“Os governantes nacionais, regra geral, carecem de brilho. Falta-lhes espírito inventivo. Sobra-lhes uma gordura epidérmica, que os torna pachorrentos e inertes. Acostumam-se com rituais ensaiados nos Palácios por burocratas, puxa-sacos e carregadores de maleta. Afundam-se nos sofás acomodatícios, onde fazem que ouvem, prometem o que não podem, desdizem o dito, desmontam compromissos para desespero de cabos eleitorais, choramingas e prefeitos desassistidos. Governar, no Brasil, tem sido uma ação continuada de perpetuação de poder. E o pior é que a um pedido concedido ou a uma obra realizada, mesmo que relevante socialmente, se atribui o valor da generosidade governamental. Ou seja, ao povo se impôs a marca de devedor do Governo.
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Passam-se as administrações e as carências continuam as mesmas. Os diagnósticos são bem montados, as realidades bem definidas. O chão é intensamente irrigado na época das campanhas. Mas a semente plantada é pouca e fraca. Por isso, a safra dos atuais governadores é muito escassa em grãos”.
(GAUDÊNCIO TORQUATO, em artigo publicado no Jornal ESTADO DE MINAS de 26 de fevereiro de 1994, Caderno OPINIÃO, página 7).
Na mesma edição do Jornal ESTADO DE MINAS, mesmo Caderno e página, buscamos também outra IMPORTANTE contribuição de autoria de JÉSUS TRINDADE BARRETO, com INTEGRAL transcrição:
“Homens de ontem
Inconformado, irresistivelmente inconformado e revoltado com o terrível quadro aético deste nosso mundo político hodierno, quero, uma vez ainda, fazer minhas caras reminiscências, que, em sendo minhas, são as do povo igualmente, que sonha com a política respeitável e digna. Com a arte de gerir os povos e as coisas com o maior idealismo e os melhores propósitos, nunca, mas nunca mesmo, com a oportunidade dos negócios e o momento das vaidades tolas.
Política é assunto para gente pensante e modelar, e é por isso que dela se ocuparam imortais vultos da cultura universal, como, dentre tantos outros, Aristóteles, em “A Política”, e Platão, com “A República”. Em os nossos tempos, Benedetto Croce, o filósofo da estesia, igualmente dessa ciência da cidade ou questão dos civilizados, escreve pequeno mas interessante livro denominado “Aspectos Morais da Vida Política”.
Admitindo que muitos dos militantes políticos brasileiros, hoje em cena, jamais leram, e nem desejariam fazê-lo, tais obras, lembremo-nos de alguns de nossos políticos anteriores, com passagens edificantes de suas preciosas vidas. Anotemos e admiremos:
1 – Quando procuraram o ex-presidente Wenceslau Brás para que apoiasse a criação do Conselho de Ministros do Estado, a ser composto por ex-chefes da Nação, que seriam remunerados, ele desencorajou a idéia e declarou não lhe ficar bem receber dos cofres públicos, para tal.
2 – O ex-presidente Afonso Pena, criador da Faculdade de Direito, hoje UFMG, não concordou em receber honorários advocatícios do Estado de Minas Gerais, por serviços eficientes e vitoriosos, que lhe prestara, ao argumento de que fora presidente de Minas. Diante da insistência do Governo de então (Silviano Brandão), mandou reverter o dinheiro para a aquisição do lote em que se construiria a sede da Faculdade em Belo Horizonte, a nova Capital.
3 – O ex-presidente Artur Bernardes, num debate, na Câmara, quando do exercício de mandato de deputado: “Senhores, isto aqui não é assembléia de acionistas, mas o Parlamento do Povo”. Discutia-se a respeito de imensas e eternamente cobiçadas riquezas do nosso subsolo.
4 – O ex-presidente de Minas, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, recusou-se a receber o prêmio total da loteria do Estado, mandando revertê-lo ao erário público. É que o bilhete premiado lhe fora ofertado por amigos... (?).
5 – O ex-governador Milton Campos recusou e agradeceu, com delicadeza, ao presidente Castelo Branco, o convite para ser ministro do Supremo Tribunal Federal, cargo vitalício, dos mais bem remunerados do País. “Não posso aceitar, presidente, porque, em dois anos e pouco, cairei na aposentadoria compulsória...
6 – O ex-vice presidente da República, Pedro Aleixo, dos raros parlamentares que não aceitaram abusivo aumento de subsídio, retrucando a ferrenho adversário menos educado, que criticava o governo, de que era secretário, de ineficiente, de “braços cruzados”: “Vossa excelência não faz justiça a um dos mais dignos e nobres governos que Minas já teve. Saiba v. excia. que governar não é só fazer obras visíveis, às vezes mais para serem vista do que para real utilidade. Saiba, ainda, v. excia., que já faz bastante quem não alcança os cofres públicos e até ter os braços cruzados pode ter o seu valor, pois assim não se põe a mão no bolso alheio e, em se tratando de governante, não se mete a mão nos dinheiros públicos”.
7 – O ex-deputado José Bonifácio de Andrada, grande parlamentar e líder do governo da República, tão querido de seus pares e de quantos o conhecessem, dizia-me, inteligente e vivaz: “Olhe, Jésus, a política nasceu nobre; depois, virou popular. Agora, está a caminho de se transformar em vulgar. Resista a isso. Ajude sempre a combater isso!”
8 – Os ex-governadores Benedito Valadares Ribeiro, Bias Fortes, Israel Pinheiro e Tancredo Neves sempre recomendaram e exigiram o maior respeito para com a coisa pública e, tendo dedicado a sua existência à política, faleceram sem deixar fortuna, a não ser a respeitabilidade, que é, aliás, a grande riqueza dos homens de bem.
Terminaria, lembrando um verso camoniano: ‘Doces lembranças da passada glória...’.”
Quinze anos são passados e essas LIÇÕES ainda ecoam SONORAS, embora sejam MUITOS os OUVIDOS MOUCOS... E aí, sim, AGIGANTA-SE o papel de TODOS os BRASILEIROS e de TODAS as BRASILEIRAS numa MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE, motivados pela FORÇA do IDEALISMO, do AMOR à PÁTRIA e dos nossos MELHORES sentimentos CÍVICOS, e, principalmente, tendo em vista o BRASIL 2014, para FINCARMOS de vez as BASES de uma SOCIEDADE verdadeiramente JUSTA, LIVRE, PRÓSPERA e SOLIDÁRIA, onde as RIQUEZAS do País, quer CULTURAIS, ECONÔMICAS, NATURAIS, do SOLO ou do SUBSOLO, ou das profundezas do PRÉ-SAL, sejam INTEGRALMENTE PARTILHADAS em favor de TODO o POVO.