“Crise
hídrica aflige o país
Rico em recursos
naturais, o Brasil desenvolveu a cultura do desperdício. A água serve de
exemplo. Adultos e crianças sempre tiveram a sensação de que o líquido era
infinito. Bastava abrir a torneira, e ele jorrava generosamente. Como nos
edifícios a conta é coletiva, tinha-se a impressão de que, além de abundante, é
gratuito. Pode ser desperdiçado em banhos longos, mangueiras fartas, lavagem de
louça pródiga, escovação de dentes magnânima, descarga de cachoeira.
A
crise hídrica não se deve apenas ao esbanjamento irresponsável. Alia-se à
imprevidência do Estado. O governo sempre fechou os olhos para o
comprometimento das nascentes e a poluição dos rios, transformados em lixeiras
urbanas. Ali, além do esgoto, são jogados móveis, brinquedos, eletrodomésticos,
garrafas, sacos plásticos, copos e embalagens descartáveis. Mais: fechou os
olhos para o fato que aumenta o consumo – o crescimento da população nas
cidades.
Apesar
de contar com 13% da água potável disponível no planeta, o país se encontra em
situação desconfortável. Além de urbes nordestinas, São Paulo amargou corte.
Agora é a vez do Distrito Federal. Quinze regiões administrativas abastecidas
pelo Rio Descoberto sofrerão inédito racionamento – nada menos de 65% do DF. Em
Belo Horizonte, no início de 2015, a Copasa foi obrigada a fazer uma campanha
para diminuir o consumo, pois os reservatórios que abastecem a região metropolitana
estavam com o nível baixíssimo.
A
realidade não deixa dúvidas. Será necessário, em todo o país, rever a
governança dos recursos hídricos disponíveis. A crise que se repete ano após
ano apaga a ilusão de que o Brasil está à margem da tragédia que atinge 750
milhões de pessoas no mundo. Não está. Precisa, por isso, trilhar o caminho da
racionalidade – único capaz de atenuar os riscos da escassez plena.
Para
que a gestão dos recursos hídricos tenha êxito, impõe-se, de um lado, mudar os
hábitos do cidadão e, por outro, voltar a política ambiental para a preservação
da flora e dos mananciais. Há que cumprir rigidamente a legislação. Punições
brandas ou inexistentes estimulam a degradação do patrimônio natural, com
impactos danosos às nascentes e à proteção dos ecossistemas.
Campanhas
educativas constantes devem figurar no planejamento governamental em todos os
níveis. Setores organizados da sociedade devem se engajar com objetivo claro –
reverter a preocupante situação enfrentada pelo país. Deve ficar claro que água
não vem da torneira, assim como o leite não vem da geladeira nem a carne do
freezer.”.
(EDITORIAL
do jornal ESTADO DE MINAS, edição de
17 de janeiro de 2017, caderno OPINIÃO,
página 6).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
18 de janeiro de 2017, mesmo caderno, página 7, de autoria de THIAGO METZKER, biólogo, doutor em
ecologia, conservação e manejo da vida silvestre, conselheiro do CRBio-04 e
presidente do IBAM – Instituto Bem Ambiental, e que merece igualmente integral
transcrição:
“O
ano mais quente da história
Pronto. 2016 foi
registrado como o ano mais quente da nossa história, desde a Revolução
Industrial. O aumento da temperatura foi de 0,2ºC maior que o recordista
anterior, que era o ano de 2015. Na primeira análise global de 2016 publicada
por um órgão da União Europeia, o Serviço Copernicus de Mudança Climática, a
temperatura ficou 1,3ºC acima da média. Esse valor já está muito próximo do
limite de 1,5ºC definido pelos signatários do Acordo de Paris, quando assumiram
que com aumentos de temperatura superiores a esses valores entraremos em um
campo de alterações significativas dos sistemas naturais e aumento considerável
da frequência de eventos climáticos extremos. Tudo bem que tivemos uma
influência significativa de um expressivo El Nino, entre 2015 e 2016, mas uma
coisa é certa: a influência humana é a responsável pelas mudanças climáticas
que vivemos atualmente.
Reconhecendo
que as mudanças climáticas representam uma ameaça urgente e potencialmente
irreversível para as sociedades humanas, na 21ª Conferências das Partes (COP
21) foi proposto um pacto mundial para a diminuição das emissões de gases de
efeito estufa (GEE). O chamado Acordo de Paris foi aprovado por 195 países com
o compromisso de envidar todos os esforços para limitar o aumento da
temperatura a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais. O fato é que isso foi em
2015 e, de acordo com as previsões, chegaríamos a um aumento médio dessa
magnitude apenas daqui a uma década. Mas não é bem o que parece. No final do
ano passado, fui o único brasileiro convidado para participar do encontro na
Indonésia do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, órgão da
Organização das Nações Unidas – ONU – responsável pelo estabelecimento de
políticas climáticas mundiais), cujo objetivo foi contribuir para o
fortalecimento da base de dados do IPCC, especialmente em relação à mata atlântica. Durante esse
encontro, além da modelagem climática global, duas questões dominavam as
discussões: a intensa velocidade com que estamos chegando ao limite de 1,5ºC
definido no Acordo de Paris e a recente vitória de Donald Trump para a
Presidência dos EUA, com aparente retrocesso de todas as políticas climáticas
conquistadas até o momento. Esperamos que algumas reuniões com Al Gore e
Leonardo de Caprio possam alterar significativamente as primeiras impressões
desse novo presidente.
Bom,
mas o que um ano um pouco mais quente pode me afetar? (Perguntaria um mineiro
desconfiado.) De muitas formas, uai! Basta ver que ainda estamos no início do
verão e as temperaturas na capital mineira andam insuportáveis. Se for tentar
se refrescar as praias, deve ficar atento, pois a sensação térmica no RJ chegou
a 61º! Os surtos de mosquitos e pernilongos andam avassaladores. Isso sem falar
das doenças tropicais, como a febre amarela, dengue, chikungunya, zika vírus,
que geralmente estão associadas ao aumento do calor e da umidade. As chuvas
também andam bem imprevisíveis, com períodos em que todos ficam em pânico com
medo do racionamento e outros períodos com enchentes e inundações que deixam a
cidade travada, desconectada e altamente vulnerável.
O
aumento da temperatura já é sentido e reconhecido. As mudanças climáticas
também. O tempo agora é de ação. Mitigação e adaptação são palavras de ordem
para as vulnerabilidades que já temos no nosso sistema. Precisamos despertar
para as cidades inteligentes, resilientes, soluções para abastecimento, para esgotamento,
planos rápidos a serem executados durante eventos extremos para que a cidade
não pare. Precisamos de uma economia de baixo carbono, de uma cadeia de
produção mais consciente, de novas tecnologias, de energias limpas de fontes
renováveis. Precisamos de ações emergenciais para grupos mais vulneráveis.
Vale
lembrar que para um planeta com 4,5 bilhões de anos, pouco afeta aumentos e
diminuições de temperaturas, chuvas torrenciais, tempestades ou secas
prolongadas. Mas para a espécie humana, de aproximadamente 150 mil anos, isso
muda tudo. Ultrapassar o limite de 1,5ºC não é uma opção segura para a
humanidade. Esse é um recorde que não devemos quebrar!”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em novembro a ainda estratosférica marca
de 482,05% nos últimos doze meses, e a
taxa de juros do cheque especial registrou históricos 330,65%; e já em dezembro
o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 6,29%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso
específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e
que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c) a dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para
2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável
desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão,
a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com
esta rubrica, previsão de R$ 946,4
bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Isto
posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos
a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela excelência
educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além
de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do
século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da
informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da
sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da
paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
- 55
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...
- Estamos
nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...