“A
aura dos governantes
A propaganda é a alma
do negócio. O jargão mais conhecido do meio publicitário avança, a cada dia, na
esfera da política, produzindo a máxima assemelha: a propaganda é aura dos
governantes. Ela desenha a auréola que cobre a cara de políticos e governos,
melhorando seu aspecto e tornando positiva sua avaliação popular. No campo
privado, a propaganda vende produtos, burila a imagem de empresas, amplia suas
margens nos mercados, é a mola propulsora dos negócios.
O
ciclo da telepolítica abriu palcos para exibir seus atores, melhorar os
discursos, maquiar situações, plantar versões. A propaganda pavimentou os
caminhos dos governos, na esteira de um Estado adornado pela fosforescência
midiática, exaltando seus chefes e promovendo desfiles de personalidades. A
propaganda governamental evoluiu de tal maneira que passou a ser protagonista
nas estratégias de persuasão social. Os governos tornaram-se os maiores
anunciantes dos veículos.
Vejam
o nosso caso: R$ 16 bilhões foram gastos pelos governos Lula e Dilma com
propaganda eleitoral. Esse montante daria para cobrir os custos de 170 mil
casas populares. Há sentido em gastar tanto com propaganda quando se vê a
infinidade de buracos na estrutura de serviços, a começar da saúde?
É
dever dos governos prestar contas de suas tarefas à sociedade, da mesma forma
que é um direito do cidadão saber o que os governantes fazem, mas não deveriam
fazer; não fazem, mas deveriam fazer; ou fazem porque são obrigados
constitucionalmente a realizar. O jogo democrático carece de informação e
transparência, possibilitando ao representado vigiar as ações dos
representantes. O problema passa a existir a partir da montanha de exageros
formada para glorificar as administrações.
Faze-se
ressalva de que há modalidades de publicidade plenamente cabíveis, como
campanhas de vacinação ou orientação eleitoral pelo TSE, ações que integram a
planilha de serviços de utilidade pública. Da mesma forma, há produtos de
empresas governamentais que carecem de divulgação, à medida que enfrentam a
concorrência do mercado. O foco da crítica é mesmo a propaganda institucional,
essa que erige altos altares para entronizar a imagem de governos, cantar loas
a governantes, sob a trombeta de campanhas maciças em horário nobre da TV. Esse
coro de glórias não fere os princípios constitucionais de moralidade,
razoabilidade e proporcionalidade?
Se os
governos usassem a propaganda para promover a cidadania e os valores
democráticos, estariam contribuindo para a elevação dos padrões civilizatórios.
Não é o que se vê. Ao contrário. Obras atrasadas em cronogramas são objeto de
louvação; programas, como o Mais Médicos, até podem ser objeto de publicidade
para ganhar confiança social, mas sem exagerar na dose.
O
discurso propagandístico, infelizmente, em todos os governos e em todas as
instâncias, abriga forte viés eleitoral. E, assim, de exagero em exagero, o
país vê alargadas as veredas da mistificação e o povo passa a “comprar” versões
como verdades. Ao fim do processo, bilhões de reais, que poderiam ser usados de
modo mais justo, são jogados no poço sem fundo do desperdício.”
(GAUDÊNCIO
TORQUATO. Jornalista e professor (USP), em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 25 de
setembro de 2013, caderno O.PINIÃO, página
19).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, mesma edição, caderno OPINIÃO, página 11, de autoria de FÁBIO RIBEIRO BAIÃO, mestrando em
gestão social, educação e desenvolvimento local (GSEDL) do Centro Universitário
UNA, médico ortopedista do Hospital da Baleia, e MATILDE MEIRE MIRANDA CADETE, docente do Mestrado em GSEDL/UNA, e
que merece igualmente integral transcrição:
“Saúde
e qualidade de vida
O momento atual, em que
se discutem a qualificação e disponibilidade do profissional de saúde, é muito
oportuno para elucidarmos alguns conceitos básicos. Primeiramente, devemos
responder a pergunta fundamental: o que é saúde? Podemos nos valer do que foi
acordado na VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, que serviu de base
para os avanços constitucionais que ocorreram a seguir, em 1988: “Saúde é uma
condição de vida resultante da educação, lazer, trabalho, emprego, renda, habitação,
alimentação, meio ambiente, liberdade e acesso a serviços de saúde, entre
outros”.
Portanto,
vê-se que a atuação do profissional de saúde é um mero elemento entre os tantos
componentes importantes. Não queremos com isso diminuir seu papel crucial, pois
em circunstâncias específicas, só a assistência especializada e moderna é capaz
de resolver os problemas apresentados. Mas desejamos enfatizar que a promoção à
saúde se reveste de atitudes que são mais amplas do que se imagina numa
primeira análise superficial. Dessa forma, podemos refletir de maneira mais
clara sobre a origem de muitos males que nos assolam para apontarmos possíveis
soluções.
Quando
se diz que precisamos de mais médicos, sem abordar outras variáveis, podemos
esperar um efeito bem fugaz no resultado final. Para promover a saúde devemos
buscar conhecer o que pode alterar a qualidade de vida, o que pode alterar a
saúde propriamente dita, e semear a solidariedade, a equidade, a democracia, a
cidadania, o desenvolvimento, a participação e a parceria. É um projeto de
transformação social de longo prazo. Pensamos que estamos em curso. Temos
vivido diferentes momentos nos últimos anos que demonstram esse movimento.
Na
década de 80, valorizamos a autonomia do sujeito, uma vez que vínhamos de uma
história recente de liberdades ainda cerceadas. A partir da década de 90, a
qualidade de vida foi inserida como um dos aspectos da evolução do conceito de
cidadania. Nessa época, já tínhamos conquistado direitos básicos de liberdade,
com a luta pela redemocratização do Brasil, que culminou com o movimento
“Diretas Já”, com a Constituinte e a Carta Constitucional de 1988, que
asseguraram os direitos civis e políticos. Começamos a cobiçar novos espaços
além da luta por casa, abrigo e comida. Com poder, vislumbramos a conquista de
outros direitos sociais modernos, que ampliassem nossa satisfação com a vida,
com a nossa cidade e o nosso país. Hoje, as manifestações de indignação com os
acontecimentos que mais tocam nossos desejos íntimos de uma nação fazem parte
desse cenário.
Nesse
contexto, o cidadão que quer o Brasil melhor deve estar se comportando também
de forma diferenciada ao seu redor, não jogando lixo na rua, trabalhando
direito para evitar o retrabalho, dando bom-dia, pedindo por favor, dizendo muito
obrigado, atravessando na faixa de pedestre, transportando pessoas com cinto de
segurança no seu automóvel e devolvendo o troco a mais. Se não está agindo,
então é um devedor. Parece simples assim. Mas será a prova de maturidade e
desenvolvimento.
O país
que nossos pais queriam para nós é o mesmo que nós queremos para nossos filhos,
só que ainda melhor. A qualidade de vida, tão falada e propalada, mais do que
relacionada ao conforto material e renda, ultrapassa em muito a situação
econômica individual. Ela é uma sensação de nossa inserção em todo esse
contexto de vida, levando-se até mesmo em conta as nossas expectativas,
objetivos e, quiçá, nossas preocupações.
Podemos
afirmar que os sentimentos de pessimismo, otimismo ou realismo, como querem
alguns, influenciam em muito nossa sensação de estarmos bem. Quem não se sente
assombrado quando se fala em crise econômica e antevê a sequência da cadeia de
eventos na vida pessoal? Por exemplo, desemprego, prestações a vencer, escola
dos filhos, férias planejadas, tudo indo por água abaixo. Para avaliar a
qualidade de vida mergulhamos então no físico e na alma, calçados na realidade
vivida. E é essa realidade que o Brasil urge melhorar.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas
estruturas educacionais, governamentais,
jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais,
de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, isto é, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
intolerável desembolso de cerca de R$
1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, ao lado de abissais desigualdades
sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; assistência social; previdência social; sistema financeiro
nacional; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; esporte, cultura e lazer; logística; turismo;
pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; comunicações; qualidade
(planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência,
eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...