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terça-feira, 26 de novembro de 2013

A CIDADANIA, A ECOALFABETIZAÇÃO E A FORÇA DA ESPIRITUALIDADE NA PROMOÇÃO DA SAÚDE

“Ecoalfabetização de adultos e crianças
        
         A ecoalfabetização é um dos modos de promover a consciência ecológica e de reduzir a ecoalienação. Adultos e crianças devem ser ecoalfabetizados. A ecoalfabetização de adultos é especialmente necessária para governantes e empresários, devido ao poder político e econômico  de que dispõem.
         Dentro de governos, frequentemente constata-se o desalinhamento e a falta de convergência nos pensamentos e nas ações de distintas áreas, que caminham na contramão de uma abordagem ecológica. Há vários exemplos disso: bancos de desenvolvimento que financiam atividades predatórias, tais como frigoríficos e pecuária na Amazônia; a redução de impostos para fontes de energia poluentes ou para modos de transporte que congestionam as cidades; a adoção de práticas destrutivas do meio ambiente natural na agricultura; ações de fomento à pesca com visão a curto prazo que destroem a capacidade de reprodução dos estoques pesqueiros a longo prazo; a pressão de órgãos públicos e empresas de infraestrutura viária ou de energia para escapar aos controles ambientais.
         De importância fundamental é o alinhamento dos dirigentes de bancos públicos e de desenvolvimento com as diretrizes ecológicas, liberando crédito para empreendimentos licenciados ou de acordo com a legislação ambiental, evitando que o capital seja investido em projetos ambientalmente destrutivos. A concessão de crédito bancário ecologicamente responsável exige consciência ecológica, para que os bancos renunciem a oportunidades de negócio social ou ambientalmente destrutivas.
         A ecoalfabetização dos responsáveis pelas licitações e contratos públicos pode poupar recursos públicos e integrar considerações ambientais na seleção de fornecedores de produtos e serviços. Ecoalfabetizar os governantes é capacitá-los para aplicar os conhecimentos das ciências ecológicas e a sabedoria da consciência ecológica em suas ações.
         O divórcio entre conceitos e práticas da ecologia e de economia está na origem da crise ecológica atual. Poucos gestos públicos incorporaram em sua formação a consciência ecológica. Ainda é fragmentada e deficiente a formação ecológica em universidades e nas escolas de governo e de administração.
         A ecoalfabetização nas escolas e institutos de pesquisa econômica aplicada ajudaria a redefinir conceitos de riqueza. É preciso colocar as ciências econômicas em seu devido lugar, como partes das ciências ecológicas. Merecem investimento as escolas de governo e de administração, pois da ciência e consciência ecológica de gestores públicos emanam decisões ecologicamente responsáveis (ou irresponsáveis).
         A mudança de mentalidades e de modelos mentais resultante da ecoalfabetização em todas as ares dos governos poderia facilitar a articulação intersetorial, a adoção de agendas bilaterais da área ambiental com ministérios ou secretarias com potencial de conflitos e disputas – agricultura, desenvolvimento agrário, ciência e tecnologia, desenvolvimento industrial, transportes, energia e mineração.
         As ciências ecológicas se desdobram em múltiplos campos, da ecologia política à social, da ecologia energética à ecologia industrial. A ecoalfabetização precisa levar em consideração o amplo e variado espectro das ciências ecológicas e recusar o enfoque reducionista que enxerga a ecologia apenas em sua dimensão das ciências biológicas, que estuda a interação de bichos e plantas com o seu ambiente. Ela também precisa informar sobre as relações ecológicas harmônicas, como a simbiose e o comensalismo, e dasarmônicas, como o parasitismo e predação, por exemplo.
         A ecoalfabetização também é necessária em cada formação profissional e nos níveis básicos da educação. No campo da comunicação e do jornalismo, é relevante ecologizar todas as editorias, pois os meios de comunicação constituem veículos eficazes para promover a ecoalfabetização.

LIÇÃO A longo prazo, a ecoalfabetização precisa se incorporar na formação das novas gerações. No livro Alfabetização ecológica – A educação das crianças para um mundo sustentável (Cultrix 2006), Fritjof Capra e um grupo de professores e pesquisadores americanos constatam que há deficiências no conhecimento sobre a ecologia. Propõem que, por meio da alfabetização ecológica, as crianças se familiarizem com os conceitos e as práticas ecológicas e compreendam o impacto que seus hábitos e estilos de vida provocam sobre o ambiente natural e social.
         Entre as experiências inspiradoras realizadas na Califórnia está a de repensar e colocar em prática alternativas para a merenda escolar. Podem-se rastrear, então, todas as etapas do processo produtivo e das tecnologias que possibilitam que a merenda chegue ao prato das crianças. Os alimentos produzidos localmente reduzem os gastos de energia envolvidos nos transportes de longa distância. É valiosa a capacidade de produzir localmente os alimentos. As crianças visitam os locais de cultivo das hortas e componentes de sua merenda, conhecem o quanto de água, de terra, de agrotóxicos, de sementes, de tecnologias é necessário para produzi-la; acompanham seu transporte, processamento, preparo na cozinha; tomam conhecimento das perdas de alimentos ao longo do sistema de abastecimento alimentar, até o seu prato.
         Todo o ciclo do alimento, de sua origem a seu destino final, pode ser conhecido do ponto de vista técnico e científico, bem como do ponto de vista econômico. Também pode ser estudado o seu trânsito pelo corpo, como os dejetos humanos são tratados nos sistemas de esgotos e devolvidos ao sistema hídrico. Nas experiências realizadas na Califórnia, a reflexão sobre a merenda escolar levou a decisões de privilegiar alimentos produzidos localmente, de forma orgânica, o que gerou aumento de renda e de emprego para os produtores rurais nas proximidades das escolas.
         A ecoalfabetização pode formar a consciência ecológica de adultos e de crianças, atuais e futuros governantes e dirigentes de empresas.”

(MAURÍCIO ANDRÉS RIBEIRO, que é autor de Ecologizar, Tesouros da Índia e Ecologizando a cidade e o planeta, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 23 de novembro de 2013, caderno PENSAR, página 2).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal O TEMPO, edição de 22 de novembro de 2013, caderno O.PINIÃO, página 22, de autoria de LEONARDO BOFF, que é filósofo e teólogo, e que merece igualmente integral transcrição:

“A importância da espiritualidade para a saúde dos seres humanos
        
         Via de regra, todos os operadores de saúde foram moldados pelo paradigma científico da modernidade, que operou uma separação drástica entre corpo e mente e entre ser humano e natureza. Criou as muitas especialidades que tantos benefícios trouxeram para o diagnóstico das enfermidades e também para as formas de cura. Reconhecido esse mérito, não se pode esquecer que perdeu a visão de totalidade: o ser humano inserido no todo maior da sociedade, da natureza e das energias cósmicas, a doença como um fratura nessa totalidade e a cura como uma reintegração nela.
         Há uma instância em nós que responde pelo cultivo dessa totalidade, que zela pelo eixo estruturador de nossa vida: é a dimensão do espírito.
         Neurobiólogos e estudiosos do cérebro identificaram a base biológica da espiritualidade. Ela se situa no lobo frontal do cérebro. Verificaram empiricamente que sempre que se captam os contextos mais globais ou ocorre uma experiência significativa de totalidade, ou também quando se abordam de forma existencial (não como objeto de estudo) realidades últimas, carregadas de sentido e que produzem atitudes de veneração, de devoção e de respeito, se verifica uma aceleração das vibrações em hertz dos neurônios aí localizados. Chamaram esse fenômeno de “ponto Deus” no cérebro ou de emergência da “mente mística” (Zohar, Q. S., “Inteligência Espiritual”, 2004). Trata-se de uma espécie de órgão interior pelo qual se capta a presença do Inefável dentro da realidade.
         Esse “ponto Deus” se revela por valores intangíveis, como mais compaixão, mais solidariedade, mais sentido de respeito e de dignidade. No termo, espiritualidade não é pensar Deus, mas sentir Deus mediante esse órgão interior e fazer a experiência de sua presença e atuação a partir do coração. Ele é percebido como entusiasmo (em grego, significa ter um deus dentro) que nos toma e nos faz saudáveis e nos dá a vontade de viver e de criar continuamente sentidos de existir.
         Que importância emprestamos a essa dimensão espiritual no cuidado da saúde e da doença? A espiritualidade possui uma força curativa própria. Não se trata de forma nenhuma de algo mágico e esotérico. Trata-se de potenciar aquelas energias que são próprias da dimensão espiritual, tão válidas como a inteligência, a libido, o poder e o afeto, entre outras dimensões do humano.
         A espiritualidade reforça na pessoa, em primeiro lugar, a confiança nas energias regenerativas da vida, na competência do médico e no cuidado diligente da enfermeira. Sabemos pela psicologia do profundo e do transpessoal o valor terapêutico da confiança na condução normal da vida.
         Não raro, os próprios médicos se surpreendem com a rapidez com que alguém se recupera, ou mesmo como situações, normalmente dadas como irreversíveis, regridem e acabam levando à cura. No fundo, é crer que o invisível e o imponderável são parte do visível e do previsível.
         Pertence também ao mundo espiritual a esperança imorredoura de que a vida não termina na morte, mas se transfigura através dela.
         Força maior, entretanto, é a fé de sentir-se na palma de Deus. Entregar-se, confiadamente, à sua vontade, desejar ardentemente a cura, mas também acolher serenamente sua vontade de chamar-nos para si: eis a presença da energia espiritual. Não morremos, Deus vem nos buscar e nos levar para onde pertencemos desde sempre, para a sua Casa e para o seu convívio. Tais convicções espirituais funcionam como fontes de água viva, geradoras de cura e de potência de vida. É o fruto da espiritualidade.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...