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sexta-feira, 28 de março de 2014

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO NECESSÁRIA E UM OLHAR SOBRE O GOLPE DE 1964

“A educação necessária
        
         Falar sobre a necessidade de educação no Brasil de hoje é chover no molhado. Nos últimos anos, esse parece ser um dos poucos consensos capazes de unir especialistas, autoridades e opinião pública: a educação é prioritária para a solução dos problemas do país e para a construção de uma rota de progresso.
         Mas, de fato, o que se tem feito nessa direção? Há, sim, conquistas inquestionáveis, como a ampliação  do acesso à educação, mas quase nenhum passo foi dado quanto à melhoria da sua qualidade e tampouco quanto ao envolvimento e à atração dos jovens para engajamento na educação. O que destaco neste artigo é fruto de 50 anos de observação na atividade de professor, consultor e “coach” em algumas das principais universidades e empresas do Brasil.
         Nesta época de deslumbramento com os avanços da tecnologia, costuma-se cada vez mais confundir educação com ensino. A tecnologia é mesmo fascinante e irresistível, mas devemos ter sobre ela um olhar crítico. Por seu impacto em nossas vidas, ela traz dilemas e questões éticas profundas, transforma costumes, valores e paradigmas de forma vertiginosa e favorece as ambições humanas.
         Esse contexto demanda sujeitos com autonomia intelectual e ética para pensar e atuar diante das transformações. Por isso, é preciso pensarmos nas escolas e universidades também como depositárias e formadoras de conhecimento e cultura e não apenas como centros de formação técnico-profissional.
         Ainda que as instituições de ensino, em grande parte por seu caráter comercial, apregoem seu objetivo de formação profissional, elas falham ao não perceberem que formar profissionais não é transmitir aos estudantes apenas e simplesmente conhecimentos técnicos para vestibulares ou para suas profissões.
         A competência dos profissionais de hoje não é medida só pelo conjunto de habilidades técnicas, mas também, e, em muitos casos, principalmente, pelos aspectos ditos comportamentais de seu desempenho, como relacionamento interpessoal, eficácia na comunicação e na persuasão, grau de comprometimento e motivação, empatia, empreendedorismo e iniciativa, criatividade e inovação, autogestão e controle emocional e habilidade de liderança e de trabalho em equipe.
         Este é o campo ideal e indispensável para a educação nas escolas: ensinar conceitos, difundir as descobertas e, acima de tudo, mostrar e demonstrar como utilizá-las de maneira prática e objetiva no desenvolvimento pessoal, em primeiro lugar,  no profissional, como decorrência.
         Obviamente, não se trata de substituir o ensino técnico-profissionalizante que temos hoje por uma educação para a vida e para a cidadania – o ensino técnico-profissional é cada vez mais importante e indispensável –, mas também abrir espaço para a educação, em seu sentido amplo.
         A solução é que cada escola, em todos os níveis, abrace esta responsabilidade: preparar cidadãos e seres humanos a enfrentar os desafios de hoje e de amanhã.”

(Antônio Walter de A. Nascimento. Psicólogo e professor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 25 de março de 2014, caderno O.PINIÃO, página 21).

Mais uma importante  oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 26 de março de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de FREI BETTO, escritor, autor de Cartas da prisão (Agir), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“O golpe
        
         São vivas minhas lembranças da quartelada de 1964. Desde 1962 eu trocara Belo Horizonte pelo Rio. Jânio Quadros, em agosto de 1961, havia renunciado à presidência da República. Jango, seu vice, tomou posse. O Brasil clamava por reformas de base: agrária, política, tributária etc. No Rio Grande do Sul, o deputado federal e ex-governador daquele estado, Leonel Brizola, cunhado de Jango, advertia sobre o perigo de um golpe de Estado.
         Em Pernambuco, Miguel Arraes contrariava usineiros e latifundiários e imprimia a seu governo um caráter popular. Em Angicos (RN), Paulo Freire gestava sua pedagogia do oprimido. O Movimento de Educação de Base (MEB) dava os primeiros passos apoiado pela ala progressista da Igreja Católica. A União Nacional dos Estudantes (UNE) multiplicava, por todo o país, os Centros Populares de Cultura (CPC).
         Novo era o adjetivo que consubstanciava o Brasil: cinema novo; bossa nova; nova poesia; nova capital. A luta heroica dos vietnamitas, o êxito da Revolução Cubana pela Baía dos Porcos (1961) inquietavam a Casa Branca. “A América para os americanos”, rezava a Doutrina Monroe. A maioria dos ianques não entende que está incluído no termo “América” todo o nosso Continente, mas só elas eram considerados “americanos”.
         Era precisa dar um basta à influência comunista, inclusive no Brasil. E tudo que não coincidia com os interesses dos EUA era tachado de “comunista”, até mesmo bispos como Dom Hélder Câmara, que clamava por um mundo sem fome. Foi apelidado de “o bispo vermelho”.
         Trouxeram dos EUA o padre Peyton, pároco de Hollywood. De rosário em mãos e bancado pela CIA, ele arrastava multidões nas Marchas da Família com Deus pela Liberdade. Manipulava-se o sentimento religioso do povo brasileiro como caldo de cultura favorável à quartelada.
         Em 13 de março de 1964, Jango promoveu um megacomício na Central do Brasil, no Rio, defronte o prédio do Ministério do Exército. Ali, ovacionado pela multidão, assinou os decretos de apropriação, pela Petrobras, de refinarias privadas, e desapropriação, para fins de reforma agrária, de terras subutilizadas. As elites brasileiras entraram em pânico.
         Em 31 de março, terça-feira, as tropas do general Olímpio Mourão Filho, oriundas de Minas Gerais, ocuparam os pontos estratégicos do Rio. Jango, após passar por Brasília e Porto Alegre, deposto da presidência, refugiou-se no Uruguai. Ranieri Mazilli, presidente da Câmara dos Deputados, assumiu o comando do país e, pressionado pelos militares, convocou eleições indiretas. A 11 de abril, o Congresso Nacional elegeu o marechal Castelo Branco presidente da República. Estava consolidado o golpe.
         A máquina repressiva começou a funcionar a todo vapor: Inquéritos Policiais Militares (IPM) foram instalados em todo o país; a cassação de direitos políticos atingiu sindicalistas, deputados, senadores e governadores; uma simples suspeita ecoava como denúncia e servia de motivo para um cidadão ser preso, torturado ou mesmo assassinado.
         Os estudantes e alguns segmentos da esquerda histórica resistiram nas ruas do Brasil. Foram recebidos a bala. A reação da ditadura acuou seus opositores na única alternativa viável naquela conjuntura: a luta armada. Em dezembro de 1968, o governo militar assina o Ato Institucional nº 5, suprimindo o pouco de espaço democrático que ainda restava e legitimando a prisão, tortura, o banimento, o sequestro e o assassinato de quem lhe fizesse oposição ou fosse simplesmente suspeito.
         Muitos são os sinais de que se vivia sob uma ditadura. Esse foi insólito: há no centro do Rio uma região conhecida como Castelo. E, na Zona Norte, um bairro chamado Muda (porque, outrora, ali se trocavam as parelhas de cavalos que puxavam os bondes que ligavam a Tijuca ao Alto da Boa Vista). Em 1964, no letreiro de uma linha de ônibus carioca, a indicação: Muda-Castelo. Os milicos não gostaram: o marechal viera para ficar. Pressionada, a empresa inverteu o letreiro: Castelo-Muda. Ficou pior. Cancelaram a linha.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileiras, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São gigantescos desafios, e bem o sabemos, mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, ética, justa, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. E ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...