terça-feira, 30 de setembro de 2014

A CIDADANIA, O APAGÃO DA AUTORIDADE E AS ELEIÇÕES COM FOCO NOS POBRES




“Apagão da autoridade
        A multiplicação dos crimes em família tem deixado a opinião pública em estado de choque. Paira no ar a mesma pergunta que Fellini pôs na boca de um dos personagens do seu filme Ensaio de orquestra, quando, ao contemplar o caos que tomara conta dos músicos depois da destruição do maestro, pergunta perplexo: “Como é que chegamos a isto?”. A interrogação está subjacente nas reações de todos nós, caros leitores, que, atordoados, tentamos encontrar resposta para a escalada de maldade que tomou conta do cotidiano.
         A tragédia que tem fustigado algumas famílias aparece tingida por marcas típicas da atual crônica policial: uso das drogas, dissolução da família e crise de autoridade. Não sou juiz de ninguém, mas minha experiência profissional indica a presença de um elo que dá unidade aos crimes que destruíram inúmeros lares: o esgarçamento das relações familiares. Há exceções, é claro. Desequilíbrios e patologias independem da boa vontade de pais e filhos. A regra, no entanto, indica que o crime hediondo costuma ser o dramático corolário de um silogismo e da ausência, sobretudo paterna. A desestruturação da família está, de fato, na raiz da tragédia.
         Psiquiatras, inúmeros, tentam encontrar explicações nos meandros das patologias mentais. Podem ter razão. Mas nem sempre. Independentemente dos possíveis surtos psicóticos, causa imediata de crimes brutais, a grande doença dos nossos dias tem um nome menos técnico, mas mais cruel: a desumanização das relações familiares. O crime intra e extralar medra no terreno fertilizado pela ausência.O uso das drogas, verdadeiro estopim da loucura final, é, frequentemente, o resultado da falência da família.
         A ausência de limites e a crise da autoridade estão na outra ponta do problema. Transformou-se o prazer em regra absoluta. O sacrifício, a renúncia e o sofrimento, realidades inerentes ao cotidiano de todos nós, foram excomungados pelo marketing do consumismo alucinado. Decretada a demissão dos limites e suprimido qualquer assomo de autoridade – dos pais, da escola e do Estado –, sobra a barbárie. A responsabilidade, consequência direta e imediata dos atos humanos, simplesmente evaporou. Em todos os campos. O político ladrão e aético não vai para a cadeia. Renuncia ao mandato. O delinquente juvenil não responde por seus atos. É “de menor”.
         A despersonalização da culpa e a certeza da impunidade têm gerado uma onda de superpredadores. Gastamos muito tempo no combate à vergonha e à culpa, pretendendo que as pessoas se sentissem bem consigo mesmas. O saldo é uma geração desorientada e vazia. O inchaço do ego e o emagrecimento da solidariedade estão na origem de inúmeras patologias. A forja do caráter, compatível com o clima de verdadeira liberdade, começa a ganhar contornos de solução válida. A pena é que tenhamos de pagar um preço tão alto para redescobrir o óbvio.
         O pragmatismo e a irresponsabilidade de alguns setores do mundo do entretenimento estão na outra ponto do problema. A valorização do sucesso sem limites éticos, a apresentação de desvios comportamentais num clima de normalidade e a consagração da impunidade têm colaborado para o aparecimento de mauricinhos do crime. Apoiados numa manipulação do conceito de liberdade artística e de expressão, alguns programas da televisão crescem à sombra da exploração das paixões humanas.
         As análises dos especialistas e as políticas públicas esgrimem inúmeros argumentos politicamente corretos. Fala-se de tudo. Menos da crise da família e da demissão da autoridade. Mas o nó está aí. Se não tivermos a coragem e a firmeza de desatá-lo, assistiremos a uma espiral de crueldade sem precedentes. É só uma questão de tempo. Já estamos ouvindo as primeiras explosões do barril de pólvora. O horror dos lares destruídos pelo ódio não está nas telas dos cinemas. Está batendo às portas das casas de um Brasil que precisa resgatar a cordialidade e a tolerância.”

(CARLOS ALBERTO DI FRANCO. Doutor em comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 29 de setembro de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 12 de setembro de 2014, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Os pobres e as eleições
        A propaganda eleitoral, produzida com a finalidade cidadã de dar a conhecer perfis de candidatos, suas propostas e programas, apresenta-se como um gênero de pouca qualidade formativa, sem entrar no mérito dos recursos  tecnológicos, técnicas de comunicação, cenários atrativos e criativos. O infrutífero discurso de ataques recíprocos contribui menos ainda. Não é nobre tentar convencer o eleitorado a partir da desconstrução da imagem do adversário. No entanto, trata-se de uma prática muito comum que revela mediocridades. O mundo digital tem facilitado esse tipo de conduta, que é, no mínimo, antiética. A internet é, muitas vezes, utilizada como esconderijo de pessoas que não têm coragem de se revelar publicamente e, na comodidade do anonimato, sentem-se no direito de fazer críticas e acusações, mesmo que infundadas. Os novos ambientes que surgem com as tecnologias de comunicação, neste aspecto, tornam-se refúgio dos que evitam o “frente a frente” e dos que são incapazes de exercer a nobreza da escuta.
         Não é raro ver gente de diferentes idades, no mundo virtual, falando mal dos outros, mesmo sem conhecer processos, esforços e realidades. De fato, é muito fácil ficar repetindo, “como papagaio”, frases alheias. Mas quem o faz, sem refletir, se enquadra em parâmetros medíocres, principalmente quando se acha no direito de julgar e atacar os outros. Vale sempre perguntar onde se vai chegar com essa dinâmica. O universo digital permite grandes mudanças e acelera o ritmo da vida. Exige de todos uma postura mais consciente, pois está em jogo o modo de aproximar-se da verdade. A truculência imoral de crescer porque desprestigiou o outro, sustentando inverdades, é contramão de um caminho construtivo. De certo modo, quem o faz indica que todos os nomes submetidos ao sufrágio das urnas, exceto o seu, são inadequados. Prioriza-se um discurso depreciativo para indicar que o outro é pior.
         Essas práticas viciam não somente o cenário eleitoral, mas também as relações construtivas entre pessoas, famílias e instituições. O mais grave de tudo isso é priorizar discursos de autopromoção e de desqualificação dos outros, em detrimento às ações que realmente contribuam para o exercício da cidadania. Esses vícios e mediocridades, comuns à prática política vigente, produzem o resultado que interessa apenas a quem se candidata e, a qualquer preço, busca vencer as eleições. Certamente, o país e, especificamente, o cidadão ganhariam mais com uma política qualificada por discussões propositivas, pela abordagem de questões com mais profundidade. Alcançar este estágio exige ainda um longo percurso cidadão e novos passos na construção da sociedade.
         Não é fácil enxergar frutos que nascem desses discursos que se resumem à autopromoção, distantes da inegociável modéstia e do indispensável reconhecimento dos próprios limites. Eles formam uma grande mistura que obscurece o que de fato está acontecendo. Trazem prejuízos às escolhas que precisam ser resultado de um amadurecido discernimento social e político. Fortalecem a preguiça que enfraquece a cidadania, base para escolhas feitas por impulsos, simpatias que não cabem mais em política e outros vetores que não qualificam o processo eleitoral. Talvez, também por isso, qualquer um sente-se encorajado a se candidatar, mesmo sem propostas concretas.
         Neste cenário desafiador, examinando a propaganda eleitoral, em meio ao “tiroteio” de uma ladainha de promessas, muitas inexequíveis, vale observar o que, no discurso dos candidatos, indica compreensão humanística e antropológica sobre o compromisso com os mais pobres. Não se trata das falas demagógicas. Incontáveis promessas são feitas para o âmbito da economia – seu funcionamento, reformas, intervenções.Nessas falas, vale examinar e tentar encontrar sinais de sensibilidade, dos partidos e políticos, sobre a condição dos mais pobres. Aos políticos, essas indicações não devem ser mecanismo marqueteiro para conquistar simpatia de grandes camadas carentes da população. Precisam sinalizar estratégias e inteligência comprovada para mudar os cenários vergonhosos de exclusão social e superar problemas graves que se arrastam ao longo de tanto tempo.
         Todos reconhecem a necessidade de mudanças nos complexos funcionamentos e mecanismos da economia, da infraestrutura, educação, saúde. Contudo,  é determinante – e deve ser um critério forte na escolha para votar – a adequada compreensão antropológica dos pobres, sem a qual não será possível a construção das esperadas propostas para todos esses campos. A opção preferencial pelos pobres, ensinada nos evangelhos, faz parte da fé cristã. Mas ainda falta muito para ser também a opção preferencial de candidatos, executivos, gestores, governantes. Assumi-la corajosamente é uma indispensável saída para qualificar a política, dar velocidade às mudanças necessárias, corrigir injustiças e cultivar o gosto pela solidariedade. A sociedade brasileira espera isso dos políticos e ainda não se vê efetivamente contemplada com as propostas. Exige-se a preferência dada aos pobres para gerar efetivas políticas emancipatórias, e não apenas compensatórias. Só assim as eleições trarão resultados novos, abrindo caminhos para inovações sociais, políticas e na gestão.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável, sem eufemismos e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (a propósito,  estudo feito pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostra que no ano passado tramitaram 95,1 milhões de processos, sendo que 66,8 milhões – 70% deles – já estavam acumulados, e 28,3 milhões foram de novos processos...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...    

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A CIDADANIA, A FUGA DE CÉREBROS E A QUALIFICAÇÃO DO DEBATE NACIONAL



“A fuga de cérebros
        Atualmente, muitos pais planejam o futuro de seus filhos antes mesmo do nascimento deles. Com um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, proporcionar educação de qualidade aos jovens tornou-se algo primordial para que tenham chances de competir com profissionais capacitados no mundo todo. No Brasil, ensino de excelência é privilégio para poucos: temos apenas uma universidade no The times higher education university, prestigiosa publicação que elege as melhores ao redor do globo.
         Tendo em vista esse cenário, não é de admirar que mais de 200 mil estudantes embarcaram para participar de programas de intercâmbio no exterior no ano passado. Entre as 100 instituições listadas como melhores no já citado ranking, 44 estão nos Estados Unidos e 31 na Europa. Escolas cujos graus de organização, infraestrutura e qualidade de ensino são indubitáveis. Lá se encontram professores não apenas graduados, mas com Ph.D e doutorado, e centros de pesquisa que são referência no mundo todo.
         Já faz tempo que jovens partem para viagens de estudos no exterior, mas nos últimos anos a aposta das famílias em educação internacional tem crescido consideravelmente. Como gestor e fundador de uma grande empresa do setor, acompanhei de perto as mudanças que ocorreram nesse cenário. Na década de 1980, já era necessário aprender outro idioma e conhecer diferentes culturas por causa da crescente globalização. Hoje, a segunda língua é praticamente obrigatória, e destacam-se os que falam a terceira, a quarta e a quinta. Além disso, partir em uma empreitada de estudos fora do Brasil não é mais apenas aprimorar um idioma.
         A experiência internacional proporciona novas concepções, que convidam à reflexão, ao desenvolvimento da capacidade de aceitar as diferenças culturais e a ampliar a habilidade de enfrentar os desafios com mais confiança. O domínio do inglês também é o passaporte de entrada para ingressar em escolas qualificadas, como Harvard, Oxford, Cambridge. E as chances de uma carreira internacional em grandes companhias, que essas graduações proporcionam, são extremamente abrangentes. Isso já é uma realidade, tanto que, atualmente, cerca de 20 mil brasileiros estão cursando universidades conceituadas pelo mundo, e mais de 10 mil se matricularam em universidades norte-americanas no ano letivo de 2012/2013. E isso não ocorre apenas por causa da ampliação da malha aérea e das novas formas de pagamento, que facilitam a concretização da viagem. Ocorre porque executivos, pais e jovens vislumbram cada vez mais o leque de oportunidades que está aberto no exterior. Minha experiência no segmento mostra ainda que, nos próximos cinco anos, poderemos ter um crescimento de 50% nesses números.
         Executivos investem cada vez mais e com mais frequência em masters, pós-graduações e MBAs nos EUA, França e Inglaterra. O conhecimento de ponta que adquirem nas salas de aula é um grande diferencial no currículo, e faz dessa vivência algo praticamente obrigatório atualmente. Educação é prioridade em qualquer nação desenvolvida. Enquanto o Brasil não investir em melhorias efetivas em seu sistema educacional, a fuga de bons cérebros para o exterior só tende a aumentar, pois universidades e empresas estrangeiras estão de olho nos nossos talentos.
         Pesquisa conduzida no Escritório Nacional de Pesquisa Econômicas dos Estados Unidos mostrou que 8,3% dos cientistas brasileiros estão desenvolvendo pesquisas lá fora. São grandes mentes, que foram descobertas durante o período de aperfeiçoamento em solo estrangeiro e trilharam carreira profissional longe de seu país. A base é tudo para uma carreira promissora. Conheço famílias no interior de São Paulo que preferem que suas crianças cursem high school no exterior a matriculá-las em escolas da Grande São Paulo. Além de ser mais barato, o estudante pode viver com mais liberdade e assimilar outro idioma mais cedo, o que torna o aprendizado mais fácil, com conhecimento ainda mais sólido para o futuro profissional.
         Diante desse contexto, o que se constata é que o planejamento é fundamental e também é a garantia de carimbar o passaporte profissional para uma carreira de sucesso, nacional ou internacional. E você, já pensou nisso? Nunca é tarde demais para viver experiências diferenciadas, seja como estudante de high school, de universidades, de cursos profissionalizantes, MBAs, ou até de cursos livres. Mais do que isso, o que importa é pensar no futuro para fazer a diferença e ter sucesso.”

(JOSÉ CARLOS HAUER SANTOS JR. Presidente do Student Travel Bureau (STB), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 9 de setembro de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 19 de setembro de 2014, mesmo caderno, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Debate, réplica, tréplica
        Há de se dar plena razão aos que consideram a participação dos candidatos nos debates veiculados pelos meios de comunicação inócua e pouco relevante para o processo de discernimento dos eleitores. Também são coerentes os argumentos dos que apontam a propaganda eleitoral como verdadeira enganação. Pode não chegar a tanto, mas essas produções chamam a atenção pela exposição pouco nobre de pessoas que, no afã de ganhar voto, por meio de seus discursos, se desenham como “salvadoras da pátria”. Em suas falas, buscam aproximar-se dos heróis da ficção. Talvez, posse até constituir objeto de estudo a semelhança entre os personagens folclóricos da literatura e a imagem que a propaganda eleitoral produz sobre candidatos. Eles aparecem como cidadãos e cidadãs com identidade, trajetória e história não condizentes com o que, de fato, são: e sempre longe do que podem vir a ser. Viver de miragens do próprio ego, incontestavelmente, é uma das mais trágicas situações existenciais, com a produção de prejuízos para a cidadania e comprometimentos sérios na vida política.
         Neste sentido, o desempenho dos candidatos nos debates eleitorais não consegue corresponder às demandas do processo eleitoral. Na busca pelo voto a todo custo, sob a pressão das pesquisas, os candidatos à Presidência da República portam-se como se estivessem em um ringue de boxeadores, com uma plateia de torcedores. O eleitor-torcedor – perdão se for exagero –, não simplesmente movido pelo grande desejo de que sejam encontradas saídas para os graves problemas sociais, se deixa afetar por descompassos afetivos. Alegra-se ao ver seu candidato desferir “um golpe certeiro” no adversário. Os comentários pós-debate sublinham, sobretudo, como um “esfregar de mãos”, o discurso ferino, as evasivas de uns, as conivências e posturas comprometedoras de outros. O saldo é pouco educativo.
         De fato, lamentavelmente, as perguntas e as respostas formam uma dinâmica que se resume aos “golpes” e autoelogios. O processo tem muito da perversão humana, predatória, de ganhar e convencer por nocautear o outro. Os ataques perpassam a análise de incompetências . Também se fundamentam nas falhas morais que levam à corrupção e à incapacidade de se compreender que a cidadania, a presidência de uma república, o governo de um estado, da própria casa ou da empresa, alcança nobreza e incontestada importância quando a meta prioritária é o bem comum. Lamentável, pois, é a classificação medíocre da participação política. As escolhas vão sendo definidas por temas que não deveriam ser tão recorrentes na vida do povo.
         O atual processo de discussão sobre o perfil mais adequado para a Presidência da República, em vez de contribuir para a decisão do eleitor, deixa mais dúvidas, por se reduzir a lógica do ringue. Não se consegue revelar o perfil estadista dos candidatos. Além disso, é muito humilhante prestar-se à desmoralização mútua, lógica do discurso para simplesmente conseguir voto. Isto não é próprio de quem reúne condições para ser representante do povo no cargo mais importante do país. Não se está conseguindo construir um caminho em que os candidatos possam debater seus entendimentos, propostas e compromissos. Um percurso necessário para o amadurecimento dos projetos e, também, para o discernimento dos eleitores.
         Uma via possível é investir nas sabatinas em diferentes ambientes, enriquecidas pela presença de especialistas de diversos campos, representantes da sociedade – especialmente daqueles comprometidos com os interesses dos mais pobres – para ajudar na avaliação da estatura do candidato. Não é fácil dar este passo novo, por muitas razões. Alguns vão dizer que a política é assim no mundo inteiro e, por isso, a sociedade brasileira não teria condições de fazer diferente, tornando-se exemplo. Infelizmente,  a mediocridade na política brasileira é um veneno. Segue perpetuada pelos interesses partidários e desejo de galgar o poder; nele permanecer para fazer da máquina administrativa o lugar do serviço a seus pares, e não aos pobres.
         Incluindo a competência de gerentes, o carisma de líderes, o Brasil precisa de homens e mulheres com componentes morais para a saudável e relevante representação política. Esta tarefa consiste em compartilhar sentimento do povo e em buscar, com políticas emancipatórias –, a solução de problemas sociais. Tem este perfil quem exerce o poder com espírito de serviço. Isto significa ter paciência, moderação, modéstia, caridade e esforço de partilha – remédios para a ganância pelo poder. A corrupção política do sistema democrático não permitirá o surgimento de gente com o perfil esperado, perpetuando a triste conclusão de que os debates, com suas réplicas e tréplicas, mostram uma realidade pouco interessante. Revelam candidatos que buscam convencer o eleitor indicando que os outro são ainda piores.
         Que venham as reformas necessárias para mudar o cenário político e que chegue logo o momento em que nossos dirigentes exerçam o poder não como se fosse sua propriedade ou de partidos, mas como uma delegação, a vivência de uma representatividade. O façam ancorados sempre nas quatro exigências fundamentais: verdade, justiça, amor e liberdade, que podem dar envergadura e perfil a quem se aventura em propor seu nome a cargos eletivos e representativos.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam – em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional) –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!....

O BRASIL TEM JEITO!...