“A necessidade de assumir o socialismo humanístico
A nossa geração viu
caírem dois muros aparentemente inabaláveis: o de Berlim, em 1989, e o de Wall
Street, em 2008. Com o muro de Berlim, ruiu o socialismo marcado pelo
estatismo, pelo autoritarismo e pela violação dos direitos humanos. Com o muro
de Wall Street, se deslegitimaram o neoliberalismo como ideologia e o
capitalismo como modo de produção.
Apresentavam-se
como duas visões de futuro e duas formas de habitar o planeta, agora incapazes
de nos dar esperança e de reorganizar a convivência planetária.
É
nesse contexto que ressurgem as propostas vencidas no passado, mas que podem
ter agora chance de realização, como a democracia comunitária e o “bem viver”
dos andinos.
O
capitalismo realmente existente (a sociedade de mercado) eu descarto de antemão
porque é tão nefasto que, a continuar com sua lógica devastadora, pode liquidar
a vida humana sobre o planeta. Ao socialismo, particularmente o PSB com o
lamentado Eduardo Campos, cabem algumas chances.
Os
fundadores do socialismo (Marx pretendeu dar-lhe um caráter científico contra
os outros que chamava de “utópicos”) nunca o entenderam como simples contraposição
ao capitalismo, mas como a realização dos ideais proclamados pela revolução
burguesa: a liberdade, a dignidade do cidadão, o seu direito de livre
desenvolvimento e a participação na construção da vida coletiva e democrática.
Gramsci e Rosa Luxemburgo viam no socialismo a realização plena da democracia.
A
questão básica de Marx era: por que a sociedade burguesa não consegue realizar
para todos os ideais que ela proclama? Produz o contrário do que quer. A
economia política deveria satisfazer as demandas humanas (comer, vestir-se,
morar, instruir-se, comunicar-se etc.), mas, na verdade, ela atende as
necessidades do mercado, em grande parte artificialmente, e visa a crescente
lucro.
Para
Marx, a não consecução dos ideais da revolução burguesa não se deve à má
vontade dos indivíduos ou dos grupos sociais. É consequência inevitável do modo
de produção capitalista. Esse se baseia na apropriação privada dos meios de
produção (capital como terras, tecnologia etc.) e na subordinação do trabalho
aos interesses do capital. Tal lógica dilacera a sociedade em classes, com
interesses antagônicos, incidindo em tudo: na política, no direito, na educação
etc.
As
pessoas na ordem capitalista tendem facilmente, quer queiram, quer não, a se
tornar desumanas e estruturalmente “egoístas”, pois cada qual se sente urgido a
cuidar, primeiro, de seus interesses e somente depois dos interesses coletivos.
Qual é
a saída excogitada por Marx e seguidores? Trocar de modo de produção. No lugar
da propriedade privada, introduzir a propriedade social. Mas adverte Marx: a
troca do modo de produção não é ainda a solução. Ela não garante a nova
sociedade, apenas oferece as chances de desenvolvimento dos indivíduos que não
seriam mais meios e objetos, mas fins e sujeitos solidários na construção de um
mundo realmente com rosto humano. Mesmo com essas precondições, as pessoas têm
que querer viver as novas relações. Caso contrário, não surgirá a nova
sociedade. E diz mais: “A história não faz nada; é o ser humano concreto e vivo
que tudo faz; a história não é outra coisa que a atividade dos seres humanos
buscando seus próprios objetivos”.
Minha
aposta: iremos na direção de uma crise ecológico-social de tal magnitude que,
ou assumimos o socialismo com esse teor humanístico, ou então não teremos como
sobreviver.”
(LEONARDO
BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 29 de
agosto de 2014, caderno O.PINIÃO, página
20).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de
setembro de 2014, caderno OPINIÃO, página
7, de autoria de CARLOS ALBERTO DI
FRANCO, diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional
de Ciências Sociais (IICS) e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra
(Espanha), e que merece igualmente integral transcrição:
“Jornal pauta a agenda
Relatora de liberdade
de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos
Estados Americanos (OEA), a colombiana Catalina Botero agradeceu a coragem dos
jornalistas que revelam tramas de corrupção e graves violações dos direitos
humanos. Em discurso no último dia do 10º Congresso Brasileiro de Jornais,
realizado recentemente em São Paulo, ela frisou a importância do jornalismo
profissional e independente para o desenvolvimento e a manutenção dos regimes
democráticos e disse ter a certeza de que “a imprensa escrita não poderá ser
substituída por mensagens de 140 caracteres”.
As
redes sociais e o jornalismo cidadão têm contribuído de forma singular para o processo
comunicativo e propiciado novas formas de participação, de construção da esfera
pública, de mobilização do cidadão. Mas as notícias que realmente importam,
isto é, que são capazes de alterar os rumos de um país, são fruto não de boatos
ou meias verdades disseminadas de forma irresponsável ou ingênua, e sim de um
trabalho investigativo feito dentro de rígidos padrões de qualidade, algo que
está na essência dos bons jornais impressos.
A
confiança da população na qualidade ética dos seus jornais tem sido um
inestimável apoio para o desenvolvimento de um verdadeiro jornalismo de
buldogues. O combate à corrupção só é possível graças à força do binômio que sustenta a democracia: imprensa livre e
opinião pública informada.
“Poucas
coisas podem ter o mesmo impacto que o jornal tem sobre os funcionários
públicos corruptos, sobre os políticos que se ligam ao crime, que abusam do seu
poder, que traem os valores e os princípios democráticos”, sublinhou Catalina.
Os jornais, de fato, determinam a agenda pública e fortalecem a democracia.
Políticos e governantes com desvios de conduta odeiam os jornais. Mas eles são,
de longe, os grandes parceiros da sociedade. A plataforma digital reverbera,
amplifica. Mas a pauta nasce nos jornais. A frivolidade digital não faz
contraponto e não edifica a democracia.
Navega-se
freneticamente no espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersa a inteligência.
Fica-se refém da superficialidade e do vazio. Perde-se contexto e sensibilidade
crítica. A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa sensação de
liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os editores do
nosso diário personalizado. Será? Não creio, sinceramente. Penso que há uma
crescente demanda de jornalismo puro, de conteúdos editados com rigor, critério
e qualidade técnica e ética. Há uma nostalgia de reportagem. É preciso
recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e
o fascínio do jornalismo de sempre.
Jornalismo
sem brilho e sem alma é uma doença que pode contaminar redações. O leitor não
sente o pulsar da vida. As reportagens
não têm cheiro do asfalto. As empresas precisam repensar os seus modelos e
investir poderosamente no coração. É preciso dar novo vigor à reportagem e ao
conteúdo bem editado, sério, preciso, ético. É preciso contar boas histórias.
Com transparência e sem filtros ideológicos.
A
precipitação e a falta de rigor são vírus que ameaçam a qualidade. A
incompetência foge dos bancos de dados. Na falta de pergunta inteligente, a
ditadura das aspas ocupa o lugar da informação. O jornalismo de registro,
burocrático e insosso, é o resultado acabado de uma perversa patologia: a falta
de planejamento, o despreparo de repórteres e a obsessão de editores com o
fechamento. Quando editores não formam os seus repórteres, quando a qualidade é
expulsa pela ditadura do deadline,
quando as pautas não nascem da vida real, mas de pauteiros anestesiados pelo
clima rarefeito das redações, é preciso ter a coragem de repensar todos os
processos.
A
fortaleza do jornal não é dar notícia, é se adiantar e investir em análise,
interpretação e se valer de sua credibilidade. Não é verdade que o público não
goste de ler. Não lê o que não lhe interessa, o que não tem substância. Um bom
texto, para um público que adquire a imprensa de qualidade, sempre vai ter
interessados.”
Eis, pois, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –,
desde a educação infantil (0 a 3
anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o
imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade
na primeira série do ensino fundamental,
independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e
pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem (por exemplo, segundo reportagem da Folha de São Paulo, de 14 de dezembro
de 1994: “A CEI (Comissão Especial de Investigação) apurou que nos últimos
quatro anos a remessa ilegal de dólares ao exterior chegou a US$ 20 bilhões, o
que equivale a 15% da dívida externa do Brasil...); III – o desperdício, em todas as suas
modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente
irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$
654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e
eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(transportes, trânsito, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação); cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e abundantes
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...