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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A CIDADANIA, A ESPIRITUALIDADE, A VIDA DO OUTRO E O BOM GOVERNO

“APELO À ESPIRITUALIDADE

Se todo poder deve ser exercido em benefício do povo, há que haver espiritualidade a garantir boa qualidade ao exercício do poder. De fato, a realidade – em sua complexidade – merece decisiva influência da perspectiva espiritual. A razão é simples: é sempre o sentido do ser e do agir que humaniza as relações. No âmbito de todo governo, o cultivo de valores se faz decisivo para marcar com respeito e bem-estar os diversos setores da sociedade. Razão pela qual a espiritualidade se impõe como doação ao amor.

O agente do poder político há de alimentar-se da riqueza do espírito enquanto integra interesses a valores, promovendo o bem comum acima da mesquinhez particularista. É a única maneira de garantir ao agir e à convivência uma boa qualidade. Exercício espiritualizado do poder se move pelas justas exigências do povo, pelo clamor dos mais sofridos, pelas necessidades dos cidadãos.

O político espiritualizado resiste a interesses suspeitos, à compra de votos, ao passeio oportunista por partidos e à fragmentação dos mesmos. À luz da espiritualidade, política corrupta é recorrer à desonestidade, ao favorecimento de grupos, a expedientes em favor da própria classe, a salários e privilégios exorbitantes. Pior ainda é manipular o poder como meio de compra para fins particulares em prejuízo do bem comum.

Graças à espiritualidade na política, a vida dos cidadãos se revestirá de real segurança com harmonia e criatividade. O sentimento da pertença se desenvolve, a tal ponto que a promoção do bem-estar seja garantia de realização coletiva. Política e espiritualidade se tornam autênticas à medida que solidarizam as relações pessoais. Assim, os poderes Legislativo, Judiciário e Executivo, sintonizados, interagem e promovem o bem comum.

EXIGÊNCIA O comportamento dos seres é marcado pelo sentido. A partir desse – em vez de serem joguetes de simples interesses, aprendem a viver na pertença ao todo e com objetivos que visem ao bem comum. Em um desenvolvimento econômico, socialmente justo, é indispensável que prevaleça a solidariedade que ponha os detentores de poder a serviço do povo.

Espiritualidade é, essencialmente, ética: isto é, projeta-nos em direção aos outros em vista de uma sociedade harmoniosa com inclusão libertadora, responsável e promocional. Isso nos afasta do egoísmo e isolamento para cuidarmos do bem-estar coletivo, única garantia da realização pessoal estável. Ao cultivar espiritualidade, o político valoriza a saúde social, o equilíbrio na convivência como riqueza maior – objetivo da vida em sociedade.

ESSÊNCIA Um exercício interesseiro de poder – autopromocional e corrupto – troca valores por interesses, o que é crime nefando. Ao contrário, a espiritualidade aproxima as pessoas da realidade, humanizando-as em relações cidadãs. Nessa perspectiva, ela se faz escola de respeito, de compromisso e libertação, de solidariedade e transformação.

AMBIENTE SOCIALMENTE JUSTO Convivência justa e fraterna se constrói graças ao cultivo de espiritualidade. Sem ela, o viver se empobrece e o conviver – sob aspectos importantes – se torna contraditório e ameaçador. Daí, é só um passo para o legalismo e a corrupção reinarem soberanos. Até mesmo a religião só faz aumentar o número de excluídos, enquanto espiritualidade faz cuidar de vida com boa qualidade para número crescente de pessoas, uma vez que corrige mesquinhez no modo de ser e de relacionar. Em um clima de comunhão e participação, ela estimula e orienta – de forma ampla, profunda e estável – uma feição humanizadora na atuação do poder.

VANTAGENS A espiritualidade, de fato, educa no esforço de testemunhar a riqueza da presença e encontro, de integração e serviço, de respeito e renovação. Promove um modo eficiente de ser e agir, humaniza o conviver e supera o superficial do consumismo, servil, egoísta, instável e discriminatório. A espiritualidade imerge na realidade para confirmar sentimentos e valores, sonhos e atitudes, fazendo-nos lidar com desafios e nos dispondo a corrigir carências para o bem-estar geral. Ela nos faz atentos a sinais do tempo, que chegam como apelos a fim de que a autoridade se torne palavra viva, inspiração para justiça em prol de todos.

RIQUEZA MAIOR Ao promover o bem público pelo exercício da política – forma sublime do amor fraterno –, a espiritualidade sustenta os que partilham alegria ou tristeza, desânimo ou esperança. Ela os faz mergulhar, conscientes e generosos, em criativa cidadania, sensibilizando-os para o bem comum. Assim, a espiritualidade cumpre sua função, enquanto faz assumir, respeitar e fecundar o humano que é impregnado pelo comunitário.

O acesso a todos os bens essenciais da vida – saneamento básico, saúde e família, educação e trabalho, lazer e velhice digna – é garantia de uma convivência harmoniosa e benéfica. Sem espiritualidade não haverá autoridades responsáveis, nem cidadãos conscientes e participativos.

A espiritualidade enriquece nossa cidadania com dimensão acolhedora, perene e global. Graças a ela, o transcendente em nos se expressa de formas variadas no respeito aos cidadãos, às riquezas do país e ao exercício da política. Sigamos esse caminho e chegaremos, em um futuro próximo, reverenciar o “Deus em todos” por um Brasil economicamente desenvolvido, socialmente justo e fraterno.”
(FREI CLÁUDIO VAN BALEN é religioso da Ordem dos Carmelitas e pároco da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Belo Horizonte, e artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 12 de novembro de 2011, Caderno PENSARBRASIL, páginas 10 e 11).

Mais uma IMPORTANTE e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 20 de novembro de 2011, Caderno INTERNACIONAL, página 23, de autoria de PAULO DELGADO, sociólogo, que foi deputado federal por seis mandatos, e que merece igualmente INTEGRAL transcrição:

“A vida do outro

Há alguma coisa interrompida na vida das nações que somente o resíduo de bondade que a humanidade tem não dá conta de resolver.

O primeiro Fórum Científico Internacional do Centro de Estudo Souq foi dedicado ao sofrimento urbano, direito e bom governo. Nascido de iniciativas sociais na periferia de Milão, em torno do trabalho desenvolvido pela Fondazione Casa della Caritá, presidida por Don Virginio Colmegna – que acolhe e assiste pessoas marcadas pelo mal-estar e angústia típicos de quem vive excluído nas grandes cidades –, o encontro reuniu experiências de todos os continentes. Girou em torno de alguns desafios: o sofrimento urbano, direito dos imigrantes, vida nos asilos, toxicodependência e o futuro dos jovens, desemprego, preservação dos valores coletivos, possibilidades de um governo técnico, político e social das metrópoles, restituição da consciência de cada um sobre a dignidade dos outros.

A população urbana cresceu exageradamente nos últimos anos e já se aproxima, ou ultrpassa, 50% da população total dos países, onde a maioria das pessoas vive na periferia. Benedetto Saraceno, psiquiatra genovês, que foi diretor por 12 anos do Departamento de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da Organização Mundial da Saúde (OMS), afirma que, “de fato, a cidade por meio de sua representação pública, e seus serviços às pessoas, e suas instituições, pode conviver de um modo dramaticamente cúmplice e irresponsável com os aspectos mais atrasados do medo e do processo de expulsão dos pobres, doentes, velhos, desempregados, drogados, jovens marginalizados”. Ninguém conseguirá praticar um bom governo nas cidades se não reunir todos os protagonistas de sua agitada dinâmica: agentes públicos, sociedade civil, organizações privadas e, especialmente, os mais diretamente interessados da comunidade urbana, que são os esquecidos e marginalizados, sem cidadania ativa.

O sofrimento urbano não pode ser enfrentado de forma exclusivamente sanitária ou visto como fragilidade psicossocial de seus habitantes. É certo que a cidade produz sofrimento na forma de doença mental. Mas é errado achar que a culpa é da má performance cerebral da vítima do desamparo. Pois existem outras patologias urbanas, que vão da exclusão à estigmatização, da marginalidade à vulnerabilidade. Formas contíguas, mas diferentes. São responsabilidades diversas, transversais, que descrevem, reescrevem e inscrevem a realidade complexa na ideia e desejo de uma cidade viva, participativa e hospitaleira. O mundo talvez não se dê conta de que a maioria das cidades é cada vez mais poluída, fortificada, hospitalar e asilar. Isso sem contar a existência de verdadeiras cidades escondidas onde vivem as pessoas em pobreza extrema, abandonadas e que sofrem muito mais. As respostas repressivas aos problemas da marginalização agravam a discriminação e se tornaram parte inseparável – já insuperável em muitos países – de sua compreensão.

Os estudos sobre o fenômeno urbano demonstram que boas políticas sociais e ambientais podem aumentar a qualidade e a esperança de vida para todos. Permanece, no entanto, a impiedade da regra urbanística: a esperança de vida em um bairro rico de Liverpool é a mesma do bairro rico de Nairóbi. Mas, se a comparação for entre os bairros pobres das duas cidades, os quenianos são, evidentemente, mais pobres. O que reforça a necessidade de sempre associar democracia com justiça e oportunidade de mobilidade social, em qualquer parte do mundo.

Apesar dos muitos problemas, o certo é que em todas as cidades onde a população é convocada para ações públicas e boas práticas de intercâmbio social tem sido possível superar a frustração. Desde que com base em propostas com desempenho conhecido, exemplos e evidências claras e não produtos prontos e impostos. É necessário também que esteja no horizonte a certeza da continuidade dos serviços e das ações. Assim é possível vislumbrar a criação de instituições que preservem a convivência e um certo modo de relação e valorização da identidade. E que sejam capazes de compreender o comportamento considerado desviante. Entender a força da diferença que distingue todos os seres humanos ajuda mais do que ocupar-se com as fraquezas que possam conter cada um.

Todas as experiências apresentadas pelos 32 relatores – especialistas e operadores sociais dos cinco continentes – nos três dias da conferência promovida pelo Souq em Milão estão centradas em dois princípios universais mas que andam meio esquecidos: todos têm o direito de não sofrer; todos têm o direito de experimentar a paz em suas vidas.

Muitos desafios enfrentam as cidades e já é hora de repensar o modo de governá-las e habitá-las. Onde não seja tolerado o direito débil, a cidadania frágil ou negada, a solidão induzida pelas políticas habitacionais e urbanísticas insanas, a mercantilização de cada ato sem sentido da vida diária. Um estatuto antropológico das cidades pode diminuir o custo carregado da solidão urbana, em que cada um permanece longe e indiferente à vida do outro.”

Eis, pois, mais páginas contendo RICAS, PEDAGÓGICAS, CONTUNDENTES e OPORTUNAS abordagens e REFLEXÕES que acenam para a IMPERIOSA e URGENTE necessidade de PROFUNDAS e RADICAIS transformações no PENSAR, PERCEBER, SENTIR e AGIR de TODOS os nossos PROTAGONISTAS: “agentes públicos, sociedade civil, organizações privadas e, especialmente, os mais diretamente interessados da comunidade urbana, que são os esquecidos e marginalizados, sem cidadania ativa.”...

E, nesta hora, mais do que nunca, nos cabe o EMPENHO MONACAL na PROBLEMATIZAÇÃO de questões CRUCIAIS como:

a) a EDUCAÇÃO – UNIVERSAL e de QUALIDADE, como PRIORIDADE ABSOLUTA de nossas POLÍTICAS PÚBLICAS;
b) a INFLAÇÃO, a exigir PERMANENTE e DIUTURNA vigilância;
c) a CORRUPÇÃO, que campeia por TODAS as esferas da vida NACIONAL, dilapidando nossos PATRIMÔNIOS e nossa CONFIANÇA:
d) o DESPERDÍCIO, em TODAS as suas MODALIDADES;
e) a DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA, já consumindo anualmente o montante ASTRONÔMICO de R$ 200 BILHÕES, o que CLAMA por uma TRANSPARENTE e AUSTERA e ampla AUDITORIA..

Assim, pois, é INÚTIL lamentarmos a FALTA de RECURSOS diante de TANTA e contínua SANGRIA...

Mas NADA, NADA mesmo, ABATE o nosso ÂNIMO nem ARREFECE o nosso ENTUSIASMO e OTIMISMO nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, QUALIFICADA, DEMOCRÁTICA, LIVRE, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que possa PARTILHAR suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS, OPORTUNIDADES e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos para EVENTOS como a CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS (RIO + 20) em 2012; a 27ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE NO RIO DE JANEIRO em 2013; a COPA das CONFEDERAÇÕES de 2013; a COPA DO MUNDO DE 2014, a OLIMPÍADA DE 2016, as OBRAS do PAC e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO 21, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INFORMAÇÃO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um NOVO mundo, da PAZ, da IGUALDADE – e com EQUIDADE –, e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...