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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A CIDADANIA, O DESAFIO DA EDUCAÇÃO INFANTIL E A BOA GESTÃO

“Criança: a ilusão do futuro ou a realidade das vítimas?
        
         A cultura cria mitos. As crianças têm sido mitificadas com a imagem de inocência, beleza, carinho, anjos a brincar. Nem sempre aconteceu na história e nem em todos os países existe a sensibilidade carinhosa para com elas. Em culturas antigas e em certos países exageradamente capitalistas, elas significam empecilho, dificuldade e estorvo. No evangelho, quando as trouxeram para Jesus abençoá-las, os apóstolos se opuseram (Mt 19,13). Mereceram repreensão de Jesus, que as propôs como símbolo do Reino de Deus, as acolheu com imenso carinho e advertiu gravemente quem as escandalizasse (Mt 18,3-10). Algo surpreendente!
         Na nossa cultura brasileira, desenha-se-lhes delicada imagem. Não nos cansamos de dizer que elas serão o futuro. Celebramos o Dia das Crianças. Será verdade que as tratamos tão bem e as preparamos realmente para ser o futuro do país? Não se esconde por trás de tantos programas, DVDs, sites sobre e para as crianças interesses outros que terminam por fazer delas antes vítimas que futuro?
         Se as olhamos sob o ângulo biológico, naturalmente elas serão o futuro. Estaremos todos mortos e elas, as pessoas adultas de amanhã, tocarão a história. Mas o termo futuro não se entende em tal sentido. Imagina-se que o amanhã será radioso, belo, promissor, ao olhar para uma criança.
         Tal cena veste-se de mito. Há parte de verdade e parte de ilusão somada com interesses ambíguos. Acontece na sociedade e em muitas famílias sério para que as crianças recebam a melhor educação e assim se preparem para construir para si e para o país futuro alvissareiro e carregado de felicidade. Verdade!
         A mentira, o engodo, o toque ideológico vêm de várias fontes. Sob discursos aduladores, escondem-se inúmeras violências. Com freqüência, jornalistas lançam a público descobertas em diversos lugares de crianças submetidas a trabalho escravo. Não raro, os pais, sofrendo situação de tamanha pobreza, acabam aceitando a situação em troca de alguns bens materiais ou dinheiro.
         Outra situação vitimiza-as: o não frequentar as escolas. Andam para mais de um milhão. Como esperar futuro luminoso se tantas crianças estão fora da escola, ou abandonam-na antes de concluir o curso ou mesmo frequentam uma de má qualidade? Eis vítimas ainda piores. Sofrem exploração sexual. Muitas na sua própria casa. Outras caem na malha da prostituição infantil. Enfim,  número incalculável é atingido clara e subliminarmente por programas de TV, sites, que terminam sexualizando-as precocemente.
         Não faltam ainda aqueles que as exploram pela via do consumismo. Descobriram o mercado infantil. E instrumentalizam-nas para que consigam dos pais comprar os objetivos das propagandas. Há pais pobres que se sacrificam ao extremo para satisfazer os desejos dos filhos. Tantos pais e crianças sucumbem à dominação do mercado. E aí não há futuro, mas unicamente vítimas. O futuro dependerá do que investirmos em educação ética da geração jovem em contraposição a tantos fatores que a pervertem.”

(J. B. Libanio. Teólogo, filósofo, escritor e professor; padre jesuíta, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 20 de outubro de 2013, caderno O.PINIÃO, página 21).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 19 de outubro de 2013, caderno O.PINIÃO, página 20, de autoria de Juliana Picinin, que é advogada e professora, e que merece igualmente integral transcrição:

“Nunca foi tão importante para uma empresa investir em boa gestão
        
         Há dois meses foi publicada a Lei Anticorrupção, que começa a valer a partir de fevereiro de 2014.
         A lei nasce em meio a um misto de clamor público nacional – resultado das manifestações sociais havidas em todo o país – e internacional para que o Brasil executasse os compromissos assumidos em documentos oficiais, a exemplo da pressão da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ao contrário de muitos projetos que ficam engavetados por anos e demoram a se tornar lei, esse é mesmo de 2013 e teve pouco tempo de tramitação. Mas, devido ao afogadilho – e no afã de importar alguns institutos estrangeiros –, trouxe mais um tormentoso caso para o Judiciário interpretar.
         Vê-se que essa nova lei parece ter entrado em choque direto com outras, especialmente com as de licitação e de improbidade administrativa. Vários fatos puníveis e seus penas são os mesmos, fazendo com que o intérprete da lei se pergunte que texto deve ser usado e se algum não foi, de fato, revogado.
         Isso ainda vai dar o que falar. Assim tem sido com legislações que nascem do calor e não da ciência.
         Uma das inovações é a responsabilidade objetiva da pessoa jurídica (permanecem as pessoas físicas respondendo por dolo ou culpa). Não importa, portanto, se o fato é fruto de má-fé ou desonestidade.
         As penas são graves, podendo ir de 0,1% a 20% do faturamento bruto do último exercício antes do início do processo (excluídos os tributos) ou, se não for possível através desse cálculo, multa de R$ 6.000 a R$ 60 milhões, além da reparação integral do dano causado. Não é só: a pena pode ser até de dissolução compulsória da empresa, proibição de receber incentivos, subvenções, subsídios, doações ou empréstimos no período de cinco anos.
         Outra inovação é o “acordo de leniência”, no qual o acordante promove a identificação dos demais envolvidos ou propicia a obtenção célere de informações e documentos que comprovem o caso. Isso desde que a empresa seja a primeira a se manifestar, se comprometa a cessar completamente a atividade e admita sua participação no caso, cooperando plena e permanentemente com as investigações, bem como compareça a todos os atos.
         Com isso, a empresa se livra de até 2/3 da multa, da publicação da decisão na imprensa e das restrições de crédito e incentivos.
         Mais uma inovação é a possibilidade de redução das penas quando a empresa se vale de atividades de compliance – mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e aplicação efetiva de códigos de ética e conduta. Embora a questão ainda vá ser regulamentada por decreto, vale a pena as empresas começarem a investir desde já nessas ferramentas (e mudança de cultura) de boa gestão e prevenção de ilícitos.
         A conclusão de todos esses pontos é que nunca foi tão importante para uma empresa as novas políticas a partir de agora, antes da entrada em vigor da nova lei. Falta muito pouco tempo.
         Para isso, a empresa precisa de uma boa base jurídica, com produtos desenhados exclusivamente para seu perfil de negócio e de pessoal. Instalados os mecanismos, a empresa precisa treinar equipes, implantar culturas e efetivamente ficar de olhos bem abertos.
         Uma boa consultoria é o segredo. Afinal, o que não é segredo é que prevenir sempre foi melhor que remediar.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; b) – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidade e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...