“Sobre
tudo e nada
Infelizmente, as
pessoas deduzem e concluem cedo demais sobre tudo. Acreditam que podem rotular
uma pessoa por algumas palavras que leem ou escutam dela. A pressa de ter
certezas sobre tudo e garantir a segurança através do saber, mesmo que
precipitado, é danosa e nos conduz a erros e perdas desnecessárias.
Sempre
me intrigou, por exemplo, a forma como alguns que se intitulam cristãos são os
primeiros a condenar aquilo que parece errado. Condenam o pecador e nem se
lembram que Jesus salvou Maria Madalena do apedrejamento por mau comportamento,
que multiplicou o vinho da festa do casamento para alegrar o povo, que dividiu
o pão e multiplicou peixes, isto é, do pouco fez muito e esta divisão proveu
tantos.
Homem
como nós, ele se assentava e circulava entre os diferentes para levar até eles
aquilo que acreditava, pois afirmava que estando sempre entre seus pares e iguais
não poderia alcançar quem precisava. Assim nos admira ver que as pessoas em seu
nome fazem exclusões e precipitam-se ao fogo dos diferentes.
Entendo
que não seja fácil andar na linha e seguir uma ideologia plenamente. A prática
da tolerância é coisa dificílima, pois somos seres agressivos e gostamos de
estar no topo da hierarquia quando se trata se garantias e poder, e, embora
sejam imaginarizados, tais valores não garantem nada.
Qualquer
desses valores imaginários podem sustentar o ego, mas desmoronam a qualquer
tremor. Por isso, dizemos que viver é perigoso. O que você tem hoje pode perder
amanhã, seja emprego, dinheiro, amor e até mesmo a vida. Porque viver é névoa
nada. Passa como nuvem.
E
aquele que desejar ser eternizado, que deixe suas marcas porque só o será pela
palavra dos que ainda falarão e pelas obras que deixou, seja um filho, um
livro, uma árvore. E é muito fácil perder o foco neste nosso tempo quando
andamos sob uma chuva de informações que passa por nós como água em penas de um
pato.
Eles
tentam o comando, têm um alcance imperativo, requerem o estatuto de verdade
absoluta, mas elas, estas informações, não são “a verdade”. A verdade, verdade
mesmo, é isso que funciona entre nós, que trabalha em nós e que faz em nós uma
lógica imbatível, um acontecimento.
Acontecimento
que marca e muda um funcionamento depois dela, alterando a lógica anterior. Uma
enunciação que, uma vez escutada, nos transporta para outro posicionamento.
Precisamos
ter muito cuidado com os donos da verdade, aqueles que querem exercer o domínio
do pensar e do viver, traçando mandamentos imperativos contra o que é o real,
contra os furos do real e quanto! São como uma rede de um pescador, muitos
furos sustentados por firmes nós que suportam a carga a ser içada do mar.
E se
quisermos pescar bons peixes, precisaremos encarar os furos que deixam escapar
ainda bons frutos, mas assim é e será. Sempre teremos diante de nossos olhos
fatos com os quais não concordamos, formas de vida diferentes e
incompreensíveis. Porém, não podemos enquadrar o que quer que seja entre as
categorias normal ou patológica.
Este
insuportável em que o real nos coloca, que desperta a raiva, a reação
exacerbada, quando podemos chegar a agressões, crimes e tribunais, este cume do
ápice que nos arrebata, embaraça, chamamos gozo da pulsão de morte. Fruição do
pior que granjeia entre nós.
Que
possamos, antes de agir como queremos, pensar se não estamos mergulhados demais
entre os peixes da rede, esta rede que nos torna isca fácil para as vozes do
mercado e pela sua mão invisível que nos aponta um caminho que nem ele sabe
aonde vai dar.”.
(REGINA TEIXEIRA DA COSTA, em artigo publicado no
jornal ESTADO DE MINAS, edição de 16
de dezembro de 2018, caderno CULTURA,
coluna EM DIA COM A PSICANÁLISE,
página 2).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
14 de dezembro de 2018, caderno OPINIÃO,
página 7, de autoria de DOM WALMOR
OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que
merece igualmente integral transcrição:
“Ortodoxia
e ortopatia
A sociedade
contemporânea, já tão ferida por graves descompassos, não pode confundir
visíveis situações patológicas com o bem. No conjunto dessas situações, estão
aqueles que se acham defensores da “verdade absoluta” e, por isso mesmo,
distanciam-se da verdade, que é Deus misericordioso. Assim se configuram os
radicalismos e as polarizações, o ataque a pessoas e a instituições, os grupos
que se acham no direito de tirar a vida do outro em nome daquilo em que
acreditam. Mentes doentias, que necessitam recuperar a sanidade, a inteireza
moral e afetiva.
O
surgimento de dinâmicas messiânicas perigosas, agrupamentos que se percebem
como “donos da verdade” e com o direito de julgar os outros em nome da fé,
mesmo sem a mínima competência, revela uma urgência: investimentos humanísticos
e espirituais para que todos se compreendam como irmãos uns dos outros, filhos
e filhas de Deus. Essa compreensão é necessária para que cada pessoa faça a
diferença, agindo a partir de valores ético-morais coerentes com o evangelho de
Jesus Cristo. A sociedade não pode permanecer indiferente diante de um
progressivo e generalizado adoecimento que está corroendo a condição humana.
É
preocupante o desvario verificado nos mais variados segmentos sociais,
institucionais e, também, no contexto religioso. Situações que merecem ser
conhecidas em suas complexidades, a partir da contribuição de diferentes campos
do saber – antropologia, filosofia, sociologia, teologia e tantos outros.
Avaliações a partir de referências à ortodoxia e à ortopatia são caminho
promissor para conhecer e mudar essa realidade. O conjunto de sentimentos e
paixões (pathos) é elemento fundante e determinante da condição humana –
saudável ou doentia. Tem fortíssima influência na dimensão racional. Pode
gerar, assim, desvios de conduta e doenças, a partir tanto da dinâmica da
rigidez quanto do laxismo.
O
conceito de ortodoxia, diferentemente do que pensa o senso comum, não serve
apenas para denotar posturas enrijecidas. Define a desafiadora interpretação
correta de uma verdade, como crença ou como dogma. O funcionamento correto da
capacidade humana de conhecer a realidade é fundamental para qualificar as
relações interpessoais e também para o desenvolvimento de instituições, em
estreita fidelidade à sua natureza e missão. A ortodoxia requer processos
cognitivos que naveguem nas águas do sentido da verdade, sem manipulações ou
adaptações que se tornem, consequentemente, negação de valores e princípios.
Mas essa fidelidade não pode significar “estreitar a verdade” a partir de
mentalidades e posturas. Eis, pois, a importância do que define por ortopatia:
o cultivo correto de sentimentos, de modo coerente com a espiritualidade, a
transcendência e a fé.
Uma
permanente urgência é investir em ortodoxia e ortopatia, para evitar confusões,
os enrijecimentos que levam pessoas a fazer justiça com as próprias mãos,
resultado de descompassos afetivos e cognitivos. Esses desajustes adoecem
pessoas e a própria sociedade. São obstáculos para ações solidárias e impedem
que cada pessoas se reconheça como filho de Deus, o Pai de todos. Não há
mudança social sem investimentos no desenvolvimento humano-afetivo. As
contribuições da política são indispensáveis, as indicações sociais têm seu
lugar e o horizonte cultural influencia determinantemente esse desenvolvimento.
Mas há algo que é fundamental: a experiência espiritual – que não pode
confundida com fanatismo ou mera religiosidade. Trata-se da experiência mística
de buscar Deus, que ilumina a condição humana.
Para a
fé cristã, a qualificada espiritualidade é a experiência do encontro pessoal
com Jesus, sentido forte do tempo do advento, preparação para o Natal. Um
antídoto para a ortodoxia que vira rigidez e instrumento de condenações e
demonização dos outros, algo incompatível com a requerida ortopatia. Só a
autêntica espiritualidade pode livrar a contemporaneidade dos fundamentalismos
e ódios devastadores. Somente a vivência de uma qualificada mística, coerente
com o evangelho, pode evitar que a ortodoxia seja instrumento para criar
divisões, substituindo a ortopatia por graves delinquências. Sejam todos
coerentes com os ensinamentos de Cristo, que vem ao encontro da humanidade,
como seu salvador e redentor, para vivenciar a espiritualidade de modo
autêntico e fecundo.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno desenvolvimento
da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 129 anos
depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de
uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças
vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da
ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da democracia, da participação,
da solidariedade, da sustentabilidade...);
b) o combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em outubro a ainda estratosférica marca
de 275,68% nos últimos doze meses, e a
taxa de juros do cheque especial se manteve em históricos 300,37%; e já o IPCA,
em novembro, também no acumulado dos últimos doze meses, chegou a 4,05%); II –
a corrupção, há séculos, na mais
perversa promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária
ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da
Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor,
de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é
cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 518 anos
já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, à falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c) a dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para
2018, apenas segundo o Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos
Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$
1,847 trilhão (52,4%), a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,106 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega,
do direito e da justiça:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente, competente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).
Destarte,
torna-se absolutamente inútil lamentarmos
a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela excelência
educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de
infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à
luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização
das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
57 anos
de testemunho de um servidor público (1961 – 2018)
-
Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas ...
- Por
uma Nova Política Brasileira ...
- Pela
excelência na Gestão Pública ...
- Pelo
fortalecimento da cultura da sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares
do desenvolvimento integral: econômico; social, com promoção humana, e,
ambiental, com proteção e preservação dos nossos recursos naturais ...
- A
alegria da vocação ...
Afinal, o Brasil é uma águia pequena que já ganhou
asas e, para voar, precisa tão somente de visão olímpica e de coragem! ...
E
P Í L O G O
CLAMOR
E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO
“Oh! Deus, Criador e Legislador, fonte de infinita
misericórdia!
Senhor, que não fique, e não está ficando, pedra
sobre pedra
Dos impérios edificados com os ganhos espúrios,
injustos e
Frutos da corrupção, do saque, da rapina e da
dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim! Eternamente!”.