(Abril
= mês 8; faltam 16 meses para a Olimpíada 2016)
“Uma
experiência de impacto: o encontro com José Mujica
Participando de um
congresso ibero-americano sobre medicina familiar e comunitária, em Montevidéu,
no Uruguai, tive a oportunidade de ter um encontro com o ex-presidente José
Mujica. Tal encontro deu-se em sua chácara, nos arredores da capital uruguaia.
Ali estava ele, com sua camisa suada e rasgada pelo trabalho no campo, uma
calça esportiva muito usada e sandálias rudes, deixando ver uns pés empoeirados
como quem vem da faina da terra.
Vive
numa casa humilde, com o velho fusca que não anda mais que 70 km/h. Já lhe
ofereceram US$ l milhão por ele; rejeitou a oferta por respeito ao velho carro,
que diariamente o levava ao palácio presidencial, e por consideração ao amigo
que lho havia dado de presente. Rejeita que o considerem pobre.
Pertenceu
à resistência à ditadura militar. Viveu na prisão por 13 anos, mas nunca fala
disso nem mostra o mínimo ressentimento. Comenta que a vida lhe fez passar por
muitas situações difíceis, mas todas eram boas para lhe dar sábias lições e
fazê-lo crescer.
Conversamos
por mais de uma hora. Começamos com a situação do Brasil e da América Latina.
Mostrou-se muito solidário com Dilma, especialmente em sua determinação de
cobrar investigação rigorosa e punição adequada no penoso caso da Petrobras.
Não deixou de assinalar que há uma política orquestrada a partir dos Estados
Unidos de desestabilizar governos que tentam realizar um projeto autônomo de
país.
Mas a
grande conversa foi sobre a situação do sistema vida e do sistema Terra. Aí me
dei conta do vasto horizonte de sua visão de mundo. Enfatizou que a questão
axial hoje reside na preocupação não com o Uruguai ou com o nosso continente
latino-americano, mas com o destino de nosso planeta e o futuro de nossa
civilização. Dizia, entre meditativo e preocupado, que talvez tenhamos que
assistir a grandes catástrofes até que os chefes de Estado se deem conta da
gravidade de nossa situação. Caso contrário, iremos ao encontro de uma tragédia
ecológico-social inimaginável.
O
triste, comentou Mujica, é perceber que entre os chefes de Estado não se
verifica nenhuma preocupação em criar uma gestão plural e global do planeta.
Cada país prefere defender seus direitos particulares, sem dar-se conta das
ameaças gerais que pesam sobre a totalidade de nosso destino.
Mas o
ponto alto da conversação foi sobre a urgência de criarmos uma cultura
alternativa à dominante cultura do capital. De pouco vale, sublinhava,
trocarmos de modo de produção, de distribuição e de consumo se ainda mantemos
os hábitos e valores vividos e proclamados pela cultura do capital, que aprisionou
toda a humanidade com a ideia de que precisamos crescer de forma ilimitada e de buscar um bem-estar material sem fim, o
que opõe ricos e pobres.
A
cultura do capital, acentuava Mujica, não pode nos dar felicidade porque nos
ocupa totalmente, na ânsia de acumular e de crescer, não nos deixando tempo de
vida para simplesmente viver, celebrar a convivência com outros e nos sentirmos
inseridos na natureza.
Importa
viver o que pensamos. Impõem-se a simplicidade voluntária, a sobriedade
compartida e a comunhão com as pessoas e com a realidade. É difícil, constatava
Mujica, construir as bases para essa cultura humanitária e amiga da vida, mas
temos que começar por nós mesmos.
Saí do
encontro como quem viveu um choque existencial benfazejo: me confirmou aquilo
que com tantos outros pensamos e procuramos viver. E agradeci a Deus por nos
ter dado uma pessoa com tanto carisma, tanta simplicidade, tanta inteireza e
tanta irradiação de vida e de amor.”
(LEONARDO
BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 27 de
março de 2015, caderno O.PINIÃO, página
20).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 30 de março
de 2015, caderno OPINIÃO, página 7,
de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, jornalista,
e que merece igualmente integral transcrição:
“Brasil
verde-amarelo
Domingo, 15 de março de
2015. Não foi o registro de mais um movimento de protesto contra o governo. Foi
diferente. Assistiu-se ao estopim de um movimento de cidadania que tem tudo
para mudar a cara do país. No dia em que o Brasil completou 30 anos da
redemocratização, pelo menos 2 milhões de pessoas foram às ruas em todos os
estados protestar contra o governo Dilma e o PT, defendendo a democracia, a
ética e o fim da impunidade. O maior ato ocorreu em São Paulo, onde cerca de um
milhão de pessoas tomou a Avenida Paulista.
Vestiram-se
as praças e avenidas de verde-amarelo, diferentemente das marchas de centrais
sindicais e movimentos sociais na sexta-feira, quando o vermelho do PT
predominou. O contraste, simbólico, transmitiu um forte recado: o Brasil não é
do PT, do PMDB ou do PSDB. É dos brasileiros.
A
corrupção sem precedentes, despertou algo que estava adormecido na alma dos
brasileiros: o exercício da cidadania. O povo percebeu, finalmente, que os
governantes são representantes da sociedade, mas não donos do poder. Assistimos
ao estertor dos caciques ideológicos. A força dos currais eleitorais diminui em
proporção direta ao tamanho da crise. Daqui pra frente, os políticos serão
crescentemente cobrados e confrontados. Felizmente. Além disso, os brasileiros,
mesmo os que foram seduzidos pelo carisma do ex-presidente Lula, não estão
dispostos a renunciar aos valores que compõem a essência da nossa história:
independência, paixão pela liberdade e a prática da tolerância.
A
independência é, de fato, a regra de ouro da atividade jornalística. Para
cumprir nossa missão de levar informação de qualidade à sociedade, precisamos
fiscalizar o poder. A imprensa não tem jamais o papel de apoiar o poder. A
relação entre mídia e governos, embora pautada por um clima respeitoso e
civilizado, deve ser marcada por estrita independência.
Um
país não pode se apresentar como democrático e livre se pedir à imprensa que
não reverbere os problemas do país. O governo petista, no entanto, manifesta
crescente insatisfação com o trabalho da imprensa. Para o ex-presidente Lula –
um político que deve muito à liberdade de imprensa e de expressão –, jornalismo
bom é o que fala bem. Jornalismo que apura e opina com isenção incomoda, irrita
e “provoca azia”. Está, na visão de Lula, a serviço da “elite brasileira”.
Reconheço, no entanto, que Lula e seus companheiros não são críticos solitários
da mídia. Políticos, habitualmente, não morrem de amores pelo trabalho dos
jornalistas.
O que
fazer quando um ex-presidente da República faz graça com a corrupção e incinera
a ética no forno do pragmatismo e da suposta governabilidade? O que fazer
quando políticos se lixam para a opinião pública? Só um caminho: informação
livre e independente.
Além
da defesa da liberdade de imprensa e de expressão, as passeatas deram outro
recado: o do repúdio à intolerância. A radicalização ideológica não tem a cara
do brasileiro. O PT tenta dividir o Brasil ao meio. Jogar pobres contra ricos,
negros contra brancos, homos contra héteros. Quer substituir o Brasil da
alegria pelo país do ódio e da divisão. Tenta arrancar com o fórceps da luta de
classes o espírito mágico dos brasileiros. Procura extirpar o DNA, a alma de um
povo bom, aberto e multicolorido. Não que o Brasil café com leite. A
miscigenação, riqueza maior da nossa cultura, evapora nos rarefeitos
laboratórios arianos do radicalismo petista.
Está
surgindo, de forma acelerada, uma nova “democracia” totatitária e ditatorial,
que pretende espoliar milhões de cidadãos do direito fundamental de opinar,
elemento essencial da democracia. O Brasil eliminou a censura. E só há um
desvio pior que o controle governamental da informação: a autocensura. Para o
jornalismo não há vetos, tabus e proibições. Informar é um dever ético. E
ninguém, ninguém mesmo, impedirá o cumprimento do primeiro mandamento da nossa
profissão: transmitir a verdade dos fatos.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (por pertinente, um cenário assaz
preocupante: segundo o Banco Central, no período de 11/03/2015 a 17/03/2015,
foram praticadas taxas de juros de cheque especial de até 15,01% A.m. e 435,62% A. a.); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, vai
ganhando novos contornos que transcendem ao campo quantitativo, econômico, que podem afetar até mesmo gerações
futuras...); III – o desperdício, em
todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
indubitavelmente irreparáveis (haja vista as muitas faces mostrando a gravidade
da dupla crise de falta – de água e de energia elétrica...);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de
exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e
eficaz auditoria...
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social;
segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia
federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!...