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sexta-feira, 30 de maio de 2014

A CIDADANIA, A PSICOSSOMÁTICA NA DOENÇA, A BOLA E O SOCIAL

“A doença como capítulo da história de uma pessoa
        
         Nas últimas décadas, há um consenso de que fatores psicológicos participam do surgimento das doenças físicas. Tanto os profissionais da saúde como o público leigo admite que “estar doente” tem relação com a mente – observamos pessoas que adoeceram gravemente após um grande problema na vida.
         Das patologias reveladas pela psicanálise, a psicossomática ocupa um lugar diferenciado, pelo caráter fundamental que unifica o corpo e a mente, mostrando a participação do fator psicológico tanto na manifestação como no tratamento de doenças físicas. Desde uma simples alergia até o câncer, não se encontra mais quem conteste esse fato incontornável.
         Desde 1968, o médico psicanalista argentino Luis Chiozza pesquisa como se dá a interação entre corpo e psique na saúde e na doença. A doença é uma condição presente em nosso cotidiano e, frequentemente, vista como castigo que nos mobiliza, nos atropela e nos atormenta. Se considerarmos que passamos mais tempo da nossa vida com alguma doença do que plenamente sadios, talvez pudéssemos repensar a noção de saúde como ausência total de sintomas.
         Quando pensamos em doença, nós a interpretamos como produto de uma causa que pode evoluir, retroceder ou estabilizar-se. Podemos cuidar desse desequilíbrio usando recursos aprendidos ao longo da vida ou recorrer a um especialista quando percebemos que não conseguimos nos curar sozinhos.
         As diversas áreas do conhecimento têm se desenvolvido cada vez mais, as especialidades se sofisticam, conhecemos melhor os mecanismos de funcionamento do corpo e os múltiplos avatares da mente. Porém, cada vez mais, os profissionais da saúde, entre médicos, psicólogos, psicanalistas e nutricionistas, são surpreendidos com perguntas como: Por que isso aconteceu comigo? O que fiz para ficar assim? Eu tenho cura?
         A aprendizagem acadêmica ensina a reconhecer os mecanismos gerais das patologias, aponta direções de tratamento, mas não nos auxilia na árdua tarefa do cotidiano da nossa clínica. A singularidade de cada paciente obriga a rever nossos postulados, nosso campo de saber, e, involuntariamente, cometemos equívocos.
         Na minha experiência, me defronto com profissionais que são unânimes no reconhecimento de que o humano é um ser integral. Porém, na prática terapêutica, essa verdade permanente cindida e dissociada.
         Outro equívoco é que entendemos frequentemente a doença como um acidente indesejável que interfere na vida de um indivíduo. O tratamento a ser visto como um recurso que recupera o equilíbrio perdido. É o caso da concepção do senso comum da somatização, que explica as doenças orgânicas pela influência de uma força perniciosa psíquica interferindo no funcionamento do corpo. Assim, a psicoterapia passa a ser entendida como um bloqueio dessa influência psíquica na evolução de uma doença.
         Para Chiozza, a doença aparece como um capítulo indissolúvel de uma biografia que completa a trama de uma história num conjunto mais amplo e com significado mais rico. Dessa forma, a doença deixa de ser o acontecimento que surge vindo de fora para transformar-se num drama que pertence inteiramente à própria vida pessoal. Tratar um sofrimento, quer se manifeste na área psíquica ou na orgânica, implica o cuidado integral de um indivíduo, valendo a colaboração multidisciplinar a partir da compreensão e de pressupostos comuns.
         Entender uma doença significa contextualizá-la na vida de uma pessoa, compreendê-la em suas diversas manifestações e integrá-la na sua biografia; ir mais além do que eliminar seus sintomas; decifrar seu sentido profundo para encontrar outras formas de expressão desse sofrimento, quando for possível.”

(CLARISSA SILBIGER OLLITTA. Psicóloga e psicanalista psicossomática, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 24 de maio de 2014, caderno O.PINIÃO, página 16).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 23 de maio de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“A bola e o social
        
         A Copa do Mundo está se aproximando, e a sociedade brasileira confirma sinais de que não tratará o futebol simplesmente com a habitual euforia. O “país do futebol”, cansado com o modo obsoleto de se fazer política, está emoldurando o mundial com a exigência de se promoverem mudanças. Não bastará, como de costume, fixar o olhar na bola. É imprescindível debater as questões sociais, investindo em transformações profundas. A euforia própria do futebol, com sua alegria que, bem vivida, congraça e inspira união de corações, precisa receber marcas incidentes. Trata-se de adicionar um componente cidadão que contribua para as reformas que o Brasil, especialmente o pobre, espera e precisa. Desta vez, a tática usada desde o Império Romano de distrair o povo das questões sociais e políticas com o entretenimento não pode funcionar.
         Com freqüência acompanhamos as notícias na imprensa sobre os jogos da Copa que, por exigência de seu órgão superior, poderiam ser realizados em oito estádios. Por isso mesmo, ninguém consegue entender a razão dos investimentos na construção extremamente onerosa aos cofres públicos dos estádios que são considerados desnecessários para o evento. Se confirmada a notícia, trata-se de outro indício da incompetência governamental no planejamento da destinação dos recursos que precisam ser suficientes para atender não apenas o futebol, mas, sobretudo, as necessidades inegociáveis e inadiáveis da saúde pública, educação, transporte, habitação, numa lista interminável de demandas e urgências.
         O país do futebol tem nas mãos a oportunidade de não permitir que se manipule a euforia bonita e contagiante deste esporte. Uma tática obsoleta de “pão e circo” para desviar o olhar cidadão das questões que merecem críticas, respostas urgentes, encaminhamentos mais participativos e solidários. O discurso das ruas do ano passado, emoldurando a Copa das Confederações, efetivamente inaugurou esse novo tempo. São muitas as opiniões que apontam que os legados da Copa não serão como mostram as propagandas. De fato, o não cumprimento, ao longo de sete anos, a partir da escolha do Brasil para sediar o mundial, das promessas de investimento na infraestrutura, estradas, aeroportos, transporte urbano, com especial atenção para as conturbações das grandes regiões metropolitanas, um caos na vida do povo, é um legado negativo, que mostra a incompetência e a morosidade dos que estão gerindo a máquina pública.
         É verdade que não é fácil corresponder às necessidades de hoje, “tapando os buracos” que se formam pelo arrastar-se de coisas do passado, e projetar ao mesmo tempo o futuro. Mas, a incompetência na escolha de prioridades, junto com o partidarismo patológico e atrasado da política brasileira, interesseira, cartorial e coronelista, deveriam incomodar mais governantes e políticos, impedindo-os de se sentirem à vontade na festa do povo. Uma festa que deve acontecer na paz e no respeito mútuo, cultivando o espírito de congraçamento pela euforia e pelo acolhimento de visitantes, especialmente os que vêm do exterior, num exercício cidadão de receptividade e solidariedade. Esse clima alegre e especial pode favorecer a inteligência para que se escolha bem as prioridades da vida privada e, sobretudo, aquelas da vida pública, quando se tem a oportunidade de servir e de fazer o bem, promovendo a justiça para todos.
         O grande legado da Copa do Mundo não será a construção onerosa dos estádios, mesmo considerando suas outras possíveis destinações; nem se fala dos investimentos prometidos e não realizados na infraestrutura, sem deixar de reconhecer o que avançou, nem mesmo uma esperada campanha vitoriosa da seleção brasileira. O grande legado poderá ser uma consciência social e política mais aguçada dos cidadãos brasileiros para empurrar com sua força, não apenas nas urnas, mas diariamente e nos diferentes segmentos, as mudanças cotidianas e as respostas urgentes que precisam ser dadas para não se continuar a sacrificar indiferentemente o pobre, não se perpetuarem gestos e estilos de vida na contramão da cidadania. Precisamos fazer crescer uma condição de brasilidade que guarde marcas de profundos sentimentos fraternos e a abertura para solidariedades.
         A Arquidiocese de Belo Horizonte, em sintonia com a Igreja Católica no Brasil, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em cooperação com outros segmentos sociais e religiosos da sociedade brasileira, tem programação própria, já em curso, especialmente para o mês da Copa do Mundo. Uma série de atividades que contemplam a acolhida religiosa e fraterna de visitantes nas igrejas e santuários, ocasiões para a vivência de momentos culturais, de espiritualidade e também de encantamentos, diante de belezas como o conjunto arquitetônico, religioso, cultural e paisagístico do Santuário Nossa Senhora da Piedade, na Serra da Piedade, ou da Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha. No contexto dessas atividades, a Arquidiocese conclama sua grande rede de comunidades de fé para ações que objetivem o fortalecimento da consciência política e a busca de um refinado sentido social. Nesse período de festividades, vamos intensificar a coleta de assinaturas para que a iniciativa popular faça avançar a Reforma Política, uma grande urgência de nosso país. Cada um, com seu título de eleitor, é convidado a aderir e também avaliar, neste ano eleitoral, quais políticos lutam por essa mudança necessária. Em paz e de maneira cidadã, vamos celebrar a Copa do Mundo de olho na bola e no social.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade  de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irrecuperáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente  participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...