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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A CIDADANIA, A CORRUPÇÃO, A DEMOCRACIA, A SAÚDE E A PAZ (51/9)

(Setembro = mês 51; Faltam 9 meses para a Copa do Mundo)

“A corrupção política e o Estado democrático de direito
        
         Há uma dificuldade em traduzir o significado de Estado democrático de direito por se tratar de uma expressão polissêmica. Não obstante, com base na evolução histórica humana, é possível atribuir a ela contornos ideais, principalmente,  a partir da formatação do Estado liberal, ora efetivada com o ciclo das revoluções inglesa, francesa e norte-americana, embora sem a preocupação com cortes epistemológicos destoantes de uma contextualização histórica mais uniforme.
         O Estado democrático de direito pode, portanto, ser identificado como modelo sustentado pelos pilares do Estado de direito, da República e da democracia que deram ensejo à fixação de três reinos distintos: os reinos da legalidade, da responsabilidade e da soberania popular militante.
         A consagração dos reinos revelados no curso da identificação das bases estruturais do Estado democrático de direito, enquanto modelo ideal, permite concluir que o agente público hoje, e com muito mais razão o agente político, está obrigado a nortear sua vida funcional e privada de acordo com o espírito desse apanhado evolutivo.
         Esse espírito revela padrões de condutas e obrigações atreladas ao modelo ideal que não podem ser legitimamente distorcidos, como a submissão dos agentes políticos, enquanto servidores do povo, a um tratamento mais invasivo, a uma prestação de contas mais incisiva e diária, etc., algo diverso do que tem ocorrido.
         Em que pese a identificação do modelo ideal cogitado, a realidade tratou de formatar a desconstrução das bases trazidas, em especial, por força da corrupção política que se reflete sobre a crise da efetividade dos direitos fundamentais, a consagração do fenômeno da constitucionalização simbólica, a manutenção de um estado de exceção permanente, a crise da representação política, o rompimento dos mecanismos de freios e contrapesos e mesmo a contaminação do iter pré-comunicativo da via jurídico-filosófica.
         Vê-se nitidamente que a corrupção política, definida como a espécie de corrupção praticada por agentes políticos, estende seus tentáculos sobre a dinâmica estatal de modo até mesmo a legalizar-se e a constitucionalizar-se. Passa a ser legal e constitucional, por exemplo, o que não conflita com o sistema de direitos e garantias já consagrado aos agentes políticos.
         O agente político norteador da corrupção política, assumindo a condição de dono da coisa pública e colocado em um pedestal quase inalcançável  em razão dos direitos e garantias que lhe são direcionados em nome do velho discurso da preservação das funções desempenhadas, passou a espoliar o seu patrão, o povo, sem a contrapartida da responsabilização adequada e a direcionar o sistema jurídico para o acolhimento de mecanismos de alimentação do jogo de poder como a opção pela fragilização da participação popular (por exemplo, a dificuldade de cumprimento dos requisitos de apresentação de um projeto de lei de iniciativa popular) e a opção pela adesão a mecanismos burocráticos de processamento (a Lei 8.039/90 pode ser um exemplo).
         A corrupção política passou a ditar as regras do processo político-eleitoral, do processo legislativo e não deixou de ser implementada na seara da aplicação das normas que se materializa na interpretação constitucional como instrumento de reprodução do status quo e de impedimento de seu efetivo combate.
         A corrupção em questão merece ser estudada por meio da projeção de uma pirâmide imaginária, da cúpula para a base, em que, no seu ápice, encontra-se a figura do agente político e, nas suas linhas sequenciais até a base, os outros agentes públicos e os particulares.
         Nenhum estudo sério sobre a corrupção, política ou não, pode descuidar-se da figura dos agentes políticos, dado que estes, como norteadores das decisões centrais de um Estado, nos moldes de definição do direito administrativo, detêm os instrumentos de controle nas mãos e também precisam ser mais controlados.
         O controle da corrupção praticada por agentes políticos, por certo, ainda geraria uma reação em cadeia que repercutiria no tratamento da corrupção como um todo (se a cúpula do Estado não tem regalias, a base não vai estar autorizada a ter).
         Mais ainda, a situação atual, em especial a brasileira, reflete, na realidade, a existência de dois ordenamentos jurídicos. Um aplicado ao povo e agentes públicos de escalões inferiores e o outro aos agentes políticos, pelo que se pode que a corrupção política ou não será tanto mais gradualmente controlada quanto mais quanto mais as incursões democráticas lograrem aproximar-se as distâncias entre os dois ordenamentos jurídicos apontados.”

(FABIANO FERREIRA FURLAN. Promotor de Justiça, doutor em direito público, mestre em direito empresarial, autor do livro A corrupção política e o Estado democrático de direito (Arraes Editores), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 30 de agosto de 2013, caderno DIREITO & JUSTIÇA, página principal).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo e edição, caderno OPINIÃO, página 11, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Saúde e paz
        
         Há 70 anos, morria o bem-aventurado padre Eustáquio. Sua memória é especialmente celebrada neste dia, 30 de agosto. À luz da fé cristã, no horizonte da ressurreição de Cristo, a morte é o dia do nascimento definitivo para a vida em Deus. Concluída a vida nesse tempo da história, passa-se para a vida definitiva, cumprimento da promessa que Jesus faz ao dizer que Ele é a ressurreição e a vida e quem n’Ele crê não morrerá jamais. A experiência da morte, existencialmente sempre um grande desafio, não é estágio definitivo. A morte e ressurreição de Cristo, salvador e redentor, são garantias desse nascimento para a vida na plenitude do amor de Deus.
         O bem-aventurado padre Eustáquio, missionário da Congregação dos Padres dos Sagrados Corações, tornou-se um grande dom de Belo Horizonte. A capital é a cidade de padre Eustáquio. Seu legado espiritual e sua força missionária o configuram como verdadeiro patrimônio espiritual de seus devotos, especialmente em toda a Minas Gerais. A igreja de padre Eustáquio, no Bairro Padre Eustáquio, na verdade a igreja da Paróquia dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, é o lugar dessa  grande referência e desse importante patrimônio espiritual.
         O legado do bem-aventurado padre Eustáquio está condensado no dito “saúde e paz”, frase de riqueza significativa e grande alcance. Por isso, o dia de hoje é especial e se expressa, particularmente, na presença de milhares de peregrinos na igreja de padre Eustáquio, consolidando sua vocação de verdadeiro santuário da saúde e da paz. Saudar o outro, como padre Eustáquio fazia e deixou como herança, é mais forte que qualquer cumprimento convencional. Trata-se de um compromisso com esses votos que são bens fundamentais na existência de cada pessoa.
         A missão do bem-aventurado padre Eustáquio, exercida nas ruas da capital mineira, de casa em casa, na ida permanente ao encontro dos pobres e enfermos, na igreja conhecida de todos pela referência ao seu nome e ações solidárias, é uma herança que merece ser cada vez mais valorizada. E sua ação missionária em favor da saúde e da paz não pode ser entendida simplesmente como solução para a necessidade de algum milagre buscado, considerando a própria condição de saúde. Na verdade, inclui a certeza de que o bem aventurado, na presença de Deus, intercede por todos e, especialmente, pelos que lhes devotam reverência.
         Padre Eustáquio, missionário da saúde e da paz, condensa uma compreensão em torno dos bens mais essenciais para a vida. Com saúde, tem-se as condições para poder exercer a cidadania civil e eclesial, com as exigências próprias da fé. Por isso mesmo, a reverência respeitosa e comprometida com os enfermos, nas instituições de saúde e no seio de nossas famílias, é inegociável. A nobre reverência aos doentes, desdobrada em cuidados, atenção e presença, dos familiares, amigos e vizinhos, compromisso ético dos profissionais da saúde, é um dom espiritual e um tesouro humanístico. Inscreve-se nesse horizonte o compromisso cidadão por uma saúde pública sistematizada de modo mais eficiente. Também inclui o cuidado com a própria saúde, revendo hábitos e redefinindo dinâmicas para a vida cotidiana.
         Junto com a saúde, a paz deve configurar programas de vida, pessoal, familiar e cidadão. Sua falência, desde o âmbito da relação interpessoal, até aqueles das relações institucionais e entre nações, é o mais terrível caos no horizonte da história. E o tesouro da paz só se conquista como fruto da justiça e da caridade. É um valor e um dever universal, fonte primária do ser, bem supremo e essencial. A conquista da paz e a busca por saúde exigem uma educação permanente para vivências que garantam o equilíbrio, o diálogo construtivo e participativo, além do apurado sentido de cidadania.
         Assim, a herança do bem-aventurado padre Eustáquio, com a luz da fé, enriquece a educação para essas duas fundamentais dimensões da vida. É o legado desse missionário que marcou a história cresce no gesto nobre, terno e comprometedor, de saudar cada um, assim como fazia padre Eustáquio, desejando saúde e paz.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (por exemplo, como noticiado pela mídia, “empresas de diversos setores da economia deixam pelo caminho boa parte do que poderia ser revertido em mais desenvolvimento para o país. Em média, 13% das receitas brutas das companhias são perdidos no transporte de produtos, prejuízo calculado em US$ 83,2 bilhões por ano - R$ 195,7 bilhões –, conforme pesquisa da Fundação Dom Cabral.);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; sistema financeiro nacional; turismo; esporte, cultura e lazer; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso  ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...