(Outubro = mês 59; faltam 111 meses para a Primavera Brasileira)
“Educação integral
Com
a volta às aulas presenciais na rede pública já iniciada em alguns estados e
anunciadas para agosto em boa parte dos demais, surge uma questão importante:
voltaremos para a mesma escola, com seus velhos desafios de aprendizagem
insuficiente e de geração de desigualdades educacionais?
Crises,
como já escrevi em outros textos da coluna, são boas oportunidades para nos
obrigar a sair da zona de conforto, repensar o que fazemos e inovar. Nesse
sentido, vale a pena observar para algumas boas práticas que já construímos no
Brasil e nos inspirar pelo que fazem países com bons sistemas educacionais.
Uma
delas é certamente a ampliação da jornada escolar, com mais tempo para um
ensino significativo, em que os professores possam de fato ouvir seus alunos e
ensiná-los a pensar e a resolver problemas da realidade, não apenas a memorizar
conteúdos passados às pressas por seus mestres, que acabam gastando um tempo
precioso se deslocando entre escolas, dada sua reduzida carga horária em cada
uma.
Contar
com uma escola em tempo integral e uma equipe de professores com dedicação
exclusiva são características de muitos sistemas educacionais de qualidade no
mundo. Ora, isso não passou despercebido
em alguns estados do Brasil. Boa parte do sucesso educacional de Pernambuco
está associado a uma grande rede de escolas de ensino médio em tempo integral.
De Pernambuco, a tendência foi se ampliando para Ceará, Paraíba, São Paulo,
Espírito Santos, Maranhão e Goiás, entre outros estados, com um impacto
importante no Ideb, índice que mede o desempenho escolar. Não é à toa que o
Ideb de ensino médio integral em 2019 foi de 4,7, enquanto a média do país para
essa etapa se manteve em 3,9.
A
Paraíba se destaca, nesse contexto, como o estado que tem mais escolas
integrais em sua rede. São Paulo também, ao anunciar na semana passada que 773
novas escolas estaduais entram, em 2022, no programa de ensino em tempo
integral e ao ampliar a jornada escolar em uma hora-aula nas demais, com apoio
de tecnologia.
Mas foi
o Espírito Santo que levou a ideia a outro patamar: olhando para a trajetória
do estado em educação como política pública de Estado, ampliou o número de
escolas integrais que encontrou, focando em áreas de vulnerabilidade, e anunciou,
nesta quarta-feira (21), que vai apoiar seus municípios, com recursos e
assistência técnica, na implantação de escolas em tempo integral no ensino
fundamental.
O
importante, agora, é usar bem esse tempo adicional, com professores motivados e
preparados para o desafio de garantir aprendizado de qualidade para todos, sem
perder nenhum aluno.”.
(Claudia Costin. Diretora do Centro de
Excelência e Inovação em Políticas Educacionais, da FGV, em artigo publicado no
jornal FOLHA DE S.PAULO, edição de 23 de agosto de 2021, caderno opinião,
página A2)).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de
artigo publicado no site www.cnbb.org.br,
edição de 01 de outubro de 2021, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE
AZEVEDO, arcebispos metropolitano de Belo Horizonte e presidente da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e que merece igualmente
integral transcrição:
“Voz de profecia
Revisitar
episódios da história é oportunidade para o aprendizado de lições valiosas que
reavivam o sentido adequado de entendimentos e mostram a importância
insubstituível da memória de um povo, do grupo familiar e de toda instituição.
Como o assevera o entendimento popular, “a história não começa agora”. Muitos
precederam esta estação do presente, apontando que os recomeços e as novidades
precisam se assentar em alicerces de experiências vividas, conquistas
alcançadas e ofertas. O propósito é retomar a força ilustrativa e indicativa de
um episódio narrado no Antigo Testamento, capítulo onze do Livro dos Números.
Trata-se de importante pronunciamento do líder Moisés na desafiadora missão de
conduzir o seu povo a um ciclo novo de vida. Tarefa complexa e exigente particularmente
no conjunto de uma sociedade. Requer mobilização e comprometimento mais amplos
com garantia de desempenho qualificado. Não são suficientes o desempenho e o
envolvimento de apenas alguns líderes, perante a extensão e exigências da
realidade vivida pela sociedade, ou mesmo no interno de uma instituição.
Retornando ao Livro dos Números, narra-se a murmuração do povo aos ouvidos de
seu Senhor. Havia uma grande insatisfação relacionada às circunstâncias
desafiadoras enfrentadas pelo povo no decurso da travessia rumo ao novo ciclo
de vida. Muitos outros agravantes incitavam o povo, a exemplo da gula
incontrolada a instigar corações e entendimentos, de modo a fragilizá-los e
convencê-los que a situação melhor seria aquela que os enquadravam em uma “zona
de conforto” mesmo nos limites da escravidão.
As
lamúrias se multiplicavam e tudo pesava sobre os ombros de Moisés no exercício
de sua liderança, instituída por escolha divina. Moisés chega a dizer que não
daria conta de “carregar” todo aquele povo. Algo tão pesado que o leva ao
destempero de pedir ao seu Senhor que lhe tirasse a vida. O desespero causado
por tamanha responsabilidade motiva Moisés a dizer: “Que eu não veja mais minha
desgraça”. O Senhor ampara o líder que Ele escolheu e ordena-o a selecionar 70
homens, líderes do povo, reunindo-os na tenda do encontro. Retira algo do
espírito que repousava em Moisés e oferta aos 70 líderes para que o ajudem a
carregar o peso daquela responsabilidade. E os escolhidos profetizam – profecia
como serviço de liderança e condução do povo na direção da terra da liberdade e
da paz, de compreensão da razão pela qual saíram do Egito, entendendo a oferta
de uma vida nova dada amorosamente por seu Deus e Senhor. Os diálogos de Moisés
revelam a dureza da realidade e explicitam as urgências de respostas que
efetivem avanços e garantam inegociáveis e urgentes condições de vida melhor.
Os
escolhidos começaram a profetizar e pararam. Somente alguns poucos continuaram,
e sem profecia, o povo não avança na direção da promessa. Moisés então foi
advertido, em razão dos poucos que persistiram, como se um erro estivesse sendo
cometido. Até seu ajudante desde os tempos da juventude o aconselhou: “Meu
Senhor, manda-os parar”. Com a reação de Moisés, a compreensão da importância insubstituível
da profecia da vida do povo atinge o seu ápice: “Quem dera que todo o povo do
Senhor profetizasse, e que o Senhor pusesse sobre ele o seu espírito”. Aqui,
Moisés mostra, com clareza, que a condução do povo e a conquista de
circunstâncias que garantam a justiça e a paz dependem intrinsecamente da voz
profética, ou seja, o povo, na condição de profeta, indicando a força educativa
imprescindível da profecia, capaz de edificar e induzir à profunda
sensibilidade social - alimento no
sentido de solidariedade, fundamental para a reorganização dos funcionamentos
da sociedade, numa condição justa e fraterna. Profecia compreendida muito além
daquilo que possa caber numa crítica qualquer, por vezes significando apenas a
satisfação de sentimentos individuais que não se operam nem se concretizam em
posturas e ações com poder transformador. Para o líder Moisés, profetizar é
indicação da força educativa e essencial que ajuda o conjunto de uma sociedade
a se organizar num tecido social e político de qualidade.
Construir
nova compreensão e consequentemente novas operações é valor intrínseco da
profecia. Significa também cuidar do que se fala, não se deixar levar pelas
facilidades contemporâneas na maneira de se comunicar. A profecia não é, pois,
discurso agoureiro, mas próprio da gestão da esperança, com força crítica de
correções e propriedades para apontar soluções além de simples constatação de
contextos e circunstâncias, para leitura analítica da realidade, engenhando o
“edifício” da justiça e da paz social. A profecia denuncia e atua na
remodelagem de esquemas e processos. Do seu cerne brota a força moral e
educativa, que aponta erros e indica direções novas, impulsionando respostas
para a superação de vergonhosos descompassos, a exemplo da cruel desigualdade
social.
A grave
crise socioeconômica e política na vida da sociedade brasileira urge pelo
exercício da profecia como instrumento eficaz de correção de rumos, de
entendimentos, de coragem para adequada solução. Por isso mesmo, pela sua
importância, a profecia, deve também anteceder escolhas partidárias e se
balizar no horizonte no bem comum. É de todo o povo a tarefa profética, com
ajuda especial das lideranças, mas recai, particularmente, como
responsabilidade, sobre os cristãos. Instigados na consciência de seu dever, os
cristãos são possuidores de uma herança que exige comprometimento pela palavra,
com força de correção e de edificação do urgente novo momento, que se espera e
deve surgir pela voz de sua profecia.”.
Eis,
portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e
reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história –
que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas,
civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e
sustentavelmente desenvolvidas...
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 131 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da
democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b) o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são:
c) a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2021, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 2,236 trilhões (53,83%), a título de juros, encargos, amortização e financiamentos (ao menos com esta última rubrica, previsão de R$ 1,603 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega, do direito e da justiça:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e
eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz:
“... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos,
mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite
da dívida pública...”).
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
60
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2021)
- Estamos nos descobrindo através da Excelência
Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando
nossas defesas democráticas ...
- Por uma Nova Política Brasileira ...
- Pela excelência na Gestão Pública ...
- Pelo fortalecimento da cultura da
sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral:
econômico; social, com promoção humana, e, ambiental, com proteção e
preservação dos nossos recursos naturais ...
- A alegria da vocação: juntando diamantes...
porque os diamantes são eternos!
Afinal, o Brasil é uma
águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão
olímpica e de coragem!
E P Í L O G O
CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO
“Oh! Deus, Criador,
Legislador e Libertador, fonte de infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e
não está ficando, pedra sobre pedra
Dos impérios edificados
com os ganhos espúrios, ilegais, injustos e
Frutos da corrupção, do
saque, da rapina e da dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse
construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e
dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim!
Eternamente!”.