terça-feira, 17 de março de 2015

A CIDADANIA, A NECESSIDADE DE EQUILÍBRIO E HARMONIA E A URGÊNCIA DE RECONSTRUÇÃO E REFORMAS

“A necessária busca do equilíbrio e da harmonia pela humanidade
        Sabe-se que na Terra sempre houve violência e massacre de inocentes, bem como a exploração não só de membros do próprio reino humano, mas também do reino animal, do vegetal e do mineral.
         Como ciclos de ações desequilibradas e ciclos de impacto das consequências geradas por elas, até agora foram alternando-se sem se resolver, o jogo do destino se perpetua, e o homem custa a dar-se conta de que um reto viver, com renúncia ao desejo, é o caminho direito para a libertação. Nesse ponto Buda bastante explícito, mas através dos séculos, seus ensinamentos pouco repercutiram no dia a dia da maioria das pessoas, embora estejam vivos em seu mundo moderno.
         Enquanto os seres humanos compreendem os fatos com base em suas crenças ou agem segundo seu conhecimento pessoal, permanecem circunscritos ao retorno das ações que praticam, à necessidade de equilibrá-las. Baseados em propósitos individuais ou egoístas, seus atos pouco conseguem contribuir para o bem do Todo e demandam sempre reações neutralizadoras, que podem vir por intermédio de outras pessoas ou da natureza. Essas reações podem ser purificadoras, pois desmantelam estruturas não sadias de indivíduos, de grupos ou mesmo de povos e civilizações inteiras. Contudo, se estiverem imbuídas de forças humanas, provocarão novas reações. E, assim, surgem e se propagam as complicações do destino desta humanidade.
         Muito pode ser feito por aqueles que já estão conscientes da necessidade de uma mudança nesse padrão repetitivo. Um novo estado poderá implantar-se neles e contribuir para a transformação da face da Terra, à medida que forem entrando nos ritmos de uma lei superior, divina.
         Porém, na vida, as dádivas são também provas: é preciso saber usar com correção os dons e bens que nos são entregues.
         Como tudo está incluído numa Consciência Única, fonte de toda manifestação, não há detalhe que não deva ser considerado na busca do equilíbrio e da harmonia. O que nos cerca e o que somos, tudo precisa converter-se em instrumento de serviço e ser utilizado de maneira adequada. Nesse sentido, a água, a eletricidade, o alimento, o dinheiro, o transporte, o labor, o sono, a palavra, o sentimento e o pensamento deixam de nos pertencer e passam a ser vistos pelo que na verdade são: expressão dessa consciência onipotente.
         Quem se empenha em evoluir deve aprender a ter paciência e a aprofundar seu sentido de observação. Em certas fases da vida a pessoa pode pensar que não está progredindo ou que nada de promissor está acontecendo, embora esteja trabalhando para isso. Entretanto, não é bem essa a realidade. Pelo fato de dedicar-se com seriedade à evolução e de estar por isso sendo intensamente transformada, muitos eventos na sua vida podem ser suavizados.
         Sei de indivíduos que viviam com grandes restrições materiais e as tiveram resolvidas ao ingressarem abnegadamente no caminho espiritual e prestarem serviço com um grupo altruísta; sei de outros que ficaram liberados de certos laços pessoais para servir em âmbitos maiores, como, por exemplo, o de um país e o do planeta. Pessoas que se mantinham limitadas por deveres básicos e circunscritos ao âmbito familiar veem-se de repente nesses processos de transformação, livres para dedicar seu tempo e energia a causas universais.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 15 de março de 2015, caderno O.PINIÃO, página 16).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 6 de março de 2015, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Reconstrução e reformas
        Investir em reformas vigorosas é a exigência que deve permear o sentimento cidadão no auge deste momento crítico vivido pela sociedade brasileira, inserida em amplo e complexo contexto de graves crises, locais e mundiais. Não se pode correr o risco de tratar o momento atual como um assunto midiático, que passa como uma nuvem e se esvai. Esse perigo é evidente em razão do modo como os problemas são enfrentados na cultura contemporânea à semelhança do tratamento dado às críticas. Por um tempo, é “quente” um assunto. Fácil e rapidamente, o que estava em pauta é esquecido. Perde lugar para outros acontecimentos.
         Essas ondas que presidem as dinâmicas da cultura contemporânea enfraquecem a sociedade na sua indispensável capacidade de reação. Também a afastam da urgente competência para operar a sua própria reconstrução com vigorosas e incidentes reformas. Por isso, é preocupante o modo como a sociedade brasileira está lidando com o conjunto de suas crises. Um enorme conjunto de exigências, urgências e intervenções que é tratado com lentidão. Mais grave ainda, tratado por líderes que, pelas expressões, escolhas e posicionamentos pela falta de um lastro humanístico mais consistente na sua formação e no seu caráter, não se revelam preparados para os cargos que ocupam.
         É urgente disseminar e cultivar em todo o país um sentimento de que somos uma sociedade em reconstrução. Indicam isso as estatísticas e os descompassos graves, como a crescente violência, a exclusão social, a corrupção, a dependência química, problemas que provocam terror semelhante ao de contextos de guerra. Ainda que se considerem os avanços sociais e tecnológicos no contexto brasileiro, o conjunto de crises em curso dizima vidas e deteriora a cultura que a civilização necessita para se sustentar. Os cidadãos precisam ser guiados pelo anseio de se promover a reconstrução do país, de modo semelhante a exemplos históricos de nações que ressurgiram das cinzas depois das destruições de guerras.
         O povo brasileiro tem a grande vantagem de contar com reservas e patrimônios – culturais, religiosos, ambientais e históricos – para impulsionar esse processo de reconstrução. É preciso superar um lado terrível e perverso do país que é caracterizado pela corrupção, mediocridade na política e pela geração pífia de líderes em todos os segmentos. Para isso, todos devem sustentar a cidadania em patamares emoldurados pelo altruísmo, por um sentido nobre de pátria. Nessa tarefa, o conjunto de discriminações e, particularmente, a vergonhosa exclusão social que atinge o povo devem ser enfrentados.
         Inspiradora é a coragem do papa Francisco – com validade provocante para a Igreja Católica, também para a sociedade civil – quando, na sua exortação apostólica Alegria do Evangelho, se compromete com a conversão do papado. Essa corajosa indicação é nobre ato de simplicidade e humildade tão necessário no mundo contemporâneo, que deve inspirar a Igreja e a sociedade, com seus segmentos, o recôndito dos lares e todas as instituições, no processo de reconstrução. Assim será possível superar as mediocridades, que enjaulam o povo em condição asfixiante. Uma triste situação que se verifica quando se percebe a supervalorização do status, consolação dos medíocres em ocupar lugares de importância, em usufruir dos benefícios. Certamente, a realidade seria outra se, em vez de procurar status, cada pessoa se empenhasse para ampliar sua capacidade de oferta de serviços.
         Compreende-se por que não se avança no conjunto das reformas que precisam ser urgentemente operadas na sociedade brasileira, atravancadas por interesses mesquinhos e visões estreitadas. Para mudar esse contexto, é preciso cultivar uma onda duradoura de sentimentos que envolva todos, da criança ao ancião, encharcando mentes e corações como o senso de mutirão para a reconstrução e reformas vigorosas na sociedade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, vai ganhando contornos que transcendem ao campo quantitativo, e que podem afetar até mesmo gerações futuras...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (haja vista as muitas faces mostrando a gravidade da dupla crise de falta – de água e de energia elétrica...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!


  


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