“No fundo do peito
Existem
pessoas raras que se tornam inesquecíveis por vez. Figuras que marcaram, que
furaram a muralha da indiferença, para se acomodar no ‘fundo do peito’ e de lá
não sair. Eu tenho alguns personagens assentados na primeira fileira das
lembranças.
Foi
também por causa de um deles que acabei deixando, aos 20 anos, o curso de
direito em Parma, em que registrava um sucesso surpreendente, para entrar na
faculdade de filosofia em Milão.
Essa
figura extraordinária era o filho do fundador do colégio De Amicis de Milão,
Michele Maria Tumminelli, ex-deputado constituinte italiano ao término da
Segunda Guerra Mundial, em 1946, pedagogo genial e idealizador do “sistema
biopedagógico de ensino”. Eu acabei, com 15 anos, internado nesse colégio e
acredito que isso mudou o rumo da minha vida. Lá foi possível usufruir de
alguns dos melhores professores do momento na Itália, num ambiente de
disciplina correta, princípios cívicos, conhecimentos privilegiados, estímulos
para os estudos e as atividades físicas e condições fantásticas de aprender do
melhor.
O estudo
da filosofia começou a me fascinar por causa dele, do professor Mário
Tumminelli, filho do dono do colégio. Elegante, refinado, sóbrio, um olhar
faiscante, reflexo de uma inteligência rara e irrequieta, muito acima do
normal. Personalidade intensa, culta, ardente. Suas aulas deixavam
perfeitamente compreensíveis os pensamentos mais complexos e até metafísicos.
Chegava
preparado à sala para atrair a atenção dos alunos, transmitir o mais
importante, o essencial, com raciocínios diretos, claros e firmes. Era
declaradamente apaixonado pela obra de Giordano Bruno, o monge filósofo que no
século XVI era disputado pelas cortes reais da Inglaterra e da França e, ainda,
pela mais opulenta república da época, Veneza. Sua presença era requisitada na
“hermética” e renascentista Florença. Sua trajetória meteórica acabou como
herege numa fogueira em Roma, depois de um longo e cruel aprisionamento, no dia
17 de fevereiro de 1600, na Piazza dei Fiori. O professor Mário tinha uma
aversão incontrolável ao número 17 e sempre o relacionava com o dia da execução
de Giordano Bruno.
Culto,
tinha uma fala hipnotizante, a aula dele nunca cansava. Dele aprendi, em boa
dose, a “capacidade de síntese”, algo que reside mais na intuição do que na
razão, em esferas indecifráveis, de que infelizmente carece a humanidade em
geral.
Até
pessoas de amplo conhecimento não aproveitam o que está à sua disposição por
essa carência de síntese em suas escolhas.
Segundo
as formulações dele, seria impossível apoiar a escolha de notório corrupto para
dirigir uma nação. Como? Ele era seguidor dos ensinamentos platônicos, da
importância das virtudes do rei (o governante) filósofo, fundamentais para
conduzir um povo. O estoico imperador Marco Aurélio surgia como exemplo
imperecível e insuperável.
A
procura da essência do homem o atormentou atrás de uma aparente segurança.
Parece que o grande desafio ele não superou e o levou ao fim precoce de sua
vida, atormentado por dúvidas hamletianas e “dores” goethianas, que levaria
para sua próxima existência.
Posso
ver sua vida como uma obra inacabada, um esforço imenso (que lhe valerá, onde
quer que ele esteja). Espiava o espiritualismo quase envergonhado de longe,
bloqueado pelo “ateísmo” de origem.
O que
adianta saber, mas ser incapaz de direcionar, dominar e transformar os
conhecimentos em soluções, inovações, decisões acertadas, realizações concretas
e verdadeiras? Um oriental diria que o segredo está em”buddhi”, um degrau acima
de”manas” e um abaixo de “atma”.
A
“síntese” é o bem criador, a “antítese” é o mal destruidor. Os louros do
sucesso muitas vezes se manifestam apenas interiormente.
Ele,
enquanto a chama ardeu, foi um exemplo de raciocínio lúcido, lógico, de
inteligência acelerada.
O
apartamento onde vivia (com a esposa, modelo famosa, que, ao casar-se, passou a
cuidar apenas do marido e do filho) exuberava obras de arte, de livros raros,
de objetos antigos, de fragrâncias intensas e peças arqueológicas astecas que
ele levava de viagens frequentes ao México.
Costumava
convidar algumas pessoas para noites de conversas agradáveis, regadas com
moderação, que eu adorava.
Procurei
na web por ele. Nada, absolutamente nada, nenhuma citação de uma das
personalidades mais fascinantes que conheci. Apenas outro Mário, filho dele, e
um homônimo, mas sem “filosofia”, sem alma atormentada, sem gênio
incompreendido. A ele, meu eterno agradecimento.”.
(VITTORIO MEDIOLI, em artigo publicado no
jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 23 de setembro de 2024, caderno
A.PARTE, página 2).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de
artigo publicado no site www.arquidiocesebh.org.br,
edição de 20 de setembro de 2024, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE
AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente
integral transcrição:
“Pão a quem tem fome
‘Senhor,
dai pão a quem tem fome, e fome de justiça a quem tem pão’. Assim eram muitos à
mesa diante do alimento sagrado, reconhecido como dom de Deus e fruto do
trabalho. Rezam fecundados pelo sentido de justiça – alavanca para resgatar
muitos contextos do mapa da fome, onde a falta do que comer cria desolação em
inúmeras famílias. A prece solidária aos que têm fome, que emoldura o sagrado
ato de se alimentar, tem força para semear sensibilidade imprescindível, que
leva o ser humano a reconhecer: o momento dedicado à refeição não diz respeito
somente à satisfação de agradar ao paladar, ou de prover uma necessidade
básica. Vincula-se, especialmente, ao dever cidadão de se solidarizar com quem
sofre a dor da insegurança alimentar.
Conforme
parâmetros da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil está no mapa da
fome e constata-se um movimento governamental, de muitas instituições e
segmentos da sociedade para superar essa triste realidade. Mas ainda há de se
percorrer um longo e árduo caminho, que contempla incisivas mudanças de hábitos
e estilos de vida, para que todos sejam respeitados no direito básico à
alimentação. Particularmente, é preciso vencer a cultura do descarte e do
desperdício, inquietando-se com situações desveladas por estudos bem
fundamentados: a fome está bem ali, próxima de cada um, aos olhos de todos, nas
vilas ocupadas pelos mais pobres. Na Capital Mineira, alcança 40% dos
habitantes dos aglomerados. Uma cidade jovem, que guarda grande potencial para
ser configurada por cidadania exemplar, carrega essa grave ferida – ainda não
conseguiu cuidar melhor dos mais pobres, considerando a grave situação daqueles
que passam fome.
O
flagelo da fome é desafio humanitário que, para ser vencido, depende de um
profundo sentido de solidariedade, capaz de conduzir as máquinas
governamentais, não raramente emperradas nos entraves burocráticos,
incapacitadas de alcançar quem precisa de cuidado emergencial, cotidianamente.
No combate à fome, autoridades e cidadãos precisam cultivar uma lucidez capaz
de afastá-los do egoísmo e da mesquinhez. Não se deve buscar apenas êxitos em
lucros, avanços técnicos e comerciais. Deve-se partilhar a responsabilidade, se
compadecer e promover amparo aos que estão nas periferias geográficas, em
condições desfavoráveis, feridos em sua dignidade humana. É especialmente
triste a realidade das crianças desnutridas, com suas famílias mergulhadas na
carência alimentar. Esse mal que se manifesta na realidade contemporânea,
aponta ainda para um futuro sombrio, pois as consequências da fome ultrapassam
o contexto de famílias, para causar prejuízos sociais, acentuando o crescimento
da violência, por exemplo.
Os
abastados que se refestelam nas suas comodidades e se esquecem daqueles que se
encontram na penúria agem na contramão de um adequado sentido de cidadania. É
preciso se incomodar ao saber que tem famílias com a geladeira vazia, sem o
essencial para se alimentar. A partir desse incômodo, é preciso agir
solidariamente, com o amparo a quem tem fome e, ao mesmo tempo, exercer
adequadamente a cidadania, de modo a contribuir para que políticas públicas
sejam formuladas tendo como meta a inclusão dos mais pobres – na educação
formal e técnica, no mercado de trabalho, entre outros campos essenciais à
conquista da dignidade e autonomia.
Preste-se
muita atenção porque a cultura atual tende a propor estilos de ser e de viver
contrários à natureza e à dignidade do ser humano. Especialmente no contexto
contemporâneo, deve-se cuidar para que a assistência emergencial não perpetue
condições que desfavoreçam a participação de todos na construção da sociedade.
Mecanismos que permitam aos mais pobres exercerem adequadamente a cidadania,
com dignidade, são urgentes. O combate à fome e a promoção da inclusão social
exigem o enfrentamento de falsos ídolos que escravizam o ser humano – a
ilimitada sede de poder, de riqueza e de satisfação efêmera – colocados acima
do valor da vida do semelhante. Esses falsos ídolos, configuram uma organização
social que admite, passivamente, dinâmicas excludentes. O olhar cidadão é
qualificado quando busca contribuir para que tudo esteja a serviço de todos,
igualmente.
Saber
que tem cidadãos e cidadãs passando fome ou em insegurança alimentar deve
inspirar providências que configurem um mutirão humanitário, envolvendo
dispositivos governamentais e tantos outros setores. A meta comum precisa ser
resgatar todos os contextos do mapa da fome, porque quem passa fome não pode
esperar. Assim, a opção preferencial pelos pobres e excluídos é princípio
irrenunciável na confissão da fé e também, intrinsecamente, na configuração da
cidadania. A vivência da fé, que precisa inspirar uma adequada conduta cristã,
deve ser coerente com a identidade e missão da Igreja Católica – advogado da
justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e
econômicas. Há muitas formas de se trabalhar para promover a inclusão, ajudando
muitas pessoas a superarem o flagelo da fome. Um caminho é aproximar-se de
tantas entidades e segmentos que já estão a serviço dos mais pobres e que
precisam ser fortalecidos nessa nobre missão. Não se pode cair na mesquinhez de
viver apenas para defender o próprio espaço, deixando-se contaminar pelo
consumismo individualista, veneno para a solidariedade.
Saber
que tem gente passando fome deve doer na pele de cada um, urgindo sair de
planos teóricos ou mesmo de discursos que não efetivam mudanças. São
necessárias atitudes que reflitam o verdadeiro compromisso com os pobres, com
suas causas e urgências, dedicando tempo aos que sofrem, em uma escuta atenta e
interpelante, com a disposição para acompanhá-los. Ao lado dos pobres, todos
possam se engajar, de modo urgente, para que seja sincera a oração: “Senhor,
dai pão a quem tem fome, e fome de justiça a quem tem pão”.”.
Eis,
portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e
reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa
história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas,
civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e
sustentavelmente desenvolvidas...
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil, com o auxílio da
música, yoga e shantala (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de
idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos
nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação
profissional (enfim, 134 anos depois, a República proclama o que esperamos
seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de
maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova
pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da
civilidade, da democracia, da participação, da solidariedade, da
sustentabilidade... e da fraternidade universal);
b) o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são:
c) a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2024, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 2,5 trilhões (45,98%), a título de juros, encargos, amortização e financiamentos (ao menos com esta última rubrica, previsão de R$ 1,7 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega, do direito e da justiça:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
pois, quando os títulos da dívida financiam os investimentos nos tornamos TODOS
protagonistas do desenvolvimento SUSTENTÁVEL da nação;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e
eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br).
E, ainda, a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz:
“... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos,
mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite
da dívida pública...”.
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
Este
é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e
perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
63
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2024)
- Estamos nos descobrindo através da Excelência
Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando
nossas defesas democráticas ...
- Por uma Nova Política Brasileira... pois, o
poder é para amar, servir e edificar - jamais, jamais e jamais para subir,
dominar, oprimir, destruir ou matar!
- Pela excelência na Gestão Pública ...
- Pelo fortalecimento da cultura da
sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral:
econômico; social, com promoção humana e espiritual, e, ambiental, com
pesquisa, proteção e preservação dos nossos inestimáveis recursos naturais ...
- A alegria da vocação: juntando diamantes ...
porque os diamantes são eternos!
- O Epitáfio: “Não chorem por mim, chorem por
todos aqueles que, ainda, não descobriram Cristo em cada Eucaristia!”.
- (Re)visitando o Santo Graal, para uma vida
virtuosa: “... porque és pó, e pó te hás de tornar. (Gen 3,19)”.
- “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós
que recorremos a vós! (1830) ...
- “... A paz esteja convosco”. (Jo 20,19) ...
- Um hino de amor: “Nossa Oração” – Luiz Ayrão
...
- A arma espiritual mais poderosa do mundo: a
reza diária do Santo Terço!
- Helena Antipoff: a verdadeira fonte de alta
performance!
- Milton Santos: Por uma outra globalização do
pensamento único à consciência universal.
- A construção da civilização do amor!
Afinal, o Brasil é uma
águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão
olímpica e de coragem!
E P Í L O G O
CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO
“Oh! Deus, Criador,
Legislador e Libertador, fonte de infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e
não está ficando, pedra sobre pedra
Dos impérios edificados
com os ganhos espúrios, ilegais, injustos e
Frutos da corrupção, do
saque, da rapina e da dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse
construído com o
Sangue, suor e lágrimas,
Trabalho, honra e
dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim!
Eternamente!