terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

A CIDADANIA, A LIDERANÇA TRANSFORMADORA E A ALMA DO JORNALISMO DE QUALIDADE (6/18)

(Fevereiro = mês 6; faltam 18 meses para a Olimpíada de 2016)

“O líder transformador
        As grandes reflexões das organizações da atualidade estão voltadas à sobrevivência e à perenidade do negócio, pensando também em possíveis expansões dentro de um quadro mundial de vulnerabilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. Tais desafios são enfrentados pelas lideranças muitas vezes de maneira pouco conectada com a realidade. Em outras palavras, muitos acreditam que a situação daquela organização é transitória ou só é ali que as mudanças estão ocorrendo, muitas vezes queixando-se do cenário e esperando a tempestade passar.
         A novidade é que a tempestade talvez não passe ou isso não ocorra de uma forma simples. Desse modo, o novo cenário exige do líder a capacidade de engajar, de gerir transições, de desenvolver as pessoas e a organização, de garantir a eficácia do trabalho em grupo, além de lidar de uma forma construtiva com a diversidade de ideias e cenários.
         Para que se obtenha êxito em situações como essas, é importante exercitar a competência de atuar como um líder transformador, capaz de se transformar e de transformar o outro para que o ambiente seja modificado, tornando-se hábil e flexível. Atuar de forma transformadora exige muitas vezes abrir mão de dogmas, conceitos e preconceitos, aprendendo a captar o que tem de melhor nele mesmo, na sua equipe, pares e outros, colocando tais potencialidades a serviço de um único propósito, atuando de forma conjunta.
         Adam Kahane foi um líder que atuou com foco em cenários transformadores na África do Sul e ele traz em seu livro uma piada por meio da qual a população procurava traduzir o cenário do país antes de sua atuação: “Temos apenas duas opções: a prática e a milagrosa. A prática seria nos ajoelharmos e rezar para que os anjos descessem do céu e resolvessem os problemas. A opção milagrosa seria que nós conversássemos e trabalhássemos juntos”.
Adam Kahane, então executivo da Shell, atuou fortemente naquela realidade, e em conjunto com lideranças locais divergentes conseguiu evoluções significativas na sociedade sul-africana, até porque compreendia que se essa realidade não se modificasse, dificilmente a empresa que ele representava conseguiria sobreviver ali.
Ele coloca que o primeiro passo para a transformação de qualquer cenário é transformar a compreensão, ou seja, a forma como vemos as coisas, uma nova perspectiva, identificando o seu papel e procurando partilhar as percepções. O segundo passo é transformar os relacionamentos, aprendendo a compartilhar, ampliando a empatia e a confiança nos outros atores do processo. Em seguida, devem-se transformações as intenções, ou seja, o compromisso e a vontade fundamental de fazer as coisas acontecerem. E, por fim, transformar as ações, mas isso só é possível se os três passos anteriores forem cumpridos.
O relacionamento com as pessoas, compreendendo e respeitando as diferenças, invocando o melhor delas, abrindo diálogos francos e criando propósitos comuns, pode significar a diferença entre o sucesso ou o fracasso de um líder em sua jornada transformadora. Na atuação como líder transformador é fundamental inspirar as pessoas, e essa inspiração pode ser conquistada de diversas maneiras, mas em geral ela passa pela forma como esse líder constrói e comunica um propósito, pela coerência entre o que fala e como age, pela contribuição no desenvolvimento das pessoas, pelo legado que deixa, entre outras coisas.
É importante ressaltar que a liderança inspiradora se insere em um determinado ambiente, que tem seu cenário, sua cultura e suas crenças. Liderar pessoas exige conhecer em profundidade esse ambiente, conhecer a si mesmo e conhecer o outro. As pessoas têm suas motivações, as suas razões para produzir e se engajar. O líder inspirador facilita os caminhos do engajamento, principalmente em momentos de mudança.”

(GEOVANA MAGALHÃES. Gerente de desenvolvimento de lideranças e engajamento da LHH/DBM do Brasil, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 18 de janeiro de 2015, caderno ADMITE-SEClassificadosESTADO DE MINAS, coluna MERCADO DE TRABALHO, página 2).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 2 de fevereiro de 2015, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, doutor em comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha), e que merece igualmente integral transcrição:

“Jornalismo, alma e rigor
        Antes da era digital, em quase todas as famílias havia um álbum de fotos. Lá estavam as nossas lembranças, os nossos registros afetivos, a nossa saudade. Muitas vezes, abríamos o álbum e a imaginação voava. Era bem legal.
         Agora, fotografamos tudo e arquivamos compulsivamente. Nosso antigo álbum foi substituído pelas galerias de fotos de nossos dispositivos móveis. Temos overdose de fotos, mas falta o mais importante: a memória afetiva, a curtição daqueles momentos. Fica para depois. E continuamos fotografando e arquivando. Pensamos, equivocadamente, que o registro do momento reforça sua lembrança, mas não é assim. Milhares de fotos são incapazes de superar a vivência de um instante. É importante guardar imagens. Mas é muito mais importante viver cada momento com intensidade.
         Algo análogo, muito parecido mesmo, ocorre com o consumo da informação. Navegamos freneticamente no espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersa a inteligência. Ficamos reféns da superficialidade. Perdemos contexto e sensibilidade crítica. A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa sensação de liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os editores do nosso diário personalizado. Será? Não creio, sinceramente. Penso que há uma crescente nostalgia de conteúdos editados com alma, rigor, critério e qualidade técnica e ética. Há uma demanda reprimida de reportagem. É preciso reinventar o jornalismo e recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e a magia do jornalismo de sempre. É preciso olhar para trás para dar saltos consistentes.
         Jornalismo sem alma e sem rigor. É o diagnóstico de uma doença que contamina inúmeras redações. O leitor não sente o pulsar da vida. As reportagens não têm cheiro de asfalto. As empresas precisam repensar os seus modelos e investir poderosamente no coração. É preciso dar novo brilho à reportagem e ao conteúdo bem editado, sério, preciso, isento. O prestígio de uma publicação não é fruto do acaso. É uma conquista diária. A credibilidade não se edifica com descargas de adrenalina.
         É preciso contar boas histórias. Com transparência e sem filtros ideológicos. O bom jornalista ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história. Na verdade, a batalha da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, da preguiça profissional e da incompetência arrogante. Todos os manuais de redação consagram a necessidade de ouvir os dois lados de um mesmo assunto. Mas alguns procedimentos, próprios de opções ideológicas invencíveis, transformam um princípio irretocável num jogo de aparência.
         A apuração de mentira representa uma das mais graves agressões à ética e à qualidade informativa. Matérias previamente em guetos sectários buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não é honesta, não se apoia na busca da verdade, mas num artifício que transmite um simulacro de isenção, uma ficção de imparcialidade. O assalto à verdade culmina com uma estratégia exemplar: repercussão seletiva. O pluralismo de fachada, hermético e dogmático, convoca pretensos especialistas para declarar o que o repórter quer ouvir. Mata-se a notícia. Cria-se a versão.
         A crise do jornalismo está intimamente relacionada com a perda de qualidade do conteúdo, com o perigoso abandono de sua vocação pública e com sua equivocada transformação em produto mais próprio para consumo privado. É preciso recuperar o entusiasmo do “velho ofício”. É urgente investir fortemente na formação e qualificação dos profissionais. O jornalismo não é máquina, tecnologia, embora se trate de suporte importantíssimo. O valor dele se chama informação de alta qualidade, talento, critério, ética, inovação.
         Sem jornalismo público, independente e qualificado, o futuro da democracia é incerto e preocupante. O jornalismo precisa recuperar a vibração da vida, o cara a cara, o coração e a alma.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (a propósito, e mais uma vez, a taxa de juros do cheque especial encerrou 2014 no escorchante patamar de 200,6%, segundo o Banco Central...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e diante de novas facetas, a agudíssima crise da dupla falta – de água e de energia elétrica...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!