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sexta-feira, 24 de julho de 2009

COMBATE À CORRUPÇÃO: UMA QUESTÃO CÍVICA

“A corrupção vem dos tempos da colonização, quando o Estado foi constituído antes e acima da sociedade brasileira”
(Rodrigo Sá Motta)

Mais uma vez, buscamos em artigo da jornalista DÉA JANUZZI, publicado no Jornal ESTADO DE MINAS, Caderno GERAIS, em edição de 24 de junho de 2001, tratando de uma HERANÇA MALDITA – CORRUPÇÃO COMEÇA EM CASA, que bem mostra a absoluta necessidade da MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE no FORTALECIMENTO da DEMOCRACIA e transformação do BRASIL numa SOCIEDADE verdadeiramente JUSTA, LIVRE, PRÓSPERA e SOLIDÁRIA, e, mais ainda, com vistas ao BRASIL 2014, cujos INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS sejam EFETIVAMENTE partilhados com TODOS os BRASILEIROS e BRASILEIRAS. O conteúdo da matéria também faz por merecer sua INTEGRAL transcrição:

“Ninguém nasce corrupto. É o que garante a psicanalista Iziná Helena Traváglia: “O filho de um pai corrupto pode encontrar outros exemplos a seguir, através de um avô, de um irmão mais velho, de um grupo social, ou da escola. O Ser humano não é uma equação matemática, uma receita de bolo. A sua formação depende de influências genéricas, hereditárias, ambientais e da forma como foi desejado ao entrar no mundo”.

Mas no consultório, a psicanalista trata de pais e filhos que não aprenderam a reivindicar e a dialogar, mas a conquistar através de pequenas chantagens. “Eu te dou isso se você fizer o que eu mando”.

Alguns pais, inclusive, são tão permissivos que não sabem dizer não aos filhos ou amparam abertamente seus erros. E eles crescem sem limites, com dificuldade de aceitar ordens. Ela cita também pais que pregam a importância da obediência às leis de trânsito, mas dirigem alcoolizados. Ou falam para os filhos sobre o perigo das drogas, mas se dopam com antidepressivos ou doses de uísque. Em mães que vão tirar os filhos da delegacia, mesmo depois de cometerem imprudências.

Os pais repetem o velho ditado ‘faça o que eu digo e não o que eu faço’, sem saber que o exemplo não é teoria, mas “a prática verdadeira de valores e ideais que escapam ao controle da vontade”, explica.
Além do declínio da função paterna, pais e filhos se deparam, no mundo contemporâneo, com o surgimento de uma nova ética: “A do individualismo. Cada um escolhe suas próprias regras e estilo de vida, sem se sacrificar pelos princípios coletivos, tradições ou modelos que restringem a liberdade. Há um retorno do homem para si mesmo. Não existem mais heróis ou objetivos elevados, mas prazeres individuais, num total desencanto com os valores tradicionais, o que leva à fragmentação dos laços afetivos e sociais”.

A nova ética inclui os recursos tecnológicos como a solução para todos os problemas, pois exacerba o prazer, dribla os limites, a morte e até a ciência: “A ética de todos iguais anula as diferenças, dissolve particularidades e leva à intolerância. Marx e Jesus Cristo foram enterrados pelo mundo globalizado, onde o grande mestre é o mercado, sempre com novos e atraentes objetos de consumo. Também a proliferação de livros de auto-ajuda revela o desejo de um saber fechado”.

A psicanalista chama a atenção para a importância de um relacionamento honesto entre pais e filhos: “É através da postura dos pais que haverá uma mudança dos padrões sociais. É função paterna transmitir a singularidade de cada sujeito. Os filhos devem aprender que não existe completude nem prazer total, que haverá sempre desacordo entre o que se deseja e o que se pode alcançar”.

Resquício cultural do nepotismo

A Sociologia não vê a corrupção como herança familiar, mas cultural, com a manutenção de práticas patrimonialistas que determinam a vida pública nacional: “Existe uma incapacidade de separar a noção de público e privado. Uma típica maneira brasileira de lidar com o patrimônio público”, assegura Luís Flávio Sapori, sociólogo da Fundação João Pinheiro e professor da PUC Minas.

Na prática, “essa tradição cultural explica porque parte significativa da elite brasileira sempre se utilizou do patrimônio público como se fosse privado. A corrupção no Brasil não é apenas ausência de moralidade, mas de uma super valorização das relações pessoais, do parentesco, do nepotismo e dos privilégios”.



PERVERSIDADE

A sociedade brasileira é um exemplo concreto de corrupção institucionalizada, que atinge todas as classes sociais: “O mais perverso na corrupção brasileira é que, apesar das denúncias e das investigações há um retorno ao ponto de partida. É um fenômeno recorrente na história do Brasil, o que dificulta o entendimento de suas causas”.

Neste cenário, figuras como a de Antônio Carlos Magalhães sempre reaparecem na política brasileira. “E demonstram porque a sonegação de impostos é tão disseminada no País. Ou porque o brasileiro desobedece regras, burla as leis. E os empresários mantêm uma relação de promiscuidade com as elites políticas. Dá até para saber de onde veio o famoso jeitinho brasileiro.”

A prática mais antiga do mundo

A corrupção faz parte da história do Brasil. Poetas e escritores sempre revelaram o seu espanto com os corruptos. Como Machado de Assis, que num artigo para o “Jornal das Famílias”, de 1867, escreveu: “Murchou-se logo a primeira ilusão de que todos os homens se guiam unicamente pelos princípios dos sentimentos puros e das idéias generosas. Era a primeira vez que ele se achava diante do homem prático, do homem-coisa, do homem-dinheiro. Até então vivera nas regiões ideais das quimeras e dos sonhos”.

Também o poeta baiano Gregório de Mattos, conhecido como “Boca do Inferno”, já fazia referências à corrupção das elites brasileiras no século XVII. E, segundo o diretor do Departamento de História da UFMG, Rodrigo Sá Motta, “tudo indica que a corrupção está presente desde o início da colonização. É um comportamento enraizado nas práticas políticas do País”.

Mas o historiador avisa que “não somos o lixo do mundo. Quando se fala em funcionamento das organizações estatais, a corrupção é uma realidade universal. No caso do Brasil, entretanto, conta muito o fato de o Estado ter sido constituído antes e acima da sociedade brasileira. O poder se estabeleceu antes da Nação, pois os portugueses já chegaram com um projeto colonial. E a sociedade brasileira se sentiu subjugada à ação do Estado, pois não construiu a sua própria história”.

Se em algumas sociedades do mundo existe a tradição de controle do Estado por parte da população, no Brasil essa relação é passiva, distante. “Não é uma relação de cidadania, de cobrança, de vigilância e de participação.”

SEDUÇÃO

Para Rodrigo, o “poder geralmente exerce uma forte possibilidade exerce uma forte possibilidade de corrupção: “Quanto mais no Brasil, onde é comum a corrupção no aparelho do Estado. A tentação dos que assumem o poder se deixarem corromper é muito maior”.

Mas como um brasileiro que continua a ter esperanças, ele menciona que, hoje, “há um fortalecimento da cidadania, com uma cobrança maior da imprensa e da sociedade como um todo. Pelo menos as coisas não ficam mais abafadas, embaixo do pano. A situação democrática estimulou a investigação das práticas e das evidências de corrupção”.

A apuração das denúncias de corrupção é atualmente “uma questão cívica. Todos desejam rigor nas apurações, apesar de muitas provas desaparecerem, de a justiça brasileira ainda ser lenta, com muitas brechas na legislação. Mas a redemocratização do País, a partir de 1985, com certeza, mudou o rumo da História”.

Enfim, há um SÉCULO, ou há uma DÉCADA, como HOJE, o combate à
CORRUPÇÃO é uma QUESTÃO CÍVICA.