“Arte
e reflexão política
Desde 2007, portanto,
há 11 edições, o Verão Arte Contemporânea (VAC) tem articulado setores das
artes, da literatura e da arquitetura em Belo Horizonte com uma programação que
oferece espetáculos de qualidade, abordando questões relevantes sobre a
sociedade e o próprio fazer artístico, às vezes em conjunturas muito adversas.
Neste
ano, o Grupo Oficcina Multimedia, que coordena o VAC, resolveu resgatar o
Movimento Arte e Reflexão Política (Marp), criado em 2006, num evento surpresa
para introduzir um espaço de reflexão sobre política e falar sobre sua conexão
com a arte. Procura responder, assim, a uma inquietação generalizada e a
diversos movimentos que vêm acontecendo na cidade, diante do quadro de crise e
instabilidade instalado no país e no mundo a partir de 2016.
O Marp
pretende incorporar movimentos que estão acontecendo em BH com suas
características próprias, como o Matraca, dando continuidade à proposta de
romper o isolamento de segmentos e grupos que intervêm no mesmo campo, mas sem
ligação entre si.
O Marp
foi criado com o objetivo de discutir questões referentes à política cultural
em BH, relacionando ética e estética na atualidade. Foram realizados quatro
encontros, abordando temas como o hiperconsumo e as resistências mundiais à
globalização; o espaço urbano das cidades modernas, enquanto lugar público,
político e estético, e seu caráter de “cidades em transe”; e a questão dos
moradores de rua e suas interpelações psicológicas e sociais com a comunidade.
Em sua quarta edição, tratou da escravização social pela velocidade e o
surgimento de propostas, como o “slowfood”, que sugerem a retomada de antigos
hábitos na arte de viver. Foram lançados nesses encontros documentários
premiados e inéditos; artistas locais mostraram seus trabalhos em vídeo, teatro
e performance; e pesquisadores e representantes de movimentos apresentaram suas
ideias.
Em
2017, o Alternativa Popular – Coletivo Mineiro de Resistência foi convidado a
integrar a retomada do Marp durante o VAC deste ano, o que constitui um
importante estímulo para nós. Somos um movimento apartidário criado em 2016 por
profissionais de muitas áreas, estudantes e participantes de movimentos
sociais, para debater os grandes temas nacionais e internacionais do atual
cenário político: os sinais de retomada do fascismo, em suas várias formas de
intolerância e violência, a crise das instituições políticas e dos direitos
sociais e a preocupante configuração de regimes de exceção.
Os
debates tiveram início em dezembro, com resposta surpreendente de público e
intensa participação. Ao mesmo tempo, desde maio do ano passado, o segmentos
das artes e do patrimônio cultural vem assumindo um papel de grande destaque no
país, criando zonas de autonomia e livre debate desse momento e das políticas
culturais, diante do autoritarismo e da instabilidade que lhes são impostos.
Ao
afirmar a criação cultural e os artistas em sua diversidade como elemento da
cidadania definidor da sociedade, eles indicam um dos caminhos mais fecundos
para a compreensão do país e suas alternativas.”.
(Nilcéa
Moraleida Bernardes. Cientista política, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 16 de
fevereiro de 2017, caderno O.PINIÃO,
página 19).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Excelência Educacional vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 18 de
fevereiro de 2017, caderno OPINIÃO,
página 7, de autoria de ROBERT MUGGAH,
cientista político e economista, e BENJAMIN
R. BARBER, primeiro membro sênior do Consórcio Urbano da Faculdade de
Direito de Fordham, presidente e fundador da Interdependence Movement, fundador do Parlamento Global de
Prefeitos, e que merece igualmente integral transcrição:
“As
cidades no século 21
As cidades globais não
são apenas a forma dominante de organização social no século 21, elas também a
solução para muitos dos desafios mais difíceis do planeta. Afinal, mais da
metade da população mundial já vive em cidades, e são elas que geram 4/5 do PIB
mundial. O número espantoso de 2.100 cidades conta com uma população de 250.000
pessoas ou mais, entre elas um número crescente de megacidades e aglomerados
urbanos de pelo menos 10 milhões de habitantes.
A
crescente influência das cidades não é apenas resultado da demografia e da
economia. Também tem a ver, fundamentalmente, com política, incluindo um
renascimento da governança democrática em escala urbana. Muitas cidades estão
prosperando e gerando mudanças positivas, enquanto os estados caem em impasses
e na desordem. Como mostrou amplamente a recente corrida presidencial nos
Estados Unidos, em que mesmo os estados-nação mais poderosos do mundo podem ser
paralisados pelo populismo reacionário, pela polarização e por escândalos.
Ao
mesmo tempo em que alguns líderes políticos falam em levantar paredes, as
cidades estão ficando conectadas umas às outras. Em um mundo globalizado, interconectado,
as cidades são as entidades políticas mais interdependentes. Elas são
transacionais, orientadas ao comércio, abertas e definidas por pontes físicas,
intelectuais e digitais, e não por fronteiras. Ligadas pelo denso intercâmbio
de ideias, capitais e pessoas, enfrentam desafios comuns, como a mudança
climática, a migração, a desigualdade e o terrorismo. As redes de cidades são o
novo normal.
Para
que possam realmente resolver alguns dos problemas mais difíceis do mundo, as
redes de cidades precisam fazer mais do intercâmbio de ideias e melhores
práticas. Para que a governança urbana geral prospere, as cidades precisarão
desenvolver parcerias proativas além das fronteiras nacionais e internacionais.
Existem centenas, até milhares, de cidades em rápido crescimento na África,
Ásia e Américas que estão literal e figurativamente fora da rede. Cidades
globais arquetípicas, como Londres, Nova York, Paris e Tóquio, estão desviando
nosso olhar dos municípios no hemisfério sul que estão lutando para se manter
funcionando.
Cidades
e bairros pobres em rápida expansão nos países em desenvolvimento estão
precisamente onde, na prática, vai ocorrer todo o futuro crescimento
populacional. Muitos deles, que estão batalhando para atrair e reter
investimentos e talentos, exibem altas taxas de criminalidade e violência e
sofrem de extrema desigualdade e desvantagens concentradas. Se de um lado as
cidades bem-sucedidas estão reescrevendo seus contratos sociais para incentivar
ações coletivas globais, as cidades mais frágeis estão assistindo de forma
impotente ao desmantelamento de seus contratos sociais.
Uma
maneira de ajudar e garantir que metrópoles de todos os tamanhos e condições
possam se beneficiar com a revolução urbana é construindo novos modos de
colaboração entre cidades e fronteiras. Algumas cidades já estão refazendo
agressivamente suas redes. Tomemos o caso da United Cities and Local
Governments (UCLG), que surgiu após a Primeira Guerra Mundial, a fim de
facilitar o intercâmbio de pesquisas e melhores práticas. Existem dezenas de
outros consórcios de cidades, entre eles Metropolis e a rede C40 Climate
Cities, que ajudaram a defender o acordo sobre o clima em Paris, conhecido como
COP21.
Mesmo
assim, ainda não há nenhuma plataforma legítima e eficaz para promover a ação
coletiva das cidades e resolver os problemas mais difíceis. Se os prefeitos
desejam reduzir as emissões de carbono ou criar maneiras mais inteligentes para
lidar com a migração, precisam elaborar novas formas de trabalhar e projetar
soluções juntos. Coletar dados, compartilhar lições e se aproximar de
instituições globais são os primeiros passos. Tão importante quanto isso é
tentar influenciar instituições internacionais, definindo regras para
identificar prioridades comuns, prestar serviços aos cidadãos e manter uma boa
governança.
Os
críticos dirão que se já é bem difícil chegar a um consenso entre menos de 193
estados-nação, o que dizer no caso de milhares de cidades? Parte da resposta se
resume à natureza intrinsecamente colaborativa das cidades. Estados-nação são
independentes, competitivos e separados por limites territoriais, enquanto
cidades são interdependentes, cooperativas e estão cada vez mais forjando mais
parcerias positivas em que todos os lados ganham. Com o advento do Brexit e dos
movimentos populistas na Europa, os estados-nação estão começando a parecer
paroquiais; já um número crescentes de cidades está se tornando cosmopolita e
universal em seus valores.
É
urgentemente necessário ter um corpo de governança global, construído
propositadamente para e pelas cidades, um Parlamento Global de Prefeitos. Isso
não é uma construção teórica – já está em curso. Em setembro passado, um grupo
de mais de 70 prefeitos e representantes de mais de duas dúzias de redes de
cidades se reuniram em Haia para estabelecer um pacto. Na reunião inaugural,
cidades completamente diversas, como Buenos Aires, Cidade do Cabo, Nova Délhi e
Paris, abordaram prioridades comuns relacionadas à mudança climática,
imigração, governança e segurança pública.
O futuro
cenário internacional será marcado pela volatilidade e pela incerteza. Há uma
reordenação sísmica da ordem internacional em andamento que se estende dos
Estados Unidos e Europa ao sul e leste da Ásia. Não há soluções simples e
existem muitos pontos potenciais de conflito. A verdade é que o caminho para a
democracia, sustentabilidade e estabilidade não passa pelos estados-nação, mas
pelas cidades. Em vez de ficarem parados, os moradores das cidades já estão
levantando as mangas para realizar algo. Agora é hora de capacitar os prefeitos
para erguer esses esforços a um patamar global.
Esse
cenário que descrevemos é o tipo de solução criativa que a Global Challenges
Foundation está buscando ao lançar o New Shape Prize, que premiará com US$ 5
milhões os novos modelos de cooperação global capazes de lidar com as mais
sérias ameaças à humanidade. Acreditamos que ele pode ser um incentivo para
inspirar o pensamento visionário sobre essa questão vital em vários
continentes.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados,
ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, em dezembro e no
acumulado dos últimos doze meses, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu
a estratosférica marca de 484,6%; a taxa de juros do cheque especial registrou
históricos 328,6%; já o IPCA também acumulado nos últimos doze meses, em
janeiro/2017chegou a 5,35%); II – a corrupção,
há séculos, na mais perversa promiscuidade
– “dinheiro público versus
interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da
Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor,
de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é
cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c) a dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para
2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável
desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão,
a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com
esta rubrica, previsão de R$ 946,4
bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Isto
posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos
a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela excelência
educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além
de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do
século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da
informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da
sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da
paz, da solidariedade, da igualdade
– e com equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
- 55
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...
-
Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...