“O
Brasil esquecido
A crise hídrica e a
possibilidade de falta de energia, devido ao problema do baixo regime pluvial,
revelam algo que permeia a trajetória do Brasil neste século, como no passado:
ausência de planejamento de longo prazo para a sustentabilidade dos sistemas essenciais
à vida das pessoas, à economia, à produção e ao desenvolvimento. É inadmissível
que o país, com a maior reserva hídrica e o maior potencial hidrelétrico do
planeta, submeta sua população a riscos de fornecimento devido ao fato de ter
chovido menos. Nossa cultura, infelizmente, leva o país a consolidar o
improviso, com soluções paliativas de curto prazo, à base do desgastado
jeitinho, no enfrentamento de crises, no ritmo da pressão da mídia e de algumas
poucas manifestações sérias da sociedade. Passado o momento agudo do problema,
tudo é relegado e se retorna à rotina do não planejado.
Tais
características sugerem que o Brasil é um país esquecido por todos.
Privilegiam-se, aqui, os interesses individuais e de grupos. A sociedade reage
apenas sob a pressão de situações iminentes de crises. Essa peculiaridade de
comportamento atingiu sua condição superlativa no exercício da política.
Inverteu-se a lógica filosófica do conceito de Estado: este, em vez de servir à
população, como se supõe nas democracias, parece colocar-se a serviço dos
partidos. Essa distorção reforça a tendência do improviso e a visão de curto
prazo, norteadas sempre pelo horizonte das eleições, a cada dois anos. As
propostas à sociedade, na disputa pelo voto, são sempre focadas nas situações
prementes. Ninguém mostra ao eleitor como se pretende construir uma nação
desenvolvida, com infraestrutura moderna e eficiente, oferta de energia e água,
tão suscetíveis às variações climáticas, e sustentável sob aspectos
socioeconômico e ambiental.
Uma
das consequências mais graves da falta de planejamento, já que medidas
paliativas e o improviso não resistem às mudanças conjunturais, é a ausência de
regras consistentes para a indústria, o comércio, os serviços, a construção
civil, a incorporação imobiliária, o sistema financeiro e até o agronegócio,
que tem sido o salvador de nossa balança comercial. Advém daí a insegurança
jurídica, tão reclamada por todos, acentuada, muitas vezes, por atitudes
exageradas na interpretação e aplicação das leis. Exemplo disso é a constatação
de numerosos embargos, por motivos relativos ao licenciamento ambiental, de
empreendimentos dos setores público e privado que já foram aprovados nesse
quesito. Assim, enquanto o risco de falta de energia afugenta investimentos, bloqueiam-se
obras de grandes hidrelétricas.
A
história mostra que sem metas definidas e planejamento não se vai a lugar
algum. Hoje, mais do que nunca, estamos sentindo isso na pele: inflação;
desemprego em alta; índice de confiança baixo, tanto do empresário quanto do
consumidor; corrupção, impunidade e uma frustração generalizada. Está na hora
de o Brasil saber, de fato, o que deseja ser. Para ser, é preciso, nas
instâncias federal, municipal e estadual, colocar o Estado a serviço da
sociedade e não de partidos e de governos. A esses cabe exatamente fazer com
que a máquina pública sirva à nação. A prioridade, definitivamente, é o país,
que não pode continuar esquecido, como se não fosse a terra de todos nós.”
(LUIZ AUGUSTO
PEREIRA DE ALMEIDA. Diretor da Fiabci/Brasil, diretor de Marketing do
Sobloco Construtora, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 14 de maio de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de EDUARDO
ATHAYDE, diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil, e que merece
igualmente integral transcrição:
“Jovens
líderes globais
O Fórum de Jovens
Líderes Globais (YGLs) – criado pelo World Economic Forum (WEF) – é uma
comunidade composta de cerca de 900 jovens considerados como líderes ousados e
corajosos, orientados com visão empresarial holística, que investem tempo e
talento para fazer do mundo um lugar melhor. A comunidade é formada por jovens
com menos de 40 anos, de todas as partes do mundo, escolhidos por meio de
rigorosos critérios de seleção, formando um corpo diverso, qualificado e
representativo, demonstrando o compromisso de servir a sociedade. O YGLs têm
três objetivos: 1) colaboração – construir uma comunidade global diversificada
de pessoas que buscam soluções inovadoras para os problemas enfrentados pela
humanidade; 2) aprendizagem – transformar a próxima geração de líderes por meio
de experiências pessoais, gerando uma melhor compreensão das agendas globais e
regionais; 3) ação – impactar positivamente os desafios globais, envolvendo-se
em iniciativas relacionadas com os desafios identificados.
Muito
trabalho pela frente terão os YGLs para lidar com as visões de diferentes
sistemas culturais de governança, com velocidades diferenciadas nas economias
na geopolítica global. Segundo Akio Morita, fundador da Sony Corporation, do
Japão, “inovação é fazermos melhor o que fazemos hoje, de forma que se torne
obsoleto”. Na visão da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Industrial (Unido), que conduz um programa de cooperação técnica com foco em
ciência, tecnologia e inovação voltado para países em desenvolvimento, inovar
significa quebrar padrões. É o que vem fazendo a China, com reservas de US$ 3,8
trilhões e carga tributária de 18% do Produto Interno Bruto (PIB) – a do Brasil
é de 37%. O gigante asiático investe 2% do seu PIB em inovação, o dobro do
Brasil. O comércio China-Estados Unidos é de US$ 600 bilhões (Pequim
superavitário em US$ 320 bilhões). Com a União Europeia (EU) os chineses têm
US$ 430 bilhões de intercâmbio comercial, estando a China superavitária em US$
132 bilhões. Trocas comerciais entre Brasil e China estão na casa dos US$ 90
bilhões. Na Coreia do Sul, onde mais de 80% da população em idade universitária
frequenta o ensino superior, 4,2% do PIB
são direcionados à pesquisa e desenvolvimento. Lá, os nomes dos ministérios
mostram a preocupação com o além do presente: a pasta da inovação chama-se
Ciência, Tecnologia e Planejamento do Futuro; a da Fazenda, Ministério de
Finanças.
Nos
EUA, a Apple que lidera, com o Google, uma comunidade de jovens líderes, lançou
sua loja de aplicativos iTunes, em 10 de julho de 2008, com apenas 500
aplicativos disponíveis. Três dias depois, mais de 10 milhões de apps tinham
sido baixados. Em seis meses, 15 mil apps estavam disponíveis, chegando a 500
milhões de downloads. O primeiro bilionésimo app baixado ocorreu em 23 de abril
de 2009, oito meses após o lançamento – no fim de 2013, mais de 102 bilhões de
apps haviam sido baixados. A velocidade das ações inovadoras é revelada em
números: em 2013, os aplicativos geraram uma receita de US$ 25 bilhões, e
tendências apontam para US$ 70 bilhões em 2017 e um pulo para US$ 500 bilhões
em 2023. Hoje, 280 milhões de aplicativos são baixados diariamente em todo o
mundo. Atenta à conectividade entre inovações, a PricewaterhouseCoopers (PWC)
lançou o relatório anual Global Innovation 2014, mostrando que jovens
executivos de inovação em grandes empresas multinacionais acham que
investimentos vão mudar substancialmente durante a próxima década. Encontros
desses jovens líderes, brasileiros e estrangeiros, acontecem a todo instante no
ambiente virtual dos smartphones, que, inovando em soluções tecnológicas, fazem
parte do vestiário do dia a dia global, e, à noite, juntam-se aos travesseiros
– os cliques não param.
No
Brasil, os líderes da Associação de Jovens Empresários (AJI), ligada à
Confederação Nacional de Jovens Empresários (Conaje) – conectados aos YGLs via
apps, consumidores de produtos norteamericanos, coreanos e chineses –, são
reféns de um país de baixo investimento em ciência e tecnologia e, igualmente,
de escolaridade. Têm como objetivo o imenso desafio de contribuir para o
desenvolvimento econômico e social com nova mentalidade empresarial e cidadã.
São jovens heróis do presente, que enfrentam uma pesada concorrência mundial
lutando para construir o nosso futuro comum.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo levantamento da Associação
Nacional dos Executivos de Finanças – Anefac –, a alta de abril dos juros do cartão de crédito chegou a 295,48% ao ano...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a simples divulgação do balanço
auditado da Petrobras, que, em síntese, apresenta no exercício de 2014 perdas
pela corrupção de R$ 6,2 bilhões e prejuízos de R$ 21,6 bilhões, não pode de
forma alguma significar página virada
– eis que são valores simbólicos –, pois em nossos 515 anos já se formou um
verdadeiro oceano de desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso
patrimônio...); III – o desperdício, em
todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
indubitavelmente irreparáveis (haja vista as muitas faces mostrando a gravidade
das crônicas paralisações de obras e serviços públicos, gerando perdas
bilionárias... );
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de
exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e
eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!...