(Março
= mês 7; faltam 17 meses para a Olimpíada de 2016)
“Faculdades:
inclusão ou exclusão?
Somos um país de 200
milhões de habitantes, sendo que, dos 24 milhões de jovens em idade
universitária típica (18 a 24 anos), somente 15% frequentam ensino superior
(3,5 milhões). É um dos menores índices entre países de porte econômico
semelhante e muito aquém dos principais parceiros ou competidores no cenário
internacional. Há aproximadamente 13 milhões de profissionais com título
superior no Brasil, que, somados aos 7,3 milhões de matriculados nesse nível de
ensino, supondo que todos se formem, beiramos os 10% da população total, o que
reflete baixo nível de escolaridade.
Por
tais evidências negativas, o Plano Nacional de Educação (PNE), que é lei,
estabelece que no Brasil tenhamos matriculados 33% dos jovens entre 18 e 24
anos no ensino superior até 2024. Hoje, estamos distantes da metade do caminho.
A
principal fonte de alunos do ensino superior, em tese, deveriam ser os 1,8
milhão de formandos entre os 8,7 milhões de matriculados no ensino secundário,
sendo que, desses, 1,6 milhão fazem o Ensino Nacional de Ensino Médio, o Enem.
Por outro lado, aproximadamente, 1,2 milhão de candidatos têm procurado acesso
ao ensino superior a cada ano, 8,7 milhões via Enem, evidenciando que a maioria
deles não é recém-egressa do ensino médio, mas, sim, concluiu o nível médio há
mais tempo e busca, anos depois, o retorno aos estudos.
Certamente,
constitui limitador ao crescimento do número de universitários o baixo número
de formandos no ensino médio e as dificuldades conhecidas daqueles formados
nesse nível há mais tempo em retomarem seus estudos. Se os formandos atuais do
ensino médio evidenciam graves deficiências, natural supor que, para aqueles
formados há mais tempo, o afastamento das salas de aula e a falta de tempo para
os estudos tornam tais dificuldades ainda mais severas. Talvez no item memória
eles sejam prejudicados, mas possivelmente sejam compensados por terem, em
geral, uma atitude mais madura, a depender de utilização de metodologias e
tecnologias inovadoras especialmente adaptadas a essas circunstâncias.
Uma
das maneiras seria comparar os rendimentos médios dos dois grupos no Enem.
Porém, esse exame, em que pesem tentativas anteriores de torna-lo um exame mais
de raciocínio do que de mero exercício de memória, nas suas versões mais
recentes, a ênfase tem sido gradativamente em detalhes conteudistas e em
especificidades de informações, restando pouco espaço para raciocínios, lógicas
aplicadas e mensuração da capacidade de resolver problemas a partir de
informações disponibilizadas.
O
governo federal, ao adotar, em nome da qualidade, nota mínima no Enem para
acesso ao Fundo de Financiamento ao Estudante (Fies), pode eventualmente
atingir, ou excluir, principalmente esse público trabalhador que busca no
ensino noturno e na rede privada concretizar o sonho não realizado quando
concluiu o ensino médio.
Quanto
à real possibilidade de incluir esse público trabalhador e recuperá-lo dentro
do contexto do ensino superior, há estudos mostrando que, adotando-se
estratégias apropriadas e um conjunto de disciplinas de nivelamento, os
resultados finais desse grupo são equivalentes, às vezes superiores, aos grupos
com deficiências menores iniciais que não participam do programa de
recuperação.
A
título de exemplo de experiência internacional, em trabalho recente, os
pesquisadores Erick Bettinger e Bridget Long, das universidades de Stanford e
Harvard, respectivamente, tratam de necessidades de estudantes mal preparados.
Os resultados por eles obtidos, ainda que em realidade distinta, evidenciam que
os alunos que frequentaram disciplinas (matemática e inglês, basicamente) de
recuperação tiveram melhores rendimentos e, proporcionalmente, desistiram menos
do que os demais.
No
Brasil, dentro da mesma inspiração, e em conjunto com aqueles pesquisadores,
pretendemos estudar se há significa diferença em termos de melhoria de
aproveitamento e diminuição de abandono quando, por exemplo, em um curso de
engenharia, em vez de submeter de imediato os calouros às disciplinas de
nivelamento. Além de recuperar os conteúdos do ensino médio, o estudante faz
intenso uso de novas metodologias e tecnologias inovadoras, preparando-o para o
mundo das ferramentas digitais aplicadas à educação e ao convívio, sem medo,
com plataformas de aprendizagem.
O
Brasil precisa desesperadamente de um desenvolvimento econômico, social e
ambiental sustentável, sem o que não enfrentaremos nossos desafios, entre eles,
o de aumento da produtividade, diretamente relacionado ao nível de escolaridade
do seu povo. Os estudos, especialmente no nível superior, em complemento a
preparar profissionais para carreiras específicas, contribuem, ao ampliar o
nível de escolaridade, para a melhoria de qualidade de vida, no nível
individual, e por um país competitivo e sustentável no plano coletivo.
Haveremos de aprender a conjugar escala e qualidade, ofertando ensino superior
de padrão aceitável e para muitos.”
(RONALDO
MOTA. Reitor da Universidade Estácio de Sá, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 24 de
fevereiro de 2015, caderno OPINIÃO, página
7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
27 de fevereiro de 2015, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:
“Empresário,
nobre tarefa
O papa Francisco, na
exortação apostólica Alegria do Evangelho, afirma que a vocação de um
empresário é uma nobre tarefa. Lamentavelmente, essa nobreza é atacada pela
corrupção que afeta funcionamentos de instâncias decisivas nos rumos da
sociedade brasileira. A altivez da tarefa do empresário, diz o papa Francisco,
se verifica na medida em que ele se deixa interpelar por um sentido mais amplo
da vida e se engaje no serviço decisivo ao bem comum, em um esforço para tornar
as riquezas deste mundo mais acessíveis a todos. Para isso, as complexidades e
exigências das atividades econômicas não podem estar sob a regência do mercado,
com suas forças cegas e invisíveis. O mercado tende sempre a comprometer o
crescimento justo, que beneficia a coletividade. Com a desarvorada pretensão de
aumentar a rentabilidade de poucos, gera novos excluídos e cristaliza situações
de privilégios.
O que
está se passando na sociedade brasileira é consequência de ações na política
econômica que não estão fundamentadas em duas referências básicas para se
alcançar uma realidade mais justa: o respeito à dignidade de cada pessoa e a
busca pelo bem comum. Conforme indica o papa Francisco, essas referências estão
inseridas apenas no discurso político. Por isso mesmo, incomoda muito quando se
exige a ética, a distribuição de bens, a defesa de postos de trabalho e a
proteção dos fracos. Incomoda também quando se fala da solidariedade mundial ou
mesmo do Deus que exige um compromisso em prol da justiça.
A
digna missão dos empresários não pode dispensar a nobreza própria dos políticos
verdadeiros, capazes de dialogar e dedicados a sanar os graves problemas que
afetam os cidadãos todos, diante dos desafios deste momento – referência
sobretudo à corrupção –, têm a chance de dar uma nova resposta à sociedade.
Para isso, é necessário um exame de consciência capaz de promover condutas
éticas, exercício com força incisiva na vida do povo. Como fará diferença
quando a política abandonar a dinâmica de atender interesses partidários e de
pequenos grupos para ser vivida como uma preciosa vocação, uma das formas mais
completas do exercício da caridade!
Um novo tempo pode ser
gerado se, particularmente, empresários e políticos, mas também outros
segmentos e instituições da sociedade, conseguirem dar uma resposta nova,
tomando como referência determinante o povo e a vida dos pobres. Sem esse
parâmetro, corre-se o risco de apenas “passar uma tinta” que acalma os ânimos,
faz transparecer que a corrupção não acontece e que os mecanismos de
favorecimentos e negociatas são apenas factoide. Não se pode esconder a ferida
e a enfermidade que se abatem sobre o caminho da sociedade brasileira, agravada
pelos enraizamentos históricos e pela perda de sentido de pátria e de
cidadania.
É hora de um amplo
diálogo social para superar esse abalo sísmico nos alicerces da sociedade.
Nesse horizonte, é urgente que as instituições e segmentos diversos se
posicionem adequadamente em estado de alerta e de contribuição. Ao promover a
Campanha da Fraternidade 2015, corajosamente abordando o tema “Fraternidade:
Igreja e Sociedade”, a Igreja Católica no Brasil reafirma seu compromisso de
trabalhar para o pleno desenvolvimento do ser humano e para promover o bem
comum. Isso só se faz em amplo diálogo com o Estado, com as culturas, ciências
e com aqueles que confessam diferentemente a fé.
O papa Francisco
defende o modelo de uma Igreja “em saída”, capaz de oferecer novas respostas à
sociedade. O convite é para sair da própria comodidade e ter coragem de
alcançar todas as periferias. A Igreja está desafiada a experimentar um
aprofundado processo de transformação. O mundo empresarial e o âmbito político
estão também desafiados a descobrir suas dinâmicas próprias “de saída” para
encontrar um novo modelo. Somente assim será possível investir na formação de
um tecido cultural que liberte a sociedade brasileira para caminhar rumo ao
desenvolvimento. Empresários, políticos, intelectuais, cientistas, cidadãos
todos, eis o desafio: defender a nobreza de suas ações.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país...);
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício,
em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e
danos, indubitavelmente irreparáveis (a propósito, a magnitude da paralisação
de caminhoneiros aponta para perdas que extrapolam nossas estruturas
econômicas, portanto, de difícil mensuração...);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de
exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e
eficaz auditoria...
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era
da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!