segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, A FAMÍLIA NA SUSTENTABILIDADE E A LUZ DO DIÁLOGO NOS CONFLITOS E VERDADES

“Pais e filhos num Brasil em transe
Dizem que, ao contar sobre sua aldeia, fala-se também do mundo. Da mesma forma, ao relatar a vida pessoal, expressamos um pouco a história de toda uma geração. Claro que cada aldeia é diferente, bem como as trajetórias individuais são todas distintas. Mas, de fato, há algo de global nos pequenos lugarejos e de padrão quase geral nas particularidades de cada um que frequenta a mesma época.
         A infância em Assis, distante 444 quilômetros de São Paulo, era cercada pelo sonho dos pais, pequenos comerciantes de primário completo, de que o caminho do sucesso dos filhos estava, necessariamente, associado à possibilidade de concluir o ensino superior na capital. Tinham eles clareza, na década de 1970, de que esse desejo seria mais facilmente viabilizado se os filhos pudessem frequentar um ensino médio particular de qualidade, em São Paulo. Os esforços seriam enormes, mas estudar em colégios privados, como o Bandeirantes, justificaria o sacrifício, compensado amplamente pela quase garantia de ingresso em instituições públicas de qualidade, como a Universidade de São Paulo.
         Pais orgulhosos desfilavam na avenida principal do interior com a certeza de que a nova geração, graças às parcas economias geradas no comércio local, estava no caminho de uma escolaridade desproporcionalmente acima da geração deles. Seus filhos tinham agora o Brasil inteiro como destino. Se as credenciais incluíssem um mestrado ou doutorado, qualquer estado da federação seria boa opção, e a estabilidade do serviço público, uma bênção. Se, por ventura, as universidades federais pudessem acolher seus filhos como docentes, o orgulho deles seria incontido, refletindo uma nação cuja nova geração, em termos de escolaridade e emprego, tinha ido muito além da anterior.
         Por sua vez, para os filhos dessa geração cursar o ensino superior, neste século 21, passava a ser quase obrigação ou obviedade. Seja pela multiplicidade de oferta ou pelas induções do ambiente doméstico já escolarizado, esse caminho transformava-se, de forma natural, em padrão. De novo, quanto mais especializados fossem, melhores oportunidades surgiriam. Agora, as rodovias, que anteriormente levavam à capital, se transformavam nos aeroportos que conduziam a novos portos e horizontes. As perspectivas continuavam existindo em todos os lugares, mas, no início desta década, estudar e morar no exterior constituíam diferenciais que amplificavam possibilidades.
         Nos tempos atuais, frustrados por um anunciado desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável, que ainda não veio, os cenários de novo se alteram, rapidamente. As opções, em termos de formação acadêmica e oportunidades de trabalho dos filhos, diferem das nossas, tanta quanto ou mais, do que as nossas diferiram de nossos pais. Trabalhar no exterior, hoje, cruza a barreira da ideia do estágio provisório na preparação do retorno e passa a se constituir em opção, talvez permanente e definitiva. Este fenômeno é cristalizado, especialmente, aos jovens profissionais mais talentosos, dadas as limitações de oportunidades satisfatórias de trabalho mais especializado no Brasil.
         Nossos pais e nossos filhos delimitam, conosco ao meio, três gerações de um país que se transforma rapidamente, especialmente em tempos de acesso à escolaridade e de oportunidades profissionais. Sabemos que temos bons motivos, mesmo quando não conseguimos explicitar bem quais sejam, para termos sempre esperanças no que está por vir no Brasil. No momento, mesmo assim, temos ainda pouca clareza sobre o que é reservado para esta geração. Mesmo porque esse futuro próximo dependerá, essencialmente, daquilo que fizermos, ou deixarmos de fazer, neste capítulo em curso na história nacional.”.

(RONALDO MOTA. Reitor da Universidade Estácio de Sá, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 4 de novembro de 2016, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Conflitos e verdades
        As dinâmicas de construção e manutenção da sociedade estão inseridas nas tensões entre conflitos e verdades, de modo semelhante ao que ocorre nas relações familiares e pessoais. Há uma dimensão do conflito que é inevitável, porque a verdade não é propriedade exclusiva de alguém. Alcançá-la é sempre uma tarefa árdua, que abrange o exercício interpretativo da realidade a partir do confronto de interesses, ponderações e de prioridades. Importante é reconhecer que as pessoas estão, permanentemente, em busca da verdade e, por isso mesmo, ninguém pode reivindicar a sua propriedade. Assim, exige-se muita humildade nessa procura para que se viva a experiência indispensável do diálogo, com a imprescindível abertura para se alcançar a verdade capaz de garantir, acima de tudo, o bem e a justiça.
         Os processos de definição de prioridades, particularmente aqueles que podem promover as mudanças necessárias na vida social e política do povo, são complexos. Assim, não basta agarrar-se a posições – dizendo-se ser contra ou a favor de algo –, é preciso dialogar para se aproximar da verdade. Trata-se de exercício racional e espiritual que requer redobrada atenção de todos, com o objetivo de superar conflitos que sempre se desdobram em prejuízos. Males que incluem as guerras, disputas ferrenhas pelo poder e as escolhas que privilegiam poucos, consolidando a injustiça contra os pobres. Nessa tarefa, indispensável é avaliar o lugar que se ocupa e, ao mesmo tempo, se perceber no lugar do outro, principalmente dos excluídos da sociedade. Ignorar essa atitude é perpetuar uma organização societária que desconsidera o abismo crescente entre ricos e pobres, os que podem muito e os que nada podem.
         Sem o processo dialogal e interpretativo, à luz das regras, leis, normas culturais e morais, continuarão a proliferar, em todas as regiões do mundo, conflitos motivados pela diferença entre povos, culturas e religiões. Buscar o bem comum há de ser fundamento para a formulação de juízos, escolhas e definição de prioridades. Para isso, exige-se o reconhecimento de barreiras psicológico-afetivas e de tantas outras, fundamentadas nas visões de mundo individuais, e superá-las com o objetivo de se alcançar o bem maior. Constituem-se grandes obstáculos, na busca pela verdade, os conflitos que advêm do âmbito da política partidária, eivado por projetos de poder que, quase sempre, se alicerçam no interesse individual, familiar ou de pequenas oligarquias. Esse contexto do ambiente político traz consequências graves, pois favorece a perda de foco e de clarividência na identificação do que, de fato, merece ser prioridade. Não raramente, induz a um tipo de visão que se restringe ao “retrovisor”, desconsiderando a amplitude de todo o “painel”.
         Consolida-se, assim, a perversa dinâmica que gera a elitização, uma enfermidade verificada em diferentes áreas – inclusive na religiosa –, que se torna ainda mais grave quando é acompanhada pelo mediocridade. A mediocridade, ao emoldurar a vida das pessoas, inviabiliza o surgimento de novos líderes capacitados para conduzir a sociedade, as instituições e seu funcionamentos rumo a horizontes mais promissores. O planeta sofre com as consequências, que incluem o crescimento do ódio entre as pessoas, cenários desoladores marcados pelo grande contingente de refugiados, de pessoas famintas e amedrontadas. Somente as dimensões técnica e tecnológica não bastam para superar tudo isso. É necessário um novo passo que exige a construção – pessoal e coletiva – de uma envergadura espiritual, humana e moral: a competência humanística.
         Essa competência é alicerce para avanços, vetor determinante nos diálogos que geram entendimentos e promovem a sensibilidade social – fortalecendo a solidariedade entre pessoas, povos e nações. Também possibilita a permanente autocrítica, tarefa que dissipa as escolas alimentadoras de arcaísmos políticos, religiosos e de tantas outras naturezas. Por isso mesmo, deve ser sempre prioridade o investimento, de muitas formas e por parte de todos os segmentos da sociedade, no cultivo de uma sensibilidade capaz de superar selvagerias e indiferenças.
         Desconsiderar essa urgência levará a sociedade a conviver com gente desempenhando papéis que não são seus, sem competência, multiplicando desorientações. E no lugar dos diálogos, haverá arenas de gladiadores que derramam até suas últimas gotas de sangue.
         Maior que a crise financeira, política e tantas outras é a crise humanística, fruta da carência de nobres valores, a exemplo dos que são partilhados no evangelho de Jesus Cristo. As consequências são oportunidades perdidas em um contexto de grandes desenvolvimentos alicerçados na inteligência humana. Todos devem cultivar, inadiavelmente, a competência humanística para superar conflitos e reconhecer a verdade. Assim, será possível viver um tempo novo na história da civilização.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a ainda estratosférica marca de 480,28% para um período de doze meses; e também em setembro, o IPCA acumulado nos doze meses chegou a 8,48% e a taxa de juros do cheque especial  registrou históricos 324,90%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,044 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  
        
 
 


          

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