos ser possível nos empenharmos em construir.
         Concluo com os versos finais do poema testamento, do poeta grego Kriton Athanasoulis com o qual Domenico de Mais encerrou seu livro O futuro chegou: “É isso que te deixo./Eu conquistei a coragem/De ser feroz./Esforça-te para viver./Saltar o fosso sozinho e sê livre. Aguardo pelas novas./É isso que te deixo”.”.

(LINDOLFO PAOLIELLO. Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas – ACMinas, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 23 de outubro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“À esquerda e à direita
        Dois discípulos de Jesus pediram ao Mestre que os deixasse posicionados à sua esquerda e à sua direita, mostrando assim como eram dominados pela lógica do poder. Buscaram estar em posição de destaque, em lugar conquistado com facilidade solicitada ao Mestre. Os outros 10 discípulos ficaram indignados com os filhos de Zebedeu, o que revela a mesma mentalidade comprometida, pois reagiram cultivando sentimentos que apequenam a estatura espiritual e humana. Dessa narrativa bíblica, é possível perceber o desejo de galgar lugares pelo caminho considerado mais fácil e, também, a indignação que comprova o clima de disputa presidindo corações e relacionamentos humanos. Atualmente, a cultura fomenta o entendimento de que tudo pode ser conseguido com facilidade. Por isso mesmo, há o vício das facilitações que produzem comprometimentos muito sérios e perpetuam prejuízos.
         Eis a fonte da corrupção, seja em maior ou menor escala, com perdas incalculáveis. A cultura da facilidade, fortalecida pela cultura do descartável, amparada por práticas mesquinhas, envenena o ritmo da vida, cada vez mais presidida pela perversidade. Roubar o erário, passar o outro para trás, dizer mentiras e cultivar o olhar indiferente ante a realidade dos que sofrem é ser perverso. Trata-se de patologia e de desvio grave no exercício da cidadania. Uma doença que precisa de remédio. Muitos indicarão saídas que não produzem transformações profundas. “Soluções” que apenas mascaram o problema e, assim, impedem o desabrochar humano, criação de Deus, expressão maior do amor recíproco.
         Jesus aponta, pelo diálogo paciente e com força pedagógica, qual é o remédio que pode curar o mal que está na raiz dos descompassos da sociedade contemporânea. Trata-se de exigência que precisa se tornar prática cotidiana, na regência de gestos – grandes e pequenos –, escolhas e discernimentos. No diálogo com os filhos de Zebedeu, o Mestre lhes faz uma importante pergunta. Eles estariam dispostos a receber o mesmo batismo de Jesus e beber também do cálice? A resposta é intempestivamente positiva, pois não mediram o alcance do compromisso proposto. Ora, o batismo e o cálice de Jesus se referem à sua experiência radical e amorosa de oferecer, incondicionalmente, para que prevaleça o bem. Isso inclui sofrimentos e dores, que encontram sentido e razão ao produzirem, pela dinâmica da oferta, a possibilidade de se fazer o bem, defender a justiça, promover a paz.
         O desenvolvimento e a prática diária de compreender a própria vida como altar de oferta para o bem dos outros é o único lugar que se deve desejar ocupar. A busca desse “status” tem como inspiração o exemplo de Cristo, que lembra: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. O lugar a ser, portanto, desejado e ocupado é um só: o de servidor. Aí, nesse lugar, se conquista despretensiosamente o poder, torna-se grande por se colocar a serviço de todos.
         Esse remédio indicado por Cristo, quando “tomado”, produz grande efeito. Está na contramão das lógicas aprendidas e praticadas das facilidades, que impedem os gestos de oferta. Fortalecer o entendimento de que todos devem ser servidores é solução única para dar novo caminho à sociedade contemporânea, para que a Igreja exerça de modo mais fecundo a sua dimensão missionária e para devolver a paz interior, serenidade e qualificada cidadania. O primeiro passo é admitir que o Mestre tem razão e nos ensina a lógica de Deus. Depois, é preciso esforço diário para combater os desajustes e desejos tortos que configuram o coração humano. Em vez de “à esquerda ou à direita”, cada pessoa deve aprender a querer ocupar o lugar de servidor.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)      a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)      o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a estratosférica marca de 361,40% ao ano; e mais, também em setembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,49%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)       a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  
     

  


             

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA, A ARTE E O SUBLIME

“Mais ciência, mais cidadania
         Hoje, 16 de outubro, Dia Nacional da Ciência e Tecnologia, gostaria de destacar a importância da educação científica para o Brasil. Neste momento, não me refiro apenas à sua relevância na formação profissional de jovens. Investir na educação científica é colher benefícios para profissionais, empresas, instituições, sociedade, enfim, todos. Acredito que uma educação que estimula a curiosidade, a experimentação e o raciocínio lógico, características próprias do pensamento científico, pode ajudar no desenvolvimento do nosso país e até mesmo na evolução do Brasil como nação democrática e mais igualitária.
         Explico: a educação científica traz outros ganhos que, por vezes, não são percebidos como advindos de um ensino mais plural. O pensamento científico impõe ordenação (princípio, meio e fim) e análise das variantes (causa e consequência). Esse tipo de instrução pode contribuir para um melhor entendimento dos desafios e proposição de respectivas soluções. No exterior, o movimento que apoia o estudo dessas disciplinas – ciências, tecnologia, matemática e engenharia (STEM, na sigla em inglês) – já está mais maduro. No Brasil, algumas organizações já procuram patrocinar iniciativas que incentivam o ensino dessas matérias desde a mais tenra idade. O objetivo é criar um modelo mental que leva a uma sociedade mais desenvolvida, que não apenas enxerga o problema, mas sabe questioná-lo e apresenta as soluções necessárias. No cenário econômico, o pensamento científico pode significar competitividade, um ganho tão almejado pelas empresas. Com profissionais mais capacitados, inovação e sustentabilidade saem do discurso corporativo para a realidade de produtos e serviços que usam menos recursos naturais, ao mesmo tempo em que preservam o meio ambiente, características essenciais para as empresas que buscam não somente prosperar, mas continuar com seus negócios no longo prazo. Um dos entraves da educação para as ciências hoje é a atual estrutura rígida  dos currículos nas escolas brasileiras. É preciso criar mais estímulo para as crianças, para que elas exerçam sua curiosidade. Permitir um espaço para a elaboração de perguntas e que essas se desdobrem em ações colaborativas. Um conhecimento dinâmico como é a sociedade hoje. Nesse sentido, acredito que qualificar o professor, como interface para se atingir os alunos, é umas das maneiras de colocar a ciência em pauta. É também confirmar a importância dos educadores e torna-los protagonistas. É criar momentos para a experimentação, deixando de lado o rótulo de que física, química e outras matérias sejam algo amedrontador ou difícil, para se tornar uma ocasião de compreensão e interação do ser humano com o mundo que o circunda.
         É preciso, também, investir mais em espaços de educação não formal. Isso significa fomentar visitas a museus de ciências, criar eventos de aproximação da população com as universidades, enfim, dar acesso a mais pessoas aos conteúdos científicos. E, assim, alimentar o círculo virtuoso da cidadania acima descrito: saber questionar os problemas e propor soluções duradouras. A educação deve ser multiplicada e compartilhada, pois, assim, enriquecerá todos.”

(LEONARDO GLOOR. Superintendente da Fundação Arcelor/Mittal, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 16 de outubro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 9 de outubro de 2015, caderno PENSAR, página principal, de autoria de VERLAINE FREITAS, professor do Departamento de Filosofia da UFMG e pesquisador do CNPq, por ocasião do 12º CONGRESSO INTERNACIONAL DE ESTÉTICA – BRASIL, “O TRÁGICO, O SUBLIME E A MELANCOLIA”, realizado em Belo Horizonte), e que merece igualmente integral transcrição:

“Sublime contradição
        Quando à noite olhamos atentamente para o céu estrelado longe das luzes das grandes cidades, temos uma experiência estética avassaladora. Os astros que brilham desde a imensidão inalcançável de um cosmos e se derramam ao infinito não são apenas “belos”. Na verdade, se tentarmos apreender todos aqueles pontos luminosos em nosso campo perceptivo para formar uma totalidade, ao mesmo tempo em que reforçamos nossa consciência de que por detrás de cada fonte de luz daquelas existem bilhões e bilhões de outras; se tentarmos progredir rumo a uma unidade abrangente de tudo o que podemos captar visualmente nessa enorme abóbada celeste, chegará rapidamente um instante em que nos apercebemos de um limite: o infinito do cosmos não cabe na finitude, no enquadramento de nossa visão.
         Prestando atenção a essa experiência, vemos que, no instante em que fracassamos ao tentar produzir uma imagem total do infinito, temos uma sensação de desprazer, marcada por uma insuficiência constitutiva de nossos poderes de conhecimento da realidade. É como se desejássemos, inconscientemente, tornar comensurável a nós aquilo que escapa a todas as medidas possíveis. Todos os objetos que admitem essa equalização conosco podem, em grande parte, ser chamados “belos”, pois nosso vínculo com eles é de harmonia, de um prazer positivamente experimentado. Como classificaremos, porém, aquela experiência, em princípio dolorosa, com um objeto grandiloquente, que escapa indefinidamente ao senso de harmonização? Além disso, não haverá prazer mesclado a essa sensação de desconforto?
         Desde a Antiguidade grega reservou-se o conceito de sublime para demarcar a experiência estética que escapa aos limites da beleza, colocando-nos face a face com o incomensurável, ou seja, com o infinitamente grande. Para quem realizou alguma vez de forma consistente essa experiência de contemplar a miríade de astros luminosos que ressaltam como ondas estacionárias, recobrindo de um véu espesso o fundo negro e abissal do firmamento, torna-se claro que o desprazer do vínculo com um ilimitado que não cabe em nossa totalidade perceptiva é acompanhado, sim, de um prazer. Trata-se de uma experiência que, em toda sua completude, será satisfatória, de alguma maneira. A pergunta é: como explicar esse prazer posterior que precisou atravessar a negatividade para poder surgir?
         Segundo a perspectiva do filósofo alemão Immanuel Kant, esse infinito da natureza que parece nos oprimir acabará sendo assimilado como uma espécie de eco ou reflexo da grandiosidade de nosso próprio espírito. É como se nossa incapacidade de fornecer uma imagem do infinito fosse instantaneamente transformada em uma potência de figuração de uma outra ordem, em que somos levados a nos situar em um novo plano de concepção de nós e da natureza, no qual a profundidade e o poder e nossa razão, de nossa espiritualidade e de nossa subjetividade não apenas podem ser comparados ao infinito, mas até mesmo vivenciados como superiores a ele!
         Entre as diversas facetas desse movimento duplo de desprazer e prazer, uma que é especialmente interessante e a da necessidade de nos mantermos conscientes de que se trata apenas de uma experiência estética, contemplativa, calcada pela busca de prazer. Se nos abandonarmos muito literalmente ao fluxo transbordante de nos percebermos esmagados pela grandiosidade da natureza, acabaremos por não sentir o prazer do sublime, mas sim algum outro, que talvez se assemelhe ao êxtase religioso, por exemplo. Além disso, é necessário haver certa maturidade cultural, pois uma criança dificilmente teria a sobriedade e altivez de espírito suficientes para buscar forças íntimas, internas, para se medir com essa infinidade esmagadora.
         A natureza, porém, não é sublime apenas em sua grandeza infinita, mas também em sua força. Quando vemos uma tempestade colossal em alto mar, que pode abater em sua fúria inominável qualquer embarcação humana, por maior e mais robusta que esta seja; quando vemos a torrente de lavas vulcânicas arrasando várias cidades que se desintegram instantaneamente soterradas por aquele fogo irrepresável; quando presenciamos um furacão que arrasta a tudo e a todos em seu redemoinho que não conhece nenhum obstáculo, seja ele natural ou humano – em todos esses momentos podemos experimentar o desprazer de não sermos comensuráveis a uma força gigantesca, mas, em um segundo momento, também podemos experimentar aquela reviravolta de nos medirmos espiritualmente com isso que ultrapassa todas as medidas humanas, sentindo prazer.
         Esses dois tipos de sublimidade, da grandeza e da força, foram ditos para a natureza. Uma pergunta que intrigou diversos filósofos posteriores a Kant é: poderia a arte também proporcionar esse tipo de prazer? – que ela seja capaz de representar o que vemos como sublime na natureza não há dúvida, tal como em pinturas de paisagens colossais, de maremotos, cordilheiras que se perdem ao infinito etc. A questão mais difícil de responder é se esse movimento contraditório pode ser vivenciado na própria relação com o objeto artístico.
         Diversas respostas foram tentadas por filósofos e artistas no século 20. Fazendo um apanhado de pontos principais de algumas teorias, podendo dizer que o sublime é uma categoria aplicável propriamente à arte moderna, que se firmou a partir das vanguardas surgidas pouco antes e pouco depois de 1900. Quando a pintura deixa de ter como seu elemento próprio a representação figurativa da realidade, passando a ser não apenas abstrata, mas incorporando principalmente o feio, o repugnante e o disforme como ingredientes de uma linguagem pictórica múltipla, que extrapola e contradiz em grande medida o belo, temos aí um primeiro momento de negatividade comparável ao desprazer inicial do sublime. Cada uma das pinturas que rompem com nosso desejo de compreensão do que está sendo representado, desafiando o nosso senso estético prévio, ajuda a estabelecer, no conjunto das produções pictóricas, um horizonte que se alarga cada vez mais, incorporando materiais tão divergentes e estranhos a esta arte, que a percepção da ruptura radical de nossa apreensão de tais objetos se mostra análoga à impossibilidade de fazer convergir o infinito da natureza em uma totalidade perceptiva.
         Ao contrário da teoria de Kant, que percebia o momento de prazer sublime na equalização do infinito da natureza à profundidade do espírito humano, na arte moderna, segundo Theodor Adorno, a dimensão “positiva” do sublime continua a ser negativa em certo sentido, a saber, na medida em que tomamos consciência do quanto toda essa negatividade trazida à luz nas obras de arte é um testemunho do que foi recalcado, expulso para o subterrâneo da história pelos padrões de racionalidade, de moral, de concepção de produtividade econômica etc. É como se todo o horizonte da beleza e dos ideais de harmonização figurativa fosse rompido para dar acesso a uma verdade mais profunda e substantiva, que, embora nos conecte com o absurdo, o sem-sentido, o feio e o repugnante, nos dá o prazer do reconhecimento de extratos de experiência bem propriamente humanos, afins ao que a psicanálise se esforça em desvelar laboriosamente por meio de sua pesquisa sobre o inconsciente.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)      a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)      o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a estratosférica marca de 361,40% ao ano; e mais, também em setembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,49%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)       a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”