“O
que precisa ser agregado ao processo de educação
Geralmente, o processo
educativo da sociedade está sempre atrasado em relação às mudanças que
acontecem. As instituições de ensino não antecipam eventuais processos e
custa-lhes fazer as mudanças necessárias para estar à altura deles.
Ente
outras, duas são as grandes mudanças que estão ocorrendo na Terra: a introdução
da comunicação global via internet e a grande crise ecológica que põe em risco
o sistema da vida e o sistema Terra. Podemos eventualmente desaparecer do
planeta. Para impedir esse apocalipse, a educação deve ser diversa daquela que
dominou até agora.
Não
basta o conhecimento, precisamos de consciência e de uma nova prática. Urge nos
reinventarmos como humanos, no sentido de inaugurar uma nova forma de habitar o
planeta, com outro tipo de civilização. Temos que nos reeducar. Por isso,
acrescento às dimensões acima referidas estas duas: aprender a cuidar e
aprender a nos espiritualizar.
Mas,
antes, faz-se mister resgatar a inteligência cordial, sensível ou emocional.
Sem ela, falar do cuidado e da espiritualidade faz pouco sentido. A causa
reside no fato de que todo o sistema moderno de ensino se funda na razão
intelectual, instrumental e analítica. Ela é uma forma de conhecer e dominar a
realidade, fazendo-a mero objeto. Sob o pretexto de que a razão sensível
impediria a objetividade do conhecimento, foi recalcada. Com isso surgiu uma
visão fria do mundo.
Sabemos
que a razão intelectual, como a que temos hoje, é recente, possui cerca de 200
mil anos, quando surgiu o Homo sapiens.
Mas antes surgiu, há cerca de 200 milhões de anos, o cérebro límbico, por
ocasião da emergência dos mamíferos. Com eles, entrou no mundo o amor, o cuidado,
o sentimento que se devota à cria. Nós, humanos, nos esquecemos de que somos
mamíferos intelectuais. Logo, somos fundamentalmente portadores de emoções,
paixões e afetos.
O que
importa é que hoje temos que enriquecer nossa razão intelectual com a razão
cordial, muito mais ancestral, se quisermos fazer valer o cuidado e a
espiritualidade.
Sem
essas duas dimensões, não iremos nos mobilizar para cuidar da Terra, da água,
do clima, das relações inclusivas. Precisamos cuidar de tudo, sem o que as
coisas se deterioram e perecem. E, então, iríamos ao encontro de um cenário
dramático.
Outra
tarefa é resgatar a dimensão da espiritualidade. Ela não deve ser identificada
com a religião. Ela subjaz à religião, porque é anterior a ela. A
espiritualidade é uma dimensão inerente ao ser humano como a razão, a vontade e
a sexualidade. É o lado do profundo, de onde emergem as questões do sentido
terminal da vida e do mundo. Infelizmente, essas questões foram tidas como algo
privado e sem grande valor. Mas sem sua incorporação, a vida perde irradiação e
alegria. No entanto, há um dado novo: os neurólogos concluíram que sempre que o
ser humano aborda essas questões do sentido, do sagrado e de Deus, há uma
aceleração sensível nos neurônios do lobo frontal. Chamaram a isso “ponto Deus”
no cérebro, uma espécie de órgão interior pelo qual captamos a presença de uma
energia poderosa e amorosa que liga e religa todas as coisas.
Alimentar
esse “ponto Deus” nos faz mais solidários, amorosos e cuidadosos. Ele se opõe
ao consumismo e ao materialismo de nossa cultura. Todos, especialmente os que
estão na escola, devem ser iniciados nessa espiritualidade, pois nos torna mais
sensíveis aos outros, mais ligados à mãe-Terra, à natureza e ao cuidado, valores
sem os quais não garantiremos um futuro bom para nós.
Inteligência
cordial e espiritualidade são exigências mais urgentes que a atual situação
ameaçadora nos faz.”
(LEONARDO
BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 27 de
fevereiro de 2015, caderno O.PINIÃO, página
18).
Mais uma importante oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 2 de março
de 2015, caderno OPINIÃO, página 7,
de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, diretor
do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências Sociais
(IICS), doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha), e que
merece igualmente integral transcrição:
“Jornalismo,
alma e rigor
Antes da era digital,
em quase todas as famílias existia um álbum de todos. Lá estavam as nossas
lembranças, os nossos registros afetivos, a nossa saudade. Muitas vezes,
abríamos o álbum e a imaginação voava. Era bem legal.
Agora,
fotografamos tudo e arquivamos compulsivamente. Nosso antigo álbum foi
substituído pelas galerias de fotos de nossos dispositivos móveis. Temos
overdose de fotos, mas falta o mais importante: a memória afetiva, a curtição
daqueles momentos. Fica para depois. E continuamos fotografando e arquivando.
Pensamos, equivocadamente, que o registro do momento reforça sua lembrança, mas
não é assim. Milhares de fotos são incapazes de superar a vivência de um
instante. É importante guardar imagens. Mas é muito mais importante viver cada
momento com intensidade.
Algo
análogo, muito parecido mesmo, ocorre com o consumo da informação. Navegamos
freneticamente no espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersa a
inteligência. Ficamos reféns da superficialidade. Perdemos contexto e
sensibilidade crítica. A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa
sensação de liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os
editores do nosso diário personalizado. Será? Não creio, sinceramente. Penso
que há uma crescente nostalgia de conteúdos editados com alma, rigor, critério
e qualidade técnica e ética. Há uma demanda reprimida de reportagem. É preciso
reinventar o jornalismo e recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo,
as competências e a magia do jornalismo de sempre. É preciso olhar para trás
para dar saltos consistentes.
Jornalismo
sem alma e sem rigor. É o diagnóstico de uma doença que contamina inúmeras
redações. O leitor não sente o pulsar da vida. As reportagens não têm cheiro do
asfalto. As empresas precisam repensar os seus modelos e investir poderosamente
no coração. É preciso dar novo brilho à reportagem e ao conteúdo bem-editado,
sério, preciso, isento. O prestígio de uma publicação não é fruto do acaso. É
uma conquista diária. A credibilidade não se edifica com descargas de
adrenalina.
É
preciso contar boas histórias. Com transparência e sem filtros ideológicos. O
bom jornalismo ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história. Na
verdade, a batalha da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada,
da preguiça profissional e da incompetência arrogante. Todos os manuais de
redação consagram a necessidade de se ouvirem os dois lados de um mesmo
assunto. Mas alguns procedimentos, próprios de opções ideológicas invencíveis,
transformam um princípio irretocável num jogo de aparência.
A
apuração de mentira representa uma das mais graves agressões à ética e à
qualidade informativa. Matérias previamente decididas em guetos sectários
buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro
lado não é honesta, não se apoia na busca da verdade, mas num artifício que
transmite um simulacro de isenção, uma ficção de imparcialidade. O assalto à
verdade culmina com uma estratégia
exemplar: repercussão seletiva. O pluralismo de fachada, hermético e
dogmático, convoca pretensos especialistas para declarar o que o repórter quer
ouvir. Mata-se a notícia. Cria-se a versão.
A
crise do jornalismo está intimamente relacionada com a perda de qualidade do
conteúdo, com o perigoso abandono de sua vocação pública e com sua equivocada
transformação em produto mais próprio para o consumo privado. É preciso
recuperar o entusiasmo do “velho ofício”. É urgente investir fortemente na
formação e qualificação dos profissionais. O jornalismo não é máquina,
tecnologia, embora se trate de suporte importantíssimo. O valor dele se chama
informação de alta qualidade, talento, critério, ética, inovação.
Sem
jornalismo público, independente e qualificado, o futuro da democracia é
incerto e preocupante. O jornalismo precisa recuperar a vibração da vida, o
cara a cara, o coração e a alma.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria,
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade...);
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem (sem exagero, até mesmo de gerações
futuras...); III – o desperdício, em
todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
indubitavelmente irreparáveis (a propósito, e mais uma vez, a magnitude da
paralisação de caminhoneiros aponta para perdas que extrapolam nossas
estruturas econômicas, portanto, de difícil mensuração...);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de
exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e
eficaz auditoria...
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!
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