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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A CIDADANIA, OS PROPÓSITOS CRIATIVOS PARA UM NOVO ANO E AS INFÂNCIAS NO PLURAL

“Dez propósitos para o Ano-Novo e para uma vida sempre criativa
Todo começo de ano é ocasião de se fazerem propósitos. São desafios que nos colocamos a nós mesmos para que a vida não seja repetitiva, mas criativa e, quem sabe, surpreendente. Alinho aqui alguns propósitos para alimentar a fantasia criadora de cada um.
1.Desenvolva em você a inteligência cordial, emocional e sensível. Inflacionamos a inteligência intelectual, sempre necessária, mas insuficiente. Deixada por si, produziu a solução final dos judeus (Shoah) e a Casa da Morte em Petrópolis sob o regime militar. A inteligência cordial enriquece a intelectual com o afeto, o amor e o cuidado, sem os quais perdemos nossa humanidade e não salvaremos a vida no planeta Terra.
2.Deus sempre vem misturado em todas as coisas. Onde houver algum gesto de amor, de solidariedade e de reconciliação, saiba que Ele está lá infalivelmente. Sem esses valores, Deus é apenas um nome.
3. De manhã, ao despertar, ou antes de recolher-se, faça uma pequena homenagem a Deus ou àquela energia amorosa e poderosa que nos sustenta. Não precisa dizer nada. Reserve aqueles poucos minutos para Ele e só para Ele. Se precisar, chore pelas demasiadas desgraças que ocorrem ou alegre-se por aquilo de bom que aconteceu.
4.Cada um é um projeto definido. Nada mais nos sacia plenamente. Passe pelas coisas, usufrua-as sem danificá-las, mas não se detenha nelas. Vá em frente e sempre além, pois somos caminhantes da vida, e somente um infinito sacia nossa sede e fome infinitas.
5.Deseje ser águia, que voa alto e livremente, quer dizer, tenha ideais e grandes sonhos. Mas não esqueça que deve ser também galinha, concreta e prudente, especialmente quando se trata de administrar os bens materiais e lidar com dinheiro. Aprenda quando deve ser águia e quando galinha. E saiba combinar sabiamente ambas.
6.Faça uma terapia em sua linguagem. Dizem-se tantos palavrões no falar cotidiano e nas redes sociais. No começo era a palavra. Ela tem força criadora e destruidora. Depende de você. Ela é “a ponte onde o amor vai e vem”, como cantam os cristãos das comunidades de base.
7.Você pode hoje se informar sobre tudo. Praticamente tudo se encontra na internet e no Google. Mas cuide em se formar para ter uma humanidade mais plena. Disse uma sábia filósofa judia: podemos nos informar a vida inteira sem nunca nos educar.
8. Quando entrar em casa, tome seu banho, descanse um pouco, não ligue logo a televisão ou consulte o Facebook ou leia os e-mails. Retire-se num canto, fique em silêncio. Agradeça a Deus pela vida. Pois nos dias atuais, com os riscos que corremos em cada esquina ou em cada canto, somos todos sobreviventes.
9.Resista à propaganda. Ela não pensa em você, apenas no seu bolso para fazê-lo um consumidor, e não um cidadão consciente. Assuma como projeto de vida a sobriedade compartida. Podemos ser mais com menos, por amor àqueles que pouco ou nada têm. Decida você mesmo o que comprar e quando comprar com plena liberdade e consciência.
10.Incorpore a ética do cuidado essencial: cuide de sua saúde, de sua família, de sua casa, de seus amigos, cuide do ambiente inteiro com o mesmo sentimento de são Francisco de Assis, que respeitava e amava a todos os seres como irmãos e irmãs, especialmente a Irmã água e a Mãe Terra. Perceberá aos poucos que todos os seres, também as montanhas, possuem um coração que pulsa como o seu. No fundo, você, sua casa e família, as pessoas, as paisagens, as montanhas, o céu estrelado, a Lua, o Sol e Deus constituem um único grande e generoso coração pulsante.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 9 de janeiro de 2015, caderno OPINIÃO, página 16).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 10 de janeiro de 2015, caderno PENSAR, página 2, de autoria de MARINA MARCONDES MACHADO, professora-adjunta do curso de teatro e da pós-graduação em artes da cena da Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, e que merece igualmente integral transcrição:

“INFÂNCIAS no plural
        Para alguns, “infâncias” no plural, em um breve texto escrito para um jornal, poderá causar estranhamento; para outros, já habituados ao que podemos denominar as “culturas da infância”, o plural não só faz muito sentido, como é indispensável. Para iniciar nossa contextualização, visitaremos um campo minoritário, mas potente; minoritário porque, longe das teorias do desenvolvimento infantil, nossa pensamento propõe abertura para a pluralidade dos pontos de vista. Nesse sentido, a “verdade” desenvolvimentista acerca da criança, a saber, o conhecimento das teorias fundadas na psicogênese e na biologia dos corpos categorizados por fases e faixas etárias, é um dos pontos de vista, ou uma noção de infância possível; no entanto, há outras – menos divulgadas, trilhas menos percorridas. Para contemplar o plural, visitaremos o viés filosófico.
         Nesta reflexão, comentaremos especialmente a contribuição do filósofo Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) para pensar a criança e a primeira infância. Poucos sabem que Merleau-Ponty lecionou na Sorbonne a cátedra de psicologia e pedagogia da criança, entre 1949 e 1952. Seu projeto era pensar a infância de modo culturalista, algo que, anos mais tarde, ocorreu de fato, por meio da inauguração de um campo de trabalho: pesquisa e ação da sociologia da infância.
         Já na metade do século 20, Merleau-Ponty apontava a necessidade de compreensão da criança a partir de seus mundos de vida, e não a partir de teorias adultas preconcebidas; fez então, em seus cursos na Sorbonne, uma elegante crítica ao desenvolvimentismo, especialmente às ideias de Jean Piaget, bem como à psicanálise de crianças, que florescia naquele momento histórico. Um dos cernes de sua crítica é negar a existência de um “mundo da criança” ou uma “concepção de mundo” advinda de sua psique; para que haja uma concepção de mundo, a criança precisaria estar distanciada, de modo a enxergar “seu mundo” e dizer algo sobre ele; Mara Merleau-Ponty, o pressuposto desta noção de representacionalidade de si e do mundo constituiu o grande erra psicologia científica. Não existiria algo como a “mentalidade infantil”.

EGOCENTRISMO O filósofo nos recoloca a questão, afirmando ser a criança mundocentrada, o que desmonta o conceito de egocentrismo e nos ensina que os primeiros anos se dão por meio de um mergulho em um estado não reflexivo, portanto vivencial. Sua noção de infância desestabiliza as teorias projetivas, do brincar ao desenho, da interpretação de discurso aos testes projetivos na prática da psicologia da criança; suas palavras-chave são: onirismo, polimorfismo e não representacionalidade, palavras que delineiam o modo de ser e de estar das crianças pequenas.
         Haveria um modo de compreender a infância que se conecta com o que a hermenêutica nomeou “via longa”: em uma chave não pragmática, não procuramos explicações, mas antes, compreensões; descrições dos estados e dos modos de ser das crianças, para perscrutar as relações criança-corpo, criança-outro, criança-mundo, criança-tempo, criança-espaço, criança-língua mãe. Essa atitude, observacional e descritiva, delineia uma fenomenologia da criança, inserida em uma perspectiva culturalista e existencial.
         Nesse modo de pensar e agir não existe “o bebê” ou a “criança de 1 ano”: existem Paulo, Antônia, Pedro Henrique, Natália... Quem são eles? Como vivem? Como brincam, como não brincam? Como se relacionam consigo mesmos, com os outros e com o mundo compartilhado? São essas as perguntas da chamada via longa, caminho de compreensão da criança e da infância.
         O cotidiano revelador desta abordagem é o esvaziamento de expectativas com o desenvolvimento por etapas ou faixas etárias, para, assim, proporcionar, adultos que somos, uma atmosfera relacional na qual a criança possa “ser o que ela é” – mas sem nunca deixá-la à deriva. Isso compactua com o que Winnicott (1896-1971) propôs aos adultos em geral: estar “presente e ausente”, concomitantemente, nas questões da maternagem inicial. A psicanálise inglesa, a partir da contribuição de Winnicott, tem semelhanças e elos com a fenomenologia da criança proposta por Merleau-Ponty; e na atualidade encontramos nos estudiosos da sociologia da infância esse tipo de abordagem compreensiva, para olhar para a criança e a infância a partir da vida mesma.

BRASIL Estudiosos brasileiros pensam e praticam essa aproximação entre a fenomenologia e a psicanálise. José Moura Gonçalves Filho, professor de psicologia da Universidade de São Paulo (USP), é um deles, pesquisador cujo tema de pesquisa é a humilhação social – importante contribuição para pensamento e ação junto aos cidadãos das classes menos favorecidas, conceito que trata da angústia vinculada ao impacto traumático da desigualdade de classes. José Moura é estudioso de Simone Weil (1909-1943) e seu trabalho sempre se orientou pela psicologia social de Ecléa Bosi.
         A filosofia continua nos brindando com novos modos de pensar a criança e a infância, na mesma conexão de prescindir de categorizações por faixas etárias, saltos desenvolvimentistas, adequações e inadequações, bem como metas de maturidade. A partir de Gilles Deleuze (1925-1995), por exemplo, pode-se trabalhar com a noção de “devir criança”, e podemos citar no Brasil os professores Walter Omar Kohan e Sílvio Gallo como pesquisadores que trabalham naquela perspectiva.
         Walter Kohan, em um de seus textos, aponta erros conceituais, ou riscos, da adesão a olhares para a infância localizados no senso comum: o idealismo ou romantismo frente às crianças, opção que naturaliza a criança e suas capacidades pensantes (dizer simplesmente “a criança é filósofa”, por exemplo); a mercantilização dos campos dos saberes e fazeres (na saúde, na educação, na indústria cultural); e a tendência ao dogmatismo e à moralização que um discurso filosófico que aproxima as crianças pode conter – mesmo que repleto de boas intenções.

FILOSOFIA Kohan publicou inúmeros livros (muitos pela Editora Autêntica, de Belo Horizonte) e um de seus campos de pesquisa acadêmica na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) é o ensino de filosofia para crianças. Já Sílvio Gallo trabalha na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e sua abordagem das intersecções entre pedagogia e a filosofia converge para uma assim chamada pedagogia libertária, na busca, segundo o professor, de “uma filosofia anarquista da educação”, em diálogo também com outro importante filósofo francês, Michel Foucault (1926-1984). O papel da educação, do ponto de vista de Gallo e seus pares, está justamente na construção coletiva da liberdade pela denúncia das injustiças e dos sistemas de dominação.
         Será portanto longe das teorias majoritárias que o leitor poderá trilhar conosco aquela mesma via longa – reflexiva, minuciosa, focada na criança e na infância (e não no adulto e suas teorias sobre ela) e situada –, pois nunca haveremos de esquecer: da pertença de todos, adultos e crianças, ao mundo vivido; de centrar-nos nas necessidades infantis de fato, aqui e agora; e de revisitar o fluxo cotidiano das relações adulto-criança, especialmente aquelas designadas por “relações de poder”.
         Quem são os adultos que convivem com Paulo, Antôia, Pedro Henrique, Natália...? Quais suas crenças e dizeres, afazeres e atitudes diante da criança que educam? Mas, afinal, educa-se simplesmente uma criança, ou se é, também, educado por ela, em uma via de mão dupla, asfaltada pela contemporaneidade?”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País  no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches – a propósito, e mais uma vez, a revista VEJA desta semana traz fecunda matéria sob o título UMA BELA SINFONIA PUERIL: “ Nos três primeiros anos de vida de uma criança, o cérebro realiza mais conexões neurais do que na idade adulta. Um dos campos da medicina que mais avançam é o da investigação de como os estímulos podem exercitar os mecanismos mentais de um bebê...”; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, a agudíssima crise de dupla falta - água e energia elétrica...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!