“Começar
de novo
A vida é feita de
recomeços. Em nossa cultura, repetimos com frequência que devemos “nascer de
novo”, “ressurgir das cinzas”, “dar a volta por cima”. Todas essas expressões
convidam-nos à resiliência. Não devemos nos abater. Precisamos seguir em
frente, “levantar a cabeça” e aprender com as oportunidades que a vida nos dá.
O
recomeço faz parte das concepções mais bonitas que temos. Entretanto, requer
coragem. Implica sair da situação de conforto e mudar de rota. Há uma concepção
que se generalizou e ganhou um sentido preocupante entre nós ao dizer que “as
pessoas não mudam”. Certamente, há mudanças que são mais difíceis ou
impossíveis (genéticas, hereditárias), mas as mudanças relacionais e de
perspectivas em relação ao viver podem e devem ocorrer. Na verdade, elas
sucedem com frequência. Essa é uma das belezas da vida. Se fosse sempre a
mesmice, seria um tédio. O filósofo pré-socrático Heráclito afirmava que
estamos em constante mudança.
Quando,
por insegurança ou medo, abraçamos a rigidez e damos uma direção única e
previsível às nossas condutas e decisões, perdemos as oportunidades de mudar e
de crescer. Precisamos de flexibilidade e, sobretudo, de sensibilidade para
perceber os ensinamentos que os dias nos trazem. Por vezes, aceitamos novos
caminhos e encontramos barreiras e resistências por parte de pessoas mais
próximas ou queridas, o que torna mais difícil novas escolhas e mudanças.
Cabe
dizer que nem toda mudança significa crescimento. Observamos isso na política e
nas gestões públicas e privadas, quando são instituídas mudanças que
desconhecem não são indiferentes aos caminhos percorridos, aos avanços
alcançados. Essas mudanças, muitas vezes causadas pela vaidade ou pela
incompetência, não têm nada de benéfico. Pelo contrário, na grande maioria das
vezes, significam retrocesso e sofrimento para muitos. Políticos e gestores
precisam pensar nisso antes de ignorar e desvalorizar as conquistas históricas,
algumas delas feitas a duras penas pelos seus antecessores, profissionais e
população.
Na
perspectiva das relações interpessoais, o recomeço é necessário quando a mágoa,
a frieza e a indiferença passam a predominar. Nesses casos, o caminho pode ser
curto ou longo – vai depender – para o renascimento de relações mais
humanizadas. Isso é frequente no ambiente familiar, na comunidade ou no
trabalho. As estratégias de diálogo, de escuta, respeito e valorização do outro
são muito importantes para o ressurgimento de uma convivência mais saudável e
digna. Com certeza, não é tarefa fácil, mas necessária.
Na
relação amorosa, o recomeço é muito importante. Começa de novo e redescobrir o
outro, é fundamental, assim como rediscutir e reinventar novos espaços para a
relação. Por outro lado, nos caos em que a interação, por várias razões, não
deu certo e se está iniciando uma nova vida a dois, começar de novo implica se
dar a oportunidade e o direito de construir um novo relacionamento e ser feliz.
É triste – e um tanto absurdo – constatar que, mesmo com os avanços nas
discussões éticas e humanísticas, há grupos socioculturais e religiosos que
ainda apresentam resistência e/ou restrições aos casais em segunda união.
No
decorrer dos dias, algumas situações – perdas de pessoas queridas, frustrações
por motivos diversos, desencontros e desencantos – nos convidam a rever o rumo
que estamos dando às nossas vidas. Nesses momentos, precisamos estar abertos
para acolher e refletir sobre novos caminhos e muitas vezes, a recomeçar.
Começar
de novo será sempre uma experiência de reencontros e de paz à medida que
tomamos a decisão em favor da vida e redescobrimos, nas escolhas realizadas, a
alegria de viver e conviver numa sociedade de pessoas livres e com dignidade.”.
(ARISTIDES
JOSÉ VIEIRA CARVALHO. Médico, mestre em medicina, especialista em clínica
médica e em medicina da família e comunidade, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 25 de março
de 2017, caderno OPINIÃO, página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
31 de março de 2017, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo
Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:
“Resgate
da credibilidade
A crise de
credibilidade que impacta diferentes instituições na sociedade contemporânea
exige a participação de todos na busca por soluções – de igrejas a pequenos
produtores, incluindo, obviamente, grandes empresários e os três poderes da
República. A credibilidade é um importante bem em todas as instituições. A
Igreja Católica, por exemplo, deve continuamente aprimorar seus serviços religiosos,
sociais e educacionais, primando pela credibilidade. O compromisso principal da
Igreja é, em todas as ações, proclamar a palavra de Deus, fonte perene de
valores, dos parâmetros éticos e morais que devem guiar todos os trabalhos.
Nessa missão, cada pessoa que se dedica aos muitos serviços da Igreja deve se
empenhar para aperfeiçoar processos e procedimentos e, assim, continuamente,
qualificar o trabalho prestado ao povo de Deus. Assim é possível contribuir
para que muitos cultivem a fé e colaborem, decisivamente, na construção de uma
sociedade mais justa.
Sem
credibilidade, a Igreja não pode desempenhar a sua missão. E, do mesmo modo, as
diferentes instituições precisam da credibilidade, ou vão amargar prejuízos.
Caso exemplar e recente é a crise no mercado a partir das denúncias da Operação
Carne Fraca. Estabeleceu-se um clima de insegurança que afetou negativamente
esse setor, com reflexo nos indicadores da economia brasileira. Prova de que a
credibilidade é mesmo um bem precioso. Quando perdido, compromete os resultados
e os serviços prestados. Por isso, sublinha-se a responsabilidade cidadã, nas
diferentes atividades, de sempre cultivar e preservar esse bem.
Instituições
e segmentos diversos pagarão caro toda vez que seus representantes agirem fora
dos parâmetros da honestidade, transparência e do altruísmo. E para recuperar a
credibilidade, é preciso percorrer um longo caminho. Por isso, cada pessoa deve
ser verdadeira no que faz e fala. Não se avançará sem o “ouro” da
credibilidade. Conquistá-la e fortalecê-la deve ser a meta de todos. Isso implica
agir com lisura nos mais diferentes
processos. Um compromisso de primeira grandeza.
Há de
se despertar o gosto pelos parâmetros que sustentam a credibilidade. Quem é
verdadeiro e honesto abre mão de privilégios. Esse é que deve assumir a linha
de frente. Como Diógenes, com a lanterna na mão, precisa inspirar todos a
cultivar esse valor. Importante nesse caminho é superar um péssimo hábito que
contamina o tecido da cultura: considerar elogiável quem consegue o que quer
valendo-se de trapaças e mentiras.
Assim,
todos são convocados para uma autoavaliação com o objetivo de identificar
atitudes que ameacem a credibilidade das instituições. Essa é uma tarefa
inadiável para renovar o fundamento da cultura. Agir com seriedade é condição
para que a sociedade alcance o patamar que já deveria ter conquistado. Nas mãos
de cada um está a chance de renovar as instituições. Para isso, que todos se
empenhem no resgate desse importante bem.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em fevereiro/2017 a ainda estratosférica
marca de 481,46% nos últimos doze meses,
e a taxa de juros do cheque especial registrou históricos 326,96%; e já o IPCA
também acumulado nos últimos doze meses, chegou a 4,76%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico
de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem
mostrando também o seu caráter transnacional;
eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos
borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um
verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque,
rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim,
é crime...); III – o desperdício, em
todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O
Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança
das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é
desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de
problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos,
quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas
de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à
corrupção e à falta de planejamento...”;
c) a dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para
2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável
desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão,
a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com
esta rubrica, previsão de R$ 946,4
bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Isto
posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos
a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela excelência
educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além
de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do
século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da
informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da
sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da
paz, da solidariedade, da igualdade
– e com equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
- 55
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...
-
Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...