“Hesitocracia e governança radical
Em
setembro de 2021, durante o segundo ano da pandemia, o então presidente da
Escola Nacional de Administração Pública (Enap), Diogo Costa, criou um termo
para ilustrar um importante aspecto que caracteriza muitas das sociedades
contemporâneas: “Hesitocracia”. O conceito tenta captar aspectos de um fenômeno
que vemos nos diversos tipos de governos (municipal, estadual, distrital e ou
federal) que compõem a federação brasileira. A hesitocracia manifesta-se na
dificuldade que governos têm em avançar soluções ágeis que atendam as demandas
dos eleitores.
Não é
difícil encontrar exemplos de falta de agilidade de nossos governos em relação
a outros. Catástrofes como enchentes nos EUA ou terremotos no Japão, por
exemplo, são atendidas com respostas
muito mais rápidas (e eficientes)
por parte de seus governos do que os nossos conseguem fazer em casos similares.
É
verdade que, tal como nestes países, temos, formalmente, três poderes
(Executivo, Legislativo e Judiciário), uma Constituição escrita (inclusive
respeitada pelas Forças Armadas) e um sistema de competição política com
eleições e uma economia de mercado. As regras do jogo escritas, que chamamos em
economia, de instituições formais, formalmente falando, são as mesmas. Há,
contudo, instituições informais que variam de sociedade para sociedade. Um
exemplo é a hesitocracia.
O leitor
poderá argumentar que autocracias podem ser menos sujeitas à lentidão na tomada
de decisões. Afinal, em sociedades governadas por autocratas, a oposição não
costuma ter muita voz fora das prisões. Contudo, também é verdade que as
democracias maduras são tão ou mais eficazes do que as autocracias, o que, eu e
o leitor, provavelmente, concordamos ser um bom sinal, já que preferimos viver
sob uma democracia.
Também é
bom lembrar que, em algum momento de sua história, sociedades que hoje possuem
governos muito mais ágeis, já foram como a nossa. Não quer dizer que nossa
evolução esteja garantida, mas também precisamos descartar essa ótima
possibilidades em nossas reflexões sobre o futuro.
Como
construir condições para que a tomada de decisões no governo seja mais ágil e
efetiva? A resposta passa pela ideia de governança radical que entendo como uma
governança que abraça a inovação e busca estimular a experimentação
institucional, visando possíveis mudanças e leis de forma a diminuir a
deletéria “hesitocracia”.
Alternativamente,
pode-se dizer que a ideia de governança radical trata do desenho de ideias que
dariam à sociedade condições para sustentar uma relação entre setor público e
privado em que se abandona a hesitocracia e se abraça o inovacionismo. Eu e o
leitor, creio, preferimos ter mais empreendedores inovadores e menos
empreendedores que usem da hesitocracia para se proteger da concorrência.
Uma
ilustração do meu argumento é a mudança que aplicativos de transporte trouxeram
para os reguladores públicos. Todd Henderson e Salen Churi, em seu livro “The
Trust Revolution”, chamaram a atenção para o fato de que a principal
concorrência dos aplicativos não era com os taxistas, mas com reguladores,
subitamente retirados de sua zona de conforto e pressionados como desafio de
regular a nova modalidade de transporte sem destruir os benefícios da inovação.
Uma regulação que sufoca a inovação seria uma destruição destrutiva.”.
(Claudio D. Shikita. Doutor em economia e
professor do Ibmec BH, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo
Horizonte, edição de 14 de março de 2023, caderno OPINIÃO, página 16).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de
artigo publicado no site www.arquidiocesebh.org.br,
edição de 17 de março de 2023, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO,
arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB), e que merece igualmente integral transcrição:
“‘Partir de Cristo’
‘Partir
de Cristo’ é a primeira indicação para quem busca alcançar o sentido
indispensável da vivência e das celebrações deste tempo da Quaresma. Os ritos e
exercícios da Quaresma ganham vigor quando se reconhece a centralidade de
Cristo na vida pessoal e na relação com o semelhante. Os que creem em Cristo
sabem o que pode ocorrer quando discípulos se distanciam do Mestre Jesus:
condutas contaminadas por escolhas e atitudes que estão na contramão da
fraternidade universal. O mundo pede aos cristãos maior proximidade com o seu
Mestre. Clama por um jeito novo de ser, que desperte sensibilidades para que
sejam encontradas novas direções, capazes de levar à renovação da sociedade,
tão desgastada. Primordial é exercitar-se, individual e comunitariamente, na
competência espiritual e humana de sempre “partir de Cristo”, alimentando a
convicção de que conhecer Jesus pela fé é experimentar a verdadeira alegria
procurada pelo coração humano. Essa alegria tem efeitos transformadores pela
graça de segui-lo.
Seguir
Jesus é oportunidade para vencer irracionalidades que vitimam a sacralidade da dignidade humana e nutrir
uma esperança que não é enganadora. Quaresma constitui, assim, um tempo
favorável para práticas que alicerçam o dom do encontro, ou do reencontro com
Jesus Cristo. Tempo para nutrir-se da convicção de que partir sempre Dele
garante qualidade ética e existencial ao viver humano. A proximidade com Cristo
possibilita a cada pessoa ser instrumento da paz, revestindo a interioridade
com as propriedades da misericórdia, inesgotáveis no coração do Mestre e
Senhor. O Evangelho tem essa novidade precisada pelo coração de todos, para que
cada um se fortaleça na condição de discípulos e discípulas de Jesus. Trata-se
de uma experiência forte e transformadora. Por isso, vivenciar as propostas e
interpretações do tempo quaresmal é colocar ao próprio alcance valiosa
experiência de ser cristão autêntico. Isto possibilita superar muitos desgastes
existenciais.
O
encontro com Jesus Cristo, pela fé, é muito mais que experiência casual.
Oferece um novo horizonte à própria vida, alcançando a desejável, urgente e
decisiva orientação que é buscada por todos, capaz de conferir sentido à
existência de cada um. A Quaresma, culminando com a vivência da Semana Maior, a
Semana Santa, é a possibilidade concreta e graciosa de se desenhar um novo
horizonte na própria história, com repercussões na vida familiar e social. A
vivência quaresmal, iluminada pela força da Palavra de Deus, permite saciar a
sede experimentada no coração humano. Leva a um aprendizado essencial partir sempre
de Cristo, em tudo que fizer. A recuperação da centralidade de Cristo na
própria vida e nas dinâmicas da comunidade de fé é meta primordial da
celebração do tempo da Quaresma. Leva ao coração de todos mais força e
sabedoria para enfrentar as circunstâncias dramáticas da contemporaneidade.
Ilumina iniciativas para que efetivamente possam levar mais equilíbrio aos
relacionamentos, alicerçando a edificação de uma sociedade mais justa e
solidária.
Quaresma
é dom do encontro com Jesus Cristo que possibilita ao ser humano reencontrar-se
com a sua própria e genuína essência. Uma experiência que leva ao aprendizado
de lições insubstituíveis para uma vida social e comunitária nos parâmetros da
justiça e da solidariedade, alavancas na promoção da paz. Pode-se reconhecer, a
partir dos focos de guerra, das situações de penúria enfrentadas por tantos
injustiçados, em diferentes contextos, que a humanidade experimenta o seu
próprio caminho como enigma indecifrável. E ao compreender o próprio horizonte
como enigma indecifrável, percebe-o como fardo pesado e insuportável, sem
sentido, sem um rumo a ser seguido. Consequentemente, não são reconhecidas as
razões para se investir no compromisso com a solidariedade. A indicação é
recuperar Cristo Mestre como “caminho, verdade e vida”.
Iluminadora,
pois, é esta convicção: não reconhecer os rumos do próprio caminho leva um
viver desvinculado da verdade, a uma vida sem vida. Trilhar o caminho da
Quaresma permite o aprendizado da autêntica liberdade. A vivência frutuosa do
tempo quaresmal pelas práticas recomendadas do jejum, da esmola e da oração,
recupera a alegria essencial ao coração humano. É oportuno ter presente o que
diz o Documento de Aparecida, fruto saboroso e inspirador da 5ª Conferência
Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho: “A alegria do discípulo é
antídoto frente a um mundo atemorizado pelo futuro e oprimido pela violência e
pelo ódio”. Seguir, pois, este princípio – partir sempre de Cristo – é
conquistar uma alegria que ultrapassa um mero bem-estar egoísta: faz nascer no
próprio coração a alegria que resulta do conhecimento e do encontro com Jesus
Cristo – o melhor presente que se pode receber, comprovadamente.
Aprenda-se sempre e cada vez mais este
princípio: em todas as ações, decisões, pensamentos, sempre partir de Cristo.”.
Eis,
portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e
reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história –
que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas,
civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e
sustentavelmente desenvolvidas...
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno desenvolvimento
da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 133 anos
depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de
uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças
vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da
ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da democracia, da participação,
da solidariedade, da sustentabilidade... e da fraternidade universal);
b) o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são:
c) a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2023, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 2,556 trilhões (49,40%), a título de juros, encargos, amortização e financiamentos (ao menos com esta última rubrica, previsão de R$ 2,010 trilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega, do direito e da justiça:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e
eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br).
E, ainda, a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz:
“... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos,
mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite
da dívida pública...”.
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
Este
é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e
perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
61 anos
de testemunho de um servidor público (1961 – 2022)
- Estamos nos descobrindo através da Excelência
Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando
nossas defesas democráticas ...
- Por uma Nova Política Brasileira... pois, o
poder é para amar, servir e edificar - jamais, jamais e jamais para subir,
dominar e destruir!
- Pela excelência na Gestão Pública ...
- Pelo fortalecimento da cultura da
sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral:
econômico; social, com promoção humana, e, ambiental, com proteção e
preservação dos nossos inestimáveis recursos naturais ...
- A alegria da vocação: juntando diamantes ...
porque os diamantes são eternos!
- O Epitáfio: “Não chorem por mim, chorem por
todos aqueles que, ainda, não descobriram Cristo em cada Eucaristia!”.
- (Re)visitando o Santo Graal, para uma vida
virtuosa: “... porque és pó, e pó te hás de tornar. (Gen 3,19)” ...
Afinal, o Brasil é uma
águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão
olímpica e de coragem!
E P Í L O G O
CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO
“Oh! Deus, Criador,
Legislador e Libertador, fonte de infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e
não está ficando, pedra sobre pedra
Dos impérios edificados
com os ganhos espúrios, ilegais, injustos e
Frutos da corrupção, do
saque, da rapina e da dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse
construído com o
Sangue, suor e lágrimas,
Trabalho, honra e
dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim! Eternamente!”.