“Sobra
texto, falta entendimento!
A convulsão no cenário
político brasileiro e mundial, o questionamento sobre a assertividade das
nossas escolhas e o atual sentimento de impotência são sintomas de uma
sociedade ávida por acertar sem refletir, sem interpretar. Tenho escutado a
recorrente afirmativa de que o brasileiro não sabe votar. Será que os problemas
políticos são exclusivos dos brasileiros? Será que americanos, franceses,
russos e outros povos também não estão passando por crises ideológicas e
éticas? O que estamos assistindo revela que a falta de reflexão não é
exclusividade de estudantes ou de brasileiros, mas sim um fenômeno mundial, em
que as soluções ganham importância, em detrimento dos processos que as motivam.
O mundo tem imposto que sejamos rápidos para julgar, que recorramos apenas às
aparências, passando-nos uma frágil impressão de confiança em nossas
habilidades e, assim, tentando só acertar, nunca erramos tanto!
Recentemente,
o governo publicou a Base Curricular Comum, indicando um conjunto de
aprendizagens essenciais a ser considerado na definição dos currículos de cada
ano da educação infantil e fundamental. Esse documento é pautado na construção
de habilidades e competências, apresentando a necessidade de contextualização
das situações cotidianas para dar sentido ao ensino e, ao mesmo tempo,
conectá-lo à realidade. Com isso, o aluno mobiliza o conhecimento, aplicando-o na
tomada de decisões pertinentes.
É
preocupante verificar que o avanço da proposta do ensino por competência, que
aponta uma nova visão no processo educacional, já adotada por escolas modernas
há mais de uma década, não tem contribuído o bastante para melhorar o
desempenho dos alunos. Em alguns casos, tem inclusive aumentado o desafio,
porque a nova proposta está focada na contextualização de conteúdos, exigindo maior
esforço nas atividades de interpretação e compreensão textuais.
A
pressa por boas performances tem causado escolhas precoces e o atropelo de
ações fundamentais para a evolução da consciência social – análise e
entendimento de fatos relacionados à experiência humana. Os alunos fazem suas
atividades escolares cada vez com mais rapidez, concentrados, unicamente, na
busca de respostas.
A
sociedade atual prima pelo imediatismo dessas respostas. Em momentos em que se
exigem breves soluções, nossas decisões está sendo tomadas urgentemente. Dessa
forma, os processos são constituídos sem o devido amadurecimento de etapas e,
por mais que educadores e família façam um trabalho com as crianças de
incentivo à leitura, isso não tem bastado.
É
preciso entender que o que se ê, se ouve é fundamental para promover escolhas
mais assertivas. Planejamento e estratégias não são perda de tempo, são
exercício de maturação.
Contudo,
espero que o momento pelo qual atravessamos surta efeitos positivos, não apenas
para as questões da política e da ética, mas também para a melhoria da
qualidade das demandas direcionadas aos nossos jovens. Que sejam proporcionadas
a eles experiências reais e tempos possíveis de construção do saber e de
decisões baseadas na leitura de sua história e do mundo.
Textos
e contextos, temos de sobra, o que precisamos é interpretá-los! E, parafraseando
um admirado tio: “Hoje em dia, a compreensão está valendo mais a pena que o
acerto!”.”.
(SÉRGIO
PORFÍRIO. Diretor de ensino do Colégio Magnum Buritis, em artigo publicado
no jornal ESTADO DE MINAS, edição de
8 de junho de 2017, caderno OPINIÃO,
página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
11 de agosto de 2017, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO,
arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral
transcrição:
“Transfigurar
e não desfigurar
É crescente a ladainha
de murmurações que aponta para o declínio ético-moral e suas terríveis
consequências na sociedade brasileira. Constatar essas decadências, em um
quadro de análises pertinente, com o propósito de buscar saídas e soluções, é
uma necessidade urgente. Mas isso pouco ajuda quando os lamentos colorem de
modo cinzento e triste a marcha cotidiana da sociedade. A chama da esperança se
apaga, mata-se a vida, a baixa autoestima toma conta do povo, que perde a
capacidade de reagir, importante fator para sair da crise.
Um
processo avassalador que compromete a cidadania e atrasa ainda mais a indicação
de soluções e novas respostas. O que se vê, infelizmente, é o deprimente jogo
da compra de influências com dinheiro de origem duvidosa, tornando ainda mais
submissos aqueles que já não têm credibilidade e força moral. Os projetos e as
propostas, até as que tratam das inadiáveis reformas, quando pensados sob a
lógica estreita da mesquinharia surgem acompanhados de suspeitas, pois parecem
manter a mesma dinâmica: desconsiderar os mais pobres e manter privilégios.
Assim, perdem a força para sustentar uma sociedade justa e fraterna.
Aqueles
que deveriam representar o povo se deixam seduzir pelo dinheiro, submetendo-se
cegamente a esquemas e propósitos contrários ao bem comum. Negociam os
interesses de uma nação inteira, a exemplo da passagem bíblica sobre a venda de
José do Egito, como escravo, por seus irmãos. Sem piedade, defendem, votam e
adotam procedimentos e legislações que não corrigem os descompassos. Contrariam
o que deveria ser o compromisso de quem representa o povo, inviabilizando as
dinâmicas de uma cultura que possibilite a construção de um Brasil novo e
diferente. Somente uma nação que preze a civilidade, o equilíbrio e seja capaz
de superar os descalabros da corrupção e a violência, absurdamente crescente.
Mas o
processo vicioso é que vem conduzindo a sociedade à interminável ladainha de
lamentos e a reações inconsistentes, sem a força inventiva e sem o altruísmo
necessários ao surgimento de iniciativas grandes e pequenas, nos âmbitos
privados e públicos, com força para dar novos rumos ao Brasil. Desse modo, instala-se
um clima do “salve-se quem puder”, que alimenta conflitos, exercícios
governamentais medíocres, desempenhos norteados exclusivamente por interesses
próprios.
A
reação necessária com força para deter os abusos de poder, os golpes, o
cala-boca imposto à sociedade por medidas e funcionamentos inadequados à
necessária correção de rumos, é muito mais exigente do que apenas garantir
eleições. As respostas e saídas para as estruturantes correções que precisam
ser feitas estão muito além de quaisquer índices da economia e sua desejada
retomada, ou da simples substituição de nomes e cadeiras nos governos e nas
casas legislativas. Nada disso tem a força transformadora que a sociedade
brasileira precisa.
As
soluções apontadas até agora, as saídas encaminhadas, as prospecções realizadas
não apresentarão os resultados desejados enquanto cada cidadão não compreender
que as grandes modificações e transformações devem começar na consciência de
cada um. As pessoas pedem mudanças, mas não querem mudar. É preciso recordar a
fonte de referência anterior aos interesses e seduções que submetem a pessoa ao
dinheiro, ao egoísmo e à ganância. Urge chamar a atenção de todos para que
compreendam o sentido profundo de sua origem e de seu destino, ou seja: o
coração de Deus. Do Criador, o ser humano é imagem e semelhança. A semente de
cada indivíduo é divina, de Deus se recebe o dom de viver.
Por
Deus se entra na experiência humana da vida com o desafio de transfigurar o
humano, adquirindo as feições amorosas e ternas do Deus da vida. Vive-se para
transfigurar o humano, dando a ele, nos gestos, palavras e atitudes, a
expressão própria do glorioso e luminoso que está no Divino, de onde se vem e
para onde se vai. Um entendimento na contramão da desfiguração crescente e
decadente do humano, que reflete no rol das violências, dos roubos, das
indiferenças, das incompetências configuradas na administração de processos, em
que medíocres comandam, mesquinhos se agarram a lugares, obscurecidos continuam
acomodados em sua nulidade, interesseiros e amigos do dinheiro não enxergam
novos caminhos.
Assim,
a clareza da própria origem divina, com o exercício permanente da consciência
afetiva de que Deus é a referência insubstituível para a modulação ético-moral
do próprio coração, configurando atitudes cidadãs, é o único ponto de partida
possível, caminho e horizonte para transfigurar o ser humano. Quaisquer outras
opções resultarão na perda da única fonte inesgotável do amor verdadeiro, no
distanciamento do sustento que, em graça e consciência, garante o cumprimento,
pelo ser humano, da tarefa de divinizar-se no amor de Deus. Esse é o único
caminho para se transfigurar e não se desfigurar.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da
democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b) o combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em julho/2017 a ainda estratosférica
marca de 399,05% nos últimos doze meses,
e a taxa de juros do cheque especial registrou históricos 321,30%; e já o IPCA
também no acumulado dos últimos doze meses chegou a 2,71%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária
ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da
Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor,
de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...”
– e que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c) a dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para
2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável
desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão,
a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com
esta rubrica, previsão de R$ 946,4
bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela excelência
educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de
infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à
luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização
das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
- 55 anos
de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...
-
Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...