quarta-feira, 9 de maio de 2012

A CIDADANIA, A EDUCADORA HELENA ANTIPOFF E A CRIANÇA

Mais uma IMPORTANTE, PEDAGÓGICA e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de palestra proferida por HELENA ANTIPOFF, por ocasião da reabertura das aulas, na Escola de Aperfeiçoamento (1939), publicada originalmente na Revista do Ensino, 1939, p. 13 a 22, e na edição de HELENA ANTIPOFF – Textos Escolhidos, organizada por REGINA HELENA DE FREITAS CAMPOS. – São Paulo: Casa do Psicólogo; Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2002. – (Coleção clássicos da psicologia brasileira), páginas 215 a 219, e que merece INTEGRAL transcrição:

“O educador em face da criança (1939)

Agradecendo a honra que me foi conferida pela gentil Diretora desta Escola para dirigir-vos a palavra nesta reabertura de aulas, faço-o com tanto mais prazer, quanto mais me sinto irmanada com a nossa querida Escola de Aperfeiçoamento. Completa ela neste ano de 1939 os seus dez primeiros anos de vida. Merece consideração pelo que já fez e pelo que está fazendo, pelos trabalhos que realizou e pelos frutos que vêm aparecendo em múltiplos ramos da pedagogia.

Quero dizer antes de mais nada que a Escola de Aperfeiçoamento de Minas é uma escola única no seu gênero. Não foi moldada em nenhum modelo de fora, não reproduziu servilmente estatutos de nenhum estabelecimento conhecido, mas, idealizada pelo cérebro de um ilustre mineiro, Dr. Francisco Campos – elaborou pouco a pouco seus métodos de trabalho, seu programa, visando um fim concreto: melhorar a escola primária de Minas, tornando a estada nela da criança brasileira, mais proveitosa para o futuro do País.

Como conseguir esta melhora? O governo compreendeu perfeitamente quão pouco valem decretos e disposições oficiais sobre o ensino, sem que haja um pessoal apto a realizá-los, sem que haja um corpo de educadores competentes e orientado para essa obra em progresso.

Dez anos se foram desde a fundação da Escola de Aperfeiçoamento. Passou ela despercebida no horizonte social do país? Penso que não.

Ela figura em anais de todo e qualquer acontecimento pedagógico de relevo; nos congressos, nas conferências de ensino, nas reuniões preparatórias do Plano Nacional de Educação, nas exposições, nas embaixadas que levam para outros Estados o entusiasmo e opiniões seguras em matéria de educação.

A Escola, de modo geral, merece este nome quando é capaz de imprimir nos seus alunos, e nas obras destes, um cunho espiritual sui generis.Penso não me enganar dizendo que em toda parte onde trabalham, agrupadas, professoras diplomadas pela Escola de Aperfeiçoamento, pode-se notar neste trabalho um cunho particular de seriedade e de boa qualidade pedagógica. Vejamos as classes anexas desta mesma Escola. Transformada em grande grupo, dariam um estabelecimento primoroso; na Escola Normal Modelo percebe-se nitidamente a influências das ex-alunas da Escola de Aperfeiçoamento, no que diz respeito ao preparo profissional das normalistas e à disciplina que ali reina; o Instituto Pestalozzi, constituído inteiramente por um corpo docente de ex-alunas – representa um estabelecimento de especialidade pedagógica e de competência tal, que de longe vêm educadores procurar ali luzes e informações; o Abrigo de Menores mudou completamente o seu feitio com a vinda de uma diretora, diplomada pela mesma Escola, transformando-se, da noite para o dia em estabelecimento pedagógico; no Departamento de Educação muitos trabalhos podem ser realizados graças à presença de auxiliares formadas pela Escola de Aperfeiçoamento; na Rádio Inconfidência, na hora educativa e recreativa para crianças, a influência da Escola está bastante patente; enfim, last but not least, em muitos grupos escolares, onde com dedicação operam as ex-alunas, há uma nítida transformação de objetivos e processos educativos, refletindo assim os ensinamentos desta Alma Mater comum, desta Escola de Aperfeiçoamento, que agora, festeja a sua primeira década.

A arte de ensinar, ou melhor, a arte de educar é a mais delicada no mundo. Não basta, como em outras artes, vestir de forma a idéia, escolhendo à vontade a matéria prima. Aqui o artista não tem escolha: recebe quantos meninos nasceram no município. A grande arte consistirá em adaptar a sua idéia ao feitio particular do educando, e no universo pedagógico da criança fazer ressoar o seu próprio universo. Explícita ou implicitamente, deve haver entre os dois, entendimentos. Senão, na melhor das hipóteses, os feitos educativos serão transitórios, não passando de um verniz muito superficial; na pior, criará rebeldia e revoltas.

Quem não conhece as “Memórias de um menino de Escola”, deste menino do norte brasileiro que Viriato Correia descreve com tanto sentimento no seu “Cazuza”? Que desilusão profunda não experimenta este garoto, ao primeiro contato com a Escola, de que fazia um sonho dourado. “Nada, nada havia lá que me despertasse o interesse ou me tocasse o coração. Ao contrário: como que tudo fora feito para me meter medo. A sala feia, o ar de tristeza, o ar de prisão, a cara feroz do professor... Nunca lhe vi um sorriso no rosto. Vivia sempre zangado, com ar de quem está a ralhar com o mundo, cara amarrada, rugas na testa. Para as criancinhas do meu tamanho representava o papel de lobisomem. Tínhamo-lhes um medo louco. Se estávamos a brincar num terreiro e o percebíamos ao longe, ficávamos silenciosos e quem podia esconder-se – escondia-se; quem pudesse fugir – fugia. Só depois que ele passava e quando já não lhe víamos mais a sombra, é que o brinquedo recomeçava”.

Eis o retrato de João Ricardo, professor de primeiras letras, lembrado por Viriato Correia. Não, francamente os João Ricardo não podem ser professores nem de Cazuza nem dos seus pequenos companheiros. Os professores “João Ricardo” não têm o direito de ensinar às crianças desta tenra idade, para não lhes meter medo no coração, para não lhes tirar, às vezes, toda ilusão na vida.

O caráter do professor deve ser ajeitado ao do aluno. E o problema se apresenta de dois modos: ou selecionar o mestre desejado pelos dons inatos que apresenta, ou formar no futuro educador a compreensão, a índole, as atitudes compatíveis com a infância.

Se não for possível afirmar a personalidade do educador para cada aluno em particular – pelo menos que haja mestres capazes de lidar com crianças de determinada idade. A criança não conhece ainda senão o mundo familiar em que todos se submetem às ordens de um ser poderoso e querido ao mesmo tempo. Mas, nem o pai pode zangar-se com o pequenino quando este, de 2-3 anos, não cumpre as ordens dadas meia hora antes. Não pode. Não está ainda ao nível da criança esta obediência na ausência da autoridade da qual partiu a ordem.

Fracassam na disciplina da escola infantil os educadores que esperam da criança pequena mais do eu ela pode dar, isto é, as deliberações próprias de sua conduta. Mesmo Montessori, que se distinguiu na teoria pedagógica pela tese da liberdade, não pratica esta, senão em forma bem limitada. Os limites do que pode e não pode ser feito são estabelecidos de antemão, formam um regimento interno que logo será imposto à criança: saber conduzir-se de tal maneira que não prejudique o trabalho do vizinho, usar o material didático desta e não daquela forma, etc. As lindas cadeirinhas de uma “Casa dei Bambini” de Montessori jamais poderão ser usadas como vagões de um trem de ferro, embora a criança tenha uma propensão enorme a dar-lhes este destino. O educador, com discrição infinita, vigia o regime; a ordem guia a criança, que aprende a respeitá-la, vendo na mesma emanação de uma autoridade sagrada para ela.

Nos primeiros dois anos do grupo escolar – a criança, entre 7 e 9 anos, suporta facilmente a disciplina externa. A “força moral”, “a ascendência” é o que mais vale ainda. Crianças agitadíssimas, nervosas, insubordinadas, caóticas, sórdidas, tornam-se equilibradas, obedientes, transformam-se em crianças normais e boas, sob a influência de um mestre possuidor desta “força moral”, que é o maior dom do educador. É difícil decompor esta qualidade em elementos psicológicos. A força moral é antes o equilíbrio perfeito, a serenidade, a constância, a benevolência ativa do mestre para com seu aluno. É o conjunto harmonioso de uma personalidade que se constituiu, às vezes pelo próprio esforço. Temos observado vários casos destes: mestres no início de sua carreira, descontrolados, suportando uma carga estafante, bem acima de suas forças, depois de lutas intensas, de fracassos, depois de terem profundamente sofrido com sua inaptidão – pouco a pouco adquirem hábitos melhores e no fim de alguns anos de sacrifícios, sacrificando crianças também, depois da aprendizagem do ofício, duro e delicado, de educador, conseguem obter resultados surpreendentes. É que eles possuem afora a “força moral”; por isso, não receiam turmas de alunos mais difíceis para a sua classe.

Se a criança do jardim de infância suporta a ordem imperativa, naturalmente dada com suavidade, os escolares de 7-8 anos merecem formas de cortesia mais delicadas, por que assim se habituam a usar as mesmas para com o próximo. Não pediremos ainda a opinião da criança para assuntos de disciplina e de ordem da classe: esta ainda será levada de maneira unilateral, pelo lado da autoridade única do mestre; mas ouviremos a criança com atenção sobre assuntos em que ela está amadurecendo, em assuntos de observação de fatos, por exemplo. Não é que a criança saiba observar melhor que o adulto, mas nesta idade os olhos infantis, abertos para o mundo exterior, enxergam coisas ou aspectos das coisas, que o seu espírito em evolução reclama. Nem sempre o adulto sabe descobrir exatamente o que interessa a criança pequena e é melhor deixá-la procurar por si mesma.

Perguntai aos vossos alunos o que viram nas ruas antes de chegar à Escola. Ouvireis respostas inéditas, como ouvi eu, quando tinha uma classezinha de crianças de 5/6 anos. O que elas contavam aos companheiros era muito mais importante do que aquilo que podia eu, adulto, contar-lhes, pois seu espírito ainda ingênuo descobria detalhes pitorescos, contrastes humorísticos, semelhanças inesperadas, cores muito vivas, pormenores por completo desapercebidos por nós. O papel do mestre consiste, neste caso, apenas em estimular a criança e oferecer-lhe oportunidades para alargar suas experiências.

Também a imaginação é, nesta idade, muito fértil em representar com nitidez as coisas. Cada palavra ressoa de maneira concreta e dramática. Vede este caso: um dia prometemos a um grupo de meninos daqui levá-los em excursão à “Cidade Ozanam”, há pouco fundada pela Sociedade São Vicente de Paula, para recolher pobres e mendigos de Belo Horizonte. Fomos. Andamos muito tempo. Visitamos as casas, as dependências, assistimos a uma refeição de internos, e já íamos deixar a “Cidade Ozanam” quando um menino, meio desapontado, disse: “Eu não vi anão nenhum? Onde estão os anões?”. A palavra, nova para ele, não entrou no seu espírito apenas com seu feitio verbal, mas suscitou imediatamente a imagem apropriada, e a criança foi para esta “Cidada Ozanam”, movida por uma curiosidade toda particular, porque a imaginava, povoada de “Anões”.

Entre 4 e 8 anos, e, para crianças de meios mais rústicos, até 12 a 13 anos, os contos de fadas, os de Grimm, Anderson, Perrault, os contos indígenas, têm um atrativo todo especial, porque encontram na vida representativa da criança uma ressonância que nunca será maior. Nesta idade, idade de “contos de fada”, como foi designada por Bühler, a “Marchenalter”, todo menino é poeta pela vivacidade de sua imaginação reprodutiva.

Em assuntos de observação dos fatos, em assuntos de imaginação podemos deixar uma grande margem à liberdade individual da criança dos primeiros anos escolares. Guardemo-nos bem de introduzir noções abstratas, conceitos lógicos, antes do tempo, porque assim queimaremos as etapas e mataremos o espírito vivo do menino, aleijando a sua inteligência de homem.

Penso que a partir de 10/12 anos, isto é, nos dois últimos anos da escola primária, a atitude do mestre para com o aluno deverá modificar-lhe bastante.

O convívio social dos dois anos anteriores, na coletividade escolar, a concentração mental, cultivada pela escola, juntando-se ao crescimento interno, colocam as crianças desta idade num nível lógico superior. Raciocinam de maneira diferente. Enquanto antes viviam num mundo absoluto, muito ligado a sua própria pessoa, agora são capazes de manejar simultaneamente fatos múltiplos e discriminar as suas relações mútuas.

Um exemplo esclarecerá talvez a diferença. Damos à criança de 7 anos o seguinte problema “de vida” para resolver: “que é que se deve fazer se um companheiro lhe der um empurrão sem querer?” Ouviremos várias respostas, entre as quais as mais freqüentes: “dar nele também”. Isto acontece porque a criança reagiu apenas a um dos fatos, não incluindo o outro; reagiu ao “empurrão”, sem levar em conta que foi “sem querer”. A criança maior já não fará mais este erro.

Nos jogos e brinquedos livres, os meninos de 10/12 anos se conduzem de modo também diferente dos pequenos: enquanto estes, incansavelmente, reproduzem sempre os mesmos jogos, os maiores inventam novos, estabelecem novas formas, decretam regras inéditas, elaborando-as em discussões, cooperando de maneira estreita uns com os outros. As discussões não degeneram em brigas, ou se há briga, há entre dois companheiros, o resto auxiliará a solucionar o conflito com argumentos pacíficos.

Crescidos, são capazes de dispor melhor de sua liberdade; menos pueris, são menos egoístas, menos mesquinhos; mais desprendidos, são capazes de um sacrifício em prol de outrem, em benefício da classe.

O mestre terá todas as vantagens, utilizando este surto no desenvolvimento da consciência social de um lado, da lógica do outro, admitindo os alunos cada vez mais ao governo de si mesmos. Serão doravante colaboradores mais eficientes da disciplina e da própria educação e isto na medida em que o mestre, confiante neles, vigilante ao mesmo tempo, lhes conceda uma responsabilidade cada vez maior.

Através de grêmios, clubes, associações esportivas, culturais, agrícolas, etc., através de um trabalho feito em grupos, com tarefas bem repartidas – o pensamento com as virtudes cívicas se desenvolverá sob o controle da coletividade. O aparecimento oportuno de crianças bem-dotadas, com aptidões para a liderança, dará mais vida e originalidade a todas as formas de trabalho pedagógico.

Mas a tarefa do mestre torna-se cada vez mais difícil. Cedendo uma parte de sua autoridade aos alunos, deve ele próprio possuir maior dom de organização, afim de observar a articulação entre os grupos de indivíduos mais fortes de sua classe. Atacando o valor dos mais dotados, não se deixará subjugar por eles, continuando discretamente o seu papel de guia e de árbitro.

Não é sempre fácil ao mestre desprender-se dessa autoridade única, que possuía de maneira absoluta nas classes inferiores. Nem todos são capazes de reconhecer no aluno o seu justo valor. Mesmo tratando-se de aptidões especiais: para pintura, música, matemática, literatura, etc., alguns preferem ignorar estes dons, para não se julgarem inferiores ao aluno. Vejamos este caso da biografia de Grieg, insigne compositor nórdico, que na idade de 63 anos lembrava os seus anos de escola. Era, como muitos talentos e gênios, aluno medíocre. A sua estréia como compositor merece ser transcrita inteirinha: “Um dia, eu tinha de 12 a 13 anos, trouxe para a escola um caderno de música, em que havia escrito em letras grandes, na primeira página: “Variações de piano sobre uma melodia alemã, por Eduardo Grieg, op I”. Pretendia mostrá-lo a um colega que se interessa por mim.

Que me aconteceu então? Durante a aula de alemão, o menino pôs-se a murmurar palavras ininteligíveis, até que o professor gritou: “Que há? Que queres dizer?”. Novos murmúrios, novos gritos de impaciência do mestre, seguidos enfim de uma frase tímida do aluno: “Grieg trouxe alguma coisa”. “Que quer dizer: Grieg trouxe alguma coisa?” “Grieg compôs alguma coisa”. O homem, que não tinha grande simpatia por mim, chegou-se, viu o caderno e disse ironicamente: “Ah! Ah! Então o garoto é músico, o garoto compõe? Curioso!”.

Abrindo a porta da classe vizinha chamou o seu colega e disse: “Venha ver, este maroto é compositor”. E puseram-se a folhear o meu caderno com algum interesse. Todos estavam de pé nas duas classes. Foi um acontecimento sensacional, e eu tive a impressão de uma grande vitória. Mas assim que o outro professor fechou a porta, o meu mudou de tática; agarrou-me tão brutalmente pelos cabelos, que fiquei tonto; gritou-me: “Daqui por diante, contente-se em trazer o seu livro de alemão como deve ser, e deixe em casa estas coisas idiotas!”.

A atitude ciumenta, sem benevolência perante o aluno mais bem dotado, é incompatível com a profissão de mestre. É altamente condenável. Infelizmente, não é tão rara, principalmente nas escolas superiores, onde, às vezes, entre professores e alunos, armam-se verdadeiras intrigas pela supremacia de opinião.

Neste caso mostra o professor não estar, ele próprio, suficientemente amadurecido, não ter expurgado a atitude pueril, egocêntrica, personalista, que caracteriza os seres inferiores, não evoluídos, não ter desenvolvido bastante esta atitude de desprendimento pessoal em benefício da verdade e da justiça.

Caras alunas, a arte de educar é a mais delicada de todas as artes.

Não a aprendemos apenas nas bibliotecas, nas aulas, nos laboratórios, nem nas próprias escolas, mas no íntimo de nós, nas meditações profundas, no aperfeiçoamento espiritual. Sem esse complemento pouco ou nada valerá o mestre ou educador. Aprender coisas novas, técnicas mais aperfeiçoadas e fácil, mas serão nulos os seus efeitos se não forem realizados com espírito também renovado. Assemelhar-se-á o mestre ao virtuose-autómata que, dispondo de todos os recursos do mais perfeito violino, não tocará o coração dos ouvintes e sim, depois de ter despertado uma admiração momentânea, cansará os ouvidos.

Cada vez que o cérebro humano inventa uma coisa nova e, como um dom precioso, leva-a para o mundo, este deve recebê-la com o mesmo cuidado e com máximo critério lançá-la no turbilhão da vida. Nunca será demasiado o cuidado de saber com que fim esta coisa nova e aperfeiçoada entra na sociedade, que uso se fará dela.

A oitava maravilha do mundo – o rádio – que não fizera dele? Transmissor de músicas carnavalescas – contribui para corromper o gosto musical e agitar mais ainda a agitadíssima sociedade moderna. Cinema, livros, jornais, todos são armas de dois gumes.

Não me canso de lembrar a observação do pensador penetrante que é Bergson, a respeito da desproporção enorme que existe no mundo atual entre o homem tão extraordinariamente crescido no seu poder material e técnico e tão pequeno, tão mesquinho quanto ao seu poder espiritual.

“O corpo hipertrofiado, diz o filósofo, espera um suplemento para a alma. Sem este suplemento indispensável, a alma é demasiadamente pequena para enchê-lo, demasiadamente pequena dirigi-lo.”

Podemos recear o mesmo perigo de discordância na carreira pedagógica. Muita ciência nova, muitos instrumentos novos de trabalho (móveis, manuais, material didático, testes, instituições extra-escolares, jornais, etc.) pouco serão para a verdadeira reforma do ensino e da educação do povo, se não forem os educadores, eles próprios, crescendo, à medida que aumentam todos esses recursos profissionais. Também eles podem ser elementos de desarmonia se não forem meditados e compreendidos no seu conjunto visceral com a obra educativa.

Caras alunas, ao iniciar este ano de 1939, em que a Escola de Aperfeiçoamento está completando os seus primeiros dez anos de vida, procuremos nela uma renovação mais profunda de todos os nossos dons. Demos-lhe uma participação mais ativa, mais generosa de nós mesmos, levemos com entusiasmo a reforma de ensino à escola primária de Minas, a fim de melhor servir ao País e à Humanidade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo IMPORTANTES, GRAVES, PEDAGÓGICAS, ORIENTADORAS e OPORTUNAS abordagens e REFLEXÕES que acenam, em meio à MAIOR crise de LIDERANÇA de nossa HISTÓRIA – que é de MORAL, de ÉTICA, de PRINCÍPIOS, de VALORES – para a IMPERIOSA e URGENTE necessidade de PROFUNDAS MUDANÇAS em nossas estruturas EDUCACIONAIS, GOVERNAMENTAIS, JURÍDICAS, POLÍTICAS, SOCIAIS, CULTURAIS, ECONÔMICAS, FINANCEIRAS e AMBIENTAIS, de modo a promovermos a inserção do PAÍS no concerto das POTÊNCIAS mundiais LIVRES, CIVILIZADAS, EDUCADAS, SOBERANAS, DEMOCRÁTICAS e SUSTENTAVELMENTE DESENVOLVIDAS...

Assim, URGE ainda a efetiva PROBLEMATIZAÇÃO de questões deveras CRUCIAIS como:

a) a EDUCAÇÃO – UNIVERSAL e de QUALIDADE, desde a EDUCAÇÃO INFANTIL (0 a 3 anos, em creches; 4 e 5 anos, em pré-escolas) até a PÓS-GRADUAÇÃO (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como PRIORIDADE ABSOLUTA de nossas POLÍTICAS PÚBLICAS;

b) o COMBATE, implacável e sem TRÉGUA, aos três dos nossos MAIORES e mais AVASSALADORES inimigos que são: I – a INFLAÇÃO, a exigir PERMANENTE e DIUTURNA vigilância, de forma a manter-se em patamares CIVILIZADOS; II – a CORRUPÇÃO, como um CÂNCER a se espalhar por TODAS as esferas da vida NACIONAL, gerando INCALCULÁVEIS e INTOLERÁVEIS prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o DESPERDÍCIO, em TODAS as suas MODALIDADES, também a ocasionar INESTIMÁVEIS perdas e danos, inexoravelmente IRREPARÁVEIS;

c) a DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA, com projeção para 2012, segundo o ORÇAMENTO GERAL DA UNIÃO, de ASTRONÔMICO e INSUPORTÁVEL desembolso da ordem de R$ 1 TRILHÃO, a título de JUROS, ENCARGOS, AMORTIZAÇÃO e REFINANCIAMENTOS, igualmente a exigir uma IMEDIATA, ABRANGENTE, QUALIFICADA e eficaz AUDITORIA...

Isto posto, torna-se absolutamente INÚTIL lamentarmos a FALTA de RECURSOS diante de monstruosa SANGRIA, que DILAPIDA o nosso já escasso DINHEIRO PÚBLICO, MINA a nossa ECONOMIA e a nossa capacidade de POUPANÇA e, mais CONTUNDENTE ainda, AFETA a confiança em nossas INSTITUIÇÕES, negligenciando a JUSTIÇA, a VERDADE, a HONESTIDADE e o AMOR da PÁTRIA, ao lado de extremas e sempre crescentes DEMANDAS, NECESSIDADES, CARÊNCIAS e DEFICIÊNCIAS, que aumenta o ABISMO das desigualdades SOCIAIS e REGIONAIS e, mais ainda, nos AFASTA do seleto quadro das nações DESENVOLVIDAS...

São, e bem o sabemos, GIGANTESCOS DESAFIOS mas que, de maneira alguma, ABATEM o nosso ÂNIMO nem ARREFECEM o nosso ENTUSIASMO e OTIMISMO nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, QUALIFICADA, CIVILIZADA, LIVRE, SOBERANA, DEMOCRÁTICA, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que permita a PARTILHA de suas EXTRAORDINÁRIAS e abundantes RIQUEZAS, OPORTUNIDADES e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos e que contemplam EVENTOS como a CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS (RIO+20) em junho; a 27ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE no RIO DE JANEIRO em 2013; a COPA DAS CONFEDERAÇÕES de 2013; a COPA DO MUNDO de 2014; a OLIMPÍADA de 2016; as OBRAS do PAC e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO 21, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INTERNACIONALIZAÇÃO das EMPRESAS, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, da INOVAÇÃO, das NOVAS TECNOLOGIAS e de um POSSÍVEL e NOVO mundo da JUSTIÇA, da PAZ, da IGUALDADE – e com EQUIDADE –, e da FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA... e PERSEVERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...

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