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segunda-feira, 27 de junho de 2011

A CIDADANIA, A ESTRELA-MÃE E A VIDA QUE NÃO TEM RECEITA

"Stella, estrela-mãe

Minha mãe, Maria Stella Libanio Christo, aos 93 anos, saiu do casulo e virou borboleta, no domingo, 19 de junho. Partiu ao encontro do Amado, pois nela transparecia, a quem a conheceu, profunda intimidade amorosa com Deus. Militante da Ação Católica desde a juventude até março deste ano, participou de reuniões e atividades da Renovação Cristã.

Todos que a conheceram deixaram-se encantar por sua bondade, sua leveza de espírito, seu savoir vivre e o bom humor com o qual encarava a vida e sua adversidades. Repetia sempre: sofrimento não se reparte, alegria sim. Gostava de sair à noite, bebericar uma caipirinha, ir ao cinema e ao teatro. Leitora voraz, assinava dois jornais e preferia romances e biografias e ensaios.

Aos 60 anos, descobriu sua vocação literária. E a utilizou para propagar seus talentos culinários. Enfiou-se pelo interior de Minas, percorreu sítios e fazendas, fez entrevistas, coletou velhos e engordurados cadernos de receitas, adquiriu livros raríssimos de culinária brasileira, como O cozinnheiro nacional (1885), o segundo livro de gastronomia publicado no Brasil.

Pesquisou três séculos da cultura mineira e publicou o clássico Fogão de lenha – 300 anos de cozinha mineira (Garamond). Vieram em seguida mais sete livros sobre os prazeres da mesa.

Convidada a demonstrar sua arte culinária em outros países, cozinhou para chefes de Estado e autoridades, diplomatas brasileiros e participantes de gastronomia na Itália, França, Áustria, Rússia e Cuba.

Em Belo Horizonte, onde residia, deu curso de culinária para varredoras de ruas, do qual resultou o livro Cozinha popular (Vozes). A renda de Hora do lanche, com receitas leves para substituir o jantar, ela doou para a reeducação de meninos de rua.

No grupo escolar do Bairro Nova Cintra, na capital mineira, minha mãe encontrou mulheres em tratamento psiquiátrico provocado pelo trauma da falta de comida em casa. Organizou com elas uma horta comunitária, que abasteceu as famílias e proporcionou a venda dos produtos excedentes na porta da escola.

Mulher doce, afável, cativante, encarava pessoas e situações sempre pelo lado positivo. Nada parecia transtorná-la. Mostrava-se sempre de bem com a vida e, em cinco minutos, ficava amiga de infância de quem acabara de conhecer.

Transvivenciou como viveu: em casa, cercada pelos filhos e parentes, na suavidade do vôo de um pássaro exaurido em seu canto. Sabia que seu fim chegara e dizia que a hora demorava a chegar. “São Pedro perdeu minha ficha”, queixava-se.

Certa madrugada, há poucos dias, desculpou-se por ter me acordado. Disse estar feliz por ver os filhos todos unidos e que desejava partir... “Partir para onde?”, perguntei. “Para lá...” e apontou para o alto. Respondi que não era hora ainda. Não devíamos nos antecipar aos desígnios de Deus.

Casada durante 63 anos, deixou sete filhos, 16 netos e 15 bisnetos.

Maior que a dor da perda é a gratidão a Deus pelo dom de uma vida tão plena em dedicação, realizações e fé, e dos frutos que semeou.”

(FREI BETTO, é escritor, autor, em parceria com Maria Stella Libanio Christo, de Fogãozinho – culinária em histórias infantis (Mercuryo Jovem), entre outros livros, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 23 de junho de 2011, Caderno CULTURA, página 8).



Mais uma IMPORTANTE, RICA e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE, vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 25 de junho de 2011, Caderno PENSAR, página 2, de autoria de JOÃO PAULO, Editor de Cultura, que igualmente merece INTEGRAL transcrição:

“A vida não tem receita

No último domingo morreu dona Maria Stella Libânio Christo. Ela tinha 93 anos e viveu sempre numa cidade que passou há pouco mais dos 100. Quando for escrita a história de Belo Horizonte no século 20, seu nome vai figurar com a brandura de uma vida levada com as artes exatas de criar uma família, participar das questões de seu tempo, exercer sua fé e buscar, com o engenho dado por Deus, recriar a mais pura das artes do cuidado com o outro: a culinária.

O grande mérito de uma existência digna está, muitas vezes, na capacidade de equilibrar em vida as ações do sim e do não. Dona Stella realizou, como muitas mulheres de seu tempo e condição, todas as tarefas assertivas que se esperavam dela, criando caminho ético que foi seguido pelos filhos. Mas foi também uma mulher capaz do não. Da negativa que constrói, que não se paralisa frente às puras exigências da convenção. Nunca teve poder, o que é uma forma de afirmar a existência livre.

Sua militância foi da fé. Participou de grupos como a Ação Católica durante décadas e, mais tarde, se ligou à Renovação Cristã. A palavra fé, em seu vocabulário e prática, nunca teve a grandiosidade de projetos políticos, mas sim a ligação íntima com os problemas que a afligiam mais de perto. Para uma cristã autêntica, a Igreja está no coração de cada um. A paróquia, mais que um lugar geográfico, é signo de comunhão. O bom cristão olha de dentro e procura o olhar do irmão.

Renovação, mais que um jeito de viver a fé, era uma exigência de vida, uma inspiração para que o caminho se desdobrasse em possibilidades. Aos 60 anos, Maria Stella publicou seu primeiro livro. Foi um volume de receitas, fruto de muita pesquisa para os dois lados da alma. De dentro, da memória, ela resgatou antigos modos de fazer o alimento, de tratar os costumes, de preservar o sabor, de relevar a doçura dos elementos. Da história, ela trouxe as informações garimpadas em livros, cadernetas e alfarrábios.

Quando gastronomia ainda não se tornado um elemento distintivo da sociedade de consumo, Maria Stella preparou a área com a pureza dos elementos. De seu fogão de lenha, comidas de festas, receitas suaves de crianças e até quitandas de velório, de tudo isso emergia uma mesa farta, dessas de quem gosta de dividir o pão.

Seu livro mais conhecido, Fogão de lenha, assumia orgulhosamente sua raiz mineira e sua inspiração, que soprava de um passado de mais de 300 anos. Para quem viu no trabalho, como na poesia de Adélia Prado, uma arte de dona de casa singela, ela respondeu, como quem escreve um poema profundo como ele só, cozinhando em várias partes do mundo, mostrando a sofisticação que vem da simplicidade real, que atravessou os séculos dando sustança à brava gente de Minas. Somos bravos quando é preciso. Stella, sempre suave, viu à sua volta o mundo exigir a luta de muitos.

Os livros foram se desdobrando em outros livros e lições. O sucesso de suas receitas e de suas participações em festivais de culinária foi, com o tempo, deixando à vista a profunda força cultural que a sustentava. A culinária mineira, de um excesso de sabor. Como boa cristã, dona Stella foi temperando sua arte como militância na área. Muito antes de o conceito ganhar planos de governo, ela se preocupou com a segurança alimentar, dando aulas de culinária popular e ensinando sua alquimia de fazer muito com pouco.

VIZINHOS Durante muitos anos Stella Libânio Christo morou numa casa de esquina no Bairro São Pedro. Nasci nessa mesma rua, fui contemporâneo na faculdade de psicologia de seu filho Leonardo e, muitos anos depois, me tornei amigo de outro filho, Frei Betto. Por isso sinto sua perda como um certo crepúsculo de uma época e de um lugar, a Belo Horizonte que hoje só habita a memória de quem já passou dos 50 anos. O que vai ficando no horizonte cada vez mais claro é que o tempo que passa não arrasta consigo as memórias, antes as releva. Vivemos para justificar o que fomos.

Nesse caminho de idas e vindas no tempo, dona Stella é um sinal. Ela trouxe para seu meio, para sua família, para nosso tempo e nossa cidade um estilo de viver como se os princípios fossem claros, a dignidade possível e os caminhos traçados em direção a um único e mesmo objetivo. São vidas que não evitam as turbulências, mas que não se definem por elas. A receita maior da vida talvez seja mesmo aquela mescla de aceitação de desígnios e impaciência com os desvios éticos.

Frei Betto é um amigo recente, em matéria de encontros, mas com quem venho aprendendo há muitos anos por meio de seus livros e atitudes. Sua abertura à política e á beleza, como estações do mesmo caminho, sempre me pareceu fruto de maturidade pessoal, conquistada com seus exercícios espirituais e disciplina de cabeça e alma. Hoje, parece que vejo nele o desdobramento de uma intenção que o precedeu.

Dona Stella, me contou Betto na véspera da morte da mãe – que ele sempre levava a todos os lugares com o orgulho merecido de estar em boa companhia –, preferiu estar em casa com os filhos em seus momentos derradeiros. Já se impacientava e pedia para partir. Pelo que conheci dela, por sua obra e exemplo, e pelo que intuí dos filhos, com quem convivi em diferentes momentos da vida, a partida já estava decidida desde sempre. Dona Stella fez seu périplo entre nós e voltou para o seio de onde iniciou sua jornada. No meio do caminho, encheu nossa vida de doçura e coragem.”

Eis, pois, mais BELAS e PROFUNDAS páginas de VIDA e de TESTEMUNHO de FÉ e de ESPERANÇA, que nos acenam para os GIGANTESCOS DESAFIOS que estão a EXIGIR, cada vez mais, PESSOAS, LIDERANÇAS e AUTORIDADES da ESTATURA MORAL de DONA STELLA, no campo FAMILIAR, AFETIVO, ÉTICO, PROFISSIONAL e de DEVOÇÃO a CAUSAS... e sobretudo compromisso com o OUTRO, e, em especial, o MARGINALIZADO, sem VOZ e sem VEZ...o que ao mesmo tempo INDICA a PRIORIDAD ABSOLUTA de ESTADO, GOVERNO e SOCIEDADE: a EDUCAÇÃO, em sua PLENA abrangência...

É também com essa INSPIRAÇÃO e LUCIDEZ que nos sentimos MOTIVADOS e FORTALECIDOS nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA e QUALIDADE, visando a construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, QUALIFICADA, LIVRE, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que permita a PARTILHA de suas EXRAORDINÁRIAS RIQUEZAS, OPORTUNIDADES e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos para eventos como a CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS (RIO + 20) em 2012, a COPA DA CONFEDERAÇÕES em 2013, a COPA DO MUNDO DE 2014, a OLIMPÍADA DE 2016, as OBRAS do PAC e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO 21, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um NOVO mundo, da PAZ e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...