“Relaxamento:
passaporte para o prazer e a alegria
Desconectemos, e assim
será mais fácil entendermos o paradoxo dessa nossa era. Deus nos criou para a
busca de prazer, recompensa, satisfação, alegria, e para o exercício desta
finalidade existencial, criou o cérebro com arquitetura, precisão e
funcionalidade inigualáveis.
Ok, e
daí, não é? Somos tão incompetentes e mal-aproveitados, que conseguimos criar
uma sociedade na qual amarguras, ansiedade e angústias nos conduzem aos portões
do mal viver. Quem sabe pela consciência de nossa transitoriedade, o caminho
diuturno em direção a morte e, ainda mais lastimável, o temor desse
mal-explicado fenômeno, que tanta controvérsia traz: afinal, somos eternos? Seremos
julgados e colheremos, numa outra dimensão, a recompensa celestial, ou será uma
segunda chance, algo assim como um purgatório, onde a possibilidade de luz ou
trevas dependerá de arrependimentos, perdão, cura de ódios e outras lições
libertadoras?
Mas e
o tal do inferno, tão belamente descrito por Dante, onde o pesadelo sem alívio
de acordar nos torturará “ad aeternum”? Para os céticos e ateus, é o fim da
frequência, decomposição dos elementos de uma tabela periódica, onde carnes,
ossos e órgãos se desmancham em carbonos, cálcio, ferro, nitrogênios e tudo que
habita nossa vida celular e molecular. Meio que um filme que acaba sem
conclusão nem compreensão: “the end”!
Que a
ciência e as religiões se digladiem sem vendedores, pois radicais começam a
perder espaço para cientistas e crentes que associam fé e ciência. Entendem que
fé não é a prática de rituais religiosos, e sim uma energia imaterial, já
quantificável, com possível sede no lobo temporal direito. E insisto na maior
fé constatável: o efeito placebo, que cura entre 27 e 31% dos pacientes
submetidos a controle duplo cego (nem o médico sabe que está dando pílulas da
substância pesquisada, ou uma cápsula de farinha de trigo, nem o paciente sabe
se recebeu a substância terapêutica ou a falsa cápsula). Daí a razão de só s
autorizar um novo remédio se tiver ao menos o dobro do “efeito placebo”.
Assim,
a “fé” do médico e do paciente desencadeia um mecanismo de reestruturação do
órgão lesado ou disfuncional, e água com açúcar ou farinha em comprimidos e
ativações eletroquímicas no lobo temporal direito emitem a mais poderosa
energia de cura, cessando sintomas e lesões. É indiscutível que temos circuitos
ativadores de sensações prazerosíssimas, mediadas por uma química da dopamina,
da noradrenalina, opióides naturais, que geram paixões viciantes e de tal forma
recompensadoras que é difícil manter o prazer saudável, a alegria espontânea,
pois tais situações são tão extracorpóreas. Há um êxtase de tal monta que o
risco do vício patológico, overdoses, abusos de álcool, drogas e sexomania
destruirão a vida pessoal, familiar e laborativa.
Benditos
são os orientais, que ao não pensar, entram no estágio máximo do relaxamento,
da transcendência e, ao chegar ao “Nirvana”, encontram o paraíso (sem drogas,
sem esforço, sem pensações e preocupações doentias). Quebram o tempo e espaço,
viajam sem distinção “parte e todo” e frequentam a eternidade, com seu
passaporte chamado relaxamento. Ali, nada é explicado pois a compreensão é
total.
A
divinização é de tal forma simples e sábia que indianos e budistas são seres
desprovidos da patologia do apego material, dos medos humanos, dos sentimentos
animalescos que nos leva à violência sem sentido, guerras tribais e
nacionalistas, a ilusão da matéria como pré-requisito ao bem-estar, a
felicidade comprada em Miami. A ilusão consumista, vaidosa dos “selfies”, o
pueril exibicionismo, sem a paz de espírito interna, a serenidade pessoal. Quer
mudar? Eis algumas dicas:
Primeiro,
a preocupação é o câncer da mente, o princípio da infelicidade, a burrice em
estado bruto, pois, ao antecipar sofrimentos, projetar problemas, imaginar
sempre o pior e angustiante, adoece o corpo e alma, e ativa o desprazer, a dor,
ativando um estresse imaginário, mas sintomático.
Segundo,
não dependa de ninguém para reciclar seus conceitos e comportamentos. Você e
suas circunstâncias determinam suas opções por ser infeliz ou pleno
existencialmente. Os príncipes e princesas encantados habitam apenas nossa
capacidade interna de sermos lúdicos, serenos e felizes. Quem nos circunda
receberá nossos fluxos de plenitude, e ainda que por osmose, tende a ser
companheiro de viagem, cada qual dono de seu arbítrio e merecimento de suas
construções terrenas. Cada um é o único responsável pela sua evolução e pelo
seu destino, escreve seu enredo de vida. E daí sairão dramas, romances,
tragédias, ficção, comédias e filmes “B”.
E
terceiro, cada um vê e constrói suas possibilidades de realidade. “Vê esse pôr
de sol lindo, a mata, a cachoeira, as araras azuis e os tucanos, que me
extasiam e fazem com que agradeça esse êxtase?”. E a parceira responde: “mas
será que não viu aquele veado pantaneiro morto e devorado por urubus na beira
da estrada?”. Cada um de nós vê a vida com a liberdade e olhar que
generosamente nos gratifica ou gera desprazer. A natureza não é boa ou má, a
vida pode ser uma cruz ou um gozo de sensações e satisfações. Cada um de nós é
único, divino e fantástico, ainda que não tenhamos nos descoberto. Portanto,
relaxe, tudo é um aprendizado evolutivo. Faça sua limonada com os belos limões
que a vida lhe ofertar!
Fé,
força e luz!”.
(Eduardo
Aquino. Escritor e neurocientista, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 16 de
março de 2014, caderno GERAL, coluna
Crônicas sobre o comportamento e o relacionamento humano, página 12).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
14 de março de 2014, caderno OPINIÃO, página
20, de autoria de LEONARDO BOFF, filósofo
e teólogo, e que merece igualmente integral transcrição:
“Prolongar
a dependência ou completar a invenção do Brasil?
A atual sociedade
brasileira, há que se reconhecer, conheceu avanços significativos sob os
governos do Partido dos Trabalhadores. A inclusão social realizada e as
políticas sociais benéficas para aqueles milhões que sempre estiveram à margem
possuem uma magnitude história cujo significado ainda não acabamos de avaliar,
especialmente se nos confrontarmos com as fases históricas anteriores, hegemonizadas
pelas elites tradicionais que sempre detiveram o poder de Estado.
Mas
esses avanços não são ainda proporcionais à grandeza de nosso país e de seu
povo. As manifestações de junho de 2013 mostraram que boa parte da população,
particularmente dos jovens, está insatisfeita. Esses manifestantes querem mais.
Querem outro tipo de democracia, a participativa, querem uma República de
caráter popular, exigem, com razão, transportes que não lhes roubem tanto
tempo, serviços básicos que os habilitem a entender melhor o mundo e a melhorar
o tipo de trabalho que escolherem, reclamam saúde com um mínimo de decência e
qualidade. Cresce em todos a convicção de que um povo doente e ignorante jamais
dará um salto de qualidade rumo a outro tipo de sociedade menos desigual. O PT
deverá estar à altura desses novos desafios e renovar sua agenda ao preço de
não continuar jamais no poder.
As
próximas eleições possuirão, a meu ver, uma qualidade singular. Dada a
aceleração da história, impulsionada pela crise sistêmica mundial, seremos
forçados a tomar uma decisão: ou aproveitamos as oportunidades que os países
centrais, em profunda Cris, nos propiciam, reafirmando nossa autonomia e
garantindo nosso futuro autônomo, ou as desperdiçamos e viveremos atrelados ao
destino decidido sempre por eles, que nos querem condenar a sermos apenas os
fornecedores dos produtos in natura que lhes faltam e, assim, voltam a nos
recolonizar.
Não
podemos aceitar essa estranha divisão internacional do trabalho. Temos que
retomar o sonho de alguns de nossos melhores analistas, que propuseram uma
reinvenção do Brasil sobre bases nossas, gestadas pelo nosso ensaio
civilizatório.
Esse é
o desafio lançado de forma urgente a todas as instâncias sociais: elas ajudam
na invenção do Brasil como nação soberana, repensada nos quadros da nova
consciência planetária e do destino comum da Terra e da humanidade? Poderão
elas ser coparteiras de uma cidadania
nova, que articula o cidadão com o Estado, o cidadão com o outro cidadão, o
nacional com o mundial, a cidadania brasileira com a cidadania planetária,
ajudando assim a moldar o devenir humano? Ou elas se farão cúmplices daquelas
forças que não estão interessadas na construção do projeto Brasil porque se
propõem inserir o país no projeto globalizado de forma subalterna e dependente,
com as vantagens concedidas às classes opulentas, beneficiadas com esse tipo de
aliança?
As
próximas eleições vão trazer à luz esses dois projetos. Devemos decidir de que
lado estaremos. A situação é urgente, pois, como advertia, pesaroso, Celso
Furtado, “tudo aponta para a inviabilização do país como projeto nacional”. Mas
não queremos aceitar como tal essa severa advertência. Não devemos reconhecer
as derrotas sem antes dar as batalhas, como nos ensina dom Quixote em sua gaia
sabedoria..
Ainda
há tempo para mudanças que podem reorientar o país para o seu rumo certo,
especialmente agora que, com a crise ecológica, o ambiente se transformou num
peso decisivo da balança e do equilíbrio buscado pelo planeta Terra. Importa
crer em nossas virtualidades, diria mais, em nossa missão planetária.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas
políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos (a
propósito, a proximidade das eleições – a cada dois anos, e ainda com uma
permissividade cruel e desafiadora –, afetando brutalmente o desempenho dos
governos);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir uma imediata,
abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana; logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana(trânsito,
transporte, acessibilidade) ; minas e
energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema
financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança
alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal;
defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e
inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento
– estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia,
efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade);
entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana,
democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas
extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais
especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que
contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e
os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da
globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade
–, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...