sexta-feira, 31 de julho de 2015

A CIDADANIA, A FORÇA DA EDUCAÇÃO E A RENDA BÁSICA UNIVERSAL

“Educar para crescer
        Esse tema é terra árida em termos de história do Brasil. Porém, em se tratando dos festejos dos 200 anos da vida da Corte Imperial portuguesa para o Brasil demonstra o que a educação proporciona de liberdade e dignidade a um povo. Dom João VI era homem sagaz, a despeito das críticas e da sua imagem histórica. Exigiu e contou com a sabedoria e a astúcia de muitos bons estudiosos e homens probos do seu reino para efetivar o crescimento econômico de Portugal frente à sanha econômica das outras nações europeias que queriam invadir seus domínios e subjugar o povo português. Alguns de seus melhores colaboradores eram brasileiros. É preciso relembrar, entre estes, José Bonifácio de Andrada e Manuel Ferreira da Câmara de Bethencourt e Sá (o Intendente Câmara), que eram colegas na Universidade de Coimbra e foram amigos por toda a vida, lutando em prol do Brasil e de Portugal como nações livres e independentes do imperialismo e do absolutismo das outras nações europeias.
         A educação esmerada e o esforço destes e de outros tantos brasileiros permitiram ao Brasil avançar na economia mundial. Ao estudarmos a evolução social, cultural, antropológica e econômica do país, nos deparamos com dicotomias entre ideologias, hiatos epistemológicos, deficiências gnosiológicas, deturpações e paradigmas axiológicos, medos, neuroses, angústias e ódios entre classes, raças e credos. Ainda somos vítimas do pecado do preconceito e de um catecismo pobre e deturpado. Falta-nos o humanismo latino – a cristandade. Os brasileiros padecem de uma baixa auto-estima que os leva a se odiarem e a se desprezarem frente a outras culturas e frente a seus próprios compatriotas. Somente a educação pode combater a crença de que o sucesso e felicidade só tocam aos que são lindos, altos e ricos, enquanto coloca os pobres, baixos e feios na berlinda de uma vida normal e digna. A falsa educação mostra um brasileiro tímido, pobre, ignorante e acabrunhado frente aos violentos e ricos anglo-saxões e europeus. Quem é de fato o povo brasileiro? Qual cultura e educação ele precisa?
         Se, na economia pós-moderna, é preciso considerar os investimentos estruturais e as questões monetárias (o velho dualismo entre estruturalistas e monetaristas) que, como dizia Pelaéz (1972), nos fazem passar pelo “leito de Procrustes” – termo tão querido dos economistas para se referirem ao desenvolvimentismo que assolou o Brasil –, na educação, a questão é mais grave e complexa. Tanto que lindeia o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Lula como um memorável e renovado Plano de Metas juscelinista, permitindo aos intelectuais compreenderem a grave crise de comando por que passa o país, desde as empresas privadas até os três níveis de governo (municipal, estadual e federal). O comando se diluiu na luta pelo poder e na ganância pelo dinheiro. E, enquanto o crescimento econômico é medido pela expansão do Produto Interno Bruto (PIB) e pelo acúmulo de renda nas camadas altas da sociedade, a educação, a saúde e o meio ambiente não passam de moeda de troca entre fraudulentos “homens públicos”, em cujos projetos restam as sagradas cotas paternalistas a serem divididas entre os apadrinhados que conceberam e fizeram andar algum projeto minimalizado.
         Bem ou mal, o país tem ganas de crescer. O povo sofre. Leva no peito e na raça um país inchado e cansado de tanta corrupção e safadeza. É preciso educar para crescer. Mas é preciso muito mais. Só uma educação sadia e cristã pode ensinar que o crescimento da economia se faz por intermédio de homens livres, senhores da fé e da esperança.”

(JOSÉ RENATO DE CASTRO CÉSAR. Administrador rural, mestre em turismo, integrante do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 26 de abril de 2008, caderno OPINIÃO, página 11).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 23 de junho de 2007, caderno PENSAR, página 3, de autoria de MARCELO CAMPOS GALUPPO, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direito da PUC Minas e doutor em filosofia do direito pela UFMG,  e DANIEL VIEIRA SARAPU, professor de direito da Unifenas e mestrando em teoria do direito pela PUC Minas, e que merece igualmente integral transcrição:

“DIREITO de todos
        A liberdade individual é valor fundamental para a justiça de uma sociedade. No entanto, durante grande parte do século 20, liberdade individual e justiça eram tidas como valores contraditórios. A justiça demandava maciça redistribuição de bens sociais e, com isso, exigia o sacrifício da liberdade individual. A idéia de que as liberdades individuais são indispensáveis às instituições de uma sociedade justa somente ganhou vigor após recentes experiências históricas. O advento do Estado totalitário, do Estado socialista e do Estado de bem-estar social mostrou que se as ações dos indivíduos dependessem de decisões tomadas pela coletividade, a liberdade seria impossível, pois o indivíduo não teria autonomia para definir os rumos de sua própria vida, ao se sujeitar a ordens de terceiros. Nessas formações políticas, interesses coletivos foram colocados acima dos direitos individuais, e o Estado foi autorizado a intervir na vida e na propriedade das pessoas, levando a grande restrição nas escolhas que os indivíduos poderiam realizar livremente.
         No entanto, também a convivência nas sociedades capitalistas demonstrou que ser livre não é ter formalmente direitos que permitam decidir os rumos de nossas vidas sem interferências externas, como defendem os liberais ortodoxos. De acordo com o pensador belga Phillippe Van Parijs, autor dos livros Real-freedom-for-all: What (if anything can) justify capitalism? (Oxford University, 1995) e O que é uma sociedade justa? Introdução à prática da filosofia política (Ática, 1997), para que alguém seja livre é preciso que, além dos direitos que permitam realizar uma escolha, detenha um conjunto de oportunidades que torne reais as opções entre alternativas apresentadas.
         Assim, para que uma sociedade seja justa é preciso que ela melhore as condições materiais de seus membros pela distribuição de liberdade real, respeitando o fato de que os indivíduos têm direitos invioláveis. Como os constrangimentos de ordem econômica são os principais responsáveis pela redução das ações que um indivíduo pode realizar, a distribuição da liberdade real está ligada a alguma forma de promoção das condições materiais que os indivíduos devem ter: seria uma pessoa realmente livre para aceitar a oferta de emprego sob condições desumanas e com baixos salários caso ela estivesse desempregada?
         Por isso, para que a sociedade distribua a real liberdade entre seus membros, permitindo-lhes conduzir suas vidas como desejarem, é preciso que ela atribua renda que eleve as condições materiais das pessoas, de tal modo que seu conjunto de oportunidades seja suficiente para que realizem escolhas reais entre alternativas dadas. Essa é a finalidade da Renda Básica Universal (RBU), defendida por Phillippe Van Parijs como instrumento de realização da justiça pela elevação da liberdade real mínima de cada um ao nível máximo que o Estado pode sustentar economicamente.

UNIVERSAL

A RBU pode ser definida como renda paga em dinheiro por uma comunidade política, padronizadamente em intervalos regulares, a cada membro adulto da sociedade. É denominada básica porque se constitui em base material segura com a qual cada indivíduo pode contar para manter, de modo consistente, a vida e a liberdade, independentemente de qualquer outra renda que tenha. Essa renda é universal, pois não faz discriminações destinatários, já que a quantia é fixada e paga sem se considerar o fato de a pessoa ser rica ou pobre, estar disposta a trabalhar ou não. Mas seria justo remunerar os desempregados, os ociosos ou os abastados?
Van Parijs responde que sim, pelas seguintes razões: 1) a RBU visa a aumentar, por meio da renda, a liberdade, e não o bem-estar das pessoas; 2) a definição de trabalho é algo incerto para que somente as pessoas que estão no mercado formal façam jus ao benefício, já que os serviços doméstico, voluntário e autônomo são também trabalho; 3) restringir o direito à RBU somente aos que trabalham significaria premiar uma forma específica de vida ligada ao trabalho, constrangendo todas as pessoas a optarem por ela. Isso limitaria a liberdade de as pessoas escolherem livremente os modos de realizar a sua felicidade, contrariando o propósito da RBU de aumentar a liberdade real dos indivíduos.
Por isso, a RBU tem algumas características. Em primeiro lugar, ela não se vincularia à capacidade ou disposição para trabalhar ou gerar riqueza. Somente assim não se estabeleceria na sociedade um privilégio daqueles que não trabalham sobre os que trabalham. A elevação do mínimo de oportunidades deve ser direito de todos, inclusive para que cada um possa modificar sua situação, reduzindo, por exemplo, o tempo de trabalho para se dedicar ao lazer, à vida em família ou às atividades comunitárias.
Em segundo lugar, a RBU não se condicionaria à situação econômica das pessoas. Ela seria direito de pobres, mas também dos ricos, pois só assim se evitaria a criação de grupos sociais estigmatizados, por força da segregação da sociedade em carentes e não-carentes. Ao tornar a renda benefício de todos, em virtude do direito de cada um participar do patrimônio comum da sociedade, o respeito próprio e a auto-estima dos beneficiários não diminuiriam.
Em terceiro lugar, ela seria uma renda em dinheiro, já que o pagamento em bens e serviços, diretamente ou por cupons, reduziria o conjunto de oportunidades de fazer escolhas livres, limitando o espectro de ações que um indivíduo pode realizar com sua renda. Por fim, a renda seria paga em intervalos regulares, preferencialmente mensais. Em vez de disponibilizar de uma só vez o valor da renda relativo a todo uma vida, os pagamentos regulares impediriam que, por infortúnio ou atitude não-refletida do beneficiário, este sofresse redução patrimonial que comprometesse permanentemente o conjunto de suas oportunidades.
Para se estabelecer a RBU em um Estado, além de não gerar situações de confisco de propriedades ou de bens, é preciso que a definição da renda obedeça ao critério da sustentabilidade, ou seja, não ponha em risco as instituições econômicas e sociais da sociedade, tais como mercado de bens e capitais, oferta de trabalho, nível de poupança, recursos naturais, dentre outros. Por isso, a fonte de custeio mais apropriada para a RBU é a arrecadação por adequado sistema de tributos, a ser estabelecido de modo que se obtenha a maior receita possível sem que as alíquotas levam os contribuintes à evasão fiscal.

ALASCA
         
         A RBU não é, todavia, somente uma idéia para fazer justiça ou apenas proposta abstrata contida na legislação de nosso país. Há situações concretas em que ela foi efetivamente implementada. Desde os anos 1980, o Alasca instituiu fundo permanente, vinculada à receita estadual com a extração do petróleo, que, ao fim de cada ano, distribui a cada pessoa residente em seu território há mais de seis meses um dividendo de valor igual, decorrente da repartição dos lucros obtidos pelos investimentos do fundo.
         Outros países encaminham-se em direção à RBU. O primeiro passo é a efetivação de programas de garantia de renda mínima. Esses programas são diferentes da RBU porque sua política tem como alvo a transferência de renda a determinada parcela da população que se encontra abaixo da linha da pobreza. França, Inglaterra, Finlândia e Bélgica adotaram iniciativas dessa natureza. No entanto, vários já estudam a transição dos programas de renda mínima para a RBU, o que ocorrerá quando o benefício se tornar universal e incondicional, isto é, quando for garantido a todos, independentemente das condições econômicas ou da capacidade para o trabalho.
         Esse processo também se encontra em curso no Brasil. Desde os anos 1990, pouco a pouco foram introduzidos programas públicos de garantia de renda mínima vinculados à matrícula das crianças na escola, denominado Bolsa-Escola. Nos últimos anos, esses programas foram unificados a outros mecanismos de assistência social à população carente, dando origem ao chamado Programa Bolsa-Família, de distribuição de renda que garanta verba mensal mínima a todas as famílias carentes do país, de acordo com a renda total familiar e o número de seus membros.
         Mas o Bolsa-Escola e o Bolsa-Família são programas de garantia de renda mínima, e não modalidades da RBU, pois não são universais, destinando-se apenas às famílias que se encontram abaixo da linha da pobreza, estabelecendo condições econômicas para os beneficiários da verba, além de exigirem determinadas contraprestações como requisito para ter direito ao benefício. No Brasil, a instituição da RBU ocorreu com a aprovação da Lei nº 10.835/04, oriunda do Projeto de Lei nº 90/91, de autoria do senador Eduardo Suplicy. A legislação dá-lhe o nome de Renda Básica de Cidadania, mas, em seu conteúdo, tem as mesmas características da RBU: constitui-se no direito que todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país há mais de cinco anos têm de contar com uma renda monetária, independentemente de sua condição socioeconômica.

GRADUAL
         
          No entanto, ainda segundo a legislação, o direito à Renda Básica de Cidadania não está implementado integralmente e de uma só vez. A instituição do direito à renda básica será gradual, considerando o grau de desenvolvimento e as possibilidades orçamentárias do país. Também serão priorizadas as camadas mais carentes como os primeiros beneficiários dos recursos. Ainda assim, o Brasil se tornou um dos países pioneiros na incorporação de legislação que garanta, em âmbito nacional, o direito à RBU. Está à frente de muitos países do Primeiro Mundo. O planejamento orçamentário e a vinculação a uma fonte tributária específica dos programas de garantia de renda mínima, como o Bolsa-Escola e o Bolsa-Família, apontam para a viabilidade econômica da RBU, pois, como esta poderá substituir aqueles em um futuro próximo, a existência de fontes de custeio já definidas não porá em risco as instituições sociais e econômicas do país.
         É certo que a passagem dos programas de garantia de renda mínima para a Renda Básica Universal (RBU), ou de cidadania, representará avanço significativo em nossa legislação social. Para que ela ocorra, é necessário que o país estabeleça firme compromisso em construir uma sociedade mais justa e mais igualitária. Isso significa cobrar das autoridades maior engajamento em relação à solidariedade social. Conhecer, divulgar e debater a RBU, e o direito que todos os residentes no Brasil têm a ela, é o primeiro passo desse compromisso.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em  junho a marca de 372,0% ao ano...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!...   
     
        


           

quarta-feira, 29 de julho de 2015

A CIDADANIA, A JUVENTUDE, A CONSCIÊNCIA ÉTICO-POLÍTICA E AS CIDADES SUSTENTÁVEIS

“Consciência ético-política dos jovens
         O atual cenário político brasileiro, com tantos problemas de corrupção, abre espaço para debates importantes. O que se pode fazer para educar as próximas gerações de forma diferente para que elas não repitam os mesmos erros de hoje e do passado? É possível transformar o país por meio de uma população conscientemente ética? A educação, vista como um caminho para a construção de um país melhor, na atual conjuntura, torna-se ainda mais indispensável no sentido de internalizar valores sólidos de crianças que serão a transformação necessária.
         As escolas, os professores e os pais têm um papel fundamental nesse processo de educação e formação de princípios éticos. As crianças e adolescentes de hoje são muito diferentes das gerações passadas, principalmente devido à grande difusão de ferramentas e plataformas digitais. Antigamente, os professores e o material didático eram as fontes de conhecimento e informação. Hoje, os mestres são mais orientadores que guiam o conhecimento e a consciência social, pois a informação está ao alcance de qualquer um que disponha de conexão de internet.
         As notícias divulgadas em diversas plataformas diferentes, como televisão, rádio, jornais, revistas, portais e, até mesmo, nas redes sociais, chegam com muito mais frequência e facilidade às crianças. Consequentemente, o despertar político ocorre mais cedo. Nas minhas aulas, por exemplo, ocorrem muitos debates espontâneos, partindo dos próprios alunos com suas dúvidas e vontade de aprender mais sobre o que está acontecendo. Esse despertar tão precoce é muito relevante, pois mostra que eles têm engajamento e querem, ativamente, fazer parte desse momento.
         Claro que as escolas e educadores não são os únicos influenciadores na vida deles. As famílias têm participação determinante na formação de valores e opinião. Muitos dos meus alunos participaram de algumas manifestações junto com pais e irmãos mais velhos. Eles escutam os parentes debatendo assuntos políticos e ficam atentos, captam informações de fontes diversificadas, formando a própria opinião e trazendo questões para a sala de aula também.
         As instituições de ensino participam do processo, não só com os professores, mas com as normas. As crianças aprendem que existem regras para ser seguidas, caso contrário pode haver punição. Absorvem a noção de que uma atitude fora das normas tem consequências, sendo fundamental para o aprendizado e formação do caráter.
         Outro fator importante é ter pessoas em quem se espelhar. Se os alunos não conseguem encontrar alguém que possa servir-lhes de exemplo de cidadão ético e consciente, acabam ficando um pouco perdidos. Então, a família e os professores devem ser a fonte que precisam para se tornar adultos com princípios bem estabelecidos. Assim, não correrão o risco de se corromper ao longo do caminho, como tem acontecido com muitos políticos, empresários e até no mundo do futebol, tão relevante para muitos dos alunos.
         Despertar a consciência ético-política nos jovens não é apenas uma demanda social, mas uma demanda dos próprios adolescentes, que querem uma bagagem intelectual e moral para formarem opinião de maneira autônoma, participar ativamente da vida social e política do país e deixar de apenas consumir informação.”

(WALISSON ANTUNES. Professor de história do Colégio ICJ, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 8 de julho de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 24 de julho de 2015, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Cidades em discussão
        O papa Francisco, preocupado com os aspectos humanísticos e espirituais que norteiam os processos de urbanização, se reuniu com os prefeitos das grandes metrópoles do mundo para um momento de diálogo e reflexão. Um encontro de partilha para sublinhar o alto grau de responsabilidade quando se pensa cada cidade, a definição de prioridades, os graves prejuízos em razão da corrupção, do excesso de burocracia e, acima de tudo, do tratamento dedicado aos mais pobres e sofredores.
         Os especialistas em urbanismo e urbanizações revelam complexidades, urgências e apontam saídas. Desafiam os gestores e governantes a apresentar respostas efetivas ante a série de graves problemas que comprometem a cultura e desrespeitam a dignidade da pessoa humana, o que inclui a lamentável indiferença em relação aos que estão sem terra, sem casa, sem saúde e educação. É oportuno focalizar a abordagem do papa Francisco, na carta encíclica Louvado Sejas – sobre o cuidado da casa comum, quando trata da crise do antropocentrismo moderno e suas consequências. Trata-se de significativa contribuição, que vai além das dimensões técnicas.
         O antropocentrismo moderno colocou a razão técnica acima da realidade. Condicionou o ser humano a considerar a natureza apenas como espaço e matéria. Isso o leva a tratá-la sem medir o que pode suceder como consequência. Clara perda do sentido humanístico e espiritual no tratamento adequado do meio ambiente, que é dom da criação para o bem de todos. Esse descompasso explica o quadro abominável de devastação ambiental, com exploração ilimitada, que ameaça a própria dignidade da pessoa humana. Uma dignidade desrespeitada por posturas tolerantes com o desperdício, encurralada pela mesquinhez da ganância, desconsiderada pela indiferença, que preside o coração de quem perdeu a sensibilidade, particularmente diante da miséria e da exclusão.
         Esse quadro se agrava com a ineficiência de governantes que não conseguem levar adiante, com a qualidade e a velocidade requeridas, os processos de atendimento das necessidades da população. Também são expressão desse quadro desalentador os desencontros de atitudes, falas e escolhas de prioridades, de líderes que ocupam lugares importantes nos contextos político, religioso, educacional e cultural. O desafio primeiro para tornar as cidades verdadeiramente sustentáveis – não apenas embelezadas, mas justas com os cidadãos, especialmente com os mais pobres – começa com a indispensável consciência que o ser humano deve ter sobre si e sobre o lugar onde vive.
         Há um adequado entendimento sobre o sentido de humanidade e de presença no planeta. A consequência é terrível no tratamento da realidade, precipitando-a num verdadeiro caos. Torna-se indispensável, ao lado da técnica e das análises pertinentes, uma espiritualidade que possibilite alcançar profunda compreensão sobre o ser humano e o meio ambiente. O papa Francisco adverte que nos tempos modernos verificou-se notável excesso de perspectivas antropocêntricas. Com isso, enfraqueceram-se o sentido e o respeito do que está no âmbito do bem comum, e a importância dos laços sociais. É preciso superar essa perda, pois as cidades sustentáveis incluem o compromisso com um desenvolvimento humano e social mais fecundo e saudável. Isso significa repensar a relação do ser humano com o mundo para qualificar, por lições preciosas, os vínculos entre as pessoas, configurando uma cidadania capaz de encontrar respostas para graves problemas, como a violência, a exclusão e os esquemas destrutivos da corrupção.
         Os governantes e os cidadãos estão convocados a buscar políticas que podem dar um rosto novo e sustentável a cada cidade, promover mudanças no contexto local, sem perder de vista o global. Cada pessoa deve se dedicar às muitas situações que demandam respostas para se alcançar o bem comum – não simplesmente o atendimento de interesses ideológicos e políticos, com privilégios de alguns em detrimento, especialmente, dos fracos e dos pobres. O papa Francisco formula um interessante princípio, que pode trazer a possibilidade de um passo novo na superação de marasmos e de gargalos que fazem das cidades um verdadeiro caos.
         O Santo Padre diz que a estrutura política e institucional não existe apenas para evitar malversações, mas para incentivar as boas práticas, estimular a criatividade que busca novos caminhos, facilitar as iniciativas pessoais e coletivas. O segredo é contar com líderes que contribuam na condução desses processos e que promovam a ampla participação, ajudando a construir os cenários próprios de cidades sustentáveis. Percebe-se que há um longo caminho a percorrer. É preciso mudar a cultura e as mentalidades. Um processo que exige reflexões e a contribuição de todos sobre o lugar onde se vive.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do IBGE, a inflação de junho medida pelo IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo – e acumulada nos últimos doze meses atingiu 8,89%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!...   
     
        
 


sexta-feira, 24 de julho de 2015

A CIDADANIA, AS LUZES DA FAMÍLIA E OS DESAFIOS DA PARTILHA E DA SOLIDARIEDADE

“Como a família pode tornar-se 
  um campo de evolução superior
        Geralmente, falta aos lares a qualidade energética requerida para que as almas se sirvam deles como um campo de evolução superior. Mesmo nos que ainda conseguem manter-se organizados, costuma-se cuidar tão somente da evolução material e da manutenção dos padrões estabelecidos pela sociedade, frustrantes para as almas. Assim, as que têm de realizar obras universais e abrangentes no plano físico necessitam do contato ou do convívio com núcleos destituídos de laços familiares, onde lhes é dada a oportunidade de diluir afinidades restritas ao parentesco e liberar-se de apegos.
         A propósito de relacionamento no grupo familiar, tenhamos em conta algumas condutas que poderiam facilitar o convívio, isso em sentido espiritual. Uma delas seria o indivíduo ser responsável e cuidadoso com os familiares tanto quanto as demais criaturas, evitando afetos especiais e apegos aprisionadores que os hábitos e a cultura tradicional estimulam. Outra conduta seria procurar não acirrar conflitos que advenham do fato de os membros da família terem diferentes interesses ou caminhos, o que é comum na desordem dos tempos atuais.
         Como grande parte das famílias se compõe como escola de aperfeiçoamento e oportunidade de purificação, é provável que, se um de seus integrantes agir de forma inusitada e fora dos padrões da maioria, irrite os demais e provoque seu antagonismo. Nesses casos a imparcialidade, a neutralidade, é para ser por ele evocada e desenvolvida. Assim, terá mais facilidade de evitar conflitos, e o legítimo espírito fraterno poderá prevalecer e exprimir-se de modo cada mais universal.
         Vínculos familiares não são necessariamente limitantes, mas é raro não serem. Um dos poucos exemplos que se conhece em que os membros de uma família se ajudaram uns aos outros despojados da necessidade de experiências humanas foi o de Teresinha de Lisieux. Os pais de Teresinha, que possuíam profundas aspirações espirituais, tiveram nove filhos, dos quais apenas cinco, mulheres, sobreviveram; e todas elas aderiram a uma vida de consagração a Deus. Pelas características que os integrantes daquela família, sem exceção, apresentavam, vê-se que eram um grupo de almas dedicadas mais à expressão de energias espirituais superiores que à satisfação de desejos ou à realização de projetos de ordem pessoal, material e externa.
         Em termos ideais, a instituição familiar deveria desempenhar o papel de primeiro instrutor do indivíduo que junto a ela viesse viver, preparando-o para encontrar a própria regência interna e para reconhecer a parte que lhe cabe no progresso do mundo. Todavia, de maneira geral, a família é inapta para cumprir tal papel, e o ser encontra mais obstáculos que facilidades para perceber realidades universais no campo afetivo e no espiritual.
         A família, como instituição, está carregando pesado carma, difícil de resolver se os que a integram permanecem no nível dos laços de mera afinidade ou de rejeição. Uma parte dos atuais problemas de relacionamento em família deve-se a isso; deve-se, também, ao fato de como grupo social ter perdido o sentido para muitos.
         Atualmente, quando as instituições criadas para ajudar os seres inexperientes desmoronam (como a família, as religiões, o estado e outras), é preciso ter verdadeira necessidade de chegar à efetiva vida espiritual para empreender tal busca de si mesmo e com o mínimo de apoios externos.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 28 de junho de 2015, caderno O.PINIÃO, página 20).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 10 de setembro de 2004, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Nação rica, povo pobre
        Uma chaga e um remédio. Este binômio diz respeito, ao mesmo tempo, a muitas e diversificadas realidades. Vale para o coração humano, nas suas dores e nos seus sonhos de mudanças e conquistas. Vale para a história da humanidade. Quantos calvários, mas também quantos redentores. Vale para a sociedade contemporânea: suas feridas e suas lutas por um mundo novo. Na sociedade contemporânea, pulula, fortemente, a chaga vergonhosa da exclusão. É uma vergonha que não pertence a poucos, ela é de todos e de cada um. O remédio para sua cura precisa ser buscado na fonte. Procurado este remédio na estação seguinte à primeira, a fonte, correr-se-á sempre o risco de não se dar conta de sua cura e de atrasos significativos no seu processo terapêutico. As estratégias, por mais inteligentes que consigam ser, a uma certa altura, esbarram em estreitamentos humanos e partidários que explicitam estes atrasos das respostas esperadas e dos encaminhamentos prometidos.
         A fonte, lugar ao qual se volta permanentemente, guarda os valores para além de interesses e emoldura opções e prioridades na importância insubstituível de cada outro. Esta fonte, a ética, tem uma reserva simbólica que nenhuma inteligência substitui, menos ainda qualquer estratégia consegue repor, nas proporções concretas de sua competência, as forças de compreensão, a capacitação da sensibilidade e o sentido social profundo, condições de possibilidade para o processamento da cura desta terrível e inquietante chaga, a exclusão.
         As estatísticas que alimentam o otimismo pela constatação do crescimento econômico, ou ao menos de sua retomada, emparelham aquelas que escancaram o horror da brecha crescente entre os ricos e os pobres. Estas estatísticas ainda se recheiam das perversidades, que mostram o trucidamento de indefesos, os pobres mais pobres, a frieza e a morosidade nos encaminhamentos e nas discussões, pois elas não são bafejadas pela mesma pressa de quem tem fome e precisa alimentar-se com urgência, ou de quem precisa trabalhar e encontrar oportunidades para edificar com dignidade, direito de todos, a vida dom de Deus.
         Não bastam os números, por mais promissores que sejam. De que vale ser nação rica com povo pobre. São números de realidades que se opõem, na ordem da qualidade, e revelam a necessidade de uma consistência mais radicais. A falta de um profundo e permanente sentido social, presidindo as relações, a organização social e as escolhas pessoais e institucionais, promove a incompetência na ação terapêutica desta chaga social.
         Sinais estão no horizonte lusco-fusco da sociedade atual. Nele reaparece o chamado ímpeto de patriotismo. Tem gente buscando. O sintoma é revelador do percurso árido que a humanidade faz, até mesmo em nome de sua liberdade e autonomia. Torna-se necessário reencontrar a fonte. A necessidade ultrapassa a interpretação simples de ufanismo, pela exaltação de números, ou mesmo a ingênua atribuição a pretensos responsáveis na criação de uma tal demanda, como sinal de popularidade ou daquela simples aceitação do si mesmo como força de afirmação do que vige nas entrelinhas dos processos sociais e políticos.
         Na verdade, o patriotismo é acionado, no mais íntimo de cada um, pela própria estruturação matricial que define em cada pessoa a demanda de sustentar-se de uma reserva simbólica que, na sua força real, reativa sentidos, alarga compreensões e alavanca gestos de alta sensibilidade social e política, reorientando, na sua dinâmica, rumos perdidos, recuperando gestos dados por descontados, e constituindo-se com sustento que pode fazer uma sociedade permanecer na direção que lhe cria as condições terapêuticas para suas chagas. Assim, a exclusão social há de ser enfrentada com as estratégias governamentais, e fecundada, permanentemente, por um profundo sentido social.
         Os processos de recuperação simbólica para alavancar a recomposição do tecido simbólico das relações, do respeito devido e da sensibilidade, encontram nos balizamentos éticos as referências insubstituíveis. Nestas referências se inclui solidariedade e partilha. Novas lógicas precisam passar a presidir as definições de prioridades e o alcance de metas. Inscreve-se aqui a gravidade da responsabilidade social exigida na condição cidadã de todos e de cada um. Particularmente, torna-se cada vez mais grave a importância da responsabilidade ético-social, neste processo de superação da exclusão, por parte daqueles que dirigem e assumem, em qualquer instância da organização social, tarefas de coordenação. Assim, para além de qualquer ufanismo, permanece o desafio de recuperar o sentido patriótico, na força educativa de sua própria reserva simbólica, mobilizando todos pela força de valores e dinâmicas éticas, para a superação urgente da exclusão social que retrata, inexoravelmente, as feições caducas e perversas do funcionamento da sociedade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do IBGE, a inflação de junho medida pelo IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo – e acumulada nos últimos doze meses atingiu 8,89%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...”;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!    
     
        
 

    

quarta-feira, 22 de julho de 2015

A CIDADANIA, OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO E AS COMPLEXAS DEMANDAS DA JUVENTUDE

“Um olhar de esperança pela educação
        Tem sido um desafio gigantesco para nós, professores/educadores, o buscar entender a situação por que passa a educação hoje. Se fizermos uma análise da trajetória histórica da educação, vamos encontrar momentos bem distintos, e gostaria de lembrar apenas uma situação, qual seja, a passagem de uma educação elitizada para uma educação mais acessível aos menos favorecidos. Isso nos basta para entender a importância que tem a educação dentro de qualquer contexto social, uma vez que não podemos visualizar um futuro promissor sem refletir, antes, numa educação que esteja comprometida em levar as pessoas a pensar e, mais ainda, a sonhar.
         Essa ideia nos pensar de forma mais preocupante sobre o futuro da educação. Ao longo dos anos, esse humanismo foi sendo substituído por uma formação mais tecnicista. Se levarmos em consideração o contexto histórico, isso começa a acontecer no início da Idade Moderna, sobretudo, com o pensamento de René Descartes, a partir do qual se constrói um paradigma no qual aquele que pensa, o homem, deve estar deve estar separado do objeto pensado. Essa novidade impulsionou o desenvolvimento da ciência nas suas várias áreas específicas, consequentemente, influenciou na elaboração dos currículos escolares ao longo desses anos todos.
         Progresso à vista. A grande árvore do conhecimento começa a ser podada. Uma nova concepção do que seja conhecer está sendo moldada. São galhos espalhados e separados do seu tronco original e, como consequência prática dessa mudança na educação, podemos apontar a instituição de um currículo fragmentado sem nenhum compromisso com a totalidade do saber, do conhecimento, trazendo uma preocupante carência de sabedoria, isso porque “ciência e tecnologia lançaram-se em uma correria cega sem prestar atenção à paisagem de humanidade que as cerca, sem sonhar com o que deixaram atrás delas, para melhor obedecer ao espírito frenético de conquistas que as arrasta para um terrível futuro”, afirma, sabiamente, Georges Gusdorf, no prefácio do livro Interdisciplinaridade e patologia do saber, de Hilton Japiassu.
         Diante de todo esse quadro apresentado, podemos afirmar que o nosso sistema educacional precisa de uma restauração, uma vez que está envelhecido e enrugado na forma de conduzir o conhecimento àqueles que frequentam as nossas escolas, crianças e jovens, que continuam desorientados e pouco instruídos em relação ao futuro que lhes aguarda. O sistema educacional está no CTI, precisando de socorro.
         Esse é o nosso grande desafio: estabelecer um diálogo entre as diferentes disciplinas e construir no corpo discente uma consciência diferente da que se percebe hoje no dia a dia das escolas, qual seja, de que devemos estudar apenas em função de uma nota, o que, na verdade, não representa o resultado de uma aprendizagem real. Só assim resgataríamos a autoestima necessária para gerar em cada aluno o prazer de ir à escola e acabarmos de uma vez por todas com esse marasmo que tomou conta das nossas instituições escolares. Trato aqui, portanto, de uma questão que vai muito além dos reais problemas políticos que interferem no resultado final da educação.
         Precisamos, imediatamente, de nos preocupar menos com resultados estatísticos para nos preocupar mais com resultados reais, que é uma educação voltada para o desenvolvimento da interioridade humana, que se reflete diretamente na construção de uma consciência plena voltada para os valores que edificam uma sociedade comprometida com a garantia de um futuro feliz, cujo modelo, paidea, já encontramos em pleno século 5 a.C., na Grécia Antiga de Sócrates, Platão e Aristóteles, como exigência de mudanças dentro de contexto histórico educacional da pólis grega.
         E é o próprio Platão quem nos ajuda a entender o valor e o significado da Paidea Grega como “(...) a essência de toda a verdadeira educação ou Paideia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento”. Só nos resta agora uma única coisa: mudar as nossas atitudes, o que representa, com toda certeza, um olhar de esperança pela educação.”

(EUDÁSIO CAVALCANTE. Professor, graduado em filosofia, pós-graduado em história e psicopedagogia, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 21 de julho de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 20 de julho de 2015, mesmo caderno e página, de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, jornalista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Juventude ameaçada
        O crescimento dos casos de Aids, o aumento da violência e a escalada das drogas ameaçam a juventude. A deterioração econômica e a falta de perspectiva de trabalho exacerbam o clima de desesperança. A percepção da falência do Estado em áreas essenciais (educação, saúde, segurança, transporte) causa muita frustração. Para muitos jovens, infelizmente, os anos da adolescência serão os mais perigosos da vida deles.
         Desemprego, gravidez precoce, aborto, doenças sexualmente transmissíveis, Aids e drogas compõem a trágica equação que ameaça destruir o sonho juvenil e escancarar as portas para uma explosão de violência. Além disso, a moçada não foi preparada para a adversidade. E a delinquência é, frequentemente, a manifestação visível da depressão.
         A situação é reflexo de uma cachoeira de equívocos e de uma montanha de omissões. O novo perfil da delinquência é o resultado acabado da crise da família, da educação permissiva e do bombardeio de setores do mundo do entretenimento que se empenham em apagar qualquer vestígio de valores. Tudo isso, obviamente, agravado e exacerbado pela falência de políticas públicas e a ausência de expectativas.
         Os pais da geração transgressora têm parte da culpa. Choram os desvios que cresceram no terreno fertilizado pela omissão. O delito não é apenas reflexo da falta de autoridade familiar. É muitas vezes, um grito de revolta e carência. A pobreza material agride o corpo, mas a falta de amor castiga a alma. Os adolescentes necessitam de pais morais, e não de pais materiais.
         Reféns da cultura da autorrealização, alguns pais não suportam ser incomodados pelas necessidades dos filhos. O vazio afetivo – imaginam na insanidade do seu egoísmo – pode ser preenchido com carros, boas mesadas e um celular para os casos de emergência. Acuados pela desenvoltura antissocial dos filhos, recorrem ao salva-vidas da psicopatia. E é aí que a coisa pode complicar. Como dizia Otto Lara Resende, com ironia e certa dose de injusta generalização, “a psicanálise é a maneira mais rápida e objetiva de ensinar a odiar o pai, a mãe e os melhores amigos”. Na verdade, a demissão do exercício da paternidade está na raiz do problema.
         Se a crescente falange de adolescentes criminosos deixa algo claro, é o fato de que cada vez mais pais não conhecem os próprios filhos. Não é difícil imaginar em que ambiente afetivo se desenvolvem os integrantes das gangues juvenis. As análises dos especialistas em políticas públicas esgrimem inúmeros argumentos politicamente corretos. Fala-se de tudo. Menos da crise da família. Mas o nó está aí. Se não tivermos a firmeza de desatá-lo, assistiremos, acovardados, a uma espiral de violência sem precedentes. É uma questão de tempo. Infelizmente.
         Ao traçar o perfil de alguns desvios da sociedade norte-americana, o sociólogo Christopher Lasch, autor do livro A rebelião das elites, sublinha as dramáticas consequências que estão ocultas sob a aparência da tolerância: “Gastamos a maior parte da nossa energia no combate à vergonha e à culpa, pretendendo que as pessoa se sentissem bem consigo mesmas.” O saldo é uma geração desorientada e vazia. A despersonalização da culpa e a certeza da impunidade têm gerado uma onda de superpredadores.
         O inchaço do ego e o emagrecimento da solidariedade estão na origem de inúmeros patologias. A forja do caráter, compatível com o clima de verdadeira liberdade, começa a ganhar contornos de solução válida. A pena é que tenhamos de pagar um preço tão alto para redescobrir o óbvio.
         É preciso ir às causas profundas da delinquência. Ou encaramos tudo isso com coragem ou seremos tragados por uma onda de violência jamais vista. O resultado final da pedagogia da concessão, da desestruturação familiar e da crise da autoridade está apresentando consequências dramáticas. Chegou para todos a hora de falar claro. É preciso pôr o dedo na chaga e identificar a relação que existe entre o medo de punir e os seus efeitos antissociais.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do IBGE, a inflação de junho medida pelo IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo – e acumulada nos últimos doze meses atingiu 8,89%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...”;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e segundo o estudo “Transporte e Desenvolvimento – Entraves Logísticos ao Escoamento de Soja e Milho, divulgado pela Confederação Nacional do Transporte, se fossem eliminados os gastos adicionais devido a esse gargalo, haveria uma economia anual de R$ 3,8 bilhões...);

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!