“A
perspectiva singular do papa ao propor
uma ecologia integral
O papa Francisco operou
uma grande virada no discurso ecológico ao passar da ecologia ambiental para a
ecologia integral, que inclui a ecologia político-social, a mental, a cultural,
a educacional, a ética e a espiritual.
Há o
risco de que essa visão integral seja assimilada dentro do costumeiro discurso
ambiental, não se dando conta de que todas as coisas, saberes e instâncias
estão interligadas. Ora, é essa cosmologia que leva o papa a dizer: “Nunca
maltratamos e ofendemos nossa casa comum como nos últimos dois séculos”.
Como
superar essa rota perigosa? O papa responde: “Com uma mudança de rumo” e ainda
mais com a disposição de “delinear grandes percursos de diálogo que nos ajudem
a sair desta espiral de autodestruição na qual estamos afundando”. Se nada
fizermos, podemos ir ao encontro do pior. Mas o papa confia na capacidade
criativa dos seres humanos.
Para
enfrentar os múltiplos aspectos críticos de nossa situação, o papa propõe a
ecologia integral. O pressuposto teórico deriva da nova cosmologia, da física
quântica, da nova biologia, do novo paradigma contemporâneo que implica a
teoria da complexidade e do caos. Nessa visão o repetia um dos fundadores da
física quântica, Werner Heisenberg: “Tudo tem a ver com tudo em todos os pontos
e em todos os momentos; tudo é relação, e nada existe fora da relação”.
Seguramente,
a mais bela e poética das formulações é encontrada no número 92 da encíclica,
no qual enfatiza: “Tudo está em relação, e todos nós estamos unidos como irmãos
e irmãs (...) com todas as criaturas que se unem conosco”.
Essa
visão existe já há quase um século, mas nunca conseguiu se impor na política e
na condução dos problemas e para cada um procura uma solução específica, sem se
dar conta de que essa solução pode ser maléfica para outro problema.
A
encíclica poderá servir de instrumento educativo para apropriarmo-nos dessa
visão inclusiva e integral. Por exemplo, como assevera a encíclica: “Quando
falamos em ambiente, nos referimos a uma particular relação entre a natureza e
a sociedade; isso nos impede de considerar a natureza como algo separado de
nós. Somos incluídos nela, somos parte dela”.
E continua,
dando exemplos convincentes: “Toda análise dos problemas ambientais é
inseparável da análise dos contextos humanos, familiares, trabalhistas, urbanos
e da relação de cada pessoa consigo mesma, que cria um determinado modo de
relações com os outros e com o ambiente”. Se tudo é relação, então a própria
saúde humana depende da saúde da Terra e dos ecossistemas. Todas as instâncias
se entrelaçam para o bem ou para o mal. Essa é a textura da realidade, não
opaca e rasa, mas complexa e altamente relacionada com tudo.
Se
pensássemos nossos problemas nacionais nesse jogo de inter-retrorelacionais,
não teríamos tantas contradições entre os ministérios e as ações
governamentais. O papa nos sugere caminhos certeiros que nos podem tirar da
ansiedade em que nos encontramos face ao nosso futuro comum.
Teilhard
de Chardin tinha razão quando, nos anos 30 do século passado, escrevia: “A era
das nações já passou. A tarefa diante de nós agora, senão pereceremos, é
construir a Terra”. Cuidando da Terra com terno e fraterno afeto no espírito de
são Francisco de Assis e de Francisco de Roma, podemos seguir “caminhando e
cantando”, como conclui a encíclica, cheios de esperança. Ainda teremos futuro
e iremos irradiar.”
(LEONARDO
BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 26 de
junho de 2015, caderno O.PINIÃO, página
20).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de reportagem publicada no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 2 de julho de 2015, caderno CIÊNCIA & TECNOLOGIA, página 12, de
autoria de HENRIQUE REZENDE, e que
merece igualmente integral transcrição:
“O
desafio da sustentabilidade
Apesar de extremamente
necessária para a saúde do planeta, uma mudança na forma como as pessoas
consomem, tornando-a ambientalmente mais correta, pode prejudicar o crescimento
econômico dos países. A percepção é da maioria dos especialistas da área do
meio ambiente ouvidos em uma pesquisa apresentada no Seminário Internacional
sobre os Padrões de Consumo para o Desenvolvimento Sustentável, realizado
terça-feira e ontem em Brasília. O estudo, conduzido por Antônio Carlos
Filgueira Galvão, diretor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE),
revela o quanto o enfrentamento das mudanças climáticas é um desafio complexo,
que envolve diferentes e interesses.
Para
enfrentar o aquecimento global, todos os países precisam realizar uma série de
mudanças que afetam, principalmente, a forma de mover a economia. Usar menos
combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, apostar mais nas energias
renováveis, e parar de derrubar florestas para transformá-las em áreas de
plantio são algumas delas. Adotar essas e outras medidas significa promover a
produção e o consumo sustentáveis, que também está intimamente ligada à geração
de riquezas. Segundo Galvão, tem sido mais fácil para os governos adotarem
medidas que tornem a produção menos agressiva à natureza, pois isso pode ser
feito por meio de ações como novas legislações e políticas fiscais e de
incentivo à indústria. “A ideia de padrões de consumo é muito mais complicada,
pois envolve a mudança de hábitos culturais arraigados”, explica. Por isso,
tanto o estudo quanto o seminário focaram nesse último aspecto, diz.
Participaram
do levantamento 579 especialistas que trabalham com a questão ambiental, sendo a
maioria do Brasil (67%), da França (13%) e da Suécia (4%) – uma forma de
comparar as percepções dos profissionais de um país em desenvolvimento com as
daqueles de duas nações europeias. Para mais da metade dos brasileiros e dos
franceses ouvidos, a transição para padrões de consumo que promovem o
desenvolvimento sustentável faria o crescimento ocorrer de forma mais modesta
ou o tornaria nulo ou negativo. Entre os suecos, o pessimismo se mostrou maior,
como mais de 60% deles pensando dessa maneira.
Quando
um estudo semelhante, com especialistas dos mesmos países, foi feito na época
da Rio+20, conferência ambiental realizada na capital fluminense em 2012, havia
mais otimismo, com um número maior de pessoas que acreditavam ser possível
crescer de forma igual ou melhor com a adoção de uma economia verde.
“Na
realidade, o que os dados mostram é que precisamos debater o tema com mais
propriedade”, avalia o diretor do CGEE, organização social supervisionada pelo
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Não é possível ignorar o
fato de que o desafio não é apenas mudar a forma de produzir e consumir para
degradar menos o meio ambiente, mas fazer isso sem aumentar problemas como o desemprego,
um dos reflexos do baixo crescimento. Para Galvão, o Brasil tem, a médio prazo,
o desafio de “inocular mais qualidade ao seu crescimento”. Isso significa ser
menos dependente das commodities, que geram muito emprego, mas com remuneração
mais baixa, e fortalecer a indústria e a inovação. O país, apesar de muitos
obstáculos, tem alguns trunfos que podem ajudá-lo, como grande potencial para
adoção de energias verdes, a eólica e o etanol, por exemplo, uma cultura
estabelecida de reciclagem; e uma agricultura pujante, cada vez mais eficiente
em produzir mais em menos espaço.
PRIORIDADES
O
estudo capta bem a diferença de necessidades vividas por países desenvolvidos e
em desenvolvimento. Hoje, sabe-se que uma economia menos agressiva
ambientalmente deve ser construída por todos, mas o que cada um fará é a origem
de todos os impasses. No centro desse debate, está o financiamento pelos países
ricos de tecnologias verdes para serem adotadas pelos mais pobres, que não têm
como arcar uma revolução nos meios de produção sem sacrificar seus orçamentos
ou outras ações ainda necessárias, como a universalização do acesso ao
saneamento básico.
Essa
diferença de visões aparece quando os especialistas são perguntados sobre qual
deve ser o foco para a implementação do 10YFP, programa internacional
coordenado pelas Nações Unidas para aprimorar nos próximos 10 anos, a
cooperação entre países visando acelerar a transição rumo a um consumo e uma
produção sustentáveis. Para os brasileiros, o principal ponto deve ser a transferência
e o acesso a novas tecnologias, um dado que não aparece entre as principais
sugestões de franceses e suecos, que dão mais destaque à adequação de recursos
financeiros, capacitação e desenvolvimento de redes profissionais e medidas com
a taxação maior de produtos pouco duráveis. Par Galvão, o debate do
financiamento é central hoje, mas se torna um grande desafio em tempos de crise
econômica com agora. “Há um grande consenso sobre as necessidades, mas há
também diferentes interesses que precisam ser enfrentados para entrarmos em uma
trilha de cooperação internacional”, avalia.
Para a
botânica Laure Emperaire, do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento
(IRD), na sigla em francês) – instituição parceira do CGEE no seminário, ao
lado do governo sueco e outras entidades brasileiras – há um desafio a ser
superado. “estamos com dificuldade de implementar um conjunto de ações comuns
para alcançar um consumo socioambientalmente sustentável”, avalia.
Emperaire
faz questão de acrescentar o fator social na discussão por considerar que o
debate passa pelo respeito à diversidade cultural. Segundo ela, a busca por um
consumo sustentável deve, obviamente, se pautar pelo baixo impacto ambiental,
mas é preciso evitar o excesso de normatização que impeça modelos de produção e
consumo tradicionais, especialmente em relação a sistemas alimentares
diferenciados. “Precisamos abrir para o grande público a importância da
diversidade na forma de produzir”, defende.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito subiu 1,7 ponto percentual em abril e atingiu
347,5% ano ano...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
simples divulgação do balanço auditado da Petrobras, que, em síntese, apresenta
no exercício de 2014 perdas pela corrupção de R$ 6,2 bilhões e prejuízos de R$
21,6 bilhões, não pode de forma alguma significar página virada – eis que são valores simbólicos –, pois em nossos
515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes,
desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então,
a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e
segundo o estudo “Transporte e Desenvolvimento – Entraves Logísticos ao
Escoamento de Soja e Milho, divulgado pela Confederação Nacional do Transporte,
se fossem eliminados os gastos adicionais devido a esse gargalo, haveria uma
economia anual de R$ 3,8 bilhões...);
c) a
dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para
2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$
1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$
868 bilhões), a exigir IMEDIATA,
abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br).
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os
projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização,
da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da
inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo
mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!...