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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A CIDADANIA, A CIDADE E A QUALIDADE DE VIDA

“3. Atores coletivos organizados que começam a se fazer ouvir

[...] A cidadania da empresa, um compromisso dos atores

Retomemos o fio de nossa reflexão sobre a empresa socialmente responsável, que é, portanto, uma empresa que se preocupa com o interesse geral. Para fazê-lo, além de seu trabalho normal – produzir bens e serviços para o mercado –, a empresa socialmente responsável vai se esforçar para reduzir suas externalidades negativas e desenvolver suas externalidades positivas.

Um conjunto de medidas e de evoluções impele doravante a empresa a se orientar nesta direção: a lei sobre as novas regulações, como já vimos, vai solicitar às empresas que informem sobre as conseqüências sociais e ambientais de suas atividades; as agências de avaliações das empresas como a Arese apostam cada vez mais no desejo dos acionistas de escolherem investimentos responsáveis; os consumidores engajados desejam produtos que incorporem valor social e ambiental.

Deste modo, há um feixe de forças que, juntas, impelem a comportamentos cidadãos. “O estabelecimento de relações com os públicos organizados vai sobrepujar a preocupação de valorização da imagem corporativa”, diz Man-Consulting. Com certeza haverá, por parte das empresas, uma vontade de traduzir esse movimento rumo à empresa socialmente responsável por uma ampliação e uma reorientação de seu marketing – faz parte de seu jogo –, mas caberá aos públicos organizados pedir contas precisas sobre as evoluções sociais e ambientais correspondentes.

A revista Valeurs vertes dá o tom dessa mudança de atitude: “Como é grande o patrimônio a proteger: a água, o ar, o solo, a bolinha azul suspensa no cosmos tal como tivemos o privilégio de ver em julho de 1969! É essa data que funda os séculos vindouros. É essa patriazinha azul que agora oscila frágil em nosso inconsciente coletivo... O desenvolvimento sustentável é a mais bela idéia que nos resta para afrontar e transformar o século XXI... Esse documeno nos mostra como o dinheiro pode-se tornar uma alavanca, uma força de proposição para um mundo mais humano... Devemos acreditar nisso”.

É claro que devemos acreditar nisso, mas devemos também ficar vigilantes diante da tendência espontânea dos meios empresariais a transformar boas idéias em Good business: profitability and ethics go hand-in-hand, compraz-se John Gummer, ex-ministro inglês da Agricultura e, posteriormente, do Meio Ambiente. Michel de Fabiani, diretor geral de BP Amoco-Europe, também é entusiasta: “Estabelecemos um código de conduta que é, de certo modo, nossa Constituição no BP; ele está a disposição de todos os membros do pessoal e de todos nossos contratantes, a quem pedimos também a adesão a esse código de conduta... Esse docunento conciso permite a criação de uma sintonia com a política da empresa em matéria de ética, de saúde, de meio ambiente, de segurança, de relações exteriores, de controles financeiros...”. Muito bem, mas em um debate posterior, o mesmo Michel de Fabiani já exclui do compromisso uma área no mínimo polêmica na ação dos petroleiros: “o banimento das bandeiras de conveniência, do qual não compartilho [...], a segregação de Estados, o banimento de certos países, não me parecem ser o melhor método”. Mas pode haver conveniência na responsabilidade?

Pierre Lascoumes, diretor de pesquisa no CNRS, que se interessa pelas cartas éticas e pelos códigos de boa conduta das empresas, apela para a vigilância. Ele baseia-se em dois estudos: um deles, realizado em 1982, analisa 250 empresas americanas; o outro, publicado em 2000, trata de 246 empresas inglesas: “Os efeitos esperados dessas práticas de auto-regulação permanecem até agora brandos na medida em que sua dimensão de ação de comunicação interna e externa predomina e em razão da imprecisão do conteúdo normativo dos compromissos”, mesmo que “os sistemas de auto-regulação possam ter, entretanto, um alcance útil enquanto substitutos das regulamentações públicas”.

A empresa socialmente responsável não nascerá da autoproclamação ética dos dirigentes dos grandes grupos nem mesmo dos entendimentos internos à empresa; ela nascerá da interação entre os parceiros da empresa, as autoridades públicas e os representantes do movimento cidadão. Ela se manifestará pelo compromisso da empresa em desenvolver externalidades positivas, isto é, em considerar o interesse geral nas decisões de gerenciamento.”
(HENRI ROUILLÉ D’ORFEUIL, in Economia cidadã: Alternativas ao neoliberalismo; tradução de Patrícia Chittoni Ramos. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, páginas 127 a 129).

Mais uma IMPORTANTE e também OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no Jornal ESTADO DE MINAS, edição de 3 de fevereiro de 2011, Caderno CULTURA, página 8, de autoria de FREI BETTO, que merece INTEGRAL transcrição:

“Cidade e qualidade de vida

Se considerarmos que o ser humano surgiu há cerca de 200 mil anos, a cidade é uma invenção relativamente recente. Durante milênios, nossos ancestrais viveram como nômades coletores e, aos poucos, as técnicas de reprodução dos alimentos os fixaram como agricultores e pecuaristas. Havia, naquele longo período – como ainda hoje nas comunidades indígenas tribalizadas – relação direta, e até venerável, entre o ser humano e a natureza. Nossos antepassados se alimentavam sem alterar ecossistemas, biomas, biodiversidade.

Essa relação se altera com o advento das cidades. E um dos relatos mais significativos de como isso ocorreu é o episódio bíblico da Torre de Babel (Gênesis 11, 1-9), joia literária em menos de dez versículos.

Babel é semantema de Babilônia. Deriva da raiz hebraica “bil”, que significa “confundir”. Narra o texto bíblico em que Javé, ao observar Babel, convenceu-se de que os humanos se fechavam em seus próprios e ambiciosos projetos, deixando de acolher os desígnios divinos. “Isso é o começo de suas iniciativas!” – disse o Senhor. “Agora nenhum projeto será irrealizável para eles.”

Segundo o autor bíblico, após o Dilúvio “todos se serviam da mesma língua e das mesmas palavras.” Não havia diversidade de enfoques e opiniões. O ponto de vista de um – o cacique, o chefe do clã, enfim, o poderoso –, era o ponto de vista de todos. E a atividade agropastoril igualava as pessoas.

A invenção do tijolo e da argamassa provoca um movimento migratório do campo para a urbe. Os humanos decidem “construir uma cidade” – Babel.

O versículo 4 registra as propostas de construção da cidade e da torre, e destaca o principal motivo de tal empreitada: “Para ficarmos famosos e não nos dispersarmos pela face da Terra”. Não se tratava de obter felicidade, bem-estar, bênçãos divinas. Importava a fama, possuir um nome sobreposto aos demais, e permanecer segregado, seguro.

A revolução tecnológica representada pelo tijolo (insuperado até hoje) imprime aos humanos a consciência de que não estão mais condicionados pela natureza. A relação se inverte. Agora é o ser humano quem condiciona a natureza. Transforma-a em artefato.

Desprendido do ciclo da natureza, o ser humano já não funda sua identidade nos vínculos comunitários da sociedade agrária. Sua consciência se personaliza, ele se torna senhor do próprio destino, livre das mutações ecológicas que antes criavam nele a sensação de fatalidade e de temporalidade cíclica.

Tais avanços enchem os humanos de orgulho. Não satisfeitos de “construir a cidade”, decidem abrir a “porta do deus”, ou seja, erguer “uma torre cujo ápice penetre nos céus”. Aqui o relato expressa duas ambições: a de edificar uma montanha artificial (a torre), repositório da divindade, e a de “penetrar nos céus”, quebrar o limite entre o humano e o divino, o profano e o sagrado, a Terra e o Céu. Já não é a divindade que desce à Terra, é o ser humano que invade o Céu, graças à obra de suas mãos.

Antes que a soberba humana se inflasse ainda mais, Javé confundiu a linguagem dos habitantes de Babel e os dispersou. “Eles cessaram de construir a cidade.” Portanto, Babel não foi maldição. Foi dádiva. Delimitou a ambição humana e revelou ser obra de Deus a diversidade de pontos de vista e opiniões, contrária à identificação entre autoridade e verdade.

Toda essa sabedoria explica a arrogância decorrente, ainda hoje, de avanços científicos e tecnológicos. Queremos ser deuses. Nossa busca de endeusamento e imortalidade se reflete na babel ou confusão reinante em nossas cidades. Não pensamos no comunitário ou coletivo, pensamos no individual e no lucrativo.

Assim, nos gabamos de que o Brasil vendeu, em 2010, mais de 3 milhões de veículos automotores, embora isso agrave a congestão metropolitana, a poluição, os acidentes, pela impossibilidade de fiscalizar tantos veículos e abrir tantos espaços urbanos para que se locomovam e estacionem. Não se investe o suficiente em transportes coletivos, assim como não se planeja o espaço urbano, alvo de especulação imobiliária e vulnerável a fenômenos climáticos decorrentes de desequilíbrios ambientais, o que causa enchentes, desabamentos e secas prolongadas.

Hoje em dia, ganha cada vez mais espaço a proposta de bem viver dos povos indígenas andinos, conhecida como sumak kawsay. Sumak significa plenitude e kawsay viver. Não se trata de viver melhor ou viver cercado de conforto. Trata-se de viver em plenitude.

Plenitude implica fazer da felicidade um projeto comunitário, coletivo. É saber construir relações de solidariedade, não de competição; de harmonia, não de hostilidade; e estabelecer com a natureza vínculos de parceria cuidadosa.

Para a sociedade capitalista, a natureza é objeto de propriedade e temos o direito de explorá-la e até de destruí-la em função de nossas ambições. O capitalismo se norteia pelo paradigma riqueza-pobreza, enquanto o sumak kawsay rompe esse dualismo para introduzir a de sociabilidade e de sustentabilidade, bases fundamentais de um projeto civilizatório. Fora disso, caminharemos para a barbárie.”

São, pois, mais SÉRIAS e GRAVES REFLEXÕES que apontam para as URGENTES e INADIÁVEIS transformações SOCIAIS, ECONÔMICAS, POLÍTICAS e CULTURAIS, que nos MOTIVAM e nos FORTALECEM nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, QUALIFICADA, LIVRE, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que permita a PARTILHA de suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos para eventos como a COPA DO MUNDO DE 2014, a OLIMPÍADA DE 2016 e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO XXI, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um mundo da PAZ e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...