“Verdade
verdadeira
Continuo insistindo na
era da pós-verdade, do boato acima dos fatos, porque é um assunto que causa
confusão e equívocos, impedindo a formação de opinião consistente e julgamentos
errôneos. E terminamos assim, como disse Sócrates com sua sabedoria: “Só sei
que nada sei.” Só que neste caso sem a sabedoria.
Na era
da pós-verdade, circula nas redes sociais todo tipo de verdade e inverdades, e
devemos partir para a certificação de tudo que repassamos a fim de diminuir o
“achismo”. E também a onda de formação de ideias forjadas fazendo dos
internautas massa de manobra manipulada por mal-intencionados.
Agora
mesmo, após a lamentável morte por acidente do ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Teori Zavascki, continuamos sem saber se ele foi um herói para o
país, contribuindo com as investigações da Lava-Jato, como anunciou o juiz Moro
em seu discurso, ou se o que mais fez foi atrasar os processos em andamento com
burocracias e procrastinações, já que tinha posicionamento de esquerda.
Sabemos
que a demora nas apurações faz parte da profissão de jurista, que investigações
devem seguir etapas sólidas e legais, cabendo ao Judiciário zelar para que os
processos tramitem da maneira correta. Nas redes sociais, publicaram em nome do
filho de Zavascki várias notícias falsas.
E
também sofremos, nós, mortais, pois sé muito difícil saber que são os
envolvidos e vê-los se sustentar em cargos públicos ainda por muito tempo, às
vezes anos, para ver a Justiça agir, o que é tremendamente frustrante. Como foi
o caso do ex-presidente da Câmara dos Deputado Eduardo Cunha, atualmente preso,
e de muitos outras ainda soltos. Esperamos que a justiça seja feita ainda que
tardiamente.
No que
diz respeito aos boatos que ganham corpo de verdade, são tantas ondas que
jamais saberemos a verdade cabal e absoluta. E para complicar mais um pouco,
não teremos a verdade porque não existe verdade única. A verdade é plural e
depende do ângulo do qual é interpretada.
Assim
é para tudo. Tanto que numa família, enquanto um filho tem o pai com
ressentimento e muitas críticas, outro o tem como aquele que lhe deu tudo o que
tem. O pai não é o mesmo para todos os filhos, mas quando a discrepância é
demais podemos verificar que há desvios na interpretação.
A
interpretação de um fato assume a tonalidade do afeto. E o afeto afeta. Afeta o
julgamento. Portanto, a interpretação de alguém da direita dos fatos será
sempre diferente dos de esquerda. Cabe a cada um apurar sua própria opinião,
buscando fontes confiáveis e interpretações isentas de favoritismos, se isto é
possível: eis a questão.
A
questão é que para cada um a verdade depende do posicionamento pessoal. Não se
pode opinar sem se posicionar. Não se pode ser cidadão de fato sem antes ser
sujeito, e cabe a este saber seu desejo e que ética escolherá abraçar.
Para
decidir sobre a ética deverá se posicionar, pois existem éticas diferentes de
acordo com a crença. Vejam que a ética protestante mudou o mundo. Na ética
religiosa, na ética cristã, em qualquer que seja ela, cada um segue os
princípios ditados. A ética filosófica nos permitiu conhecer linhas
completamente diferentes umas das outras. Cada uma tem em seu cabedal uma visão
diferente e interpretação igualmente particular.
A
ética da psicanálise é a ética do inconsciente e, portanto, vai quase sempre na
contramão das demais, pois trata-se da subversão do sujeito. O que aqui tem
importância é a vida psíquica, o funcionamento do desejo e do inconsciente e,
por isso, busca retificações subjetivas para abrir o caminho para o
conhecimento do sujeito, e para o que cada um de nós é e não sabia.
Nem
sempre sabemos tudo sobre nós porque o inconsciente é como um estranho que habita
na subjetividade e precisa ser desvelado. Assim, vemos que há uma
multiplicidade de fatores que colaboram para a alienação em que vive a maioria
das pessoas, pois desconhece primeiro a si próprio e, provavelmente, fará
escolhas equivocadas, votará mal. Se equivocará menos, caso possa pensar sobre
o que vê ocorrer e se tiver informações de fontes confiáveis do que ficar à
mercê das bobagens que todo dia chega até nós e que só depois vemos que fomos
enganados.
Viver
é preciso, disse Guimarães Rosa. E como podemos verificar, assim é.”.
(REGINA
TEIXEIRA DA COSTA. Em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 29 de janeiro de 2017, caderno CULTURA, coluna EM DIA COM A
PSICANÁLISE, página 2).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
2 de fevereiro de 2017, caderno OPINIÃO,
página 7, de autoria de FERNANDO LUIZ
LARA, PhD pela Universidade de Michigan, professor associado na Universidade
do Texas e consultor do Lua Lab – Laboratório de Urbanismo Avançado, e que
merece igualmente integral transcrição:
“Arquitetura
para integrar fronteiras
Desde o início de 2016,
a campanha presidencial nos Estados Unidos teve a imigração como questão
central. A proposta do presidente eleito Donald Trump de construir um muro
entre o México e os Estados Unidos, e sua declarada intenção de deportar todos
os imigrantes indocumentados, atraiu a atenção do mundo inteiro para os
complexos problemas daquela região de fronteira. Fronteiras podem ser
entendidas como entidades geográficas, barreiras políticas, ou outros limites
de espaço. Fronteiras podem ser exploradas através de várias lentes
conceituais.
A
análise da atual fronteira México-EUA revela a existência de três grandes
indústrias que direcionam o discurso sobre, e em maior medida, toda a paisagem
da fronteira.
A
primeira é a indústria da globalização, que movimenta 500 bilhões de
mercadorias entre os EUA e o México a cada ano, e cujo objetivo é facilitar
esse intercâmbio.
A
segunda é a indústria do trabalho mal remunerado que emprega milhões de
trabalhadores hispânicos em todo EUA (legalmente ou não), interessados que
estão em uma fronteira não exatamente fechada, mas tampouco totalmente aberta,
mantendo assim os trabalhadores fronteiriços preocupados com a deportação e,
portanto, dispostos a péssimas condições de trabalho.
O
terceiro setor é a indústria militar, que vende medo e banca a violência na
área de fronteira com sua ineficiente guerra às drogas, justificando o gasto de
bilhões de dólares em equipamentos, pessoal e infraestrutura num círculo
vicioso que alimenta a si mesmo e consome vidas e recursos de ambos os
governos.
Tais
indústrias são responsáveis pela insegurança e pelo assédio diário de milhões
de pessoas que precisam ou querem atravessar a fronteira, sem, no entanto,
conseguir controlar o fluxo de drogas rumo ao Norte ou de armas rumo ao Sul.
A
arquitetura, com seu poder de articular uma visão de um futuro melhor, tem a
responsabilidade de trabalhar tais conflitos e ser parte da solução. Fernando
Lara, professor associado da Universidade do Texas em Austin, convocou seus
alunos de mestrado a pensar sobre a questão da imigração. A ideia foi desenhar
soluções para uma fronteira México-EUA que fosse segura, sustentável e
igualitária.
O
ateliê de projeto teve uma premissa básica: imaginar um fronteira em que as
pessoas podem se mover livremente, mas que todo tipo de cargas seja
detalhadamente inspecionado. Para tanto, torna-se necessário desconstruir as
bases das três grandes indústrias descritas acima, e propor uma fronteira mais
humana e funcional.
Os 12
estudantes no ateliê da UT Austin, EUA, trabalharam em paralelo com ateliês da
Universidad Autonoma Nuevo Léon em Monterrey, México. Os estudantes de ambos os
lados da fronteira tiveram a oportunidade de interagir e trabalhar em conjunto
para encontrar soluções para promover a integração em diferentes cidades
fronteiriças.
Os
estudantes sugeriram que essas fronteiras, em vez de terrenos abandonados e
militarizados, poderiam ter parques, estações de tratamento de água,
instalações esportivas e centros comerciais. A presença ativa de pessoas em
atividades de lazer e negócios inibiria o trânsito de armas e drogas e ajudaria
a integrar as populações dos dois países.
Os
problemas que cercam qualquer fronteira são complexos. Mas a arquitetura e o
urbanismo podem contribuir enormemente se atuarmos politicamente da forma
correta. Governos devem criar integração comunitária e oportunidades econômicas
para cidades-irmãs e suas populações-irmãs. Isso significa costurá-las e não
segregá-las.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, em
dezembro e no acumulado dos últimos doze meses, a taxa de juros do cartão de
crédito atingiu a estratosférica marca de 484,6%; a taxa de juros do cheque
especial registrou históricos 328,6%; e, finalmente, o IPCA chegou a 6,29%); II
– a corrupção, há séculos, na mais
perversa promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso
específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e
que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos
já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c) a dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para
2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável
desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão,
a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com
esta rubrica, previsão de R$ 946,4
bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Destarte,
torna-se absolutamente inútil lamentarmos
a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela excelência
educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além
de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do
século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da
informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da
sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da
paz, da solidariedade, da igualdade
– e com equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI, OUVI
E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
- 55
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...
-
Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...