“Biotecnologia:
a medicina do futuro
A biotecnologia
representa hoje a nova fronteira da ciência. Ela trata de questões relativas à
clonagem de seres vivos (inclusive do homem), às pesquisas com células-tronco,
à engenharia genética, à pesquisa e produção de alimentos etc. Como toda a
ciência da qual decorrem produtos tecnológicos que podem ser usados para o bem
ou para o mal, a biotecnologia ainda provoca polêmica. Desse modo, esse assunto
merece um amplo debate público. Em última instância, a manipulação dessa
ciência pode proporcionar o domínio de um grupo de seres humanos por outro,
para fins exclusivamente comerciais e condenáveis do ponto de vista dos valores
humanísticos que se universalizaram na história da civilização.
Por
outro lado, a biotecnologia pode trazer enormes benefícios à humanidade em
várias áreas. Justamente por representar ameaças terríveis e promessas
animadoras e redentoras, ela vem suscitando debates acalorados e polarizando
opiniões. O tema, portanto, é efervescente.
Não se
pode negar que, com o advento da tecnologia, a medicina avançou a passos
largos, especialmente nas últimas duas décadas. Cada vez mais pesquisadores se
debruçam sobre o aprimoramento de técnicas capazes de diminuir o sofrimento
físico e psíquico dos seres humanos, seja tratando, corrigindo e curando, seja
substituindo partes combalidas do organismo por outras saudáveis, em uma busca
constante por longevidade com qualidade de vida. A base dessa construção se deu
pela compreensão e pelo domínio de eventos físicos, químicos e biológicos que
nos cercam.
Nesse
contexto, surgiu a medicina regenerativa. Sua área de atuação se dá na
aplicação de princípios de engenharia e de ciências da saúde para promover a
substituição ou a regeneração de células, tecidos ou órgãos humanos com o
objetivo de restaurar as funções normais do organismo.
Esse
ramo da medicina se tangibiliza de diferentes formas, tanto por meio da
substituição ou troca de tecidos e órgãos danificados como pela realização de
implantes celulares, em uma tentativa de fazer um organismo debilitado se
recuperar.
É
nesse ponto que a medicina regenerativa e as células-tronco se cruzam. As
células-tronco têm sido as principais responsáveis pela evolução das técnicas
de regeneração, muito em função da alta capacidade que têm de autorrenovação e
de se diferenciar como outras células com funções específicas.
Elas
são classificadas em diferentes tipos: existem as células-tronco embrionárias, geradas
no momento da formação de um feto, e as células-tronco adultas, encontradas em
todo o organismo humano. Por muito tempo, considerou-se que as células
embrionárias fossem as únicas capazes de se transformar em diferentes tecidos,
mas estudos recentes certificam que as células adultas, como as provenientes da
medula óssea e do dente de leite, por exemplo, também têm essa característica
de diferenciação.
Com
isso, descortinou-se um novo horizonte para os pesquisadores, que estão
dedicados a transformar em realidade clínica as pesquisas científicas voltadas
ao tratamento de doenças hematológicas, degenerações no globo ocular, diabetes,
artroses, doenças cardíacas, esclerose múltipla, entre outras. Essa evolução
vem ratificar o que antes encontrava-se no ramo da expectativa: a medicina
regenerativa pode se consolidar como a mais promissora revolução de saúde em um
futuro próximo e como uma das maiores conquistas da humanidade.
Não há
como negar que a regência da farmacologia em tratamentos envolvendo o uso de
medicamentos irá dividir espaço, em pouco tempo, com tratamento biológicos de
alta previsibilidade. É também fato que que o caminho traçado pela ciência,
construído com base no uso sistemático do método científico e sob evidências
sólidas e validadas, traz periodicamente mudanças profundas de paradigmas no
âmbito tecnológico, institucional e cultural.
Para que o uso de
células-tronco se torne cada vez mais uma realidade clínica e que isso ocorra
com toda a transparência, serenidade e lucidez necessárias, é fundamental que a
disseminação desse conhecimento em construção se dê em todos os níveis de modo
claro, objetivo e despido de alegorias.
De acordo com o professor Shinya Yamanaka, Prêmio Nobel de
Medicina em 2012, “os cientistas devem concentrar-se nas pesquisas, e os
políticos e as empresas devem contar com a prova concreta gerada a partir de
estudos científicos para informar direções futuras”. Dessa forma, retornaremos
ao berço embalados pelas mãos da biologia e sua imensidão de possibilidades e
segredos a serem desvendados.”.
(JOSÉ RICARDO
MUNIZ. Membro da Sociedade Internacional de Pesquisas em Células-Tronco,
doutor em ciência de materiais pelo Instituto Militar de Engenharia (IME-RJ) e
especialização em periodontia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas
(PUCCAMP), em artigo publicado no jornal ESTADO
DE MINAS, edição de 3 de outubro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
27 de novembro de 2015, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:
“Misericórdia
e compaixão
A Igreja Católica
prepara um percurso de grande importância: a celebração do Ano Santo da
Misericórdia, convocado pelo papa Francisco. Trata-se de um momento especial,
celebrado no âmbito das comunidades de fé, que deve ecoar em todo o mundo, para
vencer as muitas violências – física e moral, a corrupção e também a
permissividade que contracena com a rigidez de grupos, alimentando
fundamentalismos religiosos, políticos e culturais. A vivência desse tempo é
oportunidade para tratar feridas que atingem a sociedade como um todo,
inclusive a própria Igreja. O remédio para essas enfermidades é a prática da
misericórdia.
A
audaciosa convocação do Ano Santo da Misericórdia comprova a intuição singular
do papa Francisco no exercício de sua missão. É pelo caminho da misericórdia
que a humanidade alcançará as mudanças e respostas que a contemporaneidade
espera, com urgência. É remédio incidente. Pode ocorrer de se pensar, equivocadamente,
que agir de modo misericordioso se trata de fraqueza e conivência. Mas,
assinala o papa Francisco, reportando-se a palavras de Santo Tomás de Aquino,
que a misericórdia não é sinal de fraqueza, é qualidade da onipotência divina.
O
início do Ano Santo da Misericórdia será marcado pela abertura da porta santa
em Roma, pelo papa, no dia 8 de dezembro. Nas dioceses do mundo inteiro, no
domingo seguinte, dia 13, essa porta será aberta para que qualquer pessoa
entrar e experimentar o amor de Deus, que perdoa, consola e dá esperança. Isso
significa que a vivência da misericórdia permite regeneração e nova compreensão
da vida, um olhar compassivo sobre a humanidade, na direção de cada pessoa.
Torna efetiva a possibilidade de se alcançarem novos sentimentos e um jeito de
viver capazes de desenhar cenários na contramão da violência, da corrupção, da
luta insana pelo poder e pelo lucro.
A
experiência da misericórdia alimenta a esperança. Permite a compreensão lúcida
da fraternidade e da solidariedade. Bases que devem substituir a lógica
perversa da economia que gera ganância, raiz de um “desenvolvimento” que recai
como peso sobre os ombros de todos, particularmente dos pobres e indefesos.
Para encontrar um rumo novo, todos são convocados a compreender que Deus é
misericordioso, fonte da misericórdia. E Jesus Cristo é o rosto dessa
misericórdia do Pai porque n’Ele, Jesus, a misericórdia se tornou viva, visível
e chegou ao seu ápice. Esse é o mistério da fé cristã.
Ser
cristão é, portanto, contemplar o mistério da misericórdia, revelado por Jesus
Cristo, fonte da alegria, da serenidade e da paz. Uma interpretação incidente,
pois permite reconhecer que a misericórdia é o ato último e supremo pelo qual
Deus vem ao encontro de todos. Pertinente é a indicação do papa Francisco,
quando sublinha que “a misericórdia é a lei fundamental que mora no coração de
cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da
vida. Misericórdia é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o
coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação de nosso
pecado”.
Coluna
mestra de sustentação da Igreja, a experiência da misericórdia é indispensável
para conseguir respostas novas e transformadoras, diante dos desafios da
atualidade. Sem o remédio da misericórdia, crescerão os fundamentalismos, não
se controlará a intolerância, haverá sempre mais polarização de grupos
políticos e religiosos, um contínuo desgaste da cultura da vida e da paz.
Investir na misericórdia começa pela competência indispensável de perdoar, como
Jesus indicou a Pedro, ao responder a sua pergunta a respeito de quantas vezes
deve-se perdoar. O perdão é o núcleo central do Evangelho e da autenticidade da
fé cristã. Por isso, Jesus mostra que a misericórdia não é apenas o agir de
Deus Pai, mas é o verdadeiro critério para reconhecer quem são os verdadeiros
filhos de Deus.
O Ano
da Misericórdia, experiência de fé na Igreja, com incidência na vida das
famílias e comunidades, marcado por testemunhos, significativos gestos de reconciliação
e perdão, é necessário para se alcançar nova etapa no cuidado das fraquezas e
dificuldades dos irmãos. Um convite para que se busque a sabedoria da
misericórdia. Em lugar de violência e disputas, que surja um tempo novo, pela
força da misericórdia e da compaixão.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a
estratosférica marca de 414,30% para um período de doze meses; e mais, em
outubro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,93%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso
específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e
que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos
e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 868 bilhões), a exigir alguns
fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os brasileiros.
Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e
que contemplam eventos como a Olimpíada
de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do
século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da
informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da
sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da
paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”