“Normalidade em meio ao caos
Fui
despertada na madrugada do dia 24 de fevereiro de 2022 com uma simples
mensagem: ‘A Rússia invadiu a Ucrânia, e estamos sofrendo bombardeios em Kiev’.
Ela vinha de uma das minhas melhores amigas, que é ucraniana, e despedaçou tudo
o que eu sabia até então sobre guerras e sofrimento. Mesmo após um ano, ainda
me recordo vividamente desse primeiro mês de guerra. Quando conseguimos
conversar por chamada de vídeo, era doloroso ver estampado em seu rosto o cansaço
de noites não dormidas e algumas mazelas físicas decorrentes do estresse que
ela sofria.
É
difícil descrever o paralelo de nossas vidas naquele momento, pois beira o
absurdo. Tínhamos a mesma idade, 32 anos, e, enquanto eu dirigia em busca de
gasolina, para prestar assistência aos milhares de refugiados e sempre, claro,
olhando para o céu em busca de mísseis e bombas... enquanto eu dormia tranquila
em minha cama, ela era despertada por sirenes de alerta de bombardeio e tinha
que correr com sua família para um brigo antibombas.
Conhecemos
a guerra como um conceito, uma teoria, uma lição histórica. Vivenciá-la ao
vivo, na pele, tem outra sensação, outro cheiro, outra visão. Em um mundo cada
vez mais instantâneo, conseguimos ver imagens e notícias em tempo real – o que
pode ser muito prejudicial se você tem alguém próximo no meio desse
acontecimento.
Temos um
conhecimento compartilhado, mas que, mesmo assim, não chega nem perto daquele
sentido pelas vítimas desse conflito. Seja você rico ou pobre, jovem ou velho,
são ou doente, não importa, estão todos condenados a pagar seu preço. Ver sua
vida reduzida a escombros e pó, perder noção do tempo e da humanidade, ser
despertado de um sono conturbado por bombas, escutar o choro das crianças e ter
medo de sair para a rua. A liberdade torna-se um sonho distante.
Alguns
conseguem escapar desse inferno e tornam-se refugiados. Longe de casa e, às
vezes, apenas com a roupa do corpo, são obrigados a pedir auxílio a terceiros e
contar com boa vontade alheia. Muitos tiveram que abandonar familiares, e a
angústia da espera por notícias se torna uma companheira constante. A guerra
possui um apetite voraz e se alimenta de sangue e desespero. Nunca está
satisfeita, nunca arrefece, não descansa nem desaparece sozinha.
Porém, em
meio ao caos, algo curioso emerge: uma pseudonormalidade. Ficava e ainda fico
abismada em receber notícias dessa amiga contando que foi a um batizado ou a um
casamento, que está trabalhando tanto que às vezes nem consegue parar para ir
ao banheiro. Velo postagens no Instagram de outros amigos ucranianos indo a
festas, levando os filhos à escola. Tudo isso ao som e ao perigo de
bombardeios. A justaposição da morte, que pode estar à espreita em cada
esquina, com uma vida que segue seu curso “normal” serve para refletirmos sobre
o quê em nossas vidas está realmente sob nosso controle. Além de colocar em
perspectiva as dificuldades cotidianas.
A
resiliência humana é algo fantástico. Nossa capacidade de nos acostumarmos com
novas realidades é impressionante. Mesmo que haja reclamações, medo, raiva e
várias outras emoções, continuamos a viver nossas vidas dentro do possível. A
antiga premissa de Darwin: a sobrevivência dos mais fortes, ou no caso, dos que
se adaptam mais rápido.
Essa
pseudonormalidade em que muitos ucranianos se encontram pode ser quebrada a
qualquer momento, contudo será muito difícil voltar aos dias pré-guerra, pois
como a história nos ensina muito bem, o antes e o depois nunca é o mesmo.
Continuo esperando e rezando para um término rápido, porém me pergunto que fim
será esse como ficarão suas vítimas.
Não é só
uma questão de sair viva, fico pensando em como minha amiga ficará mentalmente
com relação ao mundo que ela sente que a abandonou. Como abrandar as feridas e
as fendas causadas por essa destruição? E quanto ao ódio e o rancor, será
possível extingui-los? Como continuar e evoluir como pessoa e nação sabendo que
seus vizinhos querem te exterminar? No momento, temos apenas a esperança que o
futuro consiga abrandar os infortúnios sofridos.”.
(Bárbara Molinari.Escritora com formação em
relações internacionais e linguística, em artigo publicado no jornal O TEMPO
Belo Horizonte, edição de 6 de abril de 2023, caderno OPINIÃO,
página 20).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de
artigo publicado no site www.arquidiocesebh.org.com,
edição de 21 de abril de 2023, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO,
arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB), e que merece igualmente integral transcrição:
“Interpelações Pascais
O
mistério celebrado na Páscoa é uma reserva de amor. O amor inesgotável de Deus
Pai para salvar a humanidade, pela oferta do seu filho, Cristo Jesus, que na
cruz derrama o seu sangue redentor, morre e ressuscita. A força mística deste
acontecimento guarda o tesouro da fé, professada e testemunhada. Assim, já não
é mais simbólico, mas uma realidade, que de modo existencial encharca a alma da
graça do amor de Deus. Trata-se de um mistério tão profundo e inesgotável que
os crentes n’Ele, Cristo Jesus, depois do Tríduo Pascal, o celebram, alegre e
esperançosamente, durante cinquenta dias. Esse é um tempo oportuno para se
conhecer o grande mistério do amor, com a mística da iluminação. Um tempo que
acende nova compreensão e impulsiona a força transformadora da ressureição,
mudando vidas, clareando conceitos e entendimentos, alimentando um novo modo de
ser e de viver a cidadania civil, comprometida com a verdade e a paz,
emoldurada pela cidadania do Reino de Deus. O caminho ganha nova luz e o
seguimento a Jesus dá o sabor do seu Evangelho a tudo o que se fala e se vive,
se escolhe e se testemunha.
As
interpelações pascais, como resposta de vida, impulsionam lutas proféticas com
força de transformação interior e nas atitudes, caminhando para o Reino de
Deus, meta definitiva da existência humana. A experiência pascal faz nascer
interpelações que são a comprovação da autêntica experiência de morrer com
Cristo e com Ele ressuscitar, vencendo a morte pela vida plena e o ódio pela
força do amor misericordioso. As interpelações pascais são consequências da
autenticidade da experiência de crer, como um selo de qualidade e comprovação
da condição de discípulo no seguimento do Ressuscitado. Essas interpelações
pascais remetem ao compromisso de viver com a força profética da transformação,
produzindo novas respostas. Assim, nascem convicções e propósitos, a exemplo do
princípio de não se deixar vencer pelo mal, antes, vencer o mal com o bem – não
há outro caminho para a almejada e urgida paz mundial as sociedades e nos
corações.
Fazer o
bem, certo sempre de que é o bem o grande promotor da paz. Esta prática é
determinante para vencer a multiplicação da vingança, por razões maiores ou irrisórias,
o que alimenta violências de todos os tipos, responsáveis pela desfiguração e
negação da dignidade maior e mais importante, dignidade humana dos filhos e
filhas de Deus, irmãos e irmãs uns dos outros. Essa é uma conquista a ser
garantida por meio de longa e árdua batalha, que não se deixa desanimar por se
sustentar em uma força sobrenatural, que surge da fonte inesgotável do mistério
da Páscoa.
Celebrar
e vivenciar o tempo pascal é aprender, pela força da graça de Deus, a gramática
do amor, que combate a multiplicada e perigosa manifestação social e política
do mal. A Páscoa é, pois, a vitória definitiva do bem, a ser alcançada pelo
patrimônio de valores morais. A Páscoa vivida faz nascer o bem moral,
alicerçado na experiência luminosa do amor a Deus. O amor maior revelado em
Cristo Ressuscitado tem incidência místico-profética para produzir a política
melhor, aquela que não visa apenas salvaguardar os interesses de alguns
indivíduos e grupos. As virtudes mostradas pelas interpelações pascais, pela
Palavra de Deus, têm propriedades para combater e vencer os vícios da política,
corrigindo distorções nas instituições e no meio ambiente. O encontro, o
encantamento por Cristo Ressuscitado, faz brotar nos corações o espírito de
misericórdia, um olhar de amor que dissipa a venenosa indiferença,
especialmente para com os pobres, impedindo a escuta dos clamores dos
sofredores, com consequente perda da sensibilidade para sustentar uma ordem,
capaz de garantir a justiça.
O tempo
pascal também desperta o sentido de pertencimento comunitário, como alicerce
para fazer de cada família uma comunidade de paz. Por aí se encontra a nascente
da indispensável solidariedade e sentido de colaboração e cuidados, como convém
aos membros de uma mesma família humana. Nesta direção, como interpelação
pascal, é preciso compreender-se como ser humano, coração da paz. Vale, de
novo, avaliar a gramática do próprio coração, aquela inscrita por Deus,
resgatada pelo sangue redentor derramado no alto da cruz como sacrifício de
expiação e salvação.
As
interpelações pascais possibilitam aproximar-se mais do amor de Deus. O Cristo
Ressuscitado é a verdade, único alicerce para a paz, formando obreiros
incansáveis nessa construção. A Páscoa é o grande convite para recomeçar, para
se alcançar a almejada convivência pacífica assentada na justiça. A Páscoa é um
rosário de interpelações, mostrando a singularidade do encontro com Cristo
Ressuscitado, renovando corações sobre a importância e o caminho para um novo
tempo.”.
Eis,
portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e
reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história –
que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas,
civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e
sustentavelmente desenvolvidas...
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 133 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da
democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade... e da
fraternidade universal);
b) o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são:
c) a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2023, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 2,556 trilhões (49,40%), a título de juros, encargos, amortização e financiamentos (ao menos com esta última rubrica, previsão de R$ 2,010 trilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega, do direito e da justiça:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e
eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br).
E, ainda, a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz:
“... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos,
mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite
da dívida pública...”.
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
Este
é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e
perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
61
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2022)
- Estamos nos descobrindo através da Excelência
Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando
nossas defesas democráticas ...
- Por uma Nova Política Brasileira... pois, o
poder é para amar, servir e edificar - jamais, jamais e jamais para subir,
dominar e destruir!
- Pela excelência na Gestão Pública ...
- Pelo fortalecimento da cultura da
sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral:
econômico; social, com promoção humana, e, ambiental, com proteção e
preservação dos nossos inestimáveis recursos naturais ...
- A alegria da vocação: juntando diamantes ...
porque os diamantes são eternos!
- O Epitáfio: “Não chorem por mim, chorem por
todos aqueles que, ainda, não descobriram Cristo em cada Eucaristia!”.
- (Re)visitando o Santo Graal, para uma vida
virtuosa: “... porque és pó, e pó te hás de tornar. (Gen 3,19)” ...
Afinal, o Brasil é uma
águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão
olímpica e de coragem!
E P Í L O G O
CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO
“Oh! Deus, Criador,
Legislador e Libertador, fonte de infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e
não está ficando, pedra sobre pedra
Dos impérios edificados
com os ganhos espúrios, ilegais, injustos e
Frutos da corrupção, do
saque, da rapina e da dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse
construído com o
Sangue, suor e lágrimas,
Trabalho, honra e
dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim! Eternamente!”.
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