“Educação,
pandemia e juventude
Hoje proponho uma
reflexão acerca dos rumos que estamos dando à educação no Brasil e o que, de
fato, desejamos de nossa atual juventude em sua maturidade. Com base em recente
pesquisa divulgada em 23 de junho, pelo Conselho Nacional da Juventude
(Conjuve), cerca de 28% dos jovens entre 15 e 29 anos pensam em deixar os estudos
quando as escolas reabrirem. No caso das faculdades, que ofertam períodos
semestrais ou trimestrais, essa realidade poderá chegar bem antes.
Do ponto
de vista econômico, esse cenário é trágico, pois enfraquece ainda mais as
perspectivas de jovens e adolescentes quanto ao futuro profissional. No que
tange à educação, compreendida como instrumentalização moral, técnica e ética
para a vida, temos um déficit ainda maior, uma vez que uma grande parcela é
deixada à margem da história pelas desigualdades da exclusão digital.
Reconhecer
a história das desigualdades no Brasil passou a ser um discurso comum e, muitas
vezes, banalizado, principalmente por aqueles que querem parecer “politicamente
corretos” sem, em contrapartida, realizar nada para transformar essa realidade.
Frases como “o Brasil é um país do futuro” e “a juventude é o futuro da nação”
têm sido repetidas por décadas e até séculos, sem que esse famigerado futuro se
torne presente.
Esse
cenário que se arrasta e que arrasta os jovens das classes menos privilegiadas
economicamente, somado ao inusitado da pandemia que vivemos, faz surgir para os
estudantes dos ensinos médio e superior uma névoa quase intransponível sobre
suas expectativas futuras. Sentimentos que deveriam ser comuns para a juventude,
como, por exemplo, alegria, liberdade, esperança e busca de aventuras, são
substituídos pelo tédio, medo, ansiedade e impaciência.
A
pesquisa realizada pelo Conjuve evidencia o que muitos sabem e poucos realizam:
nossos adolescentes e jovens estão “gritando” por apoio das instituições
governamentais. O Estado precisa construir uma base sólida que garanta
políticas públicas eficazes para acolher, apoiar e incluir esses indivíduos em
uma realidade que não pode ser mudada.
Dados
como o divulgado pela diretora da Unesco no Brasil, Marlova Noleto, de que 258
milhões de jovens estão excluídos do sistema educacional não podem ser
recebidos como meros números estatísticos que vão abrilhantar teses acadêmicas
ou projetos audaciosos que não saem do papel. É preciso que as instituições
verdadeiramente comprometidas com a educação sejam incentivadas por políticas
governamentais a implementar e ampliar ações que minimizem os abismos sociais e
educacionais já conhecidos.
Curiosamente,
dos 33.688 jovens entrevistados pela pesquisa Conjuve, em todos os Estados da
Federação, no período de 15 a 31 de maio, 44% destacam a necessidade de
valorização dos educadores; 46% reconhecem a importância da ciência para o
mundo, e 48% acreditam que devemos ter mais atenção nas relações humanas e de
solidariedade.
Os
principais medos vividos por esses jovens estão relacionados à perda de entes
queridos (75%) e ao receio de serem infectados (48%) ou de infectarem alguém
(45%). Eles também acreditam em novas formas de estudar, apesar de 50% desses
entrevistados não estarem certos se vão realizar as provas do Enem e 28%
estejam cogitando a ideia de abandonar as escolas.
Como
pode ser avaliado, ainda, pelos dados da pesquisa do Conjuve neste momento em
que o ensino presencial passou a ser remoto, apenas 54% dos jovens negros
possuem acesso à internet, contra 78% dos mesmos jovens brancos; 70% dos jovens
estão emocionalmente abalados com as incertezas do futuro; e 60% dos
entrevistados acreditam ser necessário que as escolas desenvolvam atividades
para os auxiliarem a lidar com as emoções e gerir melhor seu tempo e
organização das atividades.
Por fim,
ouso afirmar, obviamente respaldada em parte pelo educador Paulo Freire, que as
instituições devem promover uma prestação de serviços educacionais capaz de
aliar qualidade, compromisso e respeito às especificidades do educando; os
educadores devem discutir saberes fundamentais à prática educativa-crítica e
moderna, sempre em sintonia com a realidade dos alunos; e ao Estado cumpre a
tarefa de garantir, por meio de políticas e investimentos, o desenvolvimento e
a inclusão da juventude no melhor cenário de uma nação que se pretende
futurista.”.
(Cida Vidigal.
Educadora e coordenadora do curso de direito da Faculdade Batista, em artigo
publicado no jornal O TEMPO Belo
Horizonte, edição de 1 de julho de 2020, caderno OPINIÃO, página 15).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
8 de junho de 2020, caderno A. PARTE,
página 2, de autoria de VITTORIO MEDIOLI,
e que merece igualmente integral transcrição:
“A
vergonha
Quando me mudei de
continente, há 44 anos, tive que escolher muito bem as coisas que levaria na
mala, de apenas 20 kg. Somente o essencial, e nela entrou o texto de uma prece
singela, publicada em 1887, atribuída ao cacique Sioux Yellow Lark, doado a mim
por uma pessoa muito importante na escolha de mudar, a mais difícil de minha
vida. Num papel amarelado pelo tempo, ainda dobrado no passaporte que aqui me
trouxe, em 1976, limpando gavetas, eu a li hoje com emoção. Seja pelos
sentimentos expressos, seja pelas lembranças da ruptura com planos e sonhos de
infância, especialmente acalentados pelos meus pais.
Repetiria
a escolha, sem dúvida e sem qualquer arrependimento. Acredito que Deus me deu a
inspiração certa para embarcar no destino que me aguardava.
A prece
sinaliza que existem forças superiores que unem a humanidade, independentemente
dos estudos, da cultura, da cor da pele e do país de nascimento. Sempre que a
leio, imagino o cacique, “Pássaro Amarelo”, olhando, ao entardecer, para um
ponto indefinido entre a planície e um céu vergado de cores, clamando a Deus:
“Ó
Imenso Espírito, cuja voz sinto nos ventos/
e
cujo respiro dá vida ao mundo todo,/ouve-me./
Prostro-me
frente a Ti, um dos tantos filhos Teus,/
insignificante
e frágil./
Preciso
da Tua força, da Tua sabedoria./
Permite-me
caminhar entre as coisas belas/
e
deixa que meus olhos admirem/
o
pousar do sol vermelho e ouro./
Faz
que minhas mãos respeitem/
o
que Tu criaste,/
e
meus ouvidos sejam preparados/
para
ouvir a Tua voz./
Deixa-me
sábio, de forma que eu reconheça as coisas/
que
Tu ensinaste ao meu povo,/
as
lições que escondeste em cada folha,/
em
cada rocha./
Procuro
força, não para ser superior aos meus irmãos,/
mas
para ser preparado a combater/
o
meu maior inimigo: eu mesmo./
Deixa-me
sempre pronto para retornar a Ti,/
com
mãos limpas e olhos francos,/
de
forma que, quando a minha vida se findar/
como
a luz no ocaso,/
o
meu espírito possa chegar a Ti/
sem
qualquer vergonha”.
Nada mais para dizer,
quase tudo que um homem precisa ser.
Contudo,
para eliminar a incômoda presença dos índios na América, levou-se a cabo um
genocídio com a narrativa de que os povos indígenas eram uma ameaça grave para
os colonizadores, e não o contrário.
Na tribo
vivia-se sem dinheiro e sem complicações, regidos apenas pelo bom senso, por
leis naturais, aquelas que o cacique Sioux pedia ao Supremo para poder
compreender em seu íntimo, respeitar e usar para o bem o de seu povo.
A
humanidade acelerou-se vertiginosamente. Estonteia pensar que o número de seres
humanos sobre a Terra em apenas 70 anos triplicou, e nós fazemos parte desse
fenômeno incrível.
O
desenvolvimento que conseguimos em tão breve tempo remete ao mito de Ícaro, a
pandemia em curso pode ser o ponto em que as asas entram em combustão ao se
aproximar do sol tão cobiçado.
Guerras,
sofrimento, extermínios, embora fossem “necessários” para adquirir o
desenvolvimento atual, custaram o esquecimento da “vida” singela e feliz, como
era no começo.
Ver nos
dias atuais os “caciques civilizados” se digladiando, no momento que
recomendaria a união, a sabedoria, o esquecimento de diferenças, deixa a prece
do líder Sioux como uma oportuna leitura.
Como
poderão se reunir com o Supremo sem sentir vergonha de suas atitudes?”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas,
civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 130 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da
democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b) o combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em abril a estratosférica marca de
313,43% nos últimos doze meses, e a taxa
de juros do cheque especial chegou ainda em históricos 119,32%; e já o IPCA, em
maio, também no acumulado dos últimos doze meses, chegou a 1,88%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária
ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da
Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor,
de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é
cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 518
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos
e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, à falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c) a dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para
2020, apenas segundo o Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos
Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$
1,651 trilhão (44,79%), a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,004 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega,
do direito e da justiça:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente, competente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).
Destarte,
torna-se absolutamente inútil lamentarmos
a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela excelência
educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de
infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à
luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização
das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
58 anos
de testemunho de um servidor público (1961 – 2019)
-
Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas ...
- Por
uma Nova Política Brasileira ...
- Pela
excelência na Gestão Pública ...
- Pelo
fortalecimento da cultura da sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares
do desenvolvimento integral: econômico; social, com promoção humana, e,
ambiental, com proteção e preservação dos nossos recursos naturais ...
- A
alegria da vocação ...
Afinal, o Brasil é uma águia pequena que já ganhou
asas e, para voar, precisa tão somente de visão olímpica e de coragem! ...
E
P Í L O G O
CLAMOR
E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO
“Oh! Deus, Criador, Legislador e Libertador, fonte de
infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e não está ficando, pedra sobre
pedra
Dos impérios edificados com os ganhos espúrios,
ilegais, injustos e
Frutos da corrupção, do saque, da rapina e da
dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim! Eternamente!”.