segunda-feira, 31 de agosto de 2020

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, AS LUZES DA ABOLIÇÃO NAS ESCOLAS E A TRANSCENDÊNCIA DAS VIDAS E VOZES NA TRAVESSIA DAS PANDEMIAS NA SUSTENTABILIDADE

“Última trincheira da escravidão

       Nos 350 anos da escravidão, intelectuais, políticos, padres, empresários e trabalhadores brancos viam a escravidão de negros com a mesma naturalidade que hoje vemos a desigualdade na qualidade da educação, conforme a renda e o endereço da criança. Demorou para surgirem reações contra maus-tratos, mas sem tocar na estrutura escravocrata. Da mesma maneira, nas últimas décadas implantamos medidas favoráveis à educação pública, mas sem estabelecer a meta de dar acesso ao filho do pobre à mesma escola do filho do rico.

          A defesa da abolição veio sob a desconfiança geral da sociedade: uma utopia impossível e ameaçadora ao estabelecimento social. Os humanistas eram contra os maus-tratos, mas não conseguiam ver a possibilidade do fim do sistema hegemônico que considerava natural a desigualdade entre raças, como hoje é aceita a desigualdade educacional por renda.

          A trincheira contra a abolição tentou adiar a data e indenizar os donos, mas perdeu. Mesmo assim, quando ela chegou, os não escravos não aceitaram dar os mesmos direitos aos ex-escravos e seus filhos, negando-lhe terra e escola. Continua resistindo na última trincheira mda escravidão: a escola como privilégio para poucos. A luta atual pela igualdade na qualidade da educação tem o mesmo lento ritmo.

          Quase cem anos depois da abolição, criamos um sistema de escolas públicas municipais, programas para merenda e livro didático. Determinamos obrigatoriedade de matrícula dos 6 aos 14 anos; depois dos 4 aos 17. Implantamos Fundef, Fundeb, PNE-I, PNE-II, Piso Nacional Salarial, mas não nos atrevemos a uma estratégia educacionista. Nenhum partido, nenhum governo, de direita ou de esquerda, se compromete com uma estratégia com duas metas: o Brasil ter educação com a qualidade das melhores do mundo, e toda criança ter acesso igual a essa educação.

          A ideia educacionista não seduz a opinião pública. A igualdade escolar é o gesto que ficou faltando na abolição. A desigualdade na qualidade da escola é um resquício da escravidão, a última trincheira da elite social e econômica. Por isso é difícil um pacto social em torno da estratégia para colocar a educação brasileira entre as melhores do mundo, e que todas as escolas sejam concessão pública, aberta para todos.

          Mesmo assim, seguindo o exemplo dos abolicionistas, não podemos deixar de lutar por essa bandeira. O “fim do tráfico”, o “ventre livre”, a “alforria dos sexagenários” foram importantes, como a prorrogação do Fundeb é um passo positivo, mas muito distante da abolição educacional: escola com a mesma qualidade para todos, independentemente da renda e do endereço: a implantação de um Sistema Unificado Federal de Educação.”.

(Cristovam Buarque. Professor emérito da Universidade de Brasília (Unb), em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 28 de agosto de 2020, caderno OPINIÃO, página 19).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no site www.domtotal.com, mesma edição, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e que merece igualmente integral transcrição:

“Vidas e vozes: aprendizes

       Da vida todos somos aprendizes, pois a riqueza e o sentido do viver não permitem simplismos. Enquanto dom e tarefa, a vida é mistério. Por isso mesmo, não cabe nos limites de legislações, ultrapassa considerações políticas, não havendo abordagem confessional em que se encerre. Impossível esgotar-lhe o sentido, por mais completa que seja a narrativa. E o seu entendimento exige peregrinar às suas raízes, a seus sentidos, aos alicerces.

          A vida é mistério, pelas profundezas de suas origens, e fonte, pela profundidade de sentido. Na sua maestria, Jesus a coloca como meta de sua missão, ao dizer: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”, conferindo-lhe sacralidade e constituindo a misericórdia como o parâmetro mais alto de seu adequado tratamento. Assim, institui e eleva, para os que n’Ele creem, o valor incomparável da pessoa humana. A vida é, pois, dom que se estende para além das circunstâncias da existência terrena, porque consiste na participação da própria vida em Deus. E a sublimidade própria da vida de cada pessoa revela a grandeza e o valor precioso da vida de toda a humanidade.

          O evangelho da vida acena com a condição de aprendizes a todos os que têm a vida como dom e tarefa. Sua preciosidade se manifesta, de modo completo, na encarnação do filho de Deus, ao aceitar a morte na cruz, pelo resgate de todos. Firma-se, assim, entre Deus e a humanidade, o compromisso inarredável de defender a vida de todas as ameaças, em todas as suas etapas. Compromisso que deve se fortalecer neste tempo de impressionante multiplicação e agravamento das ameaças à vida humana, a nações inteiras, particularmente aos indefesos e vulneráveis. São muitas as chagas expostas que atentam contra a vida, a exemplo da fome, da miséria, das epidemias, das guerras, de feridas com modalidades inéditas e inquietantes. Crescem as formas aviltantes das violências. Frutos de preconceitos e racismos, ferem particularmente os mais fragilizados e os excluídos, apontando a urgência de se rever as legislações no sentido de impedir que se chegue a absurdos ainda maiores. O panorama dos diferentes atentados à vida desafia a sociedade contemporânea a encontrar novas respostas e a confeccionar um tecido consistente, capaz de operar as mudanças necessárias nos vergonhosos cenários marcados pelos extermínios, pela eliminação de vidas.

          O desafio é posicionar-se ante todos esses atentados, ante um contexto cultural que confere aos crimes contra a vida aspectos inéditos e iníquos. A partir das graves preocupações advindas da própria opinião pública, tenta-se justificar a liberdade individual de escolhas e procedimentos que atentam contra a sacralidade da vida. O desafio se torna ainda maior quando se constatam profundas alterações na maneira de considerar a vida, a vida de todos, e as relações entre as pessoas. Há, pois, nítido processo de afastamento dos princípios basilares, como causa de uma derrocada moral, dificultando o necessário retorno às fontes de inspiração e de clarividência em torno da sacralidade das vidas todas. E sem referências e princípios, as abordagens ocorrem no burburinho de vozes da turba. Compromete-se, assim, a qualidade do que se escolhe, do que se legisla, do que se sente, e as consequências são notórias: a vida passa a ser tratada por alas, por interesses, por disputas e até pelo oportunismo de se fazer reconhecido; por interesses político-partidários, além das razões extremistas e fundamentalistas – todas distanciadas do inegociável.

          As vozes se tornam opiniões próprias, de lugares hermenêuticos contaminados, com dificuldade de se perceber qual é o verdadeiro sentido, por não se saber retornar à fonte. Também por falta de traquejo de lidar com princípios, nota-se um silêncio sepulcral e omisso. Muitos não dizem nada por receio, porque se promovem em meio às vozes. Tudo se reduz a uma formulação prosaica. São muitas vozes e muitas contradições: a voz em defesa de algo ou de alguém é a voz que ao mesmo tempo pisa a honra e fere a dignidade do outro, com o descalabro interesseiro de anatematizar um e canonizar outro. Anatematiza quem parece ser uma voz diferente, desconhecendo sua compreensão e desconsiderando uma vida de feitos e comprometimentos. Canoniza até mesmo quem ainda é neófito, inexperiente, e apresenta argumentos equivocados.

          Do mesmo modo que a fé se torna estéril, quando não consegue ser uma experiência de testemunho transformador, esterilidades se perpetram em vozes cujos sons não ecoam o que, cotidianamente, tem que se buscar na fonte-princípio. Os pitagóricos diziam que o princípio é a metade do todo. Se falta esta primeira metade, na tarefa de construção de um novo tecido social, cultural e político, com resultados efetivos sobre leis, costumes e estilos de vida, faltará a base para a segunda metade. Vozes serão muitas, como neste tempo de um coro dissonante, que exige dos aprendizes investimento em harmonias. E, assim, participem do coro dos lúcidos, cada vez mais, vozes coerentes e propositivas, capazes de imprimir as grandes mudanças neste tempo que precisa ser urgentemente novo para se promover e salvar vidas.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas, civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

a)    a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 130 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);

b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em junho a estratosférica marca de 300,31% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial chegou ainda em históricos 110,24%; e já o IPCA, em julho, também no acumulado dos últimos doze meses, chegou a 2,31%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade    “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 518 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, à falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

c)    a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2020, apenas segundo o Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,651 trilhão (44,79%), a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,004 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega, do direito e da justiça:

- pagar, sim, até o último centavo;

- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;

- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)

(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

58 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2019)

 

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...

- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas ...

- Por uma Nova Política Brasileira ...

- Pela excelência na Gestão Pública ...

- Pelo fortalecimento da cultura da sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral: econômico; social, com promoção humana, e, ambiental, com proteção e preservação dos nossos recursos naturais ...

- A alegria da vocação ...  

 

Afinal, o Brasil é uma águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão olímpica e de coragem! ...  

 

E P Í L O G O

 

CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO

 

“Oh! Deus, Criador, Legislador e Libertador, fonte de infinita misericórdia!

Senhor, que não fique, e não está ficando, pedra sobre pedra

Dos impérios edificados com os ganhos espúrios, ilegais, injustos e

Frutos da corrupção, do saque, da rapina e da dilapidação do

Nosso patrimônio público.

Patrimônio esse construído com o

Sangue, suor e lágrima,

Trabalho, honra e dignidade do povo brasileiro!

Senhor, que seja assim! Eternamente!”.

 

 

 

 

 

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, AS URGÊNCIAS E DESAFIOS DA INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE NA TRAVESSIA DAS PANDEMIAS E AS LUZES DA QUALIFICAÇÃO DO ENSINO NA SUSTENTABILIDADE

“O desafio de se reinventar

       Muito se fala sobre a importância da inovação para manter a competitividade dos negócios. No entanto, em algumas ocasiões, essa pode ser uma verdadeira estratégia de sobrevivência. Nos últimos anos, as transformações têm acontecido de forma cada vez mais acelerada. Com as mudanças que as novas tecnologias causam nos hábitos de consumo, alteram-se também as demandas por produtos e serviços, impactando diretamente as atividades desempenhadas pelas empresas.

          Nesse contexto, as mudanças que as organizações se veem obrigadas a fazer podem ir desde pequenas alterações na estratégia de condução dos negócios até uma transformação radical em seu posicionamento no mercado. Um dos fatores que despertam essa necessidade são as crises econômicas, que, muitas vezes, são fatais para empresas que não conseguem se adaptar. Com a pandemia, por exemplo, o número de negócios que já fecharam as portas chega a 716 mil no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

          Diante dessa realidade, as empresas que conseguem se manter vivas e competitivas se tornam cases. No fim de julho, a Kodak, que chegou a dominar o mercado de fotografia no século passado, chamou a atenção do mundo ao anunciar que se tornaria uma empresa farmacêutica. Ela deve atuar na produção de medicamentos voltados para o combate da Covid-19. Ainda é cedo para avaliar a estratégia com precisão, mas a notícia foi bem recebida pelo mercado. As ações da empresa subiram mais 1.000% após o anúncio, fazendo com que seu valor subisse de US$ 100 milhões para aproximadamente US$ 1,6 bilhão.

          No entanto, é preciso ter a consciência de que transformar o modelo de negócios é sempre uma medida arriscada, que requer criatividade para encontrar soluções mais adequadas a cada momento e também uma boa dose de ousadia. A palavra-chave nesse momento é “estratégia”. Saber avaliar o contexto e aplicar os recursos, tanto humanos quanto materiais, com sabedoria é uma habilidade decisiva.

          Também é fundamental estar sempre atento ao consumidor. Afinal, em seu comportamento podem ser encontradas dicas valiosas relacionadas ao rumo que se deve seguir. Um exemplo que ilustra essa tese é o da Avon. O fundador David Mc-Connell era um vendedor de livros, em 1886, que dava fragrâncias como brindes a seus clientes. A partir da percepção de que os presentes eram mais populares que os produtos principais, surgiu uma das maiores empresas de cosméticos do mundo, segundo ranking da revista “WWDBeautyBiz”.

          O que fez a Avon encontrar seu espaço no mercado foi a sabedoria para se reinventar no momento certo. Sua união com a Natura, no ano passado, foi mais um movimento ousado que pode superar expectativas. Juntas, as duas companhias passaram a ter faturamento de US$ 10 bilhões. A história da empresa demonstra a importância do espírito empreendedor, que está muito mais ligado à habilidade de identificar oportunidades do que à sorte.”.

(Matheus Vieira Campos. Coordenador regional da Câmara Americana de Comércio de Belo Horizonte (Amcham-BH), em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 22 de agosto de 2020, caderno OPINIÃO, página 17).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado No jornal FOLHA DE S.PAULO, edição de 24 de agosto de 2020, caderno opinião, coluna TENDÊNCIAS / DEBATES, página A3, de autoria de Marcelo Knobel, Eliana Martorano Amaral e Nancy Lopes Garcia, respectivamente, reitor, pró-reitora de Graduação e pró-reitora de Pós-Graduação da Unicamp, e que merece igualmente integral transcrição:

“Ensino remoto emergencial

       Chegamos subitamente a um tempo no qual os exercícios de futurologia feitos nos últimos anos foram antecipados pela pandemia. Como será, daqui para a frente, o trabalho? As moradias? O varejo? Em postos de gestão acadêmica na Universidade Estadual de Campos (Unicamp), ouvimos questionamentos com um foco imediato: o “ensino a distância”. Ele veio para ficar?

          A expressão “ensino remoto emergencial”, em vez de “a distância”, parece-nos mais adequada, pois reflete o que muitas universidades estão vivendo em meio à quarentena, entendendo não ser uma opção definitiva e ter se instalado num prazo curto. Manter em andamento o ensino e a aprendizagem na forma remota é a melhor alternativa possível para reafirmar nosso compromisso com a formação de pessoas com qualidade. Mas é fundamental compreender que isso não é uma amostra ideal da educação mediada pela tecnologia, que ainda tem a evoluir. Sabemos que pode contribuir para romper barreiras como distância, fronteiras internacionais ou dificuldades com horários rígidos. Pode, ainda, oferecer de forma complementar a interatividade, as ferramentas de imersão e a ampla exploração de dados.

          Estamos convictos de que, entre nós, não vai vigorar uma visão simplista sobre “ensino online”, que vê a educação remota como um professor que “passa o conteúdo” em uma aula gravada diante de centenas ou milhares de telas, como um youtuber. Não é possível transpor uma aula presencial sem adaptações para o modo eletrônico, da mesma forma que uma peça de teatro filmada não se transforma automaticamente em cinema.

          Implantada nas primeiras semanas de confinamento, a adaptação emergencial tem sido nesses meses um aprendizado para os professores, alguns mais atentos às possibilidades da tecnologia no ensino e outros que não sentiam essa necessidade.

          Não é um processo simples para nenhum desses perfis, mas qual é a alternativa? Paralisar as atividades até a retomada pareceria, é claro, a opção menos trabalhosa. Estaríamos, porém, de costas para a necessidade dos estudantes que precisam estar qualificados para buscar um emprego ou continuarem sua formação, de outros que têm bolsas atreladas a atividades didáticas e dos candidatos a ingressar na próxima turma de calouros. Logo iniciaremos um segundo semestre preferencialmente remoto. Quem adiou a decisão de ligar as câmeras se deparou com uma pandemia muito mais extensa do que se esperava.

          Existe também um aspecto psicológico que afeta toda a instituição, mas em particular os estudantes. Estudos têm sido realizados sobre os efeitos da saúde mental do confinamento social nos indivíduos, principalmente nos jovens, com sua necessidade mais exacerbada de socialização com seu grupo nessa etapa tão crítica de suas vidas. Especialistas indicam a importância de manter uma rotina, de ter um sentimento de pertencimento, de poder trocar experiências com outros. Ainda mais agora, em que as tentações para se aglomerar crescem com a abertura do comércio, dos bares.

          O caminho escolhido por muitas universidades ao redor do planeta trouxe desafios em série. Por exemplo, a desigualdade socioeconômica entre os matriculados na Unicamp, metade proveniente de escola pública, é um problema que tentamos minimizar rapidamente, ao ceder notebooks, tablets, bolsas emergenciais ou pacotes de internet para estudantes que necessitavam. Mas ainda há uma série de situações específicas de estudantes, cursos e departamentos acadêmicos que precisam ser acompanhadas.

          Os últimos acontecimentos nos mostram que é preciso começar a projetar uma universidade renovada para um mundo que será diferente em diversos aspectos. Sairemos dessa crise mais preparados e experientes para pensar nas páginas seguintes da história. Até lá, em cada aula, seminário e defesa de tese, seguiremos confiantes, sempre buscando a excelência e o melhor aproveitamento dos recursos de que dispomos, fiéis à missão que nos foi confiada pela sociedade: criar conhecimento e formar pessoas prontas para os desafios que virão.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas, civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

a)    a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 130 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);

b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em junho a estratosférica marca de 300,31% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial chegou ainda em históricos 110,24%; e já o IPCA, em julho, também no acumulado dos últimos doze meses, chegou a 2,31%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade    “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 518 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, à falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

c)    a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2020, apenas segundo o Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,651 trilhão (44,79%), a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,004 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega, do direito e da justiça:

- pagar, sim, até o último centavo;

- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;

- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)

(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).

 Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

58 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2019)

 

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...

- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas ...

- Por uma Nova Política Brasileira ...

- Pela excelência na Gestão Pública ...

- Pelo fortalecimento da cultura da sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral: econômico; social, com promoção humana, e, ambiental, com proteção e preservação dos nossos recursos naturais ...

- A alegria da vocação ...  

 

Afinal, o Brasil é uma águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão olímpica e de coragem! ...  

 

E P Í L O G O

 

CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO

 

“Oh! Deus, Criador, Legislador e Libertador, fonte de infinita misericórdia!

Senhor, que não fique, e não está ficando, pedra sobre pedra

Dos impérios edificados com os ganhos espúrios, ilegais, injustos e

Frutos da corrupção, do saque, da rapina e da dilapidação do

Nosso patrimônio público.

Patrimônio esse construído com o

Sangue, suor e lágrima,

Trabalho, honra e dignidade do povo brasileiro!

Senhor, que seja assim! Eternamente!”.

 

 

 

 

 

           

         

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, AS URGÊNCIAS E EXIGÊNCIAS DA JUSTIÇA TRIBUTÁRIA E DESENVOLVIMENTO INTEGRAL E AS LUZES DO PODER E UNIVERSALIDADE DOS PRINCÍPIOS E VALORES MORAIS NA SUSTENTABILIDADE

“Comportamento e desenvolvimento sustentável

       O padrão de consumo é absolutamente insustentável. O mundo não suporta a “democratização” do consumo nos moldes de produção existentes. Trata-se de um desafio global, complexo e urgente. Nesse sentido, faz-se necessário um esforço transdisciplinar para a compreensão dos desafios e das soluções factíveis sob as perspectivas política, social, econômica, tecnológica, ambiental e jurídica.

          O direito, e aqui no que se refere diretamente ao direito tributário, pode constituir-se num instrumento importante para a efetividade do desenvolvimento sustentável. Com efeito, o direito tributário agasalha três tipos de funções clássicas da tributação. A primeira, a mais conhecida e utilizada, limita-se à função de arrecadação de recursos para custeio das atividades do estado (função fiscal). A segunda – denominada “função parafiscal” – é aquela em que o Estado arrecada com vistas a financiar determinadas atividades, por meio de terceiros (como o Sistema S, por exemplo). A terceira – conhecida como “função extrafiscal” – refere-se à possibilidade de a tributação interferir no domínio econômico, com objetivos não arrecadatórios. É nesse ponto que a política tributária pode emergir como poderoso instrumento a favor do desenvolvimento sustentável.

          O ponto é simples, mas de implementação complexa: como o sistema tributário pode contribuir para o desenvolvimento sustentável? Partimos do pressuposto de que a tributação pode induzir empresas, instituições e cidadãos a realizar determinado comportamento. No âmbito da reforma tributária, é possível instituir uma nova política de tributação, que puna atividades com alto grau de externalidades negativas.

          Em outras palavras, o sistema tributário deve levar em consideração as consequências colaterais da produção de determinado produto e/ou serviço e estimular produtos que diminuam as externalidades negativas e/ou soluções que ajudem a minorar as consequências da produção (logística reversa, indústrias de reciclagem, energias renováveis, entre outras).

          Nosso ordenamento jurídico já caminha nesse sentido. A Constituição Brasileira, no capítulo “Dos Princípios Gerais da Atividade Econômica”, dispõe que a defesa do meio ambiente poderá se dar “mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação” (inciso VI, art. 170 da CF), abrindo as portas para alternativas de vulto no âmbito da política tributária de todos os entes federados, com ganhos efetivos para o meio ambiente.

          Num momento de reinício de debate a respeito da reforma tributária e a apresentação de uma modesta proposta pelo governo federal, precisamos de um maior esforço do Congresso Nacional para a aprovação de uma política tributária que conjugue uma maior justiça social, ganhos de eficiência e mecanismos de incentivo ao desenvolvimento sustentável.

          Trata-se de tarefa complexa, mas que não pode mais ser deixada de lado. É hora de repensar nosso modelo de desenvolvimento e de ousar na reformulação do anacrônico sistema tributário brasileiro, que rouba mercados, empregos e qualidade de vida.”.

(Thiago Camargo. Advogado e sócio do escritório Marcelo Guimarães Advogados e da Sinapse Consultoria e Projeto, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 19 de agosto de 2020, caderno OPINIÃO, página 21).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no site www.domtotal.com, edição de 21 de agosto de 2020, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e que merece igualmente integral transcrição:

“Quero a luz

       Desejar a luz faz lembrar o coração inquieto de Agostinho de Hipona que, ao sentir-se confrontado pelo mal, perguntava-se: “Quem desembaraçará este nó enredado e emaranhado?” – “É asqueroso, não o quero fitar nem ver. Quero-vos a Vós ó Justiça e Inocência tão bela e tão formosa, com puros resplendores e insaciável saturação!”.

          “Quero a luz” é a expressão de um desejo a ser operado pela força de princípios inegociáveis, a exemplo da preciosa recomendação do apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos: “Não te deixes vencer pelo mal, vence antes o mal com o bem”. É incontestável, sabe-se muito bem, que em toda tentativa de vencer o mal com o mal, o resultado da batalha é a derrota ainda maior. Nesse horizonte se desenha preciosa lição com força de remédio ante os dramáticos cenários que pesam sobre os ombros da humanidade: somente o bem pode derrotar o mal. É essa também a receita terapêutica para sanar realidades feridas pelos constantes combates fratricidas que enfraquecem instituições no seu interno, multiplicam as violências, validam preconceitos, a exemplo das posturas racistas e excludentes.

          Nesse cenário se põe a discussão acalorada a respeito de razões. Mas razões não podem ser desvinculadas de princípios. E os princípios são inegociáveis. Ao contrário disso, corre-se o risco de se permitir tudo. Não se pode simplesmente considerar que a batalha em curso seja um conjunto de meras acareações, apenas para deliberar a perspectiva de quem tem razão, agindo como se o conjunto da vida pudesse ser tratado em partes estanques. Em questão está o jogo que envolve o mal, o bem e o amor.

          Diante de trágicas experiências, é próprio do comportamento humano procurar identificar as raízes do mal, explicar suas causas e fazer valer dinâmicas para a sua superação. Desafio que se torna ainda mais complexo no contexto da administração do dom precioso da liberdade humana. Assim, incontestavelmente, o bem e o mal ganham o rosto e o nome daqueles que os escolheram livremente. “Quero a luz” deve representar o desejo de, humildemente, se abrir e aprender a gramática da lei moral universal. Na gramática da lei moral está inscrito o compromisso intocável da responsabilidade para com a vida de cada pessoa, considerada dom sagrado, defensável e promovido em qualquer que seja a circunstância, por ser um bem acima de todo e qualquer bem.

          Ao contemplar os cenários da sociedade mundial, não se pode camuflar a efetiva difusão de numerosas manifestações sociais e políticas da maldade – da desordem social à anarquia, da injustiça à violência contra o outro – fecundadas pela indiferença e amparadas em relativizações dos valores e dos princípios intocáveis da lei moral. O mundo está afligido por muitos males sociais e políticos, com a eclosão das violências. O investimento permanente na aprendizagem, na prática dos princípios e valores da gramática da lei moral contracena com o exercício do poder. O poder que todos têm, em medidas diferentes, como parte da composição do tecido de sua cidadania, de sua confissão de fé e nos contextos de sua representatividade e responsabilidades interage com os cenários da vida social e política.

          Ensinava, com simplicidade, um mestre a seus neófitos que o poder é exercício vinculado ao desempenho de uma autoridade que lhe compete. E a autoridade, vinculada à capacidade de ser autor do bem, fruto da verdade e da consideração de princípios intocáveis que inspiram legislações, fomentam hábitos, que definem práticas e constituem o tecido da cultura, tendo a vida sempre como um dom precioso e intocável. Incontestavelmente os grandes equívocos da humanidade nascem do uso inadequado, injusto e confuso do poder individual, a partir de sua condição ou advindo do exercício que a profissão lhe compete – na vivência cidadã e nos serviços públicos.

          No conjunto das muitas obscuridades encontram-se, pois, exercícios equivocados no uso e desempenho do poder. Ora, porque se tem excessivo poder, em instâncias que tomam decisões estreitadas por interesses próprios – não há vontade política de preservar a vida e defendê-la –, ora porque, não raramente, um poder é exercido sem a esperada competência humanística, apenas com o objetivo de usufruir das benesses. Há uma gama de descompassos em andamento no exercício do poder, sem poupar qualquer que seja a instância, da religiosa à judiciária, da instância familiar à política, com passagem pelos desencontros cotidianos de civilidade. Revela-se, assim, a fonte de desmandos, a falta de pudor em fazer valer o que, subjetivamente, se considera oportuno.

          As sociedades mundial e local encontram-se numa travessia marcada por muitas agruras, dentre elas as feridas expostas de um poder fragilizado pelas muitas práticas equivocadas, pela incapacidade de se efetivar o que se configura na legislação, a começar pela Constituição Federal. Esse horizonte dos descompassos que envolvem desde opiniões aos seus resultados, comprometendo a vida no seu conjunto, pede uma aprendizagem nova. Isso, para conter a exorbitância no uso do poder, evitando-se a relativização do intocável, a mistura do que é imiscível – dinâmicas que atrasam processos, adoecendo o planeta e as pessoas em disputas figadais por interesses que comprometem o inegociável princípio da solidariedade. À luz da inquietação de Agostinho de Hipona, ante o mal crescente e os descompassos, todos estão desafiados a um mea culpa e a um anseio renovado por deixar ecoar no coração o desejo-experiência de querer a luz.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas, civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

a)    a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 130 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);

b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em junho a estratosférica marca de 300,31% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial chegou ainda em históricos 110,24%; e já o IPCA, em julho, também no acumulado dos últimos doze meses, chegou a 2,31%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade    “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 518 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, à falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

c)    a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2020, apenas segundo o Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,651 trilhão (44,79%), a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,004 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega, do direito e da justiça:

- pagar, sim, até o último centavo;

- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;

- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)

(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).

 Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

58 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2019)

 

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...

- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas ...

- Por uma Nova Política Brasileira ...

- Pela excelência na Gestão Pública ...

- Pelo fortalecimento da cultura da sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral: econômico; social, com promoção humana, e, ambiental, com proteção e preservação dos nossos recursos naturais ...

- A alegria da vocação ...  

 

Afinal, o Brasil é uma águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão olímpica e de coragem! ...  

 

E P Í L O G O

 

CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO

 

“Oh! Deus, Criador, Legislador e Libertador, fonte de infinita misericórdia!

Senhor, que não fique, e não está ficando, pedra sobre pedra

Dos impérios edificados com os ganhos espúrios, ilegais, injustos e

Frutos da corrupção, do saque, da rapina e da dilapidação do

Nosso patrimônio público.

Patrimônio esse construído com o

Sangue, suor e lágrima,

Trabalho, honra e dignidade do povo brasileiro!

Senhor, que seja assim! Eternamente!”.