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segunda-feira, 29 de abril de 2013

A CIDADANIA, O CAVALEIRO SÃO JORGE E OS CAMINHOS DA FÉ


“São Jorge e o dragão são duas dimensões de nós mesmos
         
         Sabemos que a figura do dragão é um tema recorrente em várias culturas, com significados até opostos. Assim, no Ocidente, é negativo: representa o mal e o mundo ameaçador das sombras. No Oriente, é positivo: símbolo nacional da China, senhor das águas e da fertilidade. Não raro, os pobres entre nós dizem: “Para me manter, tenho que matar um dragão por dia”.
         Muitos antropólogos e psicólogos que trabalham sobre o tema dos arquétipos afirmam que o dragão representa uma das figuras transculturais mais ancestrais da história humana. É a percepção de que a nossa identidade profunda não nos é dada simplesmente pelo fato de sermos humanos. Ela tem que ser conquistada numa luta diuturna. Essa situação é representada pelo dragão.
         Por isso, junto com o dragão, sempre vem o cavaleiro são Jorge, que, com ele, se confronta numa luta renhida. À luz dos estudiosos referidos acima, tanto um como outro são partes de nossa realidade humana.
         Isso é assim porque a nossa vida é sempre feita de luz e de sombras. Quem vai triunfar, são Jorge ou o dragão? Ambos coexistem, e sentimos suas presenças em cada momento: às vezes, na forma de raiva ou de amor etc.  É aqui que entra a importância de uma identidade forte, um são Jorge que possa enfrentar as nossas sombras e maldades, o dragão, e fazer triunfar nossa parte melhor.
         São é o que nos mostra como, nessa luta, podemos ser guerreiros e vencedores. Ele enfrentou o dragão: mostra a força do eu, da própria identidade, garantindo a vitória. Mas essa vitória não se conquista de uma vez por todas. Ela tem que ser renovada a cada momento, à medida que as amarras vão surgindo.
         Há, contudo, um drama ao qual não nos podemos furtar. Por mais que lutemos e vençamos, o dragão está sempre nos espreitando. Ele nos acompanha. Mais ainda: é uma parte de nós mesmos.
         Por essa razão, nas muitas lendas existentes sobre são Jorge, ele não mata o dragão, mas o vence, mantendo-o domesticado, amarrado e submetido aos imperativos do eu e da identidade pessoal. Ele não pode ser negado e eliminado, apenas integrado de tal forma que perca seu lado ameaçador e destruidor. Pode até nos ajudar a sermos humildes e evitar a autoconfiança demasiada.
         A pessoa que não renega o dragão, mas o mantém sob seu domínio, consegue uma síntese feliz dos opostos presentes em sua vida. Essa pessoa emerge como um ser humano mais rico, mais severo, mais compreensivo, tolerante e compassivo, irradiando uma aura boa ao seu redor.
         Repetimos: importa reconhecer que o dragão amedrontador e o cavaleiro heroico são Jorge são duas dimensões de nós mesmos. Nosso desafio é fazer com que são Jorge tenha a primazia e não deixe que o dragão nos derrote e tire o sentido e o gosto de viver.
         Por fim, cabe uma observação de ordem filosófica: seguramente, aqueles que veneram são Jorge não sabem quase nada disso que explanei acerca da coexistência dos dois em nossa vida. Nem precisam saber. Basta que tenham consciência de que a vida é uma permanente luta entre o que é bom para mim e para os outros e o que é mau e deve ser evitado e combatido, e que acreditem que a virtude é preferível ao vício e que a palavra final terá de são Jorge, e não do dragão.
         Nessa fé, saímos todos fortalecidos para os embates que ocorrerão pela vida afora com a assistência poderosa do guerreiro vencedor, são Jorge.”
(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 26 de abril de 2013, caderno O.PINIÃO, página 20).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 26 de abril de 2013, caderno OPINIÃO, página 13, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Festa de Nhá Chica
         
         No próximo dia 4, em Baependi, Minas Gerais, a Igreja Católica celebra a beatificação de Nhá Chica, uma filha de escravos, mulher negra e pobre. Uma conquista que não se alcança pela posse de títulos, nem simplesmente por conhecimentos técnicos, menos ainda pela garantia de alguma classe social ou política. Fundamenta-se em estatura admirável e medidas incomuns que só cabem no coração dos santos.
         Estatura e medidas que só podem ser alcançadas no caminho da fé, pela singularidade de ultrapassar a lógica da razão e por possuir uma luminosidade além da própria inteligência. A grandeza da fé, cultivada no coração de Nhá Chica, emoldurada por singular devoção a Nossa Senhora da Conceição, fez da analfabeta uma admirável sábia e conselheira. Uma sabedoria que perpetua a sua memória e comprova sua especial intimidade com Deus, ganhando uma perene e especial força de quem pode ocupar o lugar próprio de intercessora.
         Nhá Chica está em Deus e o caminho para esse lugar – oferta de Deus, o Pai, a todos os seus filhos e filhas – é trilhado pelos que vivem verdadeiramente a experiência da fé, único meio que possibilita ao frágil se tornar forte, corrige os descompassos do humano e constitui um canal direto de diálogo com Deus. A experiência autêntica da fé levou Nhá Chica a superar sofrimentos e a tornar-se irmã de todos, protetora dos pobres e referência para muitos. Primeira bem-aventurada nascida nesta terra tricentenária, cujas raízes mais profundas geram uma cultura admirável por seus valores singulares e expressão da fé do povo mineiro, um tesouro católico no coração do Brasil.
         A leitura e meditação da Carta aos Hebreus, no capítulo onze, permitem compreender melhor a alma de Nhá Chica, a bem-aventurada, reconhecendo-a no conjunto que reúne outros tantos santos e bem-aventurados. Uma genealogia que abrange figuras primárias da fé bíblica, como Abraão, Moisés, Jacó, Sara, Débora, muitos homens e mulheres de grande e exemplar estatura. Todos, com suas vidas, mostram que só a fé garante o percurso com vitória certa e produz a estatura de quem se perpetua na história e no coração de muitos. A festa da “santa de Baependi”, ultrapassando qualquer grande sentido da importância  de uma devoção ou de crença, é a consolidação de uma lição a ser permanentemente praticada para fazer a diferença e ajudar na edificação da vida sobre os pilares do amor.
         A celebração dessa festa enriquece e perpetua o tesouro de nossa fé católica, convidando cada um a inspirar-se nesse exercício de fé. É o mesmo percurso seguido pelos que ganharam a condição de patriarcas, profetas, mártires, santos, amigos de Deus, cidadãos e cidadãs com as marcas da eternidade, comprometidos com a vida e com a justiça. Esse exercício é o que, pela fé, possibilita uma importante certeza: as coisas visíveis provém daquilo que não se vê.
         Nhá Chica ofereceu seus sacrifícios sem lamúrias e os converteu em oferendas agradáveis que se transformam em frutos do bem. Sua simplicidade é transformada em sabedoria porque, como registra o referido capítulo da Carta aos hebreus, permite a compreensão de que sem a fé é impossível agradar a Deus. Quem Dele se aproxima deve crer que Ele existe e recompensa os que o procuram. Na estatura simples de Nhá Chica, sua experiência de fé tracejou como em Noé “o levar a sério” a promessa divina, a obediência amorosa que impulsionou Abraão fazendo-o partir confiante para uma terra que deveria receber como herança. Nela, pobre sem letras e sem poder, como em Sara, a estéril, é manifestada a força do amor de Deus por uma admirável capacidade de fazer o bem em vida e depois da morte. Pela fé, Jacó se prostrou em adoração e Nhá Chica viveu adorando, especialmente às sextas-feiras, tocada pelos sofrimentos redentores de seu Senhor. Pela fé, José relembrou, já no fim da vida, do êxodo dos filhos de Israel e Nhá Chica continua lembrando-se de todos nós. Também pelo caminho da fé, Moisés preferiu ser maltratado com o povo de Deus e Nhá Chica escolheu ser conselheira e protetora daqueles que são desafiados pelos sofrimentos. Sua beatificação ensina a todos nós que a fé é o tesouro maior.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
  
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das nossas desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidaria, que permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa das Confederações em junho; a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...