(Setembro = mês 58; faltam 112 meses para a Primavera Brasileira)
“Réquiem ao Homo sapiens
O
Homo sapiens é a mais surpreendente criação da natureza: capaz de
inventar sapato e, 5.500 anos depois, deixar um bilhão de seus semelhantes
descalços. Nesse período, deixou de jogar pedras com a mão e passou a jogar
bombas atômicas, com a mesma ética belicista do passado. Passou do cultivo
manual para tratores robóticos e sementes manipuladas, mas, em vez de
distribuir para quem tem fome, joga fora a comida que sobra. A natureza criou
um animal que evoluiu na lógica para manipular a natureza, mas incapaz de regular
o uso de sua força de forma sustentável e decente.
O
escritor Arthur Koestler parece ter razão com a hipótese de que o Homo
sapiens foi resultado de um erro de mutação, desenvolvendo um cérebro
lógico, com moral que não evolui: a lógica da bomba atômica, a ética da
política tribal. O resultado é que a racionalidade técnica provocou o
aquecimento global e deixou a ética e a política despreparadas para evitar a
catástrofe. A mutação deveria ter desenvolvido a responsabilidade moral.
O Homo
sapiens condena-se à extinção na busca de aumentar o tempo de sua vida com
o máximo de riqueza e consumo. A maior maravilha criada pela natureza é uma
espécie que marcha para o suicídio, ao usar o poder do cérebro lógico a serviço
do individualismo com voracidade de consumir e ganância por lucro.
A
suspeita de que o Homo sapiens é suicida parece confirmada pelo
relatório das Nações Unidas que detalha as mudanças climáticas, com
desarticulação da agricultura, elevação no nível do mar, extinção de animais.
Apesar de a humanidade ser alertada dos riscos há mais de 60 anos, as políticas
nacional e internacional não conseguiram barrar catástrofes ecológicas e
desigualdade socia.
As
mudanças climáticas mostram que voracidade de consumo, ganância de lucro e a
política individualista conspiram contra o futuro da humanidade. O Homo
sapiens parece caminhar para o próprio fim. Salvo se usar biotecnologia e
inteligência artificial para desenvolver um “neo-homo-sapiens”, forte,
inteligente e longevo, deixando para trás bilhões de “neo-neandertais”,
debilitados física e mentalmente, passíveis de extinção física.
Se optar
pela catástrofe ecológica da extinção ou pela catástrofe moral da ruptura da
espécie, o atual Homo sapiens e sua humanidade deixarão de existir.
Koestler terá tido razão: por um erro de fabricação, o Homo sapiens é a
única espécie programada para o suicídio.
Felizmente,
ainda há esperança de que a inteligência possa despertar sua própria
irresponsabilidade moral, a falta de valores éticos comprometidos com a sobrevivência
da espécie. Mas a história das últimas décadas parece dar razão a Koestler e
justificar um réquiem ao Homo sapiens.”.
(Cristovam Buarque. Professor emérito da UnB e
membro da Comissão Internacional da Unesco para o Futuro da Educação, em artigo
publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 27 de agosto de
2021, caderno OPINIÃO, página 21).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de
artigo publicado no mesmo veículo, edição de 30 de agosto de 2021, caderno A.PARTE,
página 2, de autoria de VITTORIO MEDIOLI, e que merece igualmente
integral transcrição:
“Materialista ou místico
É
no silêncio que mais se aproveita a felicidade espiritual e no barulho que se
esconde o triste vazio materialista.
“O homem
meramente profano, o mais comum, precisa de ruídos; o homem místico é
silenciosamente solitário. O homem plenamente crístico (evoluído
espiritualmente) é dinamicamente solidário. Ela sabe que as coisas materiais
não apagam o desejo; pelo contrário, quanto mais festejadas, tanto mais acendem
outros desejos. O ‘querer egoísta’ não tem fim, exige novas posses, sempre
maiores e mais esplendorosas – os profanos necessitam intensificar os estímulos
a cada momento, para almejar novos prazeres; e, não raro, procuram
narcotizar-se para obliterar a parte divina da consciência humana. Como quem
bebe água salgada para apagar a sede, ascendendo-a cada vez mais, perdem seu
tempo, e a vida, na procura do supérfluo e inútil”.
A pior
das discórdias, a mais trágica das guerras, é o conflito que o homem traz
dentro de si mesmo, o conflito entre o ego de sua humana personalidade e o Eu
espiritual da sua divina individualidade.
“Fatti non fummo per viver come bruti”, ensina Dante Alighieri.
Por
isso, o homem que chegou ao conhecimento de si mesmo, o místico, é invulnerável
aos ataques profanos; ninguém pode ofendê-lo, ninguém pode empobrecê-lo,
ninguém lhe pode infligir perda de espécie alguma, uma vez que ninguém pode
obrigá-lo a perder o que ele é.
O homem
que estabeleceu a paz de Deus em sua alma é um poderoso fator para restabelecer
a paz em outros indivíduos e na sociedade. O filósofo místico norte-americano
Emerson disse, certa vez, a um homem que falava muito em paz, mas não a possuía
dentro de si: “Não posso ouvir o que dizes, porque aquilo que tu és fala mais
alto”.
Isso
pode se aplicar, ainda hoje, em larga escala, às figuras mais expostas social e
politicamente, mostrando a imaturidade que aflige a eles e se reflete na nação.
Quem não
é pacificado dentro de si mesmo não pode ser pacificador fora de si. Quanto
mais perturbado o homem é internamente, pela ausência de harmonia espiritual,
tanto mais necessita de alegrias externas, geralmente ruidosas, asquerosas e
violentas. Esse homem não tolera a solidão, que lhe traz consciência mais
nítida da sua vacuidade e da sua desarmonia interior; por isso, evita quanto
possível estar a sós consigo. Procura companhia por toda parte e, quando não a
pode ter em forma de pessoas, canaliza para dentro da sua insuportável solidão
os ruídos da rua, do mundo infernizado. Alguns vão mais longe e recorrem a
entorpecentes e bebidas para povoar sua triste solidão.
Quem
teme a meditação foge da autoanálise, necessita de toda espécie de distrações
para esquecer a si mesmo.
Geralmente,
os homens mais felizes são ignorados pela humanidade. Os milionários da
felicidade são, quase sempre, os grandes anônimos da história, os
“não-existentes” nos noticiários. Estes nem pela mídia são tratados, são homens
que aparecem em público com raras exceções. Expressam-se por meio de
mensageiros. São os irmãos anônimos que estão presentes onde haja serviços a
prestar, difíceis de serem identificados por detrás das suas obras. Os muitos e
os ruidosos, que falam de si, são marionetes muitas vezes danosos, porque não
encontram espaço no anonimato da benevolência universal, em que os méritos são
retribuídos com a felicidade mais intensa.
Os
verdadeiros redentores da humanidade são tão felizes no cumprimento da sua
missão que nunca esperam pelos aplausos de plateias. São igualmente
indiferentes aos louvores e às injúrias, porque eles vivem na poderosa e
invisível comunidade a serviço da evolução, ou seja, do lado oposto do
destruidor, e dos conflitos egoístas.
O homem
justo, espiritual, pelo simples fato de existir, contraria o injusto porque ao
lado dele acentua as deficiências e as falhas do outro.
Quem não
adota a honestidade interior não tolera, minimamente, a realidade de sua inferioridade
em relação ao sábio. Disso eclodem dois tipos de reação. Pode-se despertar em
alguns, os superiores, o vivo desejo de ser tão espiritual quanto o sábio
místico, ou, em sentido oposto, uma agressividade destruidora: “Se não consigo
ser em paz comigo, como o sábio é com ele, melhor apagar sua presença”.
Enfrentar
o martírio pode o destino do místico, como o de um cordeiro entre lobos
esfomeados. Mas nessa missão, no ápice de sua solidariedade, encontra a função
de nutrir as feras enquanto abre-lhe outra oportunidade de redenção.
O
egoísta não é útil nem amado, o místico é, por dentro, unicamente de Deus e,
por fora, um ajudante de todas as criaturas de Deus. Sem dúvida, o grande
aliado da evolução.”.
Eis,
portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e
reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história –
que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas,
civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e
sustentavelmente desenvolvidas...
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 131 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da
democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b) o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são:
c) a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2021, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 2,236 trilhões (53,83%), a título de juros, encargos, amortização e financiamentos (ao menos com esta última rubrica, previsão de R$ 1,603 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega, do direito e da justiça:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e
eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz:
“... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos,
mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite
da dívida pública...”).
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal
sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa
capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
60
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2021)
- Estamos nos descobrindo através da Excelência
Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando
nossas defesas democráticas ...
- Por uma Nova Política Brasileira ...
- Pela excelência na Gestão Pública ...
- Pelo fortalecimento da cultura da
sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral:
econômico; social, com promoção humana, e, ambiental, com proteção e
preservação dos nossos recursos naturais ...
- A alegria da vocação: juntando diamantes...
porque os diamantes são eternos!
Afinal, o Brasil é uma
águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão
olímpica e de coragem!
E P Í L O G O
CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO
“Oh! Deus, Criador,
Legislador e Libertador, fonte de infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e
não está ficando, pedra sobre pedra
Dos impérios edificados
com os ganhos espúrios, ilegais, injustos e
Frutos da corrupção, do
saque, da rapina e da dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse
construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e
dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim!
Eternamente!”.