“Professores,
mestres para sempre
Entre as diversas
preocupações que envolvem hoje a situação da educação em nosso país, podemos
destacar a própria situação do professor como aquele que contribui para o
sucesso do educando, bem como aquele que instiga o corpo discente à busca pelo
conhecimento, pelo saber, e que contribui na construção de uma visão
integradora e amplificada da realidade em que vive. Mas como pensar no futuro
da sociedade, se aquele que é um dos protagonistas desse processo, que nós
chamamos de educação, está recebendo um tratamento que gera todas as formas
possíveis de desmotivação? Como podemos exigir do professor amor pelo que ele
faz, se ele foi levado à destruir dentro de si esse sentimento ao longo da sua
trajetória histórica?
Perguntas
como essas nos levam a crer e, ao mesmo tempo, a nos preocuparmos com o futuro
desse segmento tão importante na construção de uma sociedade mais qualificada e
conhecedora da sua realidade sociopolítica e econômica e, portanto, mais
consciente do que deve ser feito na garantia de um futuro melhor para nossas
gerações.
Podemos
pensar hoje o ser professor como um sonho que virou pesadelo. Para entendermos,
com maior profundidade, essa afirmação, basta pensarmos no contexto em que
vivem aqueles que abraçaram essa missão árdua e desafiante, dentro de uma
política educacional em que o conhecimento não é visto como o objetivo mais
importante a ser alcançado, e sim uma política educacional que aposta em
estatísticas que possam melhor representar um resultado que ninguém sabe a quem
interessa.
É
necessário reformar o ensino. Ouvimos isso a todo instante. Mas, antes de
qualquer reforma no ensino, na sua dimensão institucional educadora, faz-se
necessário mudar a mentalidade cultural de desvalorização que está arraigada,
mais ainda, institucionalizada na política educacional do nosso país em relação
àquele que conduz e coordena todo processo de aprendizagem em sala de aula: o
professor. Uma sociedade que não cuida e não valoriza o seu professorado é uma
sociedade descomprometida com seu próprio futuro.
E,
como consequência de todo esse descaso, um dado preocupante nos faz pensar um
pouco mais no futuro da educação, que é o baixo índice de estudantes graduandos
que pensam em seguir a carreira de docente. Evidentemente que, se vivemos numa
sociedade capitalista, e levando em consideração os baixos salários que os
professores recebem por uma jornada de trabalho, seria fácil entender esse
desinteresse. Mas a questão é muito mais complexa. Trata-se da própria
desvalorização que parte daqueles que governam o nosso país, o que provoca essa
situação deprimente em relação ao corpo docente como agente de cultura, que,
para ter uma situação de vida razoável, tem que trabalhar em, pelo menos, duas
ou três escolas. O professor se transforma, nesse contexto, num escravo do seu
próprio trabalho, o que é algo contraditório, uma vez que a sua ação como
educador é, em si mesma, transformadora e libertadora.
Essa realidade
é vergonhosa para uma pátria que se diz educadora. Como fica a questão do
conhecimento dentro desse quadro extremamente depressivo? De um lado, nós
encontramos alunos pouco interessados em aprender e, do outro, professores
pouco motivados a entrar em sala de aula. Não adianta falar ou usar argumentos
de que os professores devem trabalhar por amor àquilo que fazem, uma vez que é
uma situação de sobrevivência. O professor não é um profissional qualquer. Ele
não trabalha com máquinas, mas com seres humanos que evoluem culturalmente a
todo instante, e o conhecimento, visto nesta órbita educacional, nada mais é do
que absorver essa cultura, que foi e continua sendo produzida historicamente
pela humanidade.
É
necessário pensarmos na educação em que a palavra motivação seja a razão maior
e necessária da sua própria existência, para, assim, podermos construir uma
sociedade mais comprometida com um querer ser do que com um querer ter.
Logo,
é necessário fazermos as pazes com o conhecimento. Só assim conseguiremos
pensar numa escola capaz de ser instrumento de transformação, sobretudo uma
escola que consiga unir desejos em vista de uma verdadeira pátria educadora,
diferente dessa que está aí, que valorize a educação como um meio de garantir
um futuro mais consistente e promissor, não só para docentes e discentes, mas
para todos aqueles que dela fazem parte.
Almejamos
uma escola em que os professores sintam-se mais motivados e orgulhosos daquilo
que fazem e, mais ainda, sintam-se realmente mestres para sempre.”.
(EUDÁSIO
CAVALCANTE MELO. Graduado em filosofia, pós-graduado em história,
psicopedagogia e gestão educacional, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 25 de
fevereiro de 2016, caderno OPINIÃO,
página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de MARCOS
TROYJO, professor da Universidade Columbia, onde dirige o BRICLab, e
especialista do Instituo Millenium, e que merece igualmente integral
transcrição:
“Ascensão do ‘talentismo’
Armas, recursos
naturais, produção tecnoindustrial, influência da cultura. Critérios
tradicionalmente elencados para estabelecer se um país tem mais ou menos poder.
Desponta, no entanto, novo e determinante fator: consolida-se a nova era do
talento.
Os
sistemas educacionais das grandes potências lançaram-se numa disputa cabeça a
cabeça (literalmente) por proeminência mundial. Klaus Schwab, fundador do Fórum
de Davos, identifica no “talentismo” o sucessor do capitalismo.
Não é
recente a percepção de uma guerra global por talento. Ele, contudo, era tido
como sinônimo de vocação. Cabia desenvolver aptidões naturais ou nichos.
Idealizávamos indivíduos especialistas, companhias com core business, países com vantagens comparativas.
Em
2008, Malcolm Gladwell popularizou em Outliers,
seu best-seller de alta vulgarização sobre o DNA do sucesso, a regra das 10 mil
horas. O talento emergiria da devoção de tal estoque de tempo a atividades tão
distintas como tocar violoncelo ou programar computadores. Quanto mais cedo
começar, melhor. Dessa disciplina surgiram Yo-Yo Ma e Bill Gates.
A
reglobalização, que agora chega, prenuncia a pós-especialização. Há seis anos,
computação em nuvem, tablets e seu ecossistema de aplicativos eram incipientes.
Hoje permitem um atalho da história. É possível compactar as 10 mil horas.
Novas tecnologias catalisam talento.
Assim,
pessoas, empresas e nações têm de ser multifuncionais e complexas. Engenheiros
que escrevem bem. Agronegócio preocupado com design. Países produtores de
petróleo transformando-se em hubs de
entretenimento.
Já
existem métricas para delinear essa nova era do talento. Harvard elaborou o Atlas de complexidade econômica. Avalia
o impacto do talento (ali chamado de know-how) sobre renda e crescimento. Não
importa o número de horas aula a que foi exposto determinado aluno, mas o que
consegue fazer pragmaticamente com o que aprendeu. É, portanto, umbilical a
relação entre atitude empreendedora e talento no êxito de empresas e nações.
O
Insead também formulou seu Índice de Competitividade do Talento Global. Na
pesquisa, que envolve 103 países e 96% do PIB mundial, o Brasil ocupa a 59ª
posição.
As
razões do fraco desempenho extrapolam o ensino deficiente ou o Produto Interno
Bruto (PIB) destinado à inovação (apenas 1%). Estatismo, baixa conexão a
mercados globais, predileção de jovens por concursos públicos e a mentalidade
vigente na maioria das universidades brasileiras de não “submeter-se à lógica
do mercado” são inibidores de talento.
Surge
assim um duplo desafio. Se falamos em parâmetros além das 10 mil horas, que
dizer dos que, no início da idade adulta, sequer têm 1 mil horas de foco em
aptidões?
Os
brasileiros nascem com expectativa de viver 75 anos. Sem o potencial do
talento, terão pouca utilidade à economia do conhecimento. Serão, contudo,
“úteis”, e durante bastante tempo, ao tráfico de drogas, à pirataria e às
manifestações mais virulentas do lumpesinato urbano.
E na
ponta mais sofisticada, o Brasil tem de alimentar sua elite de talentos para
que ela própria não seja crescentemente marginalizada da redefinição dos rumos
globais. Essa disputa vai além de conhecimento e capital – trava-se no âmbito
de “ecossistemas institucionais” mais ou menos aptos a prover inovação – e,
portanto, prosperidade e poder.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em janeiro a ainda estratosférica marca
de 410,97% para um período de doze meses; e mais, também em janeiro, o IPCA
acumulado nos doze meses chegou a 10,71%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do
procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A
Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o
problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu
caráter transnacional; eis, portanto,
que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas
simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de
suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do
nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas
modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente
irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na
Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das
empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é
desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de
problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos,
quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas
de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à
corrupção e à falta de planejamento...”;
c) a
dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para
2016, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$
1,348 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(ao menos com esta rubrica, previsão de R$
1,044 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação
econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do
governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
-
Estamos nos descobrindo através da Cidadania e Qualidade...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...