“Ecoalfabetização
de adultos e crianças
A ecoalfabetização é um
dos modos de promover a consciência ecológica e de reduzir a ecoalienação.
Adultos e crianças devem ser ecoalfabetizados. A ecoalfabetização de adultos é
especialmente necessária para governantes e empresários, devido ao poder
político e econômico de que dispõem.
Dentro
de governos, frequentemente constata-se o desalinhamento e a falta de
convergência nos pensamentos e nas ações de distintas áreas, que caminham na
contramão de uma abordagem ecológica. Há vários exemplos disso: bancos de
desenvolvimento que financiam atividades predatórias, tais como frigoríficos e
pecuária na Amazônia; a redução de impostos para fontes de energia poluentes ou
para modos de transporte que congestionam as cidades; a adoção de práticas
destrutivas do meio ambiente natural na agricultura; ações de fomento à pesca
com visão a curto prazo que destroem a capacidade de reprodução dos estoques
pesqueiros a longo prazo; a pressão de órgãos públicos e empresas de
infraestrutura viária ou de energia para escapar aos controles ambientais.
De
importância fundamental é o alinhamento dos dirigentes de bancos públicos e de
desenvolvimento com as diretrizes ecológicas, liberando crédito para
empreendimentos licenciados ou de acordo com a legislação ambiental, evitando
que o capital seja investido em projetos ambientalmente destrutivos. A
concessão de crédito bancário ecologicamente responsável exige consciência
ecológica, para que os bancos renunciem a oportunidades de negócio social ou
ambientalmente destrutivas.
A
ecoalfabetização dos responsáveis pelas licitações e contratos públicos pode
poupar recursos públicos e integrar considerações ambientais na seleção de
fornecedores de produtos e serviços. Ecoalfabetizar os governantes é
capacitá-los para aplicar os conhecimentos das ciências ecológicas e a
sabedoria da consciência ecológica em suas ações.
O
divórcio entre conceitos e práticas da ecologia e de economia está na origem da
crise ecológica atual. Poucos gestos públicos incorporaram em sua formação a
consciência ecológica. Ainda é fragmentada e deficiente a formação ecológica em
universidades e nas escolas de governo e de administração.
A
ecoalfabetização nas escolas e institutos de pesquisa econômica aplicada
ajudaria a redefinir conceitos de riqueza. É preciso colocar as ciências
econômicas em seu devido lugar, como partes das ciências ecológicas. Merecem
investimento as escolas de governo e de administração, pois da ciência e
consciência ecológica de gestores públicos emanam decisões ecologicamente
responsáveis (ou irresponsáveis).
A
mudança de mentalidades e de modelos mentais resultante da ecoalfabetização em
todas as ares dos governos poderia facilitar a articulação intersetorial, a
adoção de agendas bilaterais da área ambiental com ministérios ou secretarias
com potencial de conflitos e disputas – agricultura, desenvolvimento agrário,
ciência e tecnologia, desenvolvimento industrial, transportes, energia e
mineração.
As
ciências ecológicas se desdobram em múltiplos campos, da ecologia política à
social, da ecologia energética à ecologia industrial. A ecoalfabetização
precisa levar em consideração o amplo e variado espectro das ciências
ecológicas e recusar o enfoque reducionista que enxerga a ecologia apenas em
sua dimensão das ciências biológicas, que estuda a interação de bichos e
plantas com o seu ambiente. Ela também precisa informar sobre as relações ecológicas
harmônicas, como a simbiose e o comensalismo, e dasarmônicas, como o
parasitismo e predação, por exemplo.
A
ecoalfabetização também é necessária em cada formação profissional e nos níveis
básicos da educação. No campo da comunicação e do jornalismo, é relevante
ecologizar todas as editorias, pois os meios de comunicação constituem veículos
eficazes para promover a ecoalfabetização.
LIÇÃO
A
longo prazo, a ecoalfabetização precisa se incorporar na formação das novas
gerações. No livro Alfabetização
ecológica – A educação das crianças para um mundo sustentável (Cultrix
2006), Fritjof Capra e um grupo de professores e pesquisadores americanos
constatam que há deficiências no conhecimento sobre a ecologia. Propõem que,
por meio da alfabetização ecológica, as crianças se familiarizem com os
conceitos e as práticas ecológicas e compreendam o impacto que seus hábitos e
estilos de vida provocam sobre o ambiente natural e social.
Entre
as experiências inspiradoras realizadas na Califórnia está a de repensar e
colocar em prática alternativas para a merenda escolar. Podem-se rastrear,
então, todas as etapas do processo produtivo e das tecnologias que possibilitam
que a merenda chegue ao prato das crianças. Os alimentos produzidos localmente
reduzem os gastos de energia envolvidos nos transportes de longa distância. É
valiosa a capacidade de produzir localmente os alimentos. As crianças visitam
os locais de cultivo das hortas e componentes de sua merenda, conhecem o quanto
de água, de terra, de agrotóxicos, de sementes, de tecnologias é necessário
para produzi-la; acompanham seu transporte, processamento, preparo na cozinha;
tomam conhecimento das perdas de alimentos ao longo do sistema de abastecimento
alimentar, até o seu prato.
Todo o
ciclo do alimento, de sua origem a seu destino final, pode ser conhecido do
ponto de vista técnico e científico, bem como do ponto de vista econômico.
Também pode ser estudado o seu trânsito pelo corpo, como os dejetos humanos são
tratados nos sistemas de esgotos e devolvidos ao sistema hídrico. Nas
experiências realizadas na Califórnia, a reflexão sobre a merenda escolar levou
a decisões de privilegiar alimentos produzidos localmente, de forma orgânica, o
que gerou aumento de renda e de emprego para os produtores rurais nas proximidades
das escolas.
A
ecoalfabetização pode formar a consciência ecológica de adultos e de crianças,
atuais e futuros governantes e dirigentes de empresas.”
(MAURÍCIO
ANDRÉS RIBEIRO, que é autor de Ecologizar, Tesouros da Índia e Ecologizando a cidade e o planeta,
em artigo publicado no jornal ESTADO DE
MINAS, edição de 23 de novembro de 2013, caderno PENSAR, página 2).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal O TEMPO, edição de 22 de novembro de
2013, caderno O.PINIÃO, página 22,
de autoria de LEONARDO BOFF, que é
filósofo e teólogo, e que merece igualmente integral transcrição:
“A
importância da espiritualidade para a saúde dos seres humanos
Via de regra, todos os
operadores de saúde foram moldados pelo paradigma científico da modernidade,
que operou uma separação drástica entre corpo e mente e entre ser humano e
natureza. Criou as muitas especialidades que tantos benefícios trouxeram para o
diagnóstico das enfermidades e também para as formas de cura. Reconhecido esse
mérito, não se pode esquecer que perdeu a visão de totalidade: o ser humano
inserido no todo maior da sociedade, da natureza e das energias cósmicas, a
doença como um fratura nessa totalidade e a cura como uma reintegração nela.
Há uma
instância em nós que responde pelo cultivo dessa totalidade, que zela pelo eixo
estruturador de nossa vida: é a dimensão do espírito.
Neurobiólogos
e estudiosos do cérebro identificaram a base biológica da espiritualidade. Ela
se situa no lobo frontal do cérebro. Verificaram empiricamente que sempre que
se captam os contextos mais globais ou ocorre uma experiência significativa de
totalidade, ou também quando se abordam de forma existencial (não como objeto
de estudo) realidades últimas, carregadas de sentido e que produzem atitudes de
veneração, de devoção e de respeito, se verifica uma aceleração das vibrações
em hertz dos neurônios aí localizados. Chamaram esse fenômeno de “ponto Deus”
no cérebro ou de emergência da “mente mística” (Zohar, Q. S., “Inteligência
Espiritual”, 2004). Trata-se de uma espécie de órgão interior pelo qual se
capta a presença do Inefável dentro da realidade.
Esse
“ponto Deus” se revela por valores intangíveis, como mais compaixão, mais
solidariedade, mais sentido de respeito e de dignidade. No termo,
espiritualidade não é pensar Deus, mas sentir Deus mediante esse órgão interior
e fazer a experiência de sua presença e atuação a partir do coração. Ele é
percebido como entusiasmo (em grego, significa ter um deus dentro) que nos toma
e nos faz saudáveis e nos dá a vontade de viver e de criar continuamente
sentidos de existir.
Que
importância emprestamos a essa dimensão espiritual no cuidado da saúde e da
doença? A espiritualidade possui uma força curativa própria. Não se trata de
forma nenhuma de algo mágico e esotérico. Trata-se de potenciar aquelas
energias que são próprias da dimensão espiritual, tão válidas como a
inteligência, a libido, o poder e o afeto, entre outras dimensões do humano.
A
espiritualidade reforça na pessoa, em primeiro lugar, a confiança nas energias
regenerativas da vida, na competência do médico e no cuidado diligente da
enfermeira. Sabemos pela psicologia do profundo e do transpessoal o valor
terapêutico da confiança na condução normal da vida.
Não
raro, os próprios médicos se surpreendem com a rapidez com que alguém se
recupera, ou mesmo como situações, normalmente dadas como irreversíveis,
regridem e acabam levando à cura. No fundo, é crer que o invisível e o
imponderável são parte do visível e do previsível.
Pertence
também ao mundo espiritual a esperança imorredoura de que a vida não termina na
morte, mas se transfigura através dela.
Força
maior, entretanto, é a fé de sentir-se na palma de Deus. Entregar-se,
confiadamente, à sua vontade, desejar ardentemente a cura, mas também acolher
serenamente sua vontade de chamar-nos para si: eis a presença da energia
espiritual. Não morremos, Deus vem nos buscar e nos levar para onde pertencemos
desde sempre, para a sua Casa e para o seu convívio. Tais convicções
espirituais funcionam como fontes de água viva, geradoras de cura e de potência
de vida. É o fruto da espiritualidade.”
Eis, pois, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas
estruturas educacionais, governamentais,
jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais,
de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade
(planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência,
eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, livre,
soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas
extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no
horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como
a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do
pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da
internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da
inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo
mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...