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quinta-feira, 28 de maio de 2015

A CIDADANIA, A REVITALIZAÇÃO SOCIAL E O VIGOR DA SUSTENTABILIDADE

“Morte social
        O convívio social é condição de interação humana. Socialmente, nos é imposta uma série de obrigações, e vamos nos submetendo a elas para receber aplausos, carícias e confirmações da nossa existência. Vamos nos comprometendo com uma sucessão interminável de obrigações e de aquisições que permitam a entrada e a aprovação na seara social.
         Há a hipervalorização do ter e pouca atenção ao ser.
         Morte social é deixar de ser lembrado, não ser reconhecido, não ser incluído, ser desprezado, ser esquecido, ser tratado considerando somente a posição que ocupa em uma rede hierárquica de prestígio e de poder social.
         Passa-se a consumir a vida em favor das exigências e das expectativas sociais de termos o ideal de sermos perfeitos. Uma vida consumida pelo ideal de perfeição torna-se árida, desperdiçada. Essa aridez se dá pelo aprisionamento às expectativas, julgamentos e condenações externas. Quando se recebe esse tipo de validação, fica-se em alta e a estima sobe, mas, se frustrados, a estima baixa. Não é uma autorreferência, e sim atendimento às expectativas e pressões externas. Deixa-se de perguntar o que faz sentido, o que se pode aprender a respeito de si. O que passa a valer é o que é mais aplaudido.
         Há a morte da fecundidade, a da criatividade e a da presença. Torna-se um eu mesquinho, variando em ser esperto, se atende às exigências sociais, ou bobo, se fica em débito com tais expectativas.
         Só vive quem se reinventa no dia a dia, utilizando as experiências positivas e, também, as negativas para aprender de si. Morremos socialmente quando ficamos olhando para os outros com a intenção de conhecer o outro, para suborna-lo ou nos submetermos a ele e tirar algum partido.
         A morte social resume-se a uma série de ações que não são satisfatórias à vitalização. Tornamo-nos reféns da ganância de angariar e acumular aplausos. A força da vida passa a se fragilizar e tende a se deteriorar caso não haja um investimento amável e respeitoso.
         Precisamos fazer o culto da ilusão de perfeição para entrar na vida. Uma vida que germina é a que vai buscar sentido, atualizando-se e aprendendo de si.
         Uma vida fecunda se coloca a serviço, cujo pagamento não é a prisão ao reconhecimento social; a maior gratificação é a execução do serviço. O maior prêmio do amor é o amar, sem exigência de que haja retribuição.
         Escutar é conversar para evitar imaginar e projetar visões distorcidas, alimentar preconceitos e destruir possíveis pontos de atrito e de oposição.
         Vale aumentar a cordialidade. O início da sabedoria é compreender que há outros pontos de vista. A intolerância é a antessala da violência.
         A vida que recebemos nos convoca a construí-la e sermos parceiros do bem estar. Que a tristeza e a amargura se desdobrem na coragem de ter alegria, na misericórdia e na qualidade de vida.

(Gláucia Rezende Tavares. Psicóloga clínica, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 9 de maio de 2015, caderno O.PINIÃO, página 17).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 26 de maio de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de REINALDO DIAS, professor da Universidade Mackenzie Campinas, e que merece igualmente integral transcrição:

“Sustentabilidade
        Nos últimos anos, a classe média urbana teve crescimento significativo, aumentando o consumo e, consequentemente, a pressão sobre os recursos ambientais. Segundo relatório de 2013 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em 2009, a classe média global correspondia a 27% da população do planeta, e as projeções indicavam que, em 2020, seriam 47% e em 2030 já seriam a maioria com 59% do total de habitantes. Essa classe média global tem uma característica comum, que é a avidez pelo consumo de novos produtos que dependem para a sua fabricação de recursos naturais. Esse cenário indica um quadro de insustentabilidade do atual modelo de produção e consumo, pois a natureza não tem como satisfazer a essas crescentes necessidades. Ocorre que as empresas veem esse quadro como uma oportunidade de oferta de produtos para atender às necessidades dos novos consumidores (e consequentemente aumentar seus lucros). Por outro lado, são pressionadas por amplas camadas da população, exigindo que as organizações adotem soluções criativas para resolver problemas que afetam o meio ambiente.
         A situação no meio empresarial é que muitos ainda consideram que a sustentabilidade é um modismo passageiro, e que basta resistir às pressões ou atende-las superficialmente que se manterão competitivos no mercado. Esse é um erro que pode ser fatal para o seu negócio, pois as empresas são afetadas, particularmente, porque ao longo dos últimos 200 anos trataram o ambiente natural como fonte de matéria-prima inesgotável, beneficiando-se de sua exploração. Atualmente, a sustentabilidade deve ser entendida como uma mudança radical da relação do homem com a natureza e do ser humano com ele próprio. Do ponto de vista corporativo, a sustentabilidade não é uma opção, mas uma obrigação no que diz respeito ao papel das empresas na sociedade e uma necessidade quando se trata de sua própria sobrevivência.
         Nos próximos anos, as preocupações globais com as mudanças climáticas se transformarão em compromissos assumidos coletivamente pelos países. Tanto que no fim deste ano ocorrerá em Paris a reunião que definirá o novo protocolo que substituirá o de Kyoto. Essas decisões se converterão em regulações nacionais, fazendo com que as empresas, obrigatoriamente, assumam um papel  relevante no combate ao aquecimento global, reduzindo suas emissões de gases que provocam o efeito estufa. Trata-se aqui da sobrevivência de todos, logo será medidas inegociáveis.
         Para as empresas, assumir padrões de sustentabilidade não serve somente para que possam sobreviver às necessárias mudanças que a sociedade exige. Há inúmeras oportunidades que se abrem para aquelas organizações que transformarem seus métodos de produção. A variável da sustentabilidade dentro dos processos empresariais faz com que se busquem soluções mais eficientes e, portanto, mais rentáveis na utilização da energia e dos recursos naturais. Além disso, a revisão dos processos produtivos para torná-los mais eficientes leva as empresas a buscarem inovação, o que permitirá que alcancem, sustentem e melhorem sua posição no mercado, adotando uma forma de competitividade responsável.
         A ideia de empresa isolada da sociedade, tendo como preocupação primordial a obtenção de lucro a qualquer custo, vai gradativamente sendo superada pela cooperação de que as organizações, além de cumprir sua função social de atendimento às demandas de grupos de consumidores, devem condicionar sua atividade a uma agenda de responsabilidade social vinculada ao atendimento do bem comum. A construção dessa agenda implica, também, reconhecimento da necessidade de formação de alianças estratégicas com parceiros fora da iniciativa privada, que podem ser tanto as administrações públicas quanto as organizações do terceiro setor. A consequência dessas ações é a formação de novos tipos de articulações com interesses comuns alinhados na perspectiva do desenvolvimento sustentável.
         Portanto, a competitividade, entendida como a capacidade de uma empresa manter sistematicamente vantagens comparativas que lhe permitam alcançar, sustentar e melhorar uma determinada posição no mercado, somente pode ser obtida ao se adotarem práticas sustentáveis que incluam, além do aspecto econômico, valores ambientais e sociais. Em resumo, em termos de sustentabilidade, ou mudam as empresas ou perecerão vítimas de uma paralisia que as impede de enxergar a realidade.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças – Anefac –, a alta de abril dos juros  do cartão de crédito chegou a 295,48%  ao ano...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a simples divulgação do balanço auditado da Petrobras, que, em síntese, apresenta no exercício de 2014 perdas pela corrupção de R$ 6,2 bilhões e prejuízos de R$ 21,6 bilhões, não pode de forma alguma significar página virada – eis que são valores simbólicos –, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (haja vista as muitas faces mostrando a gravidade das crônicas paralisações de obras e serviços públicos, gerando perdas bilionárias...);

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!...     
     

     

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, A SUSTENTABILIDADE E O RESPEITO E AMOR PELA VIDA


“Na crise de nossa civilização, estamos indo de mal a pior

A realidade mundial é complexa. Se considerarmos a forma como os donos do poder estão enfrentando a crise sistêmica de nosso tipo de civilização, organizada na exploração ilimitada da natureza, na acumulação também ilimitada e na consequente criação de uma dupla injustiça – a social e a ecológica, esta com a desestruturação da rede da vida que garante a nossa subsistência –, e se, ainda, tomarmos como ponto de aferição a COP 18, realizada no fim de ano, em Doha, no Qatar, sobre o aquecimento global, podemos dizer sem exagero: estamos indo de mal a pior. A seguir nesse caminho, encontraremos lá na frente, e não demorará muito, um “abismo ecológico”.
Até agora não se tomaram medidas para mudar o curso das coisas. A economia especulativa continua a florescer, os mercados são cada vez mais competitivos – vale dizer, cada vez menos regulados – e o alarme ecológico, corporificado no aquecimento global, foi posto praticamente de lado. Em Doha, só faltou dar a extrema-unção ao Tratado de Kyoto. Tudo foi protelado para 2015, apesar de o documento final afirmar: “A mudança climática representa uma ameaça urgente e potencialmente irreversível para as sociedades humanas e para o planeta, e esse problema precisa ser urgentemente enfrentado por todos os países”. Como no tempo de Noé, continuamos a comer, a beber e a arrumar as mesas do Titanic que afunda, ouvindo ainda música. A casa está pegando fogo, e mentimos aos outros dizendo que não.
Diria José Saramago: “Não sou pessimista; a realidade é que é péssima; eu sou é realista”.
Uma premissa falsa sustenta e alimenta a crise: o objetivo é o crescimento material ilimitado, com aumento do PIB, realizado à base de energia fóssil e com o fluxo totalmente liberado de capitais, especialmente os especulativos. Essa premissa está presente em todos os planejamentos dos países, inclusive no brasileiro. A falsidade da premissa reside na desconsideração completa dos limites do sistema Terra. Um planeta limitado não aguenta um projeto ilimitado. Ele não possui sustentabilidade. Evita-se a palavra sustentabilidade, que vem das ciências da vida. Ela é não linear, se organiza em redes de interdependências de todos com todos que mantêm funcionando os fatores que garantem a perpetuação da vida e da nossa civilização. Prefere-se falar em desenvolvimento sustentável, sem se dar conta de que se trata de um conceito contraditório, porque é linear, sempre crescente, supondo a dominação da natureza e a quebra do equilíbrio ecossistêmico. Nunca se chega a nenhum acordo sobre o clima porque os conglomerados do petróleo influenciam politicamente os governos e boicotam qualquer medida que lhes diminua os lucros; por isso, não apoiam as energias alternativas.
Esse modelo está sendo refutado pelos fatos: não funcionam mais nem nos países centrais, como mostra a crise atual, nem nos periféricos. Ou se busca um outro tipo de crescimento, que é essencial para o sistema Vida, respeitando a capacidade da Terra e os ritmos da natureza, ou então encontraremos o inominável.
Outra razão é de ordem filosófica. Ela implica o resgate da inteligência emocional para equilibrar o poderio destruidor da razão instrumental. Como diz o filósofo Patrick Viveret, “a razão instrumental, sem a inteligência emocional, pode perfeitamente nos levar à pior das barbáries”.
Se não incorporarmos a inteligência emocional à razão instrumental-analítica, nunca iremos sentir os gritos da Mãe Terra. Junto com a sustentabilidade devem vir o cuidado, o respeito e o amor por tudo o que existe e vive. Sem essa revolução da mente e do coração iremos, sim, de mal a pior.”
(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 4 de janeiro de 2013, caderno O.PINIÃO, página 16).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de fevereiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 11, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Pela vida

A tragédia numa boate de Santa Maria, que matou e feriu tantos jovens, instiga o coração de todos. De modo especial, desenha um horizonte que a sociedade contemporânea precisa considerar. A vida não pode ser vivida e tratada simplesmente como lógica de ganho de coisas. A vida é mais. Não basta simplesmente conferir, por força legal e dever profissional, a validade de alvarás de funcionamento. A tragédia aponta para irresponsabilidades nos procedimentos de profissionais e de proprietários com aquilo que está posto a serviço de todos.
Na verdade, o funcionamento social reclama de governantes, de profissionais e de cidadãos comuns um tratamento mais adequado de tudo e de cada coisa, especialmente daquilo que é público. Essa é uma questão que deve encontrar raízes na cultura, ancorada por legislações, normas e procedimentos. Também, e acima de tudo, relaciona-se à formação da consciência de que é fundamental o respeito irrestrito à vida de cada pessoa. Sem esse sentido norteador, os atrasos em obras públicas continuarão. E o manejo do dinheiro público não vai se livrar dos interesses espúrios, da ganância dos que precisam levar sempre mais vantagem sobre o que é bem de todos. A consequência será a vida posta em risco.
As mortes nas estradas, por exemplo, que não são duplicadas ou sofrem com a falta de manutenção, atingem números de guerra. De fato, um verdadeiro descaso quando a inteligência acomoda-se na mediocridade e não se consegue sair das burocracias que obstruem os processos. Quem tem o poder de decisão, de corresponder à demanda em favor da vida de todos, não enfrenta os desafios diários de transitar em estradas que não atendem mais, de se deslocar em transportes que usurpam horas do descanso e do convívio familiar de tantos.
Descasos de cá e de lá, interesses financeiros gananciosos e a venenosa visão egoísta da vida, segundo o princípio de que o que conta é tão somente o bem e o conforto próprios, vão alastrando um cultura que valida prestação de serviços de segunda classe, morosidades, usufrutos indevidos ou indiferença diante dos outros, especialmente dos que precisam mais. O resultado é desastroso para uma sociedade que tem a oportunidade de alçar um patamar de maior oportunidade de vida para todos, mas que ainda padece com atrasos. E o prejuízo maior e mais sofrido será sempre dos mais pobres, dos indefesos e inocentes.
A tragédia de Santa Maria é um clarão espantoso, que deve brilhar como um relâmpago para inquietar mentes, corações e consciências, transmitindo o sentido e alcance da responsabilidade cidadã de cada um. Não basta o alívio de quem não teve um jovem próximo e amado envolvido nessa tragédia. Não basta pensar que o ocorrido foi longe da própria cidade e da própria casa. Os riscos em potencial, por irresponsabilidades, morosidades e interesses gananciosos, alcançam todos, nos mais diversos lugares.
Onipotência para controlar tudo, tudo prever e evitar, ninguém tem. O que todos precisam ter é a responsabilidade profissional, governamental e cidadã de construir uma cultura pela vida. Trata-se de uma postura pessoal contracenando, obviamente, com os funcionamentos das cidades, bairros, vilas, condomínios, ambientes públicos e da própria casa. Uma postura pessoal que fará diferença, sempre. A cultura, os governos, os cidadãos, os profissionais, todos são desafiados a compreender que o progresso e o desenvolvimento integral não são alcançados quando se desconsidera o valor da vida.
Dom de Deus, a vida há de ser respeitada em todas as suas etapas, da fecundação à morte com o declínio natural. Qualquer relativização abre as portas para permissividades, irresponsabilidades e descasos. Tarefa fundamental para que cada um reconheça a vida de todos como dom é cultivar a espiritualidade – pela oração, silêncio, meditação, diálogo com Deus, vivência comunitária e comprometimento social. Esse caminho é fote de saúde, de sensibilidade ética e moral, do gosto pela promoção e defesa da vida de todos. Sem espiritualidade, atrasaremos processos e não avançaremos no compromisso pela vida.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

                         a)    a  educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
          b)     o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos; 
           c)       a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso da ordem de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; infra-estrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; mobilidade urbana (trânsito, transportes, acessibilidade); moradia; emprego, trabalho e renda; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; agregação de valor às commodities; logística; ciência, tecnologia e inovação; minas e energia; pesquisa e desenvolvimento; turismo; esporte, cultura e lazer; comunicações; sistema financeiro nacional;qualidade (planejamento, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente  justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...