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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A CIDADANIA, OS PROPÓSITOS CRIATIVOS PARA UM NOVO ANO E AS INFÂNCIAS NO PLURAL

“Dez propósitos para o Ano-Novo e para uma vida sempre criativa
Todo começo de ano é ocasião de se fazerem propósitos. São desafios que nos colocamos a nós mesmos para que a vida não seja repetitiva, mas criativa e, quem sabe, surpreendente. Alinho aqui alguns propósitos para alimentar a fantasia criadora de cada um.
1.Desenvolva em você a inteligência cordial, emocional e sensível. Inflacionamos a inteligência intelectual, sempre necessária, mas insuficiente. Deixada por si, produziu a solução final dos judeus (Shoah) e a Casa da Morte em Petrópolis sob o regime militar. A inteligência cordial enriquece a intelectual com o afeto, o amor e o cuidado, sem os quais perdemos nossa humanidade e não salvaremos a vida no planeta Terra.
2.Deus sempre vem misturado em todas as coisas. Onde houver algum gesto de amor, de solidariedade e de reconciliação, saiba que Ele está lá infalivelmente. Sem esses valores, Deus é apenas um nome.
3. De manhã, ao despertar, ou antes de recolher-se, faça uma pequena homenagem a Deus ou àquela energia amorosa e poderosa que nos sustenta. Não precisa dizer nada. Reserve aqueles poucos minutos para Ele e só para Ele. Se precisar, chore pelas demasiadas desgraças que ocorrem ou alegre-se por aquilo de bom que aconteceu.
4.Cada um é um projeto definido. Nada mais nos sacia plenamente. Passe pelas coisas, usufrua-as sem danificá-las, mas não se detenha nelas. Vá em frente e sempre além, pois somos caminhantes da vida, e somente um infinito sacia nossa sede e fome infinitas.
5.Deseje ser águia, que voa alto e livremente, quer dizer, tenha ideais e grandes sonhos. Mas não esqueça que deve ser também galinha, concreta e prudente, especialmente quando se trata de administrar os bens materiais e lidar com dinheiro. Aprenda quando deve ser águia e quando galinha. E saiba combinar sabiamente ambas.
6.Faça uma terapia em sua linguagem. Dizem-se tantos palavrões no falar cotidiano e nas redes sociais. No começo era a palavra. Ela tem força criadora e destruidora. Depende de você. Ela é “a ponte onde o amor vai e vem”, como cantam os cristãos das comunidades de base.
7.Você pode hoje se informar sobre tudo. Praticamente tudo se encontra na internet e no Google. Mas cuide em se formar para ter uma humanidade mais plena. Disse uma sábia filósofa judia: podemos nos informar a vida inteira sem nunca nos educar.
8. Quando entrar em casa, tome seu banho, descanse um pouco, não ligue logo a televisão ou consulte o Facebook ou leia os e-mails. Retire-se num canto, fique em silêncio. Agradeça a Deus pela vida. Pois nos dias atuais, com os riscos que corremos em cada esquina ou em cada canto, somos todos sobreviventes.
9.Resista à propaganda. Ela não pensa em você, apenas no seu bolso para fazê-lo um consumidor, e não um cidadão consciente. Assuma como projeto de vida a sobriedade compartida. Podemos ser mais com menos, por amor àqueles que pouco ou nada têm. Decida você mesmo o que comprar e quando comprar com plena liberdade e consciência.
10.Incorpore a ética do cuidado essencial: cuide de sua saúde, de sua família, de sua casa, de seus amigos, cuide do ambiente inteiro com o mesmo sentimento de são Francisco de Assis, que respeitava e amava a todos os seres como irmãos e irmãs, especialmente a Irmã água e a Mãe Terra. Perceberá aos poucos que todos os seres, também as montanhas, possuem um coração que pulsa como o seu. No fundo, você, sua casa e família, as pessoas, as paisagens, as montanhas, o céu estrelado, a Lua, o Sol e Deus constituem um único grande e generoso coração pulsante.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 9 de janeiro de 2015, caderno OPINIÃO, página 16).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 10 de janeiro de 2015, caderno PENSAR, página 2, de autoria de MARINA MARCONDES MACHADO, professora-adjunta do curso de teatro e da pós-graduação em artes da cena da Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, e que merece igualmente integral transcrição:

“INFÂNCIAS no plural
        Para alguns, “infâncias” no plural, em um breve texto escrito para um jornal, poderá causar estranhamento; para outros, já habituados ao que podemos denominar as “culturas da infância”, o plural não só faz muito sentido, como é indispensável. Para iniciar nossa contextualização, visitaremos um campo minoritário, mas potente; minoritário porque, longe das teorias do desenvolvimento infantil, nossa pensamento propõe abertura para a pluralidade dos pontos de vista. Nesse sentido, a “verdade” desenvolvimentista acerca da criança, a saber, o conhecimento das teorias fundadas na psicogênese e na biologia dos corpos categorizados por fases e faixas etárias, é um dos pontos de vista, ou uma noção de infância possível; no entanto, há outras – menos divulgadas, trilhas menos percorridas. Para contemplar o plural, visitaremos o viés filosófico.
         Nesta reflexão, comentaremos especialmente a contribuição do filósofo Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) para pensar a criança e a primeira infância. Poucos sabem que Merleau-Ponty lecionou na Sorbonne a cátedra de psicologia e pedagogia da criança, entre 1949 e 1952. Seu projeto era pensar a infância de modo culturalista, algo que, anos mais tarde, ocorreu de fato, por meio da inauguração de um campo de trabalho: pesquisa e ação da sociologia da infância.
         Já na metade do século 20, Merleau-Ponty apontava a necessidade de compreensão da criança a partir de seus mundos de vida, e não a partir de teorias adultas preconcebidas; fez então, em seus cursos na Sorbonne, uma elegante crítica ao desenvolvimentismo, especialmente às ideias de Jean Piaget, bem como à psicanálise de crianças, que florescia naquele momento histórico. Um dos cernes de sua crítica é negar a existência de um “mundo da criança” ou uma “concepção de mundo” advinda de sua psique; para que haja uma concepção de mundo, a criança precisaria estar distanciada, de modo a enxergar “seu mundo” e dizer algo sobre ele; Mara Merleau-Ponty, o pressuposto desta noção de representacionalidade de si e do mundo constituiu o grande erra psicologia científica. Não existiria algo como a “mentalidade infantil”.

EGOCENTRISMO O filósofo nos recoloca a questão, afirmando ser a criança mundocentrada, o que desmonta o conceito de egocentrismo e nos ensina que os primeiros anos se dão por meio de um mergulho em um estado não reflexivo, portanto vivencial. Sua noção de infância desestabiliza as teorias projetivas, do brincar ao desenho, da interpretação de discurso aos testes projetivos na prática da psicologia da criança; suas palavras-chave são: onirismo, polimorfismo e não representacionalidade, palavras que delineiam o modo de ser e de estar das crianças pequenas.
         Haveria um modo de compreender a infância que se conecta com o que a hermenêutica nomeou “via longa”: em uma chave não pragmática, não procuramos explicações, mas antes, compreensões; descrições dos estados e dos modos de ser das crianças, para perscrutar as relações criança-corpo, criança-outro, criança-mundo, criança-tempo, criança-espaço, criança-língua mãe. Essa atitude, observacional e descritiva, delineia uma fenomenologia da criança, inserida em uma perspectiva culturalista e existencial.
         Nesse modo de pensar e agir não existe “o bebê” ou a “criança de 1 ano”: existem Paulo, Antônia, Pedro Henrique, Natália... Quem são eles? Como vivem? Como brincam, como não brincam? Como se relacionam consigo mesmos, com os outros e com o mundo compartilhado? São essas as perguntas da chamada via longa, caminho de compreensão da criança e da infância.
         O cotidiano revelador desta abordagem é o esvaziamento de expectativas com o desenvolvimento por etapas ou faixas etárias, para, assim, proporcionar, adultos que somos, uma atmosfera relacional na qual a criança possa “ser o que ela é” – mas sem nunca deixá-la à deriva. Isso compactua com o que Winnicott (1896-1971) propôs aos adultos em geral: estar “presente e ausente”, concomitantemente, nas questões da maternagem inicial. A psicanálise inglesa, a partir da contribuição de Winnicott, tem semelhanças e elos com a fenomenologia da criança proposta por Merleau-Ponty; e na atualidade encontramos nos estudiosos da sociologia da infância esse tipo de abordagem compreensiva, para olhar para a criança e a infância a partir da vida mesma.

BRASIL Estudiosos brasileiros pensam e praticam essa aproximação entre a fenomenologia e a psicanálise. José Moura Gonçalves Filho, professor de psicologia da Universidade de São Paulo (USP), é um deles, pesquisador cujo tema de pesquisa é a humilhação social – importante contribuição para pensamento e ação junto aos cidadãos das classes menos favorecidas, conceito que trata da angústia vinculada ao impacto traumático da desigualdade de classes. José Moura é estudioso de Simone Weil (1909-1943) e seu trabalho sempre se orientou pela psicologia social de Ecléa Bosi.
         A filosofia continua nos brindando com novos modos de pensar a criança e a infância, na mesma conexão de prescindir de categorizações por faixas etárias, saltos desenvolvimentistas, adequações e inadequações, bem como metas de maturidade. A partir de Gilles Deleuze (1925-1995), por exemplo, pode-se trabalhar com a noção de “devir criança”, e podemos citar no Brasil os professores Walter Omar Kohan e Sílvio Gallo como pesquisadores que trabalham naquela perspectiva.
         Walter Kohan, em um de seus textos, aponta erros conceituais, ou riscos, da adesão a olhares para a infância localizados no senso comum: o idealismo ou romantismo frente às crianças, opção que naturaliza a criança e suas capacidades pensantes (dizer simplesmente “a criança é filósofa”, por exemplo); a mercantilização dos campos dos saberes e fazeres (na saúde, na educação, na indústria cultural); e a tendência ao dogmatismo e à moralização que um discurso filosófico que aproxima as crianças pode conter – mesmo que repleto de boas intenções.

FILOSOFIA Kohan publicou inúmeros livros (muitos pela Editora Autêntica, de Belo Horizonte) e um de seus campos de pesquisa acadêmica na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) é o ensino de filosofia para crianças. Já Sílvio Gallo trabalha na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e sua abordagem das intersecções entre pedagogia e a filosofia converge para uma assim chamada pedagogia libertária, na busca, segundo o professor, de “uma filosofia anarquista da educação”, em diálogo também com outro importante filósofo francês, Michel Foucault (1926-1984). O papel da educação, do ponto de vista de Gallo e seus pares, está justamente na construção coletiva da liberdade pela denúncia das injustiças e dos sistemas de dominação.
         Será portanto longe das teorias majoritárias que o leitor poderá trilhar conosco aquela mesma via longa – reflexiva, minuciosa, focada na criança e na infância (e não no adulto e suas teorias sobre ela) e situada –, pois nunca haveremos de esquecer: da pertença de todos, adultos e crianças, ao mundo vivido; de centrar-nos nas necessidades infantis de fato, aqui e agora; e de revisitar o fluxo cotidiano das relações adulto-criança, especialmente aquelas designadas por “relações de poder”.
         Quem são os adultos que convivem com Paulo, Antôia, Pedro Henrique, Natália...? Quais suas crenças e dizeres, afazeres e atitudes diante da criança que educam? Mas, afinal, educa-se simplesmente uma criança, ou se é, também, educado por ela, em uma via de mão dupla, asfaltada pela contemporaneidade?”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País  no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches – a propósito, e mais uma vez, a revista VEJA desta semana traz fecunda matéria sob o título UMA BELA SINFONIA PUERIL: “ Nos três primeiros anos de vida de uma criança, o cérebro realiza mais conexões neurais do que na idade adulta. Um dos campos da medicina que mais avançam é o da investigação de como os estímulos podem exercitar os mecanismos mentais de um bebê...”; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, a agudíssima crise de dupla falta - água e energia elétrica...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO! 
        


segunda-feira, 18 de julho de 2011

A CIDADANIA, A SAÚDE, A CIVILIDADE E A FELICIDADE

“Saúde do povo, descaso do Estado

O neoliberalismo deu um tiro de misericórdia no Estado de bem-estar social. Destruiu os vínculos societários nas relações de trabalho, deslegitimou a representação sindical, deslocou o público para o privado. O que era direito do cidadão, como a saúde, passou a depender das relações de mercado e da iniciativa pessoal do consumidor.

Quem não tem plano privado de saúde entra na planilha dos cemitérios. Hoje, 40 milhões de brasileiros desembolsam, todo mês, considerável quantia, convictos de que, doentes, serão atendidos com a mesma presteza e gentileza com que foram assediados pelos corretores das empresas de saúde privada.

Os clientes se multiplicam e os planos proliferam, sem que a rede hospitalar acompanhe essa progressão. O associado só descobre o caminho do purgatório na hora em que necessita de resposta do plano: laboratórios e hospitais repletos, filas demoradas, médicos escassos, atendentes extenuados.

Em geral, o pessoal de serviço, que contato imediato com os beneficiários, não demonstra a menor disposição para o melhor analgésico à primeira dor: gentileza, atenção, informação sem dissimulação ou meias palavras.

Ora, se faltam postos de saúde e hospitais; se consultórios têm salas de espera repletas como estação rodoviária em véspera de feriado; se na hora da precisão se descobre que o plano é bem mais curvo e acidentado do que se supunha... a quem recorrer? Entregar-se às mãos de Deus?

O Brasil é o país dos paradoxos. O que o governo faz com u’a mão, desfaz com a outra. O SUS banca 11 milhões de internações por ano. Muitas poderiam ser evitadas se o governo tivesse uma política de prevenção eficiente e, por exemplo, regulamentasse, como já faz com bebidas alcoólicas e cigarro, a publicidade de alimentos nocivos à saúde. A obesidade compromete a saúde de 48% da população.

Entre nossas crianças, 45% estão com sobrepeso, quando o índice de normalidade é não ultrapassar 2,3%. De cada cinco crianças obesas, quatro continuarão assim quando adultos. No entanto, as leis asseguram imunidade e impunidade a uma infinidade de guloseimas e bebidas, muitas anunciadas ao público infantil na TV e em outros veículos. Haja excesso de açúcares e gordura saturada.

A boa-fé nutricional insiste na importância de verduras e legumes. Mas a Anvisa (vigilância sanitária) não se empenha para livrar o Brasil do vergonhoso título de campeão mundial no uso de agrotóxicos. Substâncias químicas proibidas em outros países são encontradas em produtos vendidos no Brasil. Haja câncer, má-formação fetal, hidroencefalia etc!

Entre 2002 e 2008, os acidentes de moto se multiplicaram 7,5 vezes no Brasil. Na capital paulista, são 4 mortes por dia. No entanto, a fiscalização de veículos e condutores é precária e as vias públicas não são adaptadas ao tráfego de veículos de duas rodas.

Quem chega ao Brasil do exterior deve preencher e assinar um documento da Receita Federal declarando se traz ou não medicamentos. Em caso positivo, o produto e o passageiro são encaminhados à Anvisa. Ora, toneladas de veneno entram diariamente por nossos portos e aeroportos, e são vendidos em qualquer esquina: anabolizantes, energizantes, enquanto a TV veicula publicidade de refrigerantes com alto teor de cafeína e poder de corrosão óssea.

Embora todos saibam que saúde, alimentação e educação são prioritárias, o Ministério da Saúde dispõe de poucos recursos, apenas 3,6% do PIB, o que equivale, neste ano de 2011, a R$ 77 bilhões. Detalhe: em 1995 o governo FHC destinou, à saúde, R$ 91,6 bilhões. A Argentina, cuja população é cinco vezes inferior à do Brasil, destina anualmente duas vezes mais recursos que o nosso país.

Nossa saúde é prejudicada também pelo excesso de burocracia das agências reguladoras, a corrupção que grassa nos tentáculos do poder público (vide o prontuário da Funasa na sua relação com a saúde indígena), a falta de coordenação entre a União, os Estados e os municípios. Acrescem-se a mercantilização da medicina, a carência de médicos e sua má distribuição pelo país (o Rio tem 4 médicos por cada 1.000 habitantes: o Maranhão, 0,6).

Governo é que nem feijão, só funciona na panela de pressão. Se a sociedade civil não exigir melhorias na saúde, no atendimento do SUS, no controle dos planos privados e dos medicamentos (pelos quais se pagam preços abusivos), estaremos fadados a ser uma nação, não de cidadãos, e sim de pacientes – no duplo sentido do termo. E condenados à morte precoce por descaso do Estado.”
(FREI BETTO, é escritor, autor de Calendário do poder (Rocco), entre outros livros, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 26 de maio de 2011, Caderno CULTURA, página 10).

Mais uma IMPORTANTE e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 16 de julho de 2011, Caderno PENSAR, página 3, de autoria de INEZ LEMOS, que é psicanalista, e merece igualmente INTEGRAL transcrição:

“Civilidade e FELICIDADE

A obsessão do homem contemporâneo em consumir o torna escravo da tirania da felicidade. Isso impede o enfrentamento de questões como o fracasso e a necessidade de lidar com as frustrações

O dever de felicidade marca a nossa era e pauta o sentido de viver. Freud, em O mal-estar na civilização, nos lembra de que a felicidade é sempre uma aspiração, um desejo negociado entre os limites impostos pela cultura. Significa que, para viver bem, devemos aprender a renunciar às pulsões – domar os impulsos que insistem em nos comandar. Talvez aqui resida uma das questões-chave para atingir, senão a felicidade, pelo menos uma vida sintonizada com sonhos e convicções. Contudo, o que presenciamos, muitas vezes, é a desarmonia, desencontro entre o que gostaríamos de viver e o que vivemos. Lembramos que o compromisso do projeto civilizatório é com o progresso, não com a felicidade dos homens. Não faz parte do plano se ocupar com os aspectos subjetivos da humanidade.

Com a passagem do capitalismo de produção centrado no trabalho para o sistema de produção focado no consumo, é estratégico vender o ideal de felicidade como dever e obrigação. Logo, os mentores desse modelo de civilização perceberam que o caminho para o Éden deveria se tornar livre. Permitir e não coibir, eis a receita da promoção do gozo eterno. Assim, caso fraquejemos em nosso propósito de felicidade, toda a responsabilidade recai sobre nós. O furo está justamente na crença de que o caminho a percorrer é o estabelecido e propagado. Não é de bom tom expor infortúnios, assumir os fracassos. Demonstrar alegria se tornou sinônimo de polidez. A herança de Maio de 1968 culmina com a liberação para viver o desejo sem restrições. Na esteira do “é proibido proibir”, acabamos sob a tutela dos exploradores da libido – trocamos qualquer possibilidade de sofrimento pela tirania da felicidade. Esquecemos que o sofrimento salva a existência, como disse Simone Weil.

Aos insatisfeitos em relação à determinação maldita de felicidade, à sobrevida vegetativa a que estamos condenados, cabe desafiar a crença de que só há felicidade possível se seguirmos a humanidade consumista e moribunda. Como sair do que Henry Miller, num rompante agressivo contra a América, chamou de “o pesadelo refrigerado”? Ao nos submetermos à razão mercantil e corrosiva que destrói o sentido da vida, quando as coisas importantes não mais nos interessam e o que nos atrai são as coisas desimportantes, nos tornamos servos embriagados de falsa sedução. Escravos de mestres que nos querem assujeitados e fragilizados. Como testemunhou Raoul Vaneigem, um dos críticos de 1968: “Não queremos saber de um mundo em que a garantia de não morrer de fome deve ser trocada pela certeza de morrer de tédio”.

E agora, moçada, como resistir ao triunfo do consumismo se sabemos que ostentar objetos não é sinônimo de civilidade? Dirigimos carros importados e jogamos lixo na rua. Estacionamos em fila dupla – convictos de que esse é um direito, lançamos o olhar cínico da arrogância. Estimulamos a esperteza, adoramos nos sentir privilegiados e tratados com deferência. Detestemos a igualdade. Como conciliar grana com elegância, ética com poder?

O antropólogo Roberto DaMatta, em Fé em Deus e pé na tábua, ao analisar o comportamento competitivo do cidadão brasileiro, relaciona-o com as estruturas hierárquicas e concepções imobilistas – viés racista e aristocrático. “O cão do senador tem mais direitos que o do cidadão anônimo. Saber de quem é Rolex faz com que os policiais trabalhem com mais afinco e eventualmente o devolvam ao dono”, escreve ele. Não gostamos de obedecer às leis – a obediência nos coloca na posição de igualdade, enquanto a transgressão traz o gosto da superioridade, lugar diferenciado. Obediência à lei exprime subordinação social e revela confusão entre obedecer às pessoas e à lei. Geralmente, o cidadão de classe social elevada se sente humilhado quando coagido a se portar igual aos demais. Muitos se revoltam e agem com brutalidade. O uso da violência é visto como direito de muitos bacanões que dirigem alcoolizados e armados. O exercício da brutalidade nos remete ao passado escravista, que associava às posições de poder com o direito à agressão ao inferior. Para quem dirige um Porsche, pedestre não passa de Zé-ninguém.

Arrogância cínica é necessidade de se sentir superior e deflagra a superficial igualdade republicana – forte matriz aristocrática e hierárquica. “O carro é uma prova de que as pessoas existem concretamente no mundo como proprietários de personalidades, que, além de terem emoções e sentimentos abstratos, se afirmam material e indiscutivelmente nos objetos e por meio das coisas que possuem”, registra DaMatta. A democratização do consumo tem despertado ira entre as classes historicamente abastadas. Muitos se indignam com a ascensão social da classe C, que hoje circula motorizada, frequenta aeroportos, bons supermercados e universidades. Invade espaços anteriormente reservados aos bem nascidos. Se desigualdade social é incompatível com desenvolvimento, não deveríamos aplaudir tal acontecimento? Uma família com maior poder aquisitivo em mais chance de educar melhor os filhos. Desde que esta seja a prioridade: inserir a criança na civilização e nos bens culturais.

O Brasil nunca foi um país de leitores, o mercado editorial jamais esteve entre os mais rentáveis. Atualmente, seu crescimento realiza-se principalmente no gênero autoajuda. Cada vez mais, os letrados escasseiam. Lamentamos o crescimento econômico desvinculado do avanço cultural e educacional. Bombamos no bolso, mas não na cabeça. Contudo, o afã pelo consumo se tornou característica nacional e mundial. Os jornais noticiam: seja em Nova York ou em Paris, consumidores, debaixo da chuva, fazem fila para comprar o iPad 2, a nova versão do tablet.

Será que, quanto mais nos sofisticamos por fora, mais regredimos por dentro? É claro que essa equação não é direta e determinante. Mas, ao se tratar de cultura de massa, quando jovem (de periferia ou de Zona Sul) direciona a maior parte do salário para o consumo de bens supérfluos – gastos com telefonia celular, roupas, produtos de beleza –, ele registra nas escolhas sua posição. Muitos julgam absurdo gastar com livros e cursos, mas não se indignam em torrar dinheiro com grifes.

As vincularmos violência, empobrecimento intelectual e aumento de consumo, atribuímos à educação valor existencial e transcendental. Educar é estimular o interesse por maior densidade interior. A convivência excessiva com a matéria atravanca o mergulho nas entranhas – viagem pelos caminhos da interioridade. Outrora, a aquisição de um objeto era orientada pela necessidade. Os objetos apresentavam valor de uso. Hoje, são símbolos de poder e ostentação – ir às compras se tornou sinônimo de inteligência e entretenimento.

Sonhar com um objeto de consumo era tarefa árdua – que estratégia se deveria usar no convencimento dos pais? Mas se tornou comum os pais se renderem diante da primeira manifestação de desejo do filho por quinquilharias. Ao realizar o sonho rapidamente, a criança encerra o desejo e interrompe a viagem articulada à fantasia. O raciocínio perde o fio condutor, o elo entre desejo, pensamento e emoção. Quanto mais facilitarmos a vida das crianças, fazendo por elas e as impedindo do contato com o experimentar, menos elas entram em contato com a emoção, a inteligência e a criatividade. A erotização no saber se realiza quando o conhecimento nos chega vinculado a passagens subjetivas. Quando diz do sujeito e sua relação com o mundo. Sem Eros não teremos grandes pensadores.

Em Escritores criativos e devaneio, Freud aprofunda a discussão sobre a sublimação. Que destino daremos à renúncia pulsional? Como manter a posição desejante, uma vez que a civilização nos obriga a abrir mão de algumas satisfações? A arte é uma boa escolha na sustentação da pulsão, o que nos mantém vivos e estimulados. Contudo, podemos dar outros destinos à pulsão, traçar outros vínculos para os filhos, uma vez que a fonte do impulso criativo reside em alguma fantasia inconsciente. Buscamos, ao longo da vida, formas simbólicas que representem o objeto perdido – as experiências de satisfação que nos marcaram. Para que a criança entre em contato com a fantasia, ela requer um ambiente que propicie visitar alamedas subterrâneas.

“A relação entre a fantasia e o tempo é, em geral, muito importante (...) O trabalho mental se vincula a uma impressão atual, a alguma ocasião motivadora no presente capaz de despertar um dos desejos principais do sujeito”. Aqui, Freud nos ensina: na fantasia, o sonhador tenta reconquistar o que possuiu em sua infância feliz. A sublimação ajuda a suportar a dor e o vazio existencial. No devaneio, abandonamos a vida cáustica e ganhamos gratificação da incompletude. Tratar o caos interno com coisas belas é enlaçar, de forma erótica, o objeto de desejo – conferir alegria no fazer e no saber.”

Eis, portanto, mais páginas contendo RICAS, ORIENTADORAS e ADEQUADAS abordagens e REFLEXÕES que nos acenam para os GIGANTESCOS DESAFIOS que se nos colocam frente à TRAVESSIA para o mundo DESENVOLVIDO ... para a PRIORIDADE ABSOLUTA: A EDUCAÇÃO, que não pode ser outra senão de QUALIDADE e para TODOS...

Porém, NADA, absolutamente NADA, ABATE e ARREFECE o nosso ÂNIMO e o nosso ENTUSIASMO nesta grande CRUZADA NACIONAL,visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, QUALIFICADA, LIVRE, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que possa PARTILHAR suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS, OPORTUNIDADES e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos para eventos como a CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDADES SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVÁVEL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS (RIO + 20) em 2012, a COPA DAS CONFEDERAÇÕES em 2013, a COPA DO MUNDO de 2014, a OLIMPÍADA DE 2016, as OBRAS do PAZ e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO 21, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um NOVO mundo, da PAZ e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...