“A falta que a ética nos faz
Ao
longo dos últimos anos, tenho observado o comportamento das pessoas tanto nas
relações pessoais como nas profissionais. Grande parte delas é individualista
nas suas ações (o que é diferente de ter a sua individualidade), afetando as
tomadas de decisões que visam ao coletivo, e recrudescendo as intolerâncias. De
certo modo, para que o certo é apenas aquilo que cada um defende, não havendo
espaço para o diálogo e a busca por posições harmônicas para a prosperidade da
coletividade.
Na
política, desde a redemocratização do país, prevalecem projetos de poder, e não
projetos de governo, contribuindo para a transmutação do espaço social em
espaços individuais, nos quais, apesar da convivência coletiva, prevalecem o
“eu quero”, “eu posso” e “eu decido”. O individual poder ser entendido também
como grupos que unem pessoas com os mesmos objetivos – o que é louvável,
principalmente quando a sociedade civil se reúne para negociar questões
relevantes para todos, e não apenas para grupos específicos ou indivíduos.
Mas por
que isso acontece? Em uma primeira análise, parece-me que, partindo do ponto do
individualismo das ações e das decisões, o que está faltando é um comportamento
ético na vida social. Para falar da ética, é preciso voltar no tempo até os
gregos, berço da filosofia ocidental. Retomando o sentido mais clássico da
ética (ethos = morada dos costumes, valores e normas), é possível entender que
as nossas ações deveriam visar ao bem comum, já que os costumes – diferentes
dos instintos animais – são humanos e formados com base em uma construção
histórica da vida das sociedades. Nesse sentido, o costume humano surge da
repetição e da aceitação geral daquele ato como condizente com os desejos de
determinada comunidade ou sociedade. Daí também o caráter de justiça, respeito
e não discriminação da ação ética em relação aos demais, sempre visando ao bem
comum da sociedade. E na base da ética está o valor moral que contribui para a
boa ou má ação eticamente. Os valores são, fundamentalmente, criados na vida
familiar e na educação de qualidade com o crescente aprendizado e aumento de
conhecimento das pessoas.
Em certa
medida, o momento histórico vivido hoje no Brasil está muito ligado à falta de
um tipo conhecimento que leve a sociedade a avanços positivos e coletivos.
Acredito que só com conhecimento é possível conquistar valores morais que levem
à ação ética, redundando na justiça, no respeito e no bem comum.
A
solução é haver condições de educar eticamente as crianças para que elas façam
a diferença no futuro, melhorando o convívio social em busca de prosperidade
para o coletivo. Nas empresas há o que fazer: treinar as pessoas em temas como
ética, cidadania, compliance e afins, para que o agir ético nos negócios seja
efetivo. E das empresas as pessoas levarão o conhecimento e a ação para suas
vidas pessoais. O Brasil não avançará sem investimentos positivos na educação,
e sem ação ética teremos pioras na vida social brasileiro em curto prazo.”.
(Adriano Laboissière. Filósofo, consultor e
educador empresarial, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo
Horizonte, edição de 13 de abril de 2022, caderno OPINIÃO, página 27).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de
artigo publicado no mesmo veículo, edição de 11 de abril de 2022, caderno A.PARTE,
página 2, de autoria de VITTORIO MEDIOLI, e que merece igualmente
integral transcrição:
“Missa em latim
Muitos
católicos se perguntam se ir à missa é suficiente para quitar a obrigação com o
Senhor, adquirir méritos e passaporte para o paraíso.
Quando
era menino, pensava nisso, que as portas do céu passavam pelo cumprimento da
obrigação dominical. Flagelava-me interiormente ao perder uma e ia correndo ao
confessionário na segunda-feira. Em casa, minha mãe, católica fervorosa,
cobrava notícias da minha missa, da igreja, do padre, da homilia e dos
presentes. Conferia os detalhes dessa obrigação do “bom cristão” católico
apostólico romano.
A missa
antigamente era o encontro da comunidade, lá todos se encontravam, escutavam o
padre e se contavam. Ao domingo, depois do “ite missa est”, apresentavam-se os
recém-nascidos e se conferia o crescimento da prole numa silenciosa disputa
entre mães corujas, que nos obrigavam a colocar gravatinha, sapatos brilhantes
e brilhantina nos cabelos indomáveis. Os pais aproveitavam, na saída, para
cumprimentar-se e acenar aos fregueses com um sorriso mais largo. O clássico
domingo se completava com o almoço gordo e uma sobremesa especial. E, a cada 15
dias, quando o time jogava em casa, ir ao estádio para o jogo de futebol.
A missa
“cantada” na igreja da Steccata, erguida no século XVI pelos sobreviventes de
uma peste especialmente contagiosa, que varreu metade da população urbana, era
também uma alternativa concorrida. E mais: com o charme dos Cavalheiros de
Malta, que nesse templo têm sua referência ao lado do Teatro Régio de Parma, um
dos mais qualificados em música lírica do planeta. Em pleno berço de Giuseppe
Verdi, o teatro emprestava cantores de seu “coro”, exaltado pela excepcional
acústica de sua arquitetura circular e por um poderoso órgão alemão.
O
defeito dessa missa era a interminável duração, que selecionava em seus bancos
os verdadeiros amantes da música lírica e operística. Havia também a missa do
arcebispo dom Evaristo Coli, na catedral, e aquela mais esotérica, no templo do
Monastério Beneditino de São João, num cenário renascentista carregado do
“hermetismo” do mestre Antonio Allegri de Correggio, debaixo da primeira cúpula
pintada no mundo com a cena da Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo,
contemplada em êxtase por São João e sua águia.
Também
ali se encontra um dos melhores órgãos da Europa, magistralmente tocado por um
monge, que já atraiu Luciano Pavarotti a se exibir sem cachê em dia de Páscoa.
Tinha a missa na igreja de Santa Lucia, pouco mais que uma capela que atraía
fiéis confiantes na poderosa santa dos olhos. Mas a “soçaite”, os grã-finos, se
media na missa das onze na igreja de San Vitale, com toque de barroco Emiliano,
construída pela Confraternità del Suffragio sob a bênção de Margherita de
Medici e das realezas europeias. Nessa não havia restrições ao desfile de moda
e de beldades da cidade – na pequena pracinha, Ferrari e Bizzarrini disputavam
as quatro vagas de carros disponíveis.
O rito
litúrgico da missa, da comunhão com Deus, merece tomar muito mais que uma
coluna, mas, como não há nada que o homem possa elevar para a sublimidade como
mergulhar nas profundezas, as missas que trato consideram as variações
extremas. A missa começou nas catacumbas sitiadas pelos soldados de Nero,
passou por cavernas e florestas, mas, para mim, nas piores crises de juventude,
a missa se dava na cripta da catedral de Parma, “Il Duomo”, entre lápides de
eméritos fiéis da Idade Média sobre um chão de pedras permanentemente frias.
Quando
minha mãe era viva, acompanhava-a à missa, nas viagens que fazia à Itália no
tórrido verão do Vale Padano, quando ela se abrigava numa velha casa de campo
que já fora de meu bisavô, onde se guardam as lembranças mais antigas de minha
família, marca por pioneirismo e bom caráter.
Para
ela, com seus mais de 90 anos e saúde inabalável, minha companhia na missa
dominical a deixava mais satisfeita que um título mundial do Sada Cruzeiro.
Íamos à antiga igrejinha perto do moinho que já fora de minha família e nas
mãos dela evoluiu desde o século XVII até sua venda, na década de 1970,
dirigido por meu pai, que aí me iniciou nos “segredos do trigo”.
O padre
naquela época era um paquistanês, e seu italiano esbarrava em dificuldades, mas
era bem assimilado pelos fiéis, que o viram substituir um “parroco” de extensas
relações, tipo dom Camilo, aquele dos filmes da década de 1950, que se passavam
justamente no cenário da província de Parma.
Minha
mãe, no fim da missa, radiante ao se desprender da assimilação com a hóstia que
a inundava de felicidade e graças, me apresentava com os olhos cintilando:
“Este é Vittorio, meu filho...”. As pessoas se aproximavam e se lembravam de
fatos da juventude, das proezas que eu consumava correndo de moto, namorando
donzelas que jazem deletadas em minha memória de limitados megabytes.
Dessa
igreja permanecem invariáveis o cheiro, a fonte batismal cavada num bloco de
mármore barato, que assistiu ao escorrer da água benta sobre minha cabeça,
segurada pelos braços de um casal de padrinhos que não existem mais.
A missa
moderna perdeu sua majestade com aquela decoreba que não deixa acreditar na
presença de um Deus no ambiente. Tenho saudade da missa em latim, língua forte
e marcial, de vibrações mágicas.
A
palavra é número e música, vibração por excelência, que num rito precisa fazer
vibrar a alma, despertar a intuição, usar os incensos, folhas e músicas. O
latim é inigualável. O “Miserere nobis” soa melhor que “Tem piedade de nós”,
“Panis Angelicus”, “Mater Dei”, “Divinae Misericordiae”, “Agnus Deis qui tollis
pecatta mundi”, “Sicut in caelo et in terra”, “Kirie Eleison”, Aleluia, “Credo
in Deus Pater”. Amém.
Sons
imponentes sacodem a alma. “Mater Sanctissima”, lembro-me do meu passado de
coroinha versando água nas mãos do sacerdote. Tocando campainhas em gélidas e
enevoadas manhãs e os arrepios nos rituais que me faziam sentir na pele a vida
monástica. Saudade implacável de inocência, de frescor, de paixões juvenis, de
família, de notas de fundo de um “Cinema Paradiso”, em que o intérprete
principal é um menino como eu fui e que põe pra chorar até o mais duro dos
espectadores. “Fiat voluntas Tua”.
Eis,
portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e
reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história –
que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas,
civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e
sustentavelmente desenvolvidas...
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 132 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da
democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade... e da
fraternidade universal);
b) o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são:
c) a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2022, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 2,468 trilhões (52,18%), a título de juros, encargos, amortização e financiamentos (ao menos com esta última rubrica, previsão de R$ 1,884 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega, do direito e da justiça:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e
eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br).
E, ainda, a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz:
“... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos,
mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite
da dívida pública...”.
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade
(planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência,
eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com
menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...
“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
60
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2021)
- Estamos nos descobrindo através da Excelência
Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando
nossas defesas democráticas ...
- Por uma Nova Política Brasileira... pois, o
poder é para amar, servir e edificar!
- Pela excelência na Gestão Pública ...
- Pelo fortalecimento da cultura da
sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral:
econômico; social, com promoção humana, e, ambiental, com proteção e preservação
dos nossos recursos naturais ...
- A alegria da vocação: juntando diamantes...
porque os diamantes são eternos!
- O Epitáfio: “Não chorem por mim, chorem por
todos aqueles que, ainda, não descobriram Cristo em cada Eucaristia!”
Afinal, o Brasil é uma
águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão
olímpica e de coragem!
E P Í L O G O
CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO
“Oh! Deus, Criador,
Legislador e Libertador, fonte de infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e
não está ficando, pedra sobre pedra
Dos impérios edificados
com os ganhos espúrios, ilegais, injustos e
Frutos da corrupção, do
saque, da rapina e da dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse
construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e
dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim!
Eternamente!”.