“Lições da Ásia
No
início do mês, foi divulgada uma lista com as maiores economias do mundo, e,
pela primeira vez em cinco décadas, o Brasil deixou de figurar entre os dez
primeiros colocados. Ocupando a décima segunda posição, o país confirmou o que
muitos já previam: a última década representou o pior desempenho econômico da
história, superando a ideia de que a “década perdida” teria sido a de 80, em
que a estagnação econômica coincidiu com a hiperinflação.
Já
apontei que grandes países, em território e população, não podem prescindir de
um projeto nacional, capaz não apenas de maximizar a abundância de recursos
naturais frente a um mercado interno gigante, mas também de criar os meios de
resolver problemas de maneira autônoma, sem depender de insumos estratégicos
importados do exterior, como vem sendo no combate à pandemia da Covid-19.
Fato é
que a falta de um projeto nacional está custando caro ao Brasil. A última vez
que houve um esforço genuíno de se pensar o país de forma estruturada foi em
meados do século passado, no âmbito da Comissão Mista Brasil-EUA para o
Desenvolvimento Econômico. Entre 1951 e 1953, técnicos norte-americanos e
brasileiros reuniram-se para fazer uma tarefa fundamental num país de dimensões
continentais: pensar o Brasil. A reflexão passava primeiramente por entender o
lugar do Brasil. Em seguida, gargalos foram diagnosticados, vantagens
competitivas foram apontadas, uma estratégia, traçada, um cronograma
financeiro, elaborado, e um discurso único, consolidado, no marco de um país
que deixava o autoritarismo varguista e abraçava os ares democráticos do
pós-Guerra.
A
Comissão Mista Brasil-EUA reuniu, do lado brasileiro, um bom número de jovens
talentos que se tornariam importantes lideranças do cenário técnico e político
nacional. Naquela época, apesar das dificuldades de financiamento, o Brasil
obteve as bases do que seria o “Plano de Metas”, no período JK, bem como os
distintos planos nacionais de desenvolvimento do período militar. Buscou-se
ampliar a infraestrutura de energia e transportes e dotar o país de capacidade
tecnológica nos setores de telecomunicações, aeronáutica, agricultura tropical,
petróleo e gás, etanol, energia nuclear, entre outros.
Importante
ressaltar que a realidade daquela época era outra. O Estado se fazia mais
presente, num tempo em que os fluxos de investimento privado eram muito mais
tímidos do que hoje. Como é sabido, o Estado tornou-se pesado, moroso e pouco
eficiente, em contraste com a agilidade que as parcerias com a iniciativa
privada num ambiente regulado proporcionam nos dias atuais. No entanto, desde a
redemocratização, não houve nada que se assemelhasse àquele esforço de
planejamento do pós-Guerra. Deixamos de pensar o Brasil para pensarmos na
próxima eleição e, dessa forma, patinamos e, em seguida, afundamos.
Se
novamente olharmos para a lista atualizada das dez maiores economias de 2020,
confirmamos a China na segunda posição e o Japão na terceira, vemos a Índia
ocupando a sexta, e a Coreia do Sul desbancando o Brasil no décimo lugar. Não
surpreenderá que em rankings futuros haverá mais países asiáticos do que
ocidentais, e para tal vale a pena extrair algumas lições importantes.
Os
fatores são múltiplos, que superam a velha noção de que a competitividade da
Ásia é somente subjacente à mão de obra abundante e barata. A maioria dos
países asiáticos investe maciçamente em qualificação de mão de obra, por meio
de uma efetiva priorização da qualidade da educação e do aumento da
escolaridade mínima, como no caso coreano. Por seu turno, o investimento em
ciência, tecnologia e inovação foi uma das chaves para o expressivo crescimento
indiano, país que se destaca por ter o maior número de doutores (PhDs) em todo
o mundo.
No
entanto, o que também merece atenção é a maneira como os asiáticos enxergam o
tempo. A noção de que é preciso planejar décadas ou até séculos à frente, em
detrimento do imediatismo típico das sociedades ocidentais, permite entender
que não existe milagre quando se tem um projeto de país. Nesse sentido, os
asiáticos ainda apresentam outro diferencial, essencial para a inovação e para
o planejamento de longo prazo: copiar aquilo que deu certo noutros países;
queimar etapas, sem reinventar a roda; adaptar boas práticas; e aprender, por
meio de parcerias internacionais, com instituições de ponta mundialmente reconhecidas,
no marco de uma verdadeira diplomacia da inovação. Foi o que permitiu à China
deixar de ser um mero copiador de produtos industrializados ocidentais para se
tornar um polo difusor de novas tecnologias.
E o
Brasil nos próximos anos e décadas? Ora, pensar apenas em 2022 e não
compreender que temos de retomar um projeto de país, como na época de JK, é
essencial para não termos novamente de amargar mais uma década perdida, à
margem das grandes economias mundiais.”.
(Juliano Alves Pinto. Diplomata de carreira e
mestre em inovação tecnológica e propriedade intelectual pela UFMG, em artigo
publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 18 de março de
2021, caderno OPINIÃO, página 21).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de
artigo publicado no site www.domtotal.com,
edição de 19 de março de 2021, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO,
arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB), e que merece igualmente integral transcrição:
“Escuta, palavra e pontes
Cantou-se,
num tempo em que havia mais brotos de esperança, uma singela canção. Dessas
canções que levam ao coração humano singular encantamento para bem viver. E
também uma inocência, bálsamo e remédio para curar perversidades, indiferenças.
Cantava-se assim: “Palavra não foi feita para dividir ninguém, palavra é a
ponte onde o amor vai e vem”. Pois hoje, tempo de inusitada velocidade na
circulação do que se fala, se verifica uma banalização da palavra, fenômeno
poderoso para alavancar a banalização do mal. Até na defesa da verdade,
busca-se demolir o outro, com ataques a reputações, um passo rumo ao
extermínio. Dentre as consequências está o enfraquecimento de instituições que,
neste momento desafiador, são chamadas a decisivamente contribuir com a
recomposição do tecido sociopolítico e a abertura de novo ciclo da história.
Palavra
não é simplesmente a emissão de um som com configuração sintética e semântica.
É força que pode ser construtiva ou destrutiva. Então não se pode “dizer por
dizer”. Não se deve “jogar palavras ao vento”. Nessa perspectiva, e
considerando o atual momento, merece maior atenção o desafio existencial
imposto pela pandemia, com seus desastres dolorosos – o número de mortes que
enlutam corações, indicação de um verdadeiro genocídio. Este tempo demanda
ainda mais palavras de consolação, que cultivam esperança nos que estão
desolados, em razão da solidão, dos pés cansados, dos joelhos enfraquecidos,
sem forças para continuar a lutar. De modo especial, é preciso sublinhar que os
cristãos, morada do Espírito Santo de Deus – chamado de consolador, o
paráclito, por Jesus – têm a irrenunciável tarefa de alimentar-se de consolação
para consolar os outros.
Consolar
é um ato de fé, capacidade para expressar palavras que reacendam a luz da
esperança. Palavras que alimentem a coragem para que as pessoas continuem seus caminhos,
iluminando a mente para imbuir-se das inegociáveis páginas e lições do amor de
Deus. Infelizmente, o que se assiste hoje é a piora de cenários desoladores que
atingem a humanidade, a sociedade brasileira. Uma situação agravada pelo coro
de agoureiros, fonte diabólica de palavras que precipitam, deliberadamente, o
povo no caos, ameaçando o seu destino e a sua história. Torna-se essencial
reconhecer a função insubstituível da palavra, para ser contraponto aos que
buscam inviabilizar o diálogo, cooptar desavisados e enfileirar fanáticos.
Gente que, em nome de um tipo patológico de paixão, justifica o injustificável
e defende o indefensável, nas molduras de negacionismos e de obscurantismos que
são sintomas de sociopatias.
A
banalização da palavra abriu campo para as fake News, de capacidade destrutiva,
causando confusão, juízos equivocados, com consequências ameaçadoras para
pessoas e instituições. Enquanto isso, convive-se com a lacuna de palavras
ainda esperadas, de muitos líderes, incapacitados para dizer o que é necessário
pela falta de formação humanística. A sociedade brasileira, agora de modo ainda
mais urgente, precisa de líderes e cidadãos capazes de partilhar palavras que
promovam reconstrução e respostas para os problemas contemporâneos. Os fracassos
sociais são também adequadamente creditados aos que palreiam palavrórios sem
força de edificação, na contramão da direção do bem, da justiça e da urgência
maior que é salvar vidas.
Há um
tipo de palavra que precisa, lucidamente, ser dita, e prevalecer no conjunto da
sociedade, repercutindo nas instâncias de poder, para que a civilização
encontre novo rumo. Essa palavra, para ser escutada, não necessita de gracejos
divertidos, de pessoas que parecem estar em picadeiros. Trata-se da palavra de
quem promove a amizade social, inspirando a solidariedade com suas exigências
de novas lógicas e dinâmicas, particularmente aquelas capazes de resgatar os
mais pobres e vulneráveis dos escombros da desigualdade social. Seja escutada a
palavra de quem constrói pontes e recompõe cenários devastados. Pessoas que
levam luzes de esperança onde há escuridão.
Indispensável
é o exercício da escuta que leva a projetar a própria alma para além da
mediocridade, conquistando uma amplitude a partir do amor à vida de todos.
Nesse exercício, oportuno é se inspirar em São José, celebrado a cada dia 19 de
março, no horizonte deste ano que é especialmente dedicado a ele, em razão dos
150 anos de sua proclamação como patrono da Igreja Universal. Exemplar pai de
família, um dom para todos os católicos, São José, visitado pelo anjo, se
mostrou admirável na capacidade de escutar. Por isso, alcançou compreensão
adequada sobre o mistério maior do amor, o lugar da única fonte capaz de atrair
para a escuta, gerar a palavra que edifica e sustenta pontes para o diálogo,
consolidando o compromisso com a vida e a paz.”.
Eis,
portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e
reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história –
que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas,
civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e
sustentavelmente desenvolvidas...
b) o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são:
II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 520 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...);
c) a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2021, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 2,236 trilhões (53,83%), a título de juros, encargos, amortização e financiamentos (ao menos com esta última rubrica, previsão de R$ 1,603 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega, do direito e da justiça:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e
eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz:
“... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo
do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da
dívida pública...”).
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
59
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2020)
- Estamos nos descobrindo através da Excelência
Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando
nossas defesas democráticas ...
- Por uma Nova Política Brasileira ...
- Pela excelência na Gestão Pública ...
- Pelo fortalecimento da cultura da
sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral:
econômico; social, com promoção humana, e, ambiental, com proteção e
preservação dos nossos recursos naturais ...
- A alegria da vocação ...
Afinal, o Brasil é uma
águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão
olímpica e de coragem! ...
E P Í L O G O
CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO
“Oh! Deus, Criador,
Legislador e Libertador, fonte de infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e
não está ficando, pedra sobre pedra
Dos impérios edificados
com os ganhos espúrios, ilegais, injustos e
Frutos da corrupção, do
saque, da rapina e da dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse
construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e
dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim!
Eternamente!”.