sábado, 26 de setembro de 2009

A CIDADANIA E A VIGILÂNCIA SOBRE A ESCOLA

“Dos fundamentos do Estado se deduz evidentemente que sua finalidade não é dominar os homens nem os calar pelo medo ou subjugá-los ao direito de outrem, mas pelo contrário libertar cada um do medo para que, na medida do possível, viva com segurança, isto é, para que conserve o direito natural à existência, sem dano próprio nem alheio. Repito que o fim do Estado não é transformar os homens de seres racionais em animais ou autômatos, mas, pelo contrário, que seu espírito e seu corpo se desenvolvam em todas as suas funções e façam livre uso da razão sem rivalizar pelo ódio, a cólera ou o engano, nem se façam guerra com ânimo injusto. O fim verdadeiro do Estado é, pois, a liberdade.”
(B. SPINOZA, em Tratado teológico-político)

A “escola da cidadania” ganha mais uma IMPORTANTE lição que vem de artigo publicado no Jornal ESTADO DE MINAS, edição de 31 de dezembro de 1994, Caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de CLÁUDIO DE MOURA CASTRO, Pesquisador do CNPQ e do Banco Mundial, que merece INTEGRAL transcrição:

“A escola precisa ser vigiada

O milagre brasileiro foi ter ido tão longe com pouca educação. Esse também foi o nosso azar. O Brasil chega ao fim do século com um ensino básico catastrófico – só ganhamos do Haiti. E hoje sabemos ser esta base educativa mais crítica para o nosso sucesso econômico e social. A única mudança significativa no panorama educacional é o aumento da consciência de que as coisas vão muito mal no ensino básico. Não é muito, mas já é um começo.

Todas as pesquisas mostram nosso desempenho e abundantes teorias explicam porque isto aconteceu. Gastamos mais de uma década encontrando boas explicações para nossos e buscando soluções mágicas. No entanto, países muito mais pobres do que o Brasil resolveram todos estes mesmos desafios do ensino básico (China, Cingapura, Coréia, Costa Rica, Sri Lanka e Tailândia). Os atuais países ricos os resolveram quando eram mais pobres do que o Brasil. Nenhum precisou de fórmulas mágicas e nenhum conhecia tantas teorias do fracasso escolar. Simplesmente agiram, ao invés de falar. Bastou quadro negro, cartilha, vara de marmelo e muito desvelo. A pedagogia feijão com arroz sempre funcionou.
Em contraste com sua inapetência na educação, o Brasil demonstrou fôlego e competência para fazer coisas muito mais complicadas nas áreas econônicas, científicas e tecnológicas: aviões, armamentos, automóveis, máquinas ferramenta, pesquisa científica, bio-engenharia da soja, carnaval e futebol. Ou seja, tudo que levou a sério o país fez bem. Por que será que falhou tão lamentavelmente no ensino básico? Como é que pode ter uma educação tão ruim e fazer coisas tão difíceis?

Acreditamos que a resposta seja simples: não fez bem porque não teve empenho, não tentou seriamente. A educação não tem sido uma prioridade real da sociedade. Se o brasileiro vigiasse a escola como vigiou a seleção, o problema do ensino básico estaria resolvido.

Em nossa democracia pé duro e nas nossas ditaduras ralas, os políticos e administradores ouvem e respondem mais ou menos ao que querem os eleitores e os reclamadores. O sistema não é insensível à demanda. As respostas não estão desalinhadas com as propriedades dos que votam conscientemente e dos que fazem barulho. Há demanda por vagas e o sistema as oferece para todos. Há demanda por novas escolas que enriquecem construtoras e dão belas inaugurações, como resultado, não faltam prédios. Há muito mais professores do que salas de aula, já que isso dá poder a quem os nomeia. Mas só demandam qualidade os menos pobres que resolveram seus problemas no ensino privado. E se não há política por qualidade, o sistema não a oferece e os políticos não brigam por ela. Politicamente,o sistema está em equilíbrio.Se há crise, esta apenas vive em nossas cabeças.

Se isto é verdade, resolver o problema da educação básica requer convencer os brasileiros de que é preciso cobrar um ensino de qualidade e não aceitar nada senão qualidade. Feito isto, com a competência atinginda (sic) pela nossa sociedade, o resto acontecerá. Reclamar faz milagres. Mas quantos pais vão reclamar quando a escola não passa dever para casa, que o professor falta, que a escola está em greve, que o currículo não foi cumprido? Quando pais, empresários, sindicatos, imprensa e outros atores cobrarem para valer, a educação mudará, sem fórmulas mágicas, apenas com desvelo, cobrança e presença. Acabará o clientelismo corrosivo no dia em que o deputado pedir ao prefeito para contratar a afilhada do seu cabo eleitoral e ouvir a resposta de que se fizer isso terá no dia seguinte os pais dos alunos acampados em frente ao seu gabinete.

Neste país tão dinâmico para o que considera importante, o resto vem sozinho.
As pessoas que estão cuidando da educação vão encontrar as soluções necessárias, os salários competitivos para os professores, os livros e as pedagogias.

Portanto, a resolução do problema da educação básica começa com uma questão de “marketing”. É preciso convencer os brasileiros a não aceitar uma educação tão ruim e educá-los para cobrar inteligentemente bons resultados.

Vender esta idéia aos nossos patrícios é o grande desafio.

Felizmente, parece que há um novo alvorecer. Velhos atores assumem novas posturas e novos atores entram em cena. Há estados dando bons exemplos, como é o caso de Minas Gerais e de outros que seguem na esteira. Há campanhas de mídia particularmente criativas, como a da UNICEF/Odebrecht. Há um começo de mobilização da sociedade e uma percepção de que a solução está nesta direção, de que a escola será consertada pelos milhões de pequenos cuidados e cobranças. As soluções grandes serão provocadas por este mini-ativismo do cidadão comum e de outros atores que até então têm estado ausentes.

Nota-se o crescimento no número e militância de atores lutando por melhores escolas, embora no total ainda seja muito pouco. Há indicações interessantes, de que muitas ações em micro-universos estão alcançando vôo e explorando suas conseqüências macro-sociais. Realmente, parece que há uma plantinha que germina e promete frutos generosos, mas que é ainda muito frágil.”

Assim, nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE ganha mais uma RICA e BELA contribuição, nos PROVOCANDO para, com LUCIDEZ e DETERMINAÇÃO, “cobrar um ensino de qualidade e não aceitar nada senão qualidade”. E tratar com ABSOLUTO DESVELO a EDUCAÇÃO BÁSICA, ou seja, a EDUCAÇÃO INFANTIL, a EDUCAÇÃO ESPECIAL, a EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS e a EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, bem como o ENSINO FUNDAMENTAL e o ENSINO MÉDIO.

Através da EDUCAÇÃO nos FORTALECEMOS na construção de uma SOCIEDADE verdadeiramente JUSTA, LIVRE e SOLIDÁRIA, onde TODOS os BRASILEIROS e TODAS as BRASILEIRAS sejam os BENEFICIÁRIOS dos BILIONÁRIOS investimentos e RIQUEZAS INESTIMÁVEIS deste FÉRTIL solo GENTIL.

O BRASIL TEM JEITO!...