“A
pergunta, a verdade e a ética da resposta
Perguntam-nos, devemos
responder sempre a verdade que sabemos a respeito do perguntado? Resume-se o
critério último da resposta na objetividade da resposta? Negar a responder ou
oferecer dados que induzam o ouvinte a entender mal ou mesmo a concluir
erradamente contraria a ética?
A
objetividade pretendida da verdade não se constitui aspecto absoluto e
universal. Na pergunta entram em jogo vários elementos: quem pergunta, a quem
pergunta, sobre o que pergunta. Cada um deles e a articulação entre eles
definem a ética da resposta. Não temos obrigação de informar dado pessoal a
quem não tem nenhum direito de sabê-lo, reservando-nos o silêncio ou o
despistamento. A privacidade existencial faz parte dos espaços secretos.
A
cultura atual tem destruído a consciência de tal área sagrada. Frequentemente,
se expõem em Facebooks e similares dados e fatos que pertencem ao campo da
intimidade pessoal e que não cabem na publicidade. A falta de ética se inverte.
Violentam a ética os que perguntam.
O
princípio moral fundamental se chama dignidade humana. Violá-la seja pela
pergunta como pela resposta não condiz com a ética. Portanto, exclui-se do campo
da publicidade a vida privada das pessoas.
Diferentemente
acontece quando as perguntas se referem a dados e ações do mundo público,
político. Extrapolam da intimidade do agir. Respeito aos homens públicos, cabe
distinguir o que faz parte do âmbito estritamente pessoal, como a vida conjugal
íntima, e ações mesmo praticadas em grupo de intimidade quando repercutem na
vida política, ao ferir-lhes a credibilidade. Eticamente temos direito de saber
de dados de vida de alguém que o tornam inepto para a função social que
pretende assumir. Aí acontece o contrário. O ocultar viola a ética porque põe
em risco o bem de outras pessoas.
A
moral católica defende, no entanto, o direito do silêncio de quem conhece fatos
privados, mesmo de pessoas públicas, pela via da confidência. Quando se trata
do sacramento da confissão, o rigor da reserva total chega ao extremo. Na
história, houve casos de sacerdotes sofrerem gravemente por não terem revelado
fatos conhecidos no confessionário.
Tal
chamado à ética afeta igualmente a psicólogos e médicos que recebem revelações
íntimas de pacientes. Impõe-se-lhes sem a permissão do confidente total
silêncio, mesmo quando interrogados por autoridades constituídas em algum
julgamento. Tal situação gera, às vezes, grave conflito de consciência, quando
se percebe, de um lado, o mal que pode decorrer da omissão da informação e, de
outro, o direito inviolável do confidente. A solução, que a moral católica tem
seguido, consiste impor ao confidente a obrigação grave de revelar os dados
pessoais que afetam o bem comum.
Nas
perguntas e respostas acontece, não raro, o conflito ético entre o direito à
privacidade e o alcance social e público das ações humanas. Em resumo, da parte
do indivíduo, contraria a ética guardar informações de si quando elas
repercutem gravemente no bem social. Da parte do interrogante, viola a ética
publicar informações obtidas do mundo privado e de modo confidencial.”
(J. B.
Libanio. Teólogo, escritor e professor; padre jesuíta, em artigo publicado
no jornal O TEMPO Belo Horizonte,
edição de 10 de novembro de 2013, caderno O.PINIÃO,
página 21).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 11 de
novembro de 2013, caderno OPINIÃO, página
7, de autoria de CARLOS ALBERTO DI
FRANCO, que é Diretor do Departamento de Comunicação do Instituto
Internacional de Ciências Sociais (IICS), doutor em comunicação pela
Universidade de Navarra (Espanha), e que merece igualmente integral
transcrição:
“Informação
é substantiva
Arrogância, precipitação
e superficialidade têm sido, na opinião de James Fallows, autor do provocante Detonando a notícia, a marca registrada
de certos setores da mídia. A crítica, contundente e despida de corporativismo,
produziu reações iradas, alguns aplausos entusiásticos e, sem dúvida, uma
saudável autocrítica. A síndrome não reflete uma idiossincrasia da imprensa
estadunidense. Trata-se de uma patologia universal. Também nossa. Reconhecê-la
e importante. Superá-la, um dever. Fallows questiona, por exemplo, a aspiração
de exercer um permanente contrapoder que está no cerne de algumas matérias. A
investigação jornalística não brota da dúvida necessária, da interrogação
inteligente. Nasce, muitas vezes, de uma enxurrada de preconceitos.
Há um
ceticismo ético, base da boa reportagem investigativa. É a saudável
desconfiança que se alimenta de uma paixão: o desejo dominante de descobrir e
contar a verdade. Outra coisa, bem diferente, é o jornalismo de suspeita. O
profissional suspicaz não tem “olhos de
ver”. Não admite que possa existir decência, retidão, bondade. Tudo passa por
um crivo negativo que se traduz numa incapacidade crescente de elogiar o que
deu certo. O jornalista não deve ser ingênuo. Mas não precisa ser cínico. Basta
ser honrado, independente.
A
precipitação é outro vírus que ameaça a qualidade informativa. Repórteres
carentes de informação especializada e de documentação apropriada ficam reféns
da fonte. O poder público tem notável capacidade de pautar os jornais. Há
excesso de declarações oficiais. A sociedade frequentemente, não é ouvida.
Falta informação completa: a oficial e a não oficial, não necessariamente de
oposição, mas aquela de interesse da sociedade civil. Fonte de governo é
importante, mas não é a única.
Sobra
declaração, mas falta apuração rigorosa. A incompetência foge dos bancos de
dados. Troca milhão por bilhão. E, surpreendentemente, nada acontece. O
jornalismo é o único negócio em que a satisfação do cliente parece interessar
muito pouco. O jornalismo não fundamentado em documentação é o resultado
acabado de uma perversa patologia: o despreparo de repórteres e a obsessão de
editores com o fechamento. A chave de uma boa edição é o planejamento. Quando
editores não formam os seus repórteres, quando a qualidade é expulsa pela
ditadura do deadline, quando as entrevistas são feitas pelo telefone e já não
se olha nos olhos do entrevistado, está na hora de repensar todo o processo de
edição.
O
culto à frivolidade e a submissão à ditadura dos modismos estão na outra ponta
do problema. Vivemos sob o domínio do politicamente correto. E o dogma do
politicamente correto não deixa saída: de um lado, só há vilões; de outro, só
se captam perfis de mocinhos. E sabemos que não é assim. O verdadeiro
jornalismo não busca apenas argumentos que reforcem a bola da vez, mas também,
com a mesma vontade, os argumentos opostos. Estamos carentes de informação e faltos da boa dialética.
Sente-se o leitor conduzido pela força de nossas idiossincrasias.
Registramos, ademais, os perigos do jornalismo de
dossiê. Os riscos de instrumentalização da imprensa são evidentes. Por isso, é
preciso revalorizar, e muito, as clássicas perguntas que devem ser feitas a
qualquer repórter que cumpre pauta investigativa: checou? Tem provas? A quem
interessa essa informação? Trata-se de eficiente terapia no combate ao vírus da
leviandade. O esforço de isenção, no entanto, não se confunde com a omissão. O
leitor espera uma imprensa combativa, disposta a exercer o seu intransferível
dever de denúncia. Menos registro e mais apuração. Menos fofoca e mais
seriedade. Menos espetáculo de marketing político e mais consistência.
Finalmente,
precisamos ter transparência no reconhecimento de nossos eventuais equívocos. Reconhecer
o erro, limpa e abertamente, é o pré-requisito da qualidade e, por isso, um dos
alicerces da credibilidade. O leitor, cada vez mais crítico e exigente, quer
notícia. Quer informação substantiva. E só há uma receita duradoura: ética,
profissionalismo e talento.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios,
de valores –, para a imperiosa e
urgente necessidade de profundas
transformações em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
indubitavelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era
da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...